Aqui nos vemos e ouvimos
Nesta janela de encantos
Que se abriu entre nós dois
Como um portal de paixão.
E enquanto os olhos se veem
No momento do adeus
E as mãos enviam acenos
Nossas bocas trocam beijos.
E eu sinto sempre, depois,
Quando chega a solidão
E as saudades me consomem
Teus lábios dentro dos meus.
João Frada
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
PORTAL DOS CIBERNAUTAS
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
A CEIA DE NATAL
De um pirilampo fiz uma lua-cheia,
Do pecado, a esperança renascida.
Fiz um presépio com três grãos de areia
Que foi cenário e palco de uma vida.
Da minha fé fiz manto guarnecido
Com retalhos de lã cortada a sesgo
E de um madeiro tosco e carcomido
Fiz um berço de palha e musgo seco.
Ali iria romper a alvorada
Tão límpida e serena, como um sino
Anunciando ao mundo ser chegada
A hora de nascer do Deus-Menino
Marcado pela pobreza, mal chorara
Jesus bebeu no seio de Maria
Um fio de leite, apenas, que brotara
Das migalhas que a Virgem não comia
De pétalas de flor escorri sumo
Macio e leve; do pólen, a geleia;
De uma gota de chuva, espremi néctar
Que lhe dei a beber durante a ceia.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
Do pecado, a esperança renascida.
Fiz um presépio com três grãos de areia
Que foi cenário e palco de uma vida.
Da minha fé fiz manto guarnecido
Com retalhos de lã cortada a sesgo
E de um madeiro tosco e carcomido
Fiz um berço de palha e musgo seco.
Ali iria romper a alvorada
Tão límpida e serena, como um sino
Anunciando ao mundo ser chegada
A hora de nascer do Deus-Menino
Marcado pela pobreza, mal chorara
Jesus bebeu no seio de Maria
Um fio de leite, apenas, que brotara
Das migalhas que a Virgem não comia
De pétalas de flor escorri sumo
Macio e leve; do pólen, a geleia;
De uma gota de chuva, espremi néctar
Que lhe dei a beber durante a ceia.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Provas de Avaliação de Professores, Carlos Alberto Amorim e Política Ferroviária
"PSD saúda o acordo alcançado na Educação
O PSD elogiou hoje a solução encontrada para as avaliações de professores, como um exemplo do que é necessário na política portuguesa. Carlos Abreu Amorim sublinhou o papel desempenhado pelo provedor de Justiça, no acordo alcançado...”
A propósito da cedência do ministro Nuno Crato, confrontado com a pressão de Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, Carlos Alberto Amorim, fazendo uso da sua “sempre tão cuidadosa e eloquente retórica”, elogiou, e muito bem, a forma como decorreram as negociações e frisou que “essa ideia de recuos e avanços, o grupo parlamentar do PSD, [do qual faz parte], não tem essa perspetiva ferroviária da política portuguesa. (…) As políticas iniciais não têm que se manter inalteráveis.”
As suas frases pomposas, é certo, mas também algo confusas, parecem-nos ambíguas na forma e no conteúdo. Na verdade, há políticas que não mudam mesmo, sobretudo, aquelas que persistem em massacrar a população, retirando-lhes todos os privilégios adquiridos ou pondo em causa o que é de mais elementar em termos de sobrevivência económica e financeira. Quando à inalterabilidade das “políticas iniciais”, nunca uma afirmação foi tão verdadeira e inquestionável. Carlos Amorim, tal como outros que têm passado pelo Governo, soube muito bem definir o seu pensamento. Podemos depreender que, na governação, venha quem vier, e a prova está aí à nossa volta, nada recua para melhor, tudo avança para pior. As tais políticas iniciais apenas se somam e continuam umas às outras.
Quanto à referida postura de avanços e recuos, que Carlos Amorim caracteriza como “política ferroviária”, e supomos que entende tais movimentos, decisões e afirmações, sempre sobre carris, talvez tenhamos de lembrar-lhe de que tal política, que seguiu noutras circunstâncias, não o abona(ra)m nada em termos pessoais, governativos ou profissionais. Poderia ter sido mais sensato e cauteloso, evitando tantos percalços e manobras desajeitadas.
Num episódio ainda recente em que se envolveu, Carlos Alberto Amorim apelidou os Benfiquistas de “Magrebinos” (Carlos Abreu Amorim, vice-presidente da bancada do PSD, escreveu no Twitter: "Magrebinos: curvem-se perante a glória do Dragão) e, depois, teve de se retratar, (Amorim assume que foi infeliz, 21-05-2013). Aqui está consolidado, de uma forma magistral, o dito recuo da “política inicial”. E ainda bem, neste caso.
Tristes deslizes de política ferroviária! Aguardemos pelas próximas movimentações descarriladas.
Professor Universitário
João Frada
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domingo, 1 de dezembro de 2013
Crónica de Ficção - A Prova de Avaliação do Sr. Ministro da Educação
O Ministério da Educação, pela primeira vez, merece o nosso aplauso.
E porquê?!
Porque o Senhor Ministro, digníssimo representante máximo deste ministério, em nome da transparência e da solidariedade académica, não só faz questão de exigir exames rigorosos a todos os docentes, como, para evitar que lhe apontem o dedo, ele, que também é docente, temporariamente fora do ensino por ter abraçado a vida política, neste caso, a difícil gestão da educação no país, fez saber através de todos os canais de comunicação social que está, como todos os seus colegas, disponível para ser avaliado, não apenas como governante mas como docente universitário. Aguarda que lhe assegurem uma prova de avaliação das suas competências e um júri justos e que lhe deem tempo disponível para se preparar para tal demonstração. Cremos que, com tantos professores do quadro a voluntariarem-se para corrigir este tipo de provas, não faltarão recursos disponíveis para julgar o Senhor Ministro. Ou, perante tamanha formação e eloquência, por falta de júri qualificado, lhe terá de ser atribuída a qualificação automática de “excelente”?!
A necessidade que o senhor Ministro defende de reforçar a formação dos futuros professores nas áreas científicas que vão lecionar e de realizar a avaliação de conhecimentos e capacidades, obrigatória para todos os docentes sem vínculo ou com uma interrupção prolongada no ensino (avaliação em tudo idêntica à prova de aptidão pedagógica e capacidade científica, comum em muitas instituições de ensino superior), levam-no, pois, por questões de coerência, a sujeitar-se ao mesmo exame. Aplaudimos a sua coragem. Outra coisa não seria de esperar de um homem tão decidido, tão coerente e tão determinado.
Convicto de que este exemplo pessoal não só poderá vir a redimir alguns dos seus erros ou exageros, como quiserem chamar-lhe, e, simultaneamente, acalmará os seus críticos mais ferrenhos e radicais, o Senhor Ministro apenas espera que os moldes de avaliação e as questões que lhe venham a estar destinados sejam objetivas e não verdadeiras “ratoeiras”, não venham a ser divulgados antes do tempo, pondo em dúvida a transparência do próprio Ministério e não contemplem assuntos ou temas que, de há muito, por falta de tempo e de predisposição para revisões de literatura, ocupado como tem andado em alterar toda a legislação que contempla a “formação de professores”, não o obriguem a fazer má figura, tropeçando na língua materna, na matemática ou mesmo numa ou noutra questão mais complexa da sua área pedagógica. Isso seria o pior exemplo que poderia dar a todos os seus colegas pedagogos e, tendo em conta que tantas vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro, perdidas as próximas eleições legislativas, como é capaz de acontecer, lá terá de regressar de novo à base, com grandes possibilidades de ter de se sujeitar a outra prova ou, eventualmente, a perder o vínculo ao ensino por provas deficientes e não acreditadas.
Às vezes o diabo tece-as. Por isso, esperemos que o Senhor Ministro se apure nestas provas a que, tão democraticamente, se pretende sujeitar, em nome da equidade, da transparência, da solidariedade de classe, da coerência e da formação de excelência que defende e exige a todos os docentes.
Se o Senhor Ministro, também ele, pedagogo contratado, efetivo e vinculado e com experiência profissional mais do que comprovada, faz questão de se aplicar a fundo no cumprimento desta exigência, sujeitando-se voluntariamente a tal avaliação, ninguém deve ser dispensado desta prova. Ponto final.
João Frada
Professor Universitário
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Importância da Humanização na Formação Médica
Ao longo dos tempos, talvez mesmo antes de Hipócrates, entre os Egípcios faraónicos, a relação médico-doente que privilegia, acima de tudo, a alta individualidade de cada “pessoa humana”, surge-nos como um binómio quase sacralizado, no qual o “físico”, dotado das suas competências, espírito protoracionalista lógico, dedutivo e indutivo, exercita a sua “arte” de diagnóstico e terapêutica.
Hipócrates morreria no IV século a.C., mas a sua mensagem, essa, continuaria a ecoar pelos séculos fora. Com a Idade Média, o sentido ético e moral, recebido do Mestre, aliado ao espírito filantrópico e à caridade que emanam da atitude do físico, seja ele laico ou monástico-religioso, viria a constituir a marca cristã do Humanismo médico.
Em qualquer época, porém, a compreensão dos males do corpo ou do espírito passa pelo diálogo, pela confissão franca e objetiva das queixas que perturbam o indivíduo e o fazem sofrer. E a doença, de um modo geral, entre todos os povos e sociedades, é algo que desperta sempre a consciência e a emoção do terapeuta, o qual, por solidariedade, devoção e dever profissional, raramente é insensível ao sofrimento do seu semelhante. Curar é, acima de tudo, ouvir e amar.
Não obstante as diferenças determinadas pelos sistemas de valores culturais e civilizacionais, pelas crenças, pelos usos e costumes, pela subjetividade comportamental, étnica, intelectual ou afetiva, o Humanismo médico, tal como o concebemos, é, de facto, ecuménico e universal.
Um médico humanista, diz-nos Maragnon, é aquele que compreende o Ser humano. E “compreender não é só conhecer, mas amar”.
Mas se o espírito da mensagem hipocrática, como elemento fundamental da formação médica, se manteve indelével entre os seus cultores de todos os tempos, na praxis diária acabaria, também, por ser suscetível às transformações e mudanças determinadas pelos ritmos da História. E, a par do progresso tecnológico e científico que, dia a dia, vai ultrapassando as “barreiras do imprevisível”, sobretudo, a partir de 1900, com o desenvolvimento da microbiologia, do laboratório, das técnicas de radiodiagnóstico, da farmacologia clínica, da cibernética e da robótica, da engenharia genética e biomolecular, da telemedicina, de epidemiologia e da bioestatística, a relação médico-doente nunca mais seria a mesma.
Com o raiar da 2.ª metade do século XX, o Homem, enquanto ser doente, objeto de estudo personalizado da medicina, dá lugar ao número. Outrora com direito a tratamento individual e humanizado, é agora um alvo anónimo, sujeito a frios protocolos determinados pela bioestatística.
Foi, exatamente, neste contexto cultural, modelado pela estatística e pelo tecnicismo, que se formaram as novas gerações de médicos, em exercício no século XXI.
Outras razões, porém, parecem justificar o fenómeno da desumanização médica: - com a especialização, cada vez maior, observada na formação, sobretudo, hospitalar, os “eventuais” aspetos psicossomáticos da doença são, natural e frequentemente, remetidos para o foro da psiquiatria ou da psicologia clínica; - os serviços de consulta e de urgência hospitalares vivem e funcionam no limiar de rutura permanente; - o Sistema de Saúde mal responde às solicitações de uma sociedade cada vez mais inquieta, exigente e agressiva, mas, ao mesmo tempo, carente e dependente das respostas da Saúde e dos seus técnicos que, paradoxalmente, mitifica e desmitifica, idolatra e crucifica.
A empatia mágica, o tratamento personalizado e íntimo que o ato médico exige e determina não se desenvolve neste terreno agreste, nesta relação distante, apressada e vaga.
Cumprem-se protocolos, requisitam-se os exames complementares de diagnóstico mais sofisticados, procura-se compreender e tratar a doença. Os critérios científicos são rigorosamente seguidos. Mas o doente, esse, é uma realidade bem mais longínqua e difícil de atingir.
Humanizar o ato médico passa pela formação humanizada do futuro clínico. Essa formação terá que ser impregnada na base da sua educação escolar. O início dessa sensibilização deverá começar, senão antes, na seleção do candidato a Medicina, na própria orientação estrutural e funcional do ensino médico. O discente deverá confrontar-se, ao longo do curso, com uma ou mais disciplinas onde os seus dotes discursivos tenham que ser postos à prova. Adestrar o diálogo e retirar o essencial de qualquer informação, seja ela oral ou escrita, é uma arte e um saber imprescindível ao médico que ouve o doente, que reflete e intelectualiza as suas queixas, que incorpora o seu sofrimento e é capaz de lhe lançar, nas suas palavras concisas e objetivas, o bálsamo do alívio ou da cura.
Com pouca capacidade de síntese, com insuficiente adestramento na área do trabalho conceptual, muito virados à memorização exaustiva do que leem, os nossos alunos poupam-se ao diálogo. Pouco afeitos a leituras que exijam grandes esforços de sistematização, optam facilmente por exercícios de colagem ou, mesmo, de plágio, atitude que, para além de grave falta metodológica, nada contribui para melhorar o seu vocabulário e a sua capacidade de exposição escrita e, consequentemente, oral. Há, pois, que modificar, desde o início, o sistema de ensino e de preparação médica, integrando e assegurando, no currículo, áreas disciplinares orientadas para a formação linguística (língua-materna) e humanística, e para o adestramento do discurso. Exercitando e apurando, sob a orientação de especialistas, as suas capacidades de retórica e dialética, o estudante de Medicina, amanhã futuro médico, conhecerá mais facilmente o seu doente através do diálogo, do qual não mais prescindirá. Dispondo-se a falar e a ouvir o paciente, o médico, compreenderá melhor o seu sofrimento, as suas angústias, os seus medos, e é, exatamente, nesse “diálogo singular”, cujo efeito balsâmico fica, tantas vezes, muito para além da eficácia dos melhores fármacos, que ele irá descobrir a sua verdadeira vocação humanizada, curando os males do corpo e aliviando os males do espírito.
João Frada
Professor Universitário
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sábado, 23 de novembro de 2013
Boas Notícias - Português é um dos 'idiomas do futuro' no Reino Unido
http://boasnoticias.sapo.pt/noticias_Portugu%C3%AAs-%C3%A9-um-dos-idiomas-do-futuro-no-Reino-Unido_17921.html?page=0
João Frada
Professor Universitário
A língua portuguesa foi considerada um dos dez idiomas estrangeiros mais importantes para os próximos vinte anos no Reino Unido. Quem o diz é um estudo do instituto British Council divulgado esta quinta-feira pelo Instituto…
Aguardemos, pois, pelo fim da vaga emigratória, já que quando ela chegar ao fim, seguramente, a capital do nosso país passará a ser num local qualquer do Reino Unido. Teremos assistido à diáspora ou fuga total da população. Os mais novos arrastam os mais velhos e aqui apenas ficarão os escroques dos nossos governantes, contentes por terem incentivado e conseguido desertificar completamente o nosso país. Nesse dia, acabou-se a identidade nacional. Nesta santa “terrinha à beira-mar prantada”, que faz dó só de ver como ela anda, praticamente sem gente, a não ser meia dúzia de parasitas que deixam de poder parasitar os hospedeiros que somos todos nós, ou seja, só ficam as moscas e a trampa que fizeram todo o tempo e lhes serve de alimento. Sem vozes lusófonas, já que, pelos vistos se distanciam cada vez mais portugas para o Reino Unido, Portugal passará a ser uma província inglesa e a Grã Bretanha o país europeu onde a segunda língua mais falada vai ser o português. É essa a minha conclusão confuciana.
E a propósito, para que não se criem traumas aos portugas que ali se vão instalando aos magotes, seria de bom tom que os “bifes” não adotem o Novo Acordo Ortográfico, caso contrário, ainda ferem a suscetibilidade dos mais puristas.
João Frada
Professor Universitário
ALERTA AO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE
Ministério da Saúde controla uso dos antibióticos
Paula Rebelo/ David Araújo/ Virgílio Matos 28 Set, 2013, 14:48
“Os médicos que abusarem da prescrição de antibióticos vão ser penalizados. O Ministro da Saúde confirmou a criação de equipas de vigilância nos hospitais para controlar o uso abusivo desses medicamentos. No Porto, Paulo Macedo anunciou um milhão de vacinas contra a gripe gratuitas para grupos de risco”.
Esta medida, na sua essência é correta. Todavia, o problema do uso indiscriminado ou abusivo a que se referem os responsáveis da saúde em Portugal, não é tão simples assim de “desmontar”. Muitos médicos, como se provam pelos dados recolhidos a partir da análise do receituário, na opinião dos avisados governantes, prescrevem antibióticos por “dá cá aquela palha”. As razões subjacentes a tal fenómeno são múltiplas, mas atrevemo-nos a apontar as principais e, ao mesmo tempo, a chamar a atenção ao Senhor Ministro da Saúde, bem como aos seus avisados conselheiros, quer para a complexidade quer para as incongruências do próprio Sistema de Saúde, na nossa opinião, determinantes do dito uso abusivo de antibióticos.
- Começaríamos por apontar a maior falha do Sistema Nacional de Saúde, tal como ele está atualmente: Para evitar antibióticos, seria melhor apostar-se em vacinoterapia, seja ela específica ou inespecífica. Ora, algumas das importantes vacinas que poderão fazer a diferença na reconversão do processo de prescrição, considerado como abusivo, de antibióticos, não estão ao alcance da maior parte das famílias portuguesas, porque são caríssimas e não são minimamente comparticipadas pelo Estado. A título de exemplo, citamos a vacina antipneumocócica, disponível no mercado quer na sua forma infantil quer na de adulto, com custos atuais entre os 60 e os 65 euros cada embalagem.
Para a população pediátrica, por exemplo, considerada a faixa etária mais frágil e suscetível quando exposta a esta bactéria virulenta, especialmente responsável pela habitual morbilidade pós-gripal (meningites, pneumonias, amigdalites, faringites e otites), a vacina antipneumocócica 13-valente confere proteção contra os 13 serotipos mais agressivos deste microrganismo. Ninguém da classe médica tem dúvidas disto. Mas o Ministério tarda em a conceder grátis ou em beneficiar os seus utentes com alguma comparticipação minimizadora dos encargos familiares. Mais irónico, senão mesmo cínico, é o facto de nos novos Boletins de Vacinas distribuídos a cada criança pelos Centros de Saúde constar uma rubrica alusiva à dita vacina antipneumocócica. Parece, pois, ser considerada fundamental pelo próprio Ministério e deverá aplicar-se em três ou quatro doses, sem contar com o reforço catch-up dos cinco anos. Mas não faz parte do plano nacional de vacinação. Façamos contas e verifiquemos quanto custa a cada família, por criança, o respetivo programa completo.
Vamos ver quanto vai custar ao Ministério da Saúde a campanha de ensino do uso ou não uso de antibióticos!
- As atuais unidades de saúde a que recorrem os portugueses, sejam elas centros de saúde ou hospitais públicos ou privados, todas elas deverão ser geridas tendo em conta, cada vez mais, objetivos economicistas que traduzam, naturalmente, bons índices de desempenho e, no caso das últimas, também lucrativos. Com exceção das crianças e dos pacientes idosos, estes últimos psicologicamente mais dependentes do apoio médico e farmacológico, os indivíduos na idade profissional ativa recorrem, normalmente e apenas, a estas unidades sempre que o seu estado de saúde se encontra comprometido. Tendo em conta que o absentismo ao trabalho, mesmo por doença, tem hoje mais do que nunca, face às leis e exigências laborais, reflexos sérios sobre os magros proventos auferidos no fim do mês, estes pacientes não se podem dar ao luxo de curar um quadro gripal deixando-se ficar no domicílio entregues apenas ao “avinha-te, abifa-te e abafa-te” (chazinhos, com um ou dois dedais de conhaque, caldos proteicos de galinha, suadoiros e, eventualmente, antipiréticos). As patologias altas e baixas do aparelho respiratório e, em particular, a gripe, bem como as complicações respiratórias que quase sempre a acompanham são, ainda hoje, as causas mais frequentes da ida ao médico. Para quem vive mal, deprimido ou em stress permanente (condição a que a maioria da população não consegue fugir, agredida pela maldita crise económica que o país atravessa) e se alimenta pior, porque não beneficia de subsídios de alimentação ou não tem possibilidades de sonhar com fartas e lautas refeições, a fome parcial, ou seja a subnutrição proteica e vitamínica, é o estado fisiológico habitual. Ora, Senhor Ministro, a fome acompanha-se sempre, sempre, de imunodepressão e de doença subsequente. Mas até acreditamos que entre gente de casta superior como aquela a que Vossa Excelência e outros governantes pertencem nem se apercebam destas coisas comezinhas e insignificantes. Há até quem defenda que aumentar o salário mínimo é “ estragar a vida aos pobres” e que a “a maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres” (João César das Neves – economista e ex-assessor de Cavaco Silva). Aludirmos aqui a esta teoria idiota, a priori, poderá parecer despropositado, mas, na verdade, ela traduz a opinião mais do que convicta da governação a que o Senhor Ministro pertence, ainda que, no fundo, bem lá no fundo, enquanto alto dirigente da saúde em Portugal Vossa Excelência possa sentir o drama da real situação económica de grande parte das famílias portuguesas, afogadas na austeridade e sem recursos para lhe fazerem frente, dotadas apenas do dito salário mínimo. Por isso, perguntamo-nos aqui se o distinto economista, João César das Neves, dispõe de dados estatísticos para justificar o que diz sobre os tais pensionistas que considera fingidos e se ele próprio entende ou acredita que o salário mínimo a que se refere lhe chegaria, a ele, para encher a barriga condignamente durante um mês. Será que as suas convicções (de César das Neves), aquelas pelas quais Carlos Paz se atreve a mandá-lo, e muito bem, a um lugar bastante mal cheiroso (Carlos Paz – Carta Aberta a um Mentecapto (João César das Neves) https://www.facebook.com/carlos.paz.756/posts/700844983261907) foram estabelecidas com base em sondagens e análise estatística de amostras de população residente no condomínio onde vive ou no bairro onde faz as compras ao fim de semana?! Já nem nos atrevemos a perguntar-lhe se o dito salário mínimo, que considera um montante mais do que suficiente para a sobrevivência condigna seja de quem for, lhe chegaria para alimentar mais alguém a seu encargo!
A acreditarmos que o Senhor Ministro se pauta pela mesma medida, de manter o salário mínimo onde ele está, para que não surjam imediatas convicções de luxo, de riqueza e de perdularismo na cabeça dos assalariados, percebemos porque é que está preocupado com o uso abusivo dos antibióticos, os quais, afinal de contas, mesmo genéricos e comparticipados, acabam por pesar na balança da saúde. Tendo em conta a sua mística cruzada socio-cifrónica dentro do Ministério que dirige, e aplaudimos sem ironia algumas das suas estratégias, temos muita curiosidade em saber como é que as equipas de especialistas em antibióticos vão poder resolver este imbróglio do uso e abuso destes fármacos. De resto, até achamos algo paradoxal o título do projeto sanitário, porventura, criado como marca perene da passagem do Senhor Ministro por esta área: “Como usar corretamente antibióticos”.
Não seria melhor, Senhor Ministro, ter pensado num título slogânico mais adequado às reais conveniências da saúde, designando-o de: “Como não usar antibióticos”. Seria, quanto a nós, bem mais dissuasor. Mas, enfim, esta nossa sugestão não passa de uma questão semântica, porque, de facto, sempre se continuarão a prescrever e a usar antibióticos nas situações que o justifiquem.
- Perante o número cada vez menor de técnicos, médicos e enfermeiros, que compõem as equipas de saúde, e o volume de consultas diárias solicitadas/impostas aos mesmos técnicos, como resposta aos objetivos economicistas e de rentabilidade institucional exigidos pelo próprio Ministério, o tempo disponível para cada utente é de alguns escassos minutos. Vossa Excelência, inclusive, sonha desde há muito com o trabalho médico feito e pago à peça e considera que o número de consultas despachadas por hora e não a sua qualidade é que constitui a prioridade número do seu Ministério. O doente, entretanto, contrariamente ao que se possa pensar, não pode nem quer sujeitar-se a perder dias de trabalho, isolado no domicílio, face à imediata e lesiva repercussão no seu magro salário, para se recompor calmamente de uma gripe ou de uma complicação respiratória secundária, recorrendo apenas a mezinhas ou às medidas simples,… e sem antibióticos…, do “avinha-te, abifa-te e abafa-te”. O médico prescreve-lhe antibióticos para obviar o curso da doença e, quando não o faz, é o próprio utente que o exige. Alguns dias de ausência no trabalho pode ser um salário mínimo ainda mais baixo ou mesmo, em alguns casos, a rescisão do contrato e “um pé no olho da rua”, porque compromete o desempenho do cargo que executa e não atinge ou põe em causa os superiores e incontornáveis objetivos da empresa. Não é fácil ficar doente e, por vezes, a tentação do antibiótico fala mais alto.
Ora, nestas circunstâncias socioeconómicas e sanitárias e sem deixar de ter em conta a precaridade alimentar e os estados de imunodepressão que ela acarreta, e não precisamos de confirmação estatística como a que se deveria exigir a João César das Neves para confirmar a sua tese (“o aumento do salário mínimo estraga a vida aos pobres”), o que se deveria então fazer para não usar e abusar de antibióticos?!
Simples:
- Alimentar melhor a população, educando-a nesse sentido e, como é óbvio, garantindo-lhe também mais rendimentos para tal. Porque a alimentação equilibrada (assente na qualidade, quantidade, adequação e harmonia) é cara. Ou o Senhor Ministro, porque ganha bem acima do salário mínimo e come bem e fartamente, desconhece o custo de vida em Portugal e quanto representa essa fatia em termos de despesa mensal para qualquer vulgar cidadão de poucos recursos? Cremos que não.
- Depois, o não uso de antibióticos, Senhor Ministro e caros especialistas convidados a participarem neste programa nacional de educação clínica, supostamente experts na prescrição destes fármacos, deveria passar, não apenas pela preocupação de orientar os médicos prescritores no âmbito da Terapêutica Curativa, mas também pela aposta na Terapêutica Preventiva. Assim, este seu projeto deveria, isso sim, centrar-se na orientação e aconselhamento da classe médica sobre o Não Uso de Antibióticos, através das necessárias estratégias de formação no domínio da Prevenção, apostando na difusão e no ensino das normas, regras e conselhos ligados à higiene respiratória (evicção alergénica), tendo em conta que muitos dos indivíduos a quem é prescrito o antibiótico sofre frequentemente de patologia respiratória de etiologia atópica e, ao mesmo tempo, possibilitar ao doente o acesso comparticipado aos diversos fármacos e, em especial, às vacinas disponíveis para prevenir tais situações. Curiosamente, este ano de 2013, até as vacinas antigripe anunciadas como dádiva grátis em todos os centros de saúde do país não têm estado disponíveis em farmácias nem nestas instituições de saúde pública. E depois, Senhor Ministro da Saúde, Vossa Excelência não quer que os quadros virais derrapem em patologias bacterianas e em antibioterapia subsequente?!
Mas, o Senhor Ministro, porque alguém lhe disse que se usa e abusa de antibióticos, e teve razão, esqueceu-se de outros tantos “pequenos pormenores”:
- Consignar mais “tempo de antena” ao médico para uma boa anamnese, um melhor exame objetivo e uma adequada orientação terapêutica, quer no domínio dos conselhos higiénicos, quer no uso dos fármacos prescritos.
- Exigir cursos de formação na área da higiene respiratória, da infeciologia e, sobretudo, da alergologia a toda a classe médica e, em particular, àqueles clínicos que, comprovadamente, têm usado e abusado de antibióticos, segundo os dados oficiais recolhidos.
- Garantir que todas as vacinas disponíveis no mercado, orais ou injetáveis, como é óbvio, com ação profilática mais do que comprovada, quer por ensaio experimental quer por evidência clínica, sejam fornecidas grátis à população ou, no mínimo, razoavelmente comparticipadas, o que não se verifica desde há muito, por forma a prevenir as doenças mais comuns e, desta forma, reduzir o uso de antibióticos.
Quem está no terreno como nós e, ao longo de décadas, consegue que milhares de crianças, recorrentemente agredidas por antibioterapia, tenham deixado de usar estes fármacos ou nem sequer os tenham nunca tomado, apenas pelo recurso aos cuidados exaustivos de higiene respiratória (medidas de evicção alergénica), à reconversão e ao reforço do seu sistema imunitário com vacinas e fármacos apropriados, sabe do que estamos a falar. Mas a maior parte destes recursos terapêuticos, desde há muito, não têm a menor comparticipação e pesam bastante nas magras bolsas das famílias. São estas, as pobres famílias com pouco mais do que o salário mínimo, que têm de desembolsar os custos totais destes protocolos para que os seus filhos possam ver-se livres ou quase do uso de antibióticos. E ficam mesmo, acredite, Senhor Ministro, sem passes de mágica, de hipnose ou de milagres por intercessão divina. Só recorrendo a simples procedimentos hipocráticos e ao uso de fármacos, não antibióticos, de farmácia alopática. O problema é saber quais e como aplicá-los com critério e eficácia e isso, Senhor Ministro, não me parece que as suas equipas o venham a conseguir tão depressa, nessa urgente e árdua tarefa por todo o país, especialmente, quando confrontados com todas as impossibilidades que apontamos. A menos que muita coisa mude e isso acarreta-lhe despesas com reflexos sobre o malfadado défice. Por isso, suspeitamos que a sua cruzada não passará de uma montanha a parir um rato.
Será que o Senhor Ministro, em vez de se concentrar na escolha das tais equipas de experts em antibióticos, destinadas a fiscalizar por este país afora o receituário médico, (re)ensinando os clínicos negligentes a prescreverem corretamente estes fármacos e limitando o risco de infeções super-resistentes decorrente da utilização abusiva de alguns deles, tarefa esta que, dada a superior formação dos “mestres” convidados, vai sair bem cara a todos nós, contribuintes voluntários e involuntários do sistema, não quer antes atinar sobre os nossos humildes conselhos ou solicitar a alguém mais avisado nesta matéria que o faça em sua representação? Muitos irão ser os médicos penalizados, acreditamos, mas, salvo melhor opinião, não será desta forma que o Ministério da Saúde irá pôr termo ao uso considerado abusivo de antibióticos. É bem mais simples, a solução do problema.
Se não víssemos tantos incompetentes à frente da governação, boyjobs pagos a peso de ouro que pouco ou nada fazem a não ser afundar a Fazenda Pública com gestão danosa e perdulária, sem qualquer penalização ou responsabilidade criminal pelos seus atos, ficaríamos tentados a oferecer os nossos préstimos pro bono ao Senhor Ministro dando-lhe/ensinando-lhe a solução que [ele] precisa para resolver este problema do uso excessivo de antibióticos, com maior detalhe. Ah, e faríamos acompanhar a “chave do busílis” do necessário suporte estatístico, como convém.
Entendemos que as nossas sugestões, mesmo enquanto orientações gerais, poderiam ser úteis se fossem objeto de reflexão de alguém mais entendido nestas matérias de medicina preventiva. Usar-se-iam, seguramente, menos antibióticos.
Senhor Ministro, ainda que o ceticismo prevaleça, e muito bem, como atitude cautelar subjacente às criteriosas decisões de Vossa Excelência, face à conjuntura sociológico-política que se atravessa, solicite, pelo menos, a alguém de “olho clínico” mais apurado que se concentre nos avisados sinais que aqui deixamos. Creia que não aparecem todos os dias Bons Samaritanos como nós, humildes e dedicados cultores da nobre Arte Hipocrática, dispostos a tais préstimos.
João Frada
Médico/Professor Universitário
Esta medida, na sua essência é correta. Todavia, o problema do uso indiscriminado ou abusivo a que se referem os responsáveis da saúde em Portugal, não é tão simples assim de “desmontar”. Muitos médicos, como se provam pelos dados recolhidos a partir da análise do receituário, na opinião dos avisados governantes, prescrevem antibióticos por “dá cá aquela palha”. As razões subjacentes a tal fenómeno são múltiplas, mas atrevemo-nos a apontar as principais e, ao mesmo tempo, a chamar a atenção ao Senhor Ministro da Saúde, bem como aos seus avisados conselheiros, quer para a complexidade quer para as incongruências do próprio Sistema de Saúde, na nossa opinião, determinantes do dito uso abusivo de antibióticos.
- Começaríamos por apontar a maior falha do Sistema Nacional de Saúde, tal como ele está atualmente: Para evitar antibióticos, seria melhor apostar-se em vacinoterapia, seja ela específica ou inespecífica. Ora, algumas das importantes vacinas que poderão fazer a diferença na reconversão do processo de prescrição, considerado como abusivo, de antibióticos, não estão ao alcance da maior parte das famílias portuguesas, porque são caríssimas e não são minimamente comparticipadas pelo Estado. A título de exemplo, citamos a vacina antipneumocócica, disponível no mercado quer na sua forma infantil quer na de adulto, com custos atuais entre os 60 e os 65 euros cada embalagem.
Para a população pediátrica, por exemplo, considerada a faixa etária mais frágil e suscetível quando exposta a esta bactéria virulenta, especialmente responsável pela habitual morbilidade pós-gripal (meningites, pneumonias, amigdalites, faringites e otites), a vacina antipneumocócica 13-valente confere proteção contra os 13 serotipos mais agressivos deste microrganismo. Ninguém da classe médica tem dúvidas disto. Mas o Ministério tarda em a conceder grátis ou em beneficiar os seus utentes com alguma comparticipação minimizadora dos encargos familiares. Mais irónico, senão mesmo cínico, é o facto de nos novos Boletins de Vacinas distribuídos a cada criança pelos Centros de Saúde constar uma rubrica alusiva à dita vacina antipneumocócica. Parece, pois, ser considerada fundamental pelo próprio Ministério e deverá aplicar-se em três ou quatro doses, sem contar com o reforço catch-up dos cinco anos. Mas não faz parte do plano nacional de vacinação. Façamos contas e verifiquemos quanto custa a cada família, por criança, o respetivo programa completo.
Vamos ver quanto vai custar ao Ministério da Saúde a campanha de ensino do uso ou não uso de antibióticos!
- As atuais unidades de saúde a que recorrem os portugueses, sejam elas centros de saúde ou hospitais públicos ou privados, todas elas deverão ser geridas tendo em conta, cada vez mais, objetivos economicistas que traduzam, naturalmente, bons índices de desempenho e, no caso das últimas, também lucrativos. Com exceção das crianças e dos pacientes idosos, estes últimos psicologicamente mais dependentes do apoio médico e farmacológico, os indivíduos na idade profissional ativa recorrem, normalmente e apenas, a estas unidades sempre que o seu estado de saúde se encontra comprometido. Tendo em conta que o absentismo ao trabalho, mesmo por doença, tem hoje mais do que nunca, face às leis e exigências laborais, reflexos sérios sobre os magros proventos auferidos no fim do mês, estes pacientes não se podem dar ao luxo de curar um quadro gripal deixando-se ficar no domicílio entregues apenas ao “avinha-te, abifa-te e abafa-te” (chazinhos, com um ou dois dedais de conhaque, caldos proteicos de galinha, suadoiros e, eventualmente, antipiréticos). As patologias altas e baixas do aparelho respiratório e, em particular, a gripe, bem como as complicações respiratórias que quase sempre a acompanham são, ainda hoje, as causas mais frequentes da ida ao médico. Para quem vive mal, deprimido ou em stress permanente (condição a que a maioria da população não consegue fugir, agredida pela maldita crise económica que o país atravessa) e se alimenta pior, porque não beneficia de subsídios de alimentação ou não tem possibilidades de sonhar com fartas e lautas refeições, a fome parcial, ou seja a subnutrição proteica e vitamínica, é o estado fisiológico habitual. Ora, Senhor Ministro, a fome acompanha-se sempre, sempre, de imunodepressão e de doença subsequente. Mas até acreditamos que entre gente de casta superior como aquela a que Vossa Excelência e outros governantes pertencem nem se apercebam destas coisas comezinhas e insignificantes. Há até quem defenda que aumentar o salário mínimo é “ estragar a vida aos pobres” e que a “a maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres” (João César das Neves – economista e ex-assessor de Cavaco Silva). Aludirmos aqui a esta teoria idiota, a priori, poderá parecer despropositado, mas, na verdade, ela traduz a opinião mais do que convicta da governação a que o Senhor Ministro pertence, ainda que, no fundo, bem lá no fundo, enquanto alto dirigente da saúde em Portugal Vossa Excelência possa sentir o drama da real situação económica de grande parte das famílias portuguesas, afogadas na austeridade e sem recursos para lhe fazerem frente, dotadas apenas do dito salário mínimo. Por isso, perguntamo-nos aqui se o distinto economista, João César das Neves, dispõe de dados estatísticos para justificar o que diz sobre os tais pensionistas que considera fingidos e se ele próprio entende ou acredita que o salário mínimo a que se refere lhe chegaria, a ele, para encher a barriga condignamente durante um mês. Será que as suas convicções (de César das Neves), aquelas pelas quais Carlos Paz se atreve a mandá-lo, e muito bem, a um lugar bastante mal cheiroso (Carlos Paz – Carta Aberta a um Mentecapto (João César das Neves) https://www.facebook.com/carlos.paz.756/posts/700844983261907) foram estabelecidas com base em sondagens e análise estatística de amostras de população residente no condomínio onde vive ou no bairro onde faz as compras ao fim de semana?! Já nem nos atrevemos a perguntar-lhe se o dito salário mínimo, que considera um montante mais do que suficiente para a sobrevivência condigna seja de quem for, lhe chegaria para alimentar mais alguém a seu encargo!
A acreditarmos que o Senhor Ministro se pauta pela mesma medida, de manter o salário mínimo onde ele está, para que não surjam imediatas convicções de luxo, de riqueza e de perdularismo na cabeça dos assalariados, percebemos porque é que está preocupado com o uso abusivo dos antibióticos, os quais, afinal de contas, mesmo genéricos e comparticipados, acabam por pesar na balança da saúde. Tendo em conta a sua mística cruzada socio-cifrónica dentro do Ministério que dirige, e aplaudimos sem ironia algumas das suas estratégias, temos muita curiosidade em saber como é que as equipas de especialistas em antibióticos vão poder resolver este imbróglio do uso e abuso destes fármacos. De resto, até achamos algo paradoxal o título do projeto sanitário, porventura, criado como marca perene da passagem do Senhor Ministro por esta área: “Como usar corretamente antibióticos”.
Não seria melhor, Senhor Ministro, ter pensado num título slogânico mais adequado às reais conveniências da saúde, designando-o de: “Como não usar antibióticos”. Seria, quanto a nós, bem mais dissuasor. Mas, enfim, esta nossa sugestão não passa de uma questão semântica, porque, de facto, sempre se continuarão a prescrever e a usar antibióticos nas situações que o justifiquem.
- Perante o número cada vez menor de técnicos, médicos e enfermeiros, que compõem as equipas de saúde, e o volume de consultas diárias solicitadas/impostas aos mesmos técnicos, como resposta aos objetivos economicistas e de rentabilidade institucional exigidos pelo próprio Ministério, o tempo disponível para cada utente é de alguns escassos minutos. Vossa Excelência, inclusive, sonha desde há muito com o trabalho médico feito e pago à peça e considera que o número de consultas despachadas por hora e não a sua qualidade é que constitui a prioridade número do seu Ministério. O doente, entretanto, contrariamente ao que se possa pensar, não pode nem quer sujeitar-se a perder dias de trabalho, isolado no domicílio, face à imediata e lesiva repercussão no seu magro salário, para se recompor calmamente de uma gripe ou de uma complicação respiratória secundária, recorrendo apenas a mezinhas ou às medidas simples,… e sem antibióticos…, do “avinha-te, abifa-te e abafa-te”. O médico prescreve-lhe antibióticos para obviar o curso da doença e, quando não o faz, é o próprio utente que o exige. Alguns dias de ausência no trabalho pode ser um salário mínimo ainda mais baixo ou mesmo, em alguns casos, a rescisão do contrato e “um pé no olho da rua”, porque compromete o desempenho do cargo que executa e não atinge ou põe em causa os superiores e incontornáveis objetivos da empresa. Não é fácil ficar doente e, por vezes, a tentação do antibiótico fala mais alto.
Ora, nestas circunstâncias socioeconómicas e sanitárias e sem deixar de ter em conta a precaridade alimentar e os estados de imunodepressão que ela acarreta, e não precisamos de confirmação estatística como a que se deveria exigir a João César das Neves para confirmar a sua tese (“o aumento do salário mínimo estraga a vida aos pobres”), o que se deveria então fazer para não usar e abusar de antibióticos?!
Simples:
- Alimentar melhor a população, educando-a nesse sentido e, como é óbvio, garantindo-lhe também mais rendimentos para tal. Porque a alimentação equilibrada (assente na qualidade, quantidade, adequação e harmonia) é cara. Ou o Senhor Ministro, porque ganha bem acima do salário mínimo e come bem e fartamente, desconhece o custo de vida em Portugal e quanto representa essa fatia em termos de despesa mensal para qualquer vulgar cidadão de poucos recursos? Cremos que não.
- Depois, o não uso de antibióticos, Senhor Ministro e caros especialistas convidados a participarem neste programa nacional de educação clínica, supostamente experts na prescrição destes fármacos, deveria passar, não apenas pela preocupação de orientar os médicos prescritores no âmbito da Terapêutica Curativa, mas também pela aposta na Terapêutica Preventiva. Assim, este seu projeto deveria, isso sim, centrar-se na orientação e aconselhamento da classe médica sobre o Não Uso de Antibióticos, através das necessárias estratégias de formação no domínio da Prevenção, apostando na difusão e no ensino das normas, regras e conselhos ligados à higiene respiratória (evicção alergénica), tendo em conta que muitos dos indivíduos a quem é prescrito o antibiótico sofre frequentemente de patologia respiratória de etiologia atópica e, ao mesmo tempo, possibilitar ao doente o acesso comparticipado aos diversos fármacos e, em especial, às vacinas disponíveis para prevenir tais situações. Curiosamente, este ano de 2013, até as vacinas antigripe anunciadas como dádiva grátis em todos os centros de saúde do país não têm estado disponíveis em farmácias nem nestas instituições de saúde pública. E depois, Senhor Ministro da Saúde, Vossa Excelência não quer que os quadros virais derrapem em patologias bacterianas e em antibioterapia subsequente?!
Mas, o Senhor Ministro, porque alguém lhe disse que se usa e abusa de antibióticos, e teve razão, esqueceu-se de outros tantos “pequenos pormenores”:
- Consignar mais “tempo de antena” ao médico para uma boa anamnese, um melhor exame objetivo e uma adequada orientação terapêutica, quer no domínio dos conselhos higiénicos, quer no uso dos fármacos prescritos.
- Exigir cursos de formação na área da higiene respiratória, da infeciologia e, sobretudo, da alergologia a toda a classe médica e, em particular, àqueles clínicos que, comprovadamente, têm usado e abusado de antibióticos, segundo os dados oficiais recolhidos.
- Garantir que todas as vacinas disponíveis no mercado, orais ou injetáveis, como é óbvio, com ação profilática mais do que comprovada, quer por ensaio experimental quer por evidência clínica, sejam fornecidas grátis à população ou, no mínimo, razoavelmente comparticipadas, o que não se verifica desde há muito, por forma a prevenir as doenças mais comuns e, desta forma, reduzir o uso de antibióticos.
Quem está no terreno como nós e, ao longo de décadas, consegue que milhares de crianças, recorrentemente agredidas por antibioterapia, tenham deixado de usar estes fármacos ou nem sequer os tenham nunca tomado, apenas pelo recurso aos cuidados exaustivos de higiene respiratória (medidas de evicção alergénica), à reconversão e ao reforço do seu sistema imunitário com vacinas e fármacos apropriados, sabe do que estamos a falar. Mas a maior parte destes recursos terapêuticos, desde há muito, não têm a menor comparticipação e pesam bastante nas magras bolsas das famílias. São estas, as pobres famílias com pouco mais do que o salário mínimo, que têm de desembolsar os custos totais destes protocolos para que os seus filhos possam ver-se livres ou quase do uso de antibióticos. E ficam mesmo, acredite, Senhor Ministro, sem passes de mágica, de hipnose ou de milagres por intercessão divina. Só recorrendo a simples procedimentos hipocráticos e ao uso de fármacos, não antibióticos, de farmácia alopática. O problema é saber quais e como aplicá-los com critério e eficácia e isso, Senhor Ministro, não me parece que as suas equipas o venham a conseguir tão depressa, nessa urgente e árdua tarefa por todo o país, especialmente, quando confrontados com todas as impossibilidades que apontamos. A menos que muita coisa mude e isso acarreta-lhe despesas com reflexos sobre o malfadado défice. Por isso, suspeitamos que a sua cruzada não passará de uma montanha a parir um rato.
Será que o Senhor Ministro, em vez de se concentrar na escolha das tais equipas de experts em antibióticos, destinadas a fiscalizar por este país afora o receituário médico, (re)ensinando os clínicos negligentes a prescreverem corretamente estes fármacos e limitando o risco de infeções super-resistentes decorrente da utilização abusiva de alguns deles, tarefa esta que, dada a superior formação dos “mestres” convidados, vai sair bem cara a todos nós, contribuintes voluntários e involuntários do sistema, não quer antes atinar sobre os nossos humildes conselhos ou solicitar a alguém mais avisado nesta matéria que o faça em sua representação? Muitos irão ser os médicos penalizados, acreditamos, mas, salvo melhor opinião, não será desta forma que o Ministério da Saúde irá pôr termo ao uso considerado abusivo de antibióticos. É bem mais simples, a solução do problema.
Se não víssemos tantos incompetentes à frente da governação, boyjobs pagos a peso de ouro que pouco ou nada fazem a não ser afundar a Fazenda Pública com gestão danosa e perdulária, sem qualquer penalização ou responsabilidade criminal pelos seus atos, ficaríamos tentados a oferecer os nossos préstimos pro bono ao Senhor Ministro dando-lhe/ensinando-lhe a solução que [ele] precisa para resolver este problema do uso excessivo de antibióticos, com maior detalhe. Ah, e faríamos acompanhar a “chave do busílis” do necessário suporte estatístico, como convém.
Entendemos que as nossas sugestões, mesmo enquanto orientações gerais, poderiam ser úteis se fossem objeto de reflexão de alguém mais entendido nestas matérias de medicina preventiva. Usar-se-iam, seguramente, menos antibióticos.
Senhor Ministro, ainda que o ceticismo prevaleça, e muito bem, como atitude cautelar subjacente às criteriosas decisões de Vossa Excelência, face à conjuntura sociológico-política que se atravessa, solicite, pelo menos, a alguém de “olho clínico” mais apurado que se concentre nos avisados sinais que aqui deixamos. Creia que não aparecem todos os dias Bons Samaritanos como nós, humildes e dedicados cultores da nobre Arte Hipocrática, dispostos a tais préstimos.
João Frada
Médico/Professor Universitário
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domingo, 10 de novembro de 2013
O CRIME PARECE COMPENSAR
A polícia, o exército, os militares da GNR ou qualquer outra força da ordem, a partir de agora, quando confrontados com uma situação idêntica a esta, a dos ciganos, alegadamente gatunos em fuga com armas, bagagens e toda a família atrás, novos, velhos e crianças, … praxe corrente… a que se poderão juntar cães, éguas, mulas e cavalos, como é óbvio, terão primeiro de proceder ao levantamento fotográfico através de infravermelhos, por satélite ou outro meio de identificação preciso, que não colida com a privacidade ou os direitos humanos, e só depois deverão apontar os canhangulos para os alvos a abater, excluindo, à partida, velhos, mulheres, crianças e, naturalmente, um ou outro distinto representante da raça cavalar. Há que contar com a atenta e ativa intervenção dos organismos e associações de proteção da mulher, dos velhos, das crianças e dos animais. Ninguém deve dar-se ao luxo de andar por aí a disparar ao Deus dará, ainda que julgue ser essa a única saída para pôr termo a um assalto. E, desta vez, um menino, adolescente, aprendiz ou não da velha “Arte de Furtar”, colocado tragicamente no local e na hora errados, numa carrinha (camionete) usada para um assalto, servindo, supomos, involuntariamente de escudo à família, foi baleado e faleceu. Lamentável, esta ocorrência.
O pobre do militar da GNR, não dispondo de leitor de infravermelhos, a fim de flashar quantos e quais seriam os ocupantes da viatura em fuga, coagido pela força do dever na sua arriscada missão diária de controlo e de manutenção da segurança pública, depois de uns tiros de aviso para o ar, que na confusão da fuga em alta velocidade e de janelas fechadas nem se teriam seguramente ouvido, faz aquilo que as normas de manutenção da ordem pública determinam: alveja a viatura dos assaltantes. Azar. O mais inocente da família de assaltantes paga com a vida as “borradas” dos adultos.
Moral da história, na perspetiva do/a inteligente magistrado/a que julgou o caso:
- Os larápios, ao transportarem uma criança de onze anos durante o assalto, eles próprios, estavam a colocar em risco a vida da mesma, o que viria a acontecer. Insensatos e imprudentes não foram responsabilizados, que se saiba, como agentes deste homicídio involuntário. Apenas um lapso judicial…
- Provavelmente, apesar dos sinais exteriores de riqueza da família atingida pela morte tão funesta desta criança, ninguém irá indemnizar o Estado português pelos prejuízos e custos com a manutenção da lei e da ordem, nem arcará com o respectivo pagamento das custas de justiça. Será, uma vez mais, o Zé Povo, incluindo os lesados do roubo e, claro, o azarento militar da GNR a suportar com os seus impostos tais despesas judiciais, bem como a compensar, monetariamente, a família da vítima.
Como corolário de tudo isto, um vez que o crime compensa e os exemplos desta realidade em Portugal “são mais que muitos”, somos levados a acreditar que, a partir de agora, depois de uma decisão judicial tão inteligente como a que acabámos de assistir, qualquer meliante, decidido a assaltar um banco, uma casa ou uma repartição de Finanças no fim do mês ou na época adequada de receção do IRS ou IRC, …porque não?!..., levando crianças às costas, ao colo ou a tiracolo, pela mão ou pela trela, sempre tem mais possibilidades de escapar a qualquer tiroteio imprevisto levado a cabo pelos “ceguinhos” dos GNR, os quais, visivelmente, apesar do treino periódico, não atingem gente grande e, vai-se lá saber porquê, só acertam em alvos pequenos. E até se sinalizar, prévia e devidamente, a viatura de fuga, postando uma boa foto ou um autocolante com boas dimensões aludindo à presença de bebé a bordo, fazendo bluff ou não (usando mesmo uma criança como escudo protetor, como foi o caso), quem sabe se não virá a ter maior possibilidade de êxito, dissuadindo as forças de segurança e evitando que elas ponham termo a estas tropelias de uma maneira tão radical e desumana. O crime, bem urdido, parece compensar.
João Frada
Professor Universitário
POA, 09.11.13
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
TELEFONEMA
Está lá?
Estou sim, respondes com doçura
E aguardas ansiosa o meu falar
Ligados por um fio de ternura
Os nossos corações sobressaltados
Galopam de contentes, sem parar
Ligar-te à mesma hora é quase um vício
Um ritual que tem de acontecer
Um bálsamo que alivia o suplício
Que eu sinto, meu Amor, por não te ver
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
Estou sim, respondes com doçura
E aguardas ansiosa o meu falar
Ligados por um fio de ternura
Os nossos corações sobressaltados
Galopam de contentes, sem parar
Ligar-te à mesma hora é quase um vício
Um ritual que tem de acontecer
Um bálsamo que alivia o suplício
Que eu sinto, meu Amor, por não te ver
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
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quarta-feira, 6 de novembro de 2013
RÉSTIA DE ESPERANÇA
Tentei que os nossos caminhos se cruzassem
e quantas vezes 'stendi a minha mão,
esperando de ti um gesto ou um sorriso,
desejando que os teus olhos me fitassem,
e me amparasses, amor, como um bordão,
que me servisses de guia, de farol,
enquanto o meu andar fosse indeciso
e tardasse a descobrir a luz do sol.
Vi partir andorinhas, foi-se a esperança
de ver chegar um dia a Primavera,
de sentir o teu rosto junto ao meu,
de te envolver p'la cintura numa dança,
de sermos num abraço, tu e eu,
a vida, um sonho cheio de saudade,
a magia total de uma quimera
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
e quantas vezes 'stendi a minha mão,
esperando de ti um gesto ou um sorriso,
desejando que os teus olhos me fitassem,
e me amparasses, amor, como um bordão,
que me servisses de guia, de farol,
enquanto o meu andar fosse indeciso
e tardasse a descobrir a luz do sol.
Vi partir andorinhas, foi-se a esperança
de ver chegar um dia a Primavera,
de sentir o teu rosto junto ao meu,
de te envolver p'la cintura numa dança,
de sermos num abraço, tu e eu,
a vida, um sonho cheio de saudade,
a magia total de uma quimera
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
ESTA SAUDADE
Esta saudade profunda que me aperta
A garganta e o peito me magoa
É a força que eu ponho nos meus passos
Quando vagueio sem ti na noite incerta
E a solidão calada me atordoa
Esta saudade cravada no meu peito
De cada gesto teu, de cada beijo
É o alento que eu tenho no desânimo
No fim de cada abraço em que te estreito
Em cada despedida em que me vejo
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
A garganta e o peito me magoa
É a força que eu ponho nos meus passos
Quando vagueio sem ti na noite incerta
E a solidão calada me atordoa
Esta saudade cravada no meu peito
De cada gesto teu, de cada beijo
É o alento que eu tenho no desânimo
No fim de cada abraço em que te estreito
Em cada despedida em que me vejo
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
domingo, 3 de novembro de 2013
UNIVERSIDADE LUSO-BRASILEIRA E TÍTULOS DE DOUTOR "HONORIS CAUSA"
O meu amigo António Filipe Soares, homem que, por demais conhecido entre a comunidade luso-brasileira do RGS, dispensa apresentação, quando lhe transmiti ter tido notícia, pela televisão, da apresentação do primeiro livro da autoria do nosso “filósofo” socrático, obra esta patrocinada pela Fundação Mário Soares e prefaciada pelo ex-presidente do Brasil Lula da Silva, depois de elucidado sobre o brilhante currículo do nosso ex-primeiro ministro e sabedor das grandes capacidades de qualquer um dos distintos atores da política lusa e brasileira, fez uma previsão que, ainda que pareça utópica, é algo perfeitamente previsível atendendo às circunstâncias de genialidade estratégica comum a cada um deles.
O livro em causa, versando a “Tortura em Democracia”, matéria que Sócrates domina na perfeição, depois de nos ter torturado e colocado sob tortura por longos anos com os negócios ruinosos das PPP, dos SWAP, do BPN e de outras tantas negociatas a que não pôs termo ou fechou os olhos, enquanto primeiro ministro, é uma obra produzida no âmbito da sua grande aposta lúdico-académico-filosófica parisiense, resultado da sua tese de mestrado em “Ciência Política”, a que muitos já chamam não de “livro branco”, mas de “livro negro”, atendendo à matéria dolorosa de que trata, seguramente, inspirada em múltiplos momentos da sua governação perdulária cravada, por longos anos , na pele de muitos portugueses. Quanto às “fontes” primárias deste “livro negro”, dizem as más línguas, não sabemos se não terão desaparecido, de todo, antes de serem devidamente “tombadas” e, nessa medida, não sabemos se se trata de um trabalho de revisão, de síntese ou de um trabalho original. Mas a importância da obra não cobre, nem de longe, o expoente maior deste admirável encontro, num momento tão solene. E é este acontecimento, bem retratado na internet para quem gostar dos pormenores, que levaria o meu amigo António Filipe, no seu jeito irónico e humorístico, a estabelecer este presságio: do encontro destes dois tão gratos expoentes da política, da cultura e da intelectualidade lusa e brasileira, homens que não dão ponto sem nó,…e só ali faltava o Relvas, destacado para o Brasil como nosso “embaixador” para a difusão da história, língua e cultura lusófonas…, ainda pode vir a resultar, quem sabe, uma importante e inesperada paridela: a criação de uma universidade para atribuição de títulos de Doutor Honoris Causa. Uma ideia excelente e, atendendo à grande qualidade intelectual dos visados, digníssimos académicos e, simultaneamente, destacadas figuras políticas das duas nações irmãs, nunca se sabe se esta conceção inconcebível não irá vingar, definitivamente! E com um estatuto independente, esta nova universidade sui generis, até poderia atribuir títulos ao sábado, domingo, feriados e dias santos. Quem é que vai questionar títulos tão importantes e tão imprescindíveis a quem não os tem?! Achamos que um engenheiro filósofo e dotado como Sócrates, licenciado ou não ao domingo, já deu provas evidentes da sua grande sabedoria e ainda não nos mostrou tudo quanto vale nem pôde demonstrar-nos todo o seu magnífico potencial, tal como afirmava, convictamente, Mário Soares, há uns tempos, após aquelas malfadadas eleições ganhas por Passos Coelho. Supomos que este avisado dinossauro socialista se referiria às capacidades presidenciais, porque as ministeriais já deu para ver, e de que maneira. Sócrates merece também, tal como o seu amigo Lula, o título de Doutor Honoris Causa. Merece-o por toda a sua grande dedicação à causa pública. E logo que ainda ninguém se lembrou de lhe atribuir, como a Lula da Silva, tal distinção, pois que sejam ambos a lançar, e depressa, as pedras de tal universidade, cá, lá ou pelo caminho, em qualquer poiso onde os seus fundadores possam ter oportunidade de premiar quem ainda não foi bafejado por tal honra: receber um “Doutorado” ou “Doutoramento” (à portuguesa), sem abrir um livro. Também quero! Tão bom, ser finalmente doutorado e não apenas um pseudo-doutor licenciado. Já imaginaram quantos candidatos!?
João Frada
Professor Universitário
(Ainda sem título de Doutor Honoris Causa)
Porto Alegre, 03.11.13
sábado, 2 de novembro de 2013
AMO-TE
Amo-te
Nesta órbita excêntrica, impassível
À medida que vão rodando os dias
As horas, os minutos, os segundos
Na inquietação, nas loucas correrias
No encontro intemporal dos nossos mundos
Amo-te
Nas coisas simples, no gesto imperceptível
Na tarde cheia, na manhã vazia
Em momentos de paz e de amargura
Na solidão e na melancolia
Em instantes de raiva e de ternura
João Frada, Olhos, nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
Nesta órbita excêntrica, impassível
À medida que vão rodando os dias
As horas, os minutos, os segundos
Na inquietação, nas loucas correrias
No encontro intemporal dos nossos mundos
Amo-te
Nas coisas simples, no gesto imperceptível
Na tarde cheia, na manhã vazia
Em momentos de paz e de amargura
Na solidão e na melancolia
Em instantes de raiva e de ternura
João Frada, Olhos, nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
OPÇÃO
Chegaste ao sol-pôr da minha idade
Guiada pela estrela da ternura
Como se eu fora praia em maré-cheia.
Remaste entre o amor e a amizade
Lutaste entre o perto e a lonjura
Ficaste ao pé das ondas e d'areia.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
Guiada pela estrela da ternura
Como se eu fora praia em maré-cheia.
Remaste entre o amor e a amizade
Lutaste entre o perto e a lonjura
Ficaste ao pé das ondas e d'areia.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
ESTOU CONTENTE
Estou contente
Por saber que não vivo uma ficção ou utopia.
Por me sentir um cidadão fundamental,
aqui gerado e crescido de raiz.
Por poder gritar, em Portugal,
medrado em saudade e maresia:
– Tenho a Europa a meus pés e aqui à mão.
– Sou pobrezinho mas senhor do meu nariz.
Estou contente
Por ver a transparência dos meus príncipes,
imbuídos de altruísmo e sentimentos,
reluzentes de franqueza e honestidade,
declarando os seus parcos rendimentos
como qualquer cidadão, vulgar mortal,
pedagogo, poeta e dramaturgo.
Por constatar que também sofrem de saudade
quando regressam, de vez, à capital,
cansados da fartura de Estrasburgo.
Estou contente
Por ver que prevalece a rectidão,
entre todas as normas de conduta,
e os braços da justiça são adagas
que não concedem amnistia nem perdão
aos vermes roedores, «bichos-da-fruta»,
que nos assolam a vida como pragas.
Estou contente
Por ver no meu país desconhecido,
rasgado pelos dinheiros estruturais,
estradas e pontes sem curvas e sem bossas.
Embora haja sempre alguém desiludido,
amante das paisagens naturais,
saudoso de ver burros e carroças.
Estou contente
Por poder abrir a boca, finalmente,
gritando em liberdade, com justiça:
– Tenho um rei e um ministro geniais.
Estou contente
Por ser súbdito deste reino diferente,
talhado em vinho fino e em cortiça,
predestinado a altos ideais.
Estou contente!
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
Por saber que não vivo uma ficção ou utopia.
Por me sentir um cidadão fundamental,
aqui gerado e crescido de raiz.
Por poder gritar, em Portugal,
medrado em saudade e maresia:
– Tenho a Europa a meus pés e aqui à mão.
– Sou pobrezinho mas senhor do meu nariz.
Estou contente
Por ver a transparência dos meus príncipes,
imbuídos de altruísmo e sentimentos,
reluzentes de franqueza e honestidade,
declarando os seus parcos rendimentos
como qualquer cidadão, vulgar mortal,
pedagogo, poeta e dramaturgo.
Por constatar que também sofrem de saudade
quando regressam, de vez, à capital,
cansados da fartura de Estrasburgo.
Estou contente
Por ver que prevalece a rectidão,
entre todas as normas de conduta,
e os braços da justiça são adagas
que não concedem amnistia nem perdão
aos vermes roedores, «bichos-da-fruta»,
que nos assolam a vida como pragas.
Estou contente
Por ver no meu país desconhecido,
rasgado pelos dinheiros estruturais,
estradas e pontes sem curvas e sem bossas.
Embora haja sempre alguém desiludido,
amante das paisagens naturais,
saudoso de ver burros e carroças.
Estou contente
Por poder abrir a boca, finalmente,
gritando em liberdade, com justiça:
– Tenho um rei e um ministro geniais.
Estou contente
Por ser súbdito deste reino diferente,
talhado em vinho fino e em cortiça,
predestinado a altos ideais.
Estou contente!
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
domingo, 27 de outubro de 2013
AGNOSIS
Ontem desfolhei-te,
apressado, entre o possível e o impossível.
Mas não te soube ler,
crente na minha lucidez,
na minha percepção inteligente,
na lógica provável, previsível.
Perspectivei-te
entre o legível e o ilegível,
como se as tuas ideias, todas,
desaguassem num estuário aberto e navegável.
E nada pude ver.
Nem águas, nem margens, nem foz
desse rio que inunda a tua mente.
Entrei em ti.
Mas não vislumbrei nenhum dos teus sentidos.
Não franqueei
a tua dor por dentro das palavras.
Não senti
a solidão nas tuas pálpebras cerradas.
Não pressenti
o teu mundo utópico, irreal.
Não percebi
a ironia dos teus versos delicados.
Não comunguei
do teu sofrimento transbordante.
Não avaliei
a força dos teus gritos sufocados.
Não distingui
nem suplício nem tortura.
Não vi teu desespero impaciente.
Hoje,
alienado e escravo da dor e da loucura,
pude compreender-te, finalmente.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
apressado, entre o possível e o impossível.
Mas não te soube ler,
crente na minha lucidez,
na minha percepção inteligente,
na lógica provável, previsível.
Perspectivei-te
entre o legível e o ilegível,
como se as tuas ideias, todas,
desaguassem num estuário aberto e navegável.
E nada pude ver.
Nem águas, nem margens, nem foz
desse rio que inunda a tua mente.
Entrei em ti.
Mas não vislumbrei nenhum dos teus sentidos.
Não franqueei
a tua dor por dentro das palavras.
Não senti
a solidão nas tuas pálpebras cerradas.
Não pressenti
o teu mundo utópico, irreal.
Não percebi
a ironia dos teus versos delicados.
Não comunguei
do teu sofrimento transbordante.
Não avaliei
a força dos teus gritos sufocados.
Não distingui
nem suplício nem tortura.
Não vi teu desespero impaciente.
Hoje,
alienado e escravo da dor e da loucura,
pude compreender-te, finalmente.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
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O Conceito de Desestruturação Partido-familiar do Presidente da República
Não há razões para lançar a “bomba atómica”, dissolvendo o governo,… dizia há uns tempos Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, no decurso da entrevista em “Prós e Contras”. Talvez tenha razão.
Há crise social e económica, mas não há crise política. Será que não? Mesmo dentro da coligação?!... esta, que transparece estar cada dia mais frágil, colada com cuspo, mal se aguentando de pé! Paulo Portas, porém, vai-se contentando com uns pirulitos que Passos Coelho lhe oferece, depois de bem regateados.
Ainda que Paulo Portas, acrobático, inteligente e pragmático como é e sempre foi, a conselho ou não de Sua Excelência, o PR, continue a servir de boia de salvação ao seu parceiro Passos Coelho e a todos os náufragos deste navio tão desmantelado pelo vendaval da crise económica e social em que se tornou o país, a coligação dificilmente não soçobrará. Mas há quem afirme que é só uma questão de tempo e se não for por “bomba atómica”, acabará por ser pelo desgaste e pelos contínuos rombos no casco monetário. A ver vamos.
O PR, assumindo-se como o elemento agregador de todos os portugueses, como garante da estabilidade política do país, defende com a maior das convicções que jamais servirá de elemento “desestruturador” da sociedade a que preside. Desiludam-se os que esperam dele tal missão suicida. Compreendemos e respeitamos a sua postura. Mas apetece-nos dissecar o conceito de “desestruturador” a que se refere. Será que os milhares largos de famílias sem meios de subsistência, sem receitas de emprego para pagarem rendas, para darem comida aos filhos, para custearem minimamente a sua sobrevivência, em risco de despejo ou já despejadas da sua habitação, deprimidas e enlouquecidas pelo sofrimento, caídas ou a caírem na violência física e psicológica (onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão), no divórcio, outras até no crime, já que o roubo e a pilhagem têm aumentado em exponencial, o que é um fenómeno sociológico natural e previsível nestas circunstâncias, vivendo nas malhas da incoesão social e da desestruturação, não devam constituir preocupação para Sua Excelência, o senhor PR?! Ou a sua noção de desestruturação, da qual, frisou, nunca virá a ser o agente responsável, aplica-se apenas à família governamental chefiada por Passos Coelho, com quem se identifica politicamente?!
Inexoravelmente sujeitos a esta alternância fatal que nos governa, se as eleições legislativas ocorressem nesta altura, antecipadas pela dita “bomba atómica”, seguramente, seria Seguro a governar-nos. Outro socialista. E Sua Excelência, o PR, não gostou do sentido de lealdade do último com quem teve de lidar, Sócrates. Apesar das constantes hesitações e da presidência errática de que o acusam, obviamente, considerações sem fundamento já que é um homem que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”, na nossa opinião agiu bem. Preferiu apostar em Passos Coelho. Entre os dois, ambos incapazes de libertar o país da profunda crise financeira, económica e social em que se encontra, do mal o menos, escolheu o que melhor serve os interesses do seu clã político. Apesar de presidir a uma sociedade cada vez mais desestruturada, é melhor que a oposição se desiluda. O PR, cansado de ser constantemente alvejado por snipers políticos do PS, Sócrates, Mário Soares, Seguro, etc, pode ter ainda “raras dúvidas”, como ele próprio afirma, mas DESESTRUTURAÇÕES pela sua mão, dando a governação de bandeja aos socialistas, ISSO, NUNCA.
João Frada
Professor Universitário
Lisboa, 11.09.13
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Um País de Desertos e Camelos
Num país de ficção, onde cerca de 10 milhões de camelos vagueiam em busca, não de oásis, que desapareceram há muito perto do mar, longe do mar, no norte, no sul, no centro, mas de catos, de arbustos rasteiros, de erva rala, restos que sobram da fartura de outros tempos, nessa jornada sem futuro nem meta de chegada, quantos vão ficando pelo caminho, trôpegos e desgastados pela marcha cada dia mais penosa, envelhecidos pela idade e sem fim à vista, uma verdadeira cáfila condenada à anomia e ao extermínio, porque os mais capazes e prolifícos vão rumando a outras paragens fora de portas, amarrando-se definitivamente a outros espaços e a outras rotas mais aliciantes, e os que por cá ficaram, pasto de feras esfomeadas que os rondam dia e noite, não têm tempo nem condições para renovar a espécie, nada que lhes garanta o mínimo de segurança, alimentação e saúde, nem para si nem para outros camelos, seus vindouros.
Milhares de camelos, machos e fêmeas, instruíam, educavam e preparavam os mais novos para as longas jornadas dentro e fora dos desertos, mas os cameleiros, cada vez mais ausentes das suas funções, corrompidos pela usura e pela ganância, bem diferentes dos cameleiros de outros tempos, pouco se ralam em renovar a cáfila…e os pastos garantidos a quem já não tem dentes nem para ruminar e as múltiplas missões traçadas e ensinadas aos mais jovens estão destinados a perder-se, definitivamente, nos desertos da memória. No meio de tantos cameleiros, que de tanto lidar com camelos viraram, não camelos, pasme-se, mas burros no sentido popular do termo, ainda houve um “iluminado”, crente nos oásis, que ponderou premiar o nascimento de camelos, mas ficou-se por aí. Não passou de uma efémera intenção. Os burros que se lhe seguiram preocupam-se com outros défices, não com a manada; essa, ainda que reduzida, serve os seus propósitos.
Um país sem horizontes, com milhões de camelos envelhecidos, cansados de ser albardados, chicoteados, sangrados e vendidos, e sem camelos novos para troca de montadas, é uma pobre “caravana” condenada à extinção.
João Frada
Professor Universitário
Lisboa, 16.08.13
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
DEMISSÕES OU PUNIÇÕES?
“O Governo vai demitir os gestores ligados à contratualização de swaps especulativos nas empresas públicas, de acordo com a imprensa.
Serão afectados todos os administradores das seis entidades que o IGCP considerou terem subscrito produtos tóxicos. Estas são a Metro de Lisboa, Metro do Porto, Carris, STCP, CP e Egrep, responsáveis pela celebração destes contratos entre 2003 e 2011.”
(Governo demite gestores ligados a swaps especulativos Economia ... dinheirodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=199868)
Analisando, simplesmente, o conteúdo desta notícia, poderíamos chegar a esta brilhante conclusão: o Governo, porventura convicto de que, junto da opinião pública recupera alguma credibilidade no plano da transparência, da isenção, do rigor e bom senso governativo, decidiu punir, através da demissão, meia dúzia de inteligentes figurões que, enquanto gestores da “coisa pública”, especialistas como serão ou deveriam ser em gestão, economia e finanças, não souberam avaliar os riscos dos contratos realizados e acabaram por lesar o Estado, ou seja, todos nós, nuns bons milhões de euros. Obrigou-os a pedir a demissão, com vista a apurar factos até às últimas consequências, ou simplesmente aconselhou-os a irem pregar para outra freguesia, como é costume?
Descem as taxas de juro, como poderiam ter subido, mas os inteligentes gestores das ditas entidades públicas, bem remunerados e quase sempre premiados a peso de ouro (alguns ganhando mais que o PM), em vez de preverem estas e outras oscilações, pelos vistos, optaram por negociar com a banca e fixar as taxas de juros. Uma decisão de somenos importância: as taxas de juro baixam, mas em nada beneficiam o devedor, ou seja, a instituição que contraíu o empréstimo. A banca continua a engordar e o erário público a emagrecer. Mais uns negócios ruinosos e danosos para os cofres do Estado, isto é, para os bolsos esburacados e vazios de todos nós. Um azar, uma imprevisibilidade, um pormenor que não deve ser tomado tão à letra pelo tão zeloso Governo. E vai daí, punem-se os ditos cujos, obrigando-os ou, porventura, aconselhando-os a assinar um vergonhoso pedido de demissão.
Passos Coelho parece mesmo decidido a tomar a peito a investigação destes ruinosos contratos, tão lesivos das nossas frágeis finanças públicas:
“Houve muitas empresas que deram pareceres, muitos assessores financeiros que deram pareceres, aval a essas situações, que disseram: essas decisões foram muito bem tomadas, é preciso saber quem é que nessas empresas deu esses pareceres positivos, achou bem aquilo que hoje custa milhares de milhões de euros de custo potencial para o país (…)
O PM defende ainda que “enquanto essa gente estiver a fazer pereceres e a assinar contas, essas empresas não sejam contratáveis pelos institutos públicos, pelas empresas públicas, pelo Estado”.( Responsáveis pelos 'swap' devem ser afastados - Política - Sol sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id...)
Muitos por aí pedem que o PM não pretenda apenas saber quem foram ou são todos os intervenientes e maus decisores neste processo, direta ou indiretamente responsáveis por mais este descalabro nas contas públicas, e peça responsabilidade criminal por gestão danosa, e já, a todos eles. Se PM perdesse a cabeça e ousasse ir por diante com tal ousadia, provavelmente, desta vez, é que iria ser a dita “bomba atómica”, pior que o relatório do FMI sobre os cortes de Estado apresentado em janeiro passado. Isso não! Seria um exagero…realmente nunca visto em Portugal. Com gestores de nível, gente de gravata e colarinho branco, com currículos irrepreensíveis, tem de haver alguma complacência. Ainda se fosse um cidadão qualquer, metido a empresário, que geriu mal o negócio e no fim do ano não pagou a quem devia, não pagou à Segurança Social, nem pagou o fisco! Esse, sim, porque é burro, uma besta sem estudos e se mete a gestor sem perceber bem o que são swaps, assumindo às cegas contratos bancários com taxas de juro fixas, e arruinando completamente o património da empresa, tem que ser punido: arrestem-se-lhe os bens, congelem-se-lhe as contas bancárias, prenda-se o indivíduo, apliquem-se-lhe penas cívicas na impossibilidade de compensações pecuniárias, dê-se-lhe um castigo exemplar. Agora a gestores desta categoria, que se desgasta(ra)m a administrar entidades complexas como aquelas supracitadas, às vezes sabe-se lá com que sacrifícios, já que são conselheiros, dão pareceres e administram, simultaneamente, bem mais de uma dúzia de empresas com toda a sapiência e elevado grau de dificuldade, cumprindo horários de trabalho de “28 horas por dia”, seria uma indignidade, uma injustiça! E correr-se-ia o risco de qualquer dia ninguém querer aceitar estes incómodos lugares na administração pública, o que poderia constituir um percalço governativo considerável, não obstante as chorudas remunerações auferidas. É de realçar que estes superiores cargos de gestão são quase sempre, como é óbvio, atribuídos a gente “espertíssima” na matéria… governadores, diretores e administradores…que, demonstradamente, nestes últimos 25 anos, por total iniciativa individual ou fiados nos seus mais diletos conselheiros, experts na mesma área, tem conduzido sabiamente os rumos do país e contribuído pelo seu esforço abnegado e patriótico para o enriquecimento, bem-estar e felicidade de todos os portugueses. Colocados nos mais diversos setores estratégicos, ministérios, banca, etc., a sua altíssima competência, nacional e internacionalmente reconhecida, é de tal ordem que a maior parte deles acaba por ir parar a bons lugares, fora de portas, como o Banco Central Europeu, por exemplo, instituição onde parecem ir parar todos os nossos distintos “vítores”, muito justamente agraciados pelas “vitórias” alcançadas dentro de portas. Se Portugal é, em termos económico-financeiros e sociais, a expressão incontestável da sua […deles…] brilhante capacidade governativa é justo que o BCE possa usufruir também dos seus insubstituíveis e profícuos contributos. Por todas as razões, obriguem-se os maus gestores a pedir a demissão, mas puni-los com responsabilidade criminal, isso, não! Abrir um precedente desta natureza poderia constituir uma epidemia jurídico-penal difícil de controlar. Se a justiça é uma via com tráfego de velocidade lenta passaria, seguramente, a ficar entupida, de vez.
João Frada
Professor Universitário
Lisboa, 01.06.13
domingo, 20 de outubro de 2013
O SUS do Brasil e os Médicos Importados
Na sequência do que temos ouvido e lido sobre o interesse do SUS (Sistema Único de Saúde) e a enorme importância sanitária e assistencial deste serviço público, tendo a conta a realidade assistencial e sociológico-política do Brasil e a ação de sistemas de saúde idênticos implementados noutros países, somos levados a concluir que se trata de uma grande conquista política, não obstante as falhas e imperfeições que lhe possam ainda atribuir.
O facto de toda a gente, pobre, remediada ou rica, a partir de 1988, ter acesso a serviços de saúde poderá, futuramente, vir a representar um dos maiores ganhos de política social do Brasil, desde que se observem os necessários e constantes ajustamentos à realidade global do país. Segundo fontes sobre o assunto, o número de beneficiados passou de 30 milhões para 190 milhões. Por outro lado, o ter deixado de ser da responsabilidade do Poder Executivo Federal a gestão deste sistema, para passar a ficar sob a tutela dos diversos Estados e municípios, na verdade, instituições bem mais próximas e identificadas com a população e com os seus problemas sanitários, é também uma nota positiva.
A estrutura do SUS, assente no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e noutras políticas nacionais de saúde extensivas e dirigidas a setores específicas da população, contemplando a Mulher, o Trabalhador, o Idoso e a Criança, através de programas alargados de vacinação, em termos globais tem tido um papel decisivo na mudança da saúde pública brasileira.
Em termos teóricos, o SUS é um projeto bem pensado, mas quando se passa à prática, quando os gestores e administradores nem sempre velam pela boa execução e aplicação das diversas ações e estratégias que este sistema implica e para as quais foi criado - garantir a tal equidade e universalidade de acesso a técnicos e técnicas diferenciados, quer no âmbito do diagnóstico quer no domínio terapêutico, possibilitar as condições mínimas em todos os pontos do Brasil para que o SUS possa funcionar (e a eletricidade é fundamental), em concordância com a universalidade que apregoa, alargando e disponibilizando a todos os cidadãos brasileiros os mesmos recursos médico-assistenciais, residam eles nas cidades ou nas zonas rurais, enquanto tal não acontecer o SUS é, no mínimo, um sistema claudicante. Mas se nas áreas mais recônditas do Brasil, o SUS tem e vai continuar a ter grandes dificuldades de aplicação com êxito, face às inúmeras carências básicas desses locais, em municípios localizados em Estados considerados de elevado grau de desenvolvimento, como é o caso de Santa Maria, a 5ª cidade mais populosa do Rio Grande do Sul, as falhas do Sistema Único de Saúde não deixam margem para dúvidas. E, pelos vistos, não é por falta de estruturas sanitárias altamente equipadas ou de técnicos especializados em número suficiente, porque só estabelecimentos de saúde contam-se 127, estabelecimentos de apoio a diagnóstico e terapias são 84 e postos de saúde são 23. Apesar disso, nos últimos seis meses o número de queixas e protestos, muitos deles apresentados junto de entidades judiciárias, contam-se às centenas. As causas são inúmeras: atrasos de atendimento em consultas especializadas, grande morosidade a nível de estudos de diagnóstico imagiológico (ecografias, tomografias e ressonâncias), não acesso a medicamentos que constam como integrados na lista fornecida pelo próprio SUS, inacessibilidade a fórmulas e produtos dietéticos especiais destinados a crianças e adultos (com patologias de caráter alérgico ou intolerante), não previstos pela mesma lista, atraso considerável de tratamentos cirúrgicos e quimioterápicos…
A estrutura e a definição precisa, no papel e nas leis, do que deverá ser o SUS na sua ação global por todo o larguíssimo espaço brasileiro, tanto quanto sabemos, não nos oferece dúvidas. Nas cidades, com algumas ressalvas, como vimos mais acima, estas respostas assistenciais parecem corresponder às expectativas dos utentes: recursos farmacológicos, humanos e tecnológicos no âmbito do diagnóstico e da terapêutica diferenciados e em grande número. Mas, e no interior tão vasto do país?! Será que a população pode contar com a eficácia e prontidão de todos os recursos do SUS?
Portugal, no seguimento das grandes mudanças políticas geradas pela Revolução de Abril de 1974, pôde contar com um vasto sistema médico-assistencial a nível de cuidados de saúde pública e hospitalar, cobrindo todo o território nacional. A presença obrigatória dos médicos portugueses recém-formados junto das populações mais ou menos isoladas do país, pautou-se, durante várias décadas, por um saldo bastante positivo em relação a cuidados de saúde primária, a campanhas vacinação e saúde escolar, e ações de sensibilização e informação centradas sobre os mais diversos problemas sanitários, desde doenças endémicas, alimentação, controlo de diabetes e hipertensão, etc., mas as condições de prática clínica e os recursos de diagnóstico e farmacológicos disponíveis, como seria óbvio, nos locais mais periféricos e isolados, mesmo com toda a boa vontade dos clínicos, nunca poderiam comparar-se aquelas que as grandes ou mesmo pequenas urbes podiam e podem oferecer.
Será que no Brasil imenso, desde a Amazónia ao Rio Grande do Sul, o SUS consegue oferecer e prestar a todos os seus utentes iguais acessos e oportunidades aos recursos médico-assistenciais disponíveis? Mais vale ter um médico à mão do que não ter nenhum, dirão muitos. Mais vale ter um posto de saúde com poucas condições do que não ter nenhumas, dirão outros. Mas, ainda que haja postos de saúde ou hospitais montados no interior do país, a cargo dos respetivos municípios, cujos níveis de resposta possam ser satisfatórios, estará a grande maioria da classe médica interessada em prescindir das suas comodidades de vida na grande cidade, para se deslocar para o sertão ou para qualquer outra região recôndita e mais ou menos inóspita do Brasil? Estará o Governo brasileiro disposto a aliciar os seus clínicos e demais especialistas de saúde, não só médicos, mas também enfermeiros, técnicos e “atendentes”, com melhores condições salariais e já agora, que estamos numa de “bolsas” (a bolsa-copa foi a última), oferecendo “bolsas de interiorização”, por forma a garantir uma boa rotação de serviço obrigatório à periferia ou no interior, como aconteceu durante muito tempo em Portugal?
Confrontamo-nos, porém, como outra questão, que nos parece não de menor importância: o número de médicos brasileiros formados pela universidade federal (ou seja, aqueles que fizeram a sua aprendizagem à custa de dinheiros públicos), será em número suficiente para assegurar em todo o espaço brasileiro as necessidades de saúde da população ou é mesmo fundamental contratar profissionais de saúde no exterior, em Portugal, em Espanha e, particularmente, em Cuba?
Há quem discorde desta medida. E porquê? Porque teme que as populações, ainda em grande parte analfabetas, nomeadamente aquelas que residem no vastíssimo espaço amazónico, no Nordeste e em algumas regiões mais ocidentais e interiores do Brasil, pela sua humildade e simplicidade, possam ser mais facilmente catequizáveis pela filosofia política de marca marxista-leninista veiculada pelos cerca de seis mil médicos cubanos importados durante a presidência de Dilma Rousseff, na sequência dos recentes acordos estabelecidos com Cuba. Sobre esta pretensa invasão considerada por alguns analistas como perigosa, não venham os ditos médicos, todos eles “potenciais espiões comunistas”, a difundir e a imprimir com sucesso as suas ideias maquiavélicas em vez de se limitarem apenas ao exercício da “nobre arte”, diremos que o “comunismo” supostamente pregado pelos milhares de médicos cubanos não pegou em Angola nem pegou em Moçambique, onde exerce(ra)m medicina durante décadas, preenchendo os quadros orgânicos da saúde destes países cujas taxas de analfabetismo eram e são incomparavelmente maiores. As diferenças socioeconómicas entre os diversos estratos sociais são tremendas, mas os ventos da economia liberal ou neoliberal é que vão marcando os rumos da política. O comunismo, nem nos países que sempre foram o baluarte da sua génese e arquitetura subsiste. É ideologia que, nas poucas bolsas que o albergam, tende a embolorar, a volatilizar-se pela enorme e rápida pressão da sociedade global e comunicacional a que assistimos. Cremos, é, que os médicos cubanos, a quem são reconhecidas incontestáveis qualidades de formação profissional, habituados a viverem com racionamento de tudo, se sentirão bem mais felizes e realizados no Brasil do que na sua pátria. E se há alguém que corre o risco de sofrer uma rápida aculturação são os médicos cubanos e não os beneficiários do SUS. Estes, apenas correm o risco de terem médico, autóctone ou importado, mas não terem recursos auxiliares de diagnóstico, farmacológicos e terapêuticos suficientes. Compete ao Governo brasileiro, isso sim, disponibilizar os recursos humanos e tecnológicos suficientes para que todo aquele que queira e possa vir a exercer medicina nos locais mais isolados do país possibilite às populações, sob os seus cuidados, o melhor apoio médico-assistencial e com a maior dignidade possível.
O SUS, projetado como um grande “motor” da saúde pública brasileira, precisa ainda de muita afinação.
João Frada
Médico/Professor Universitário
Lisboa, 02.07.13
sábado, 19 de outubro de 2013
Confusões Semânticas
Miguel Sousa Tavares, seguramente, cauteloso e ciente de que as suas afirmações lhe poderiam trazer algumas inconveniências, sendo ele quem é e assumindo que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, não lhe merece, nem tem merecido, nem virá sequer a merecer consideração alguma,... e ele lá terá as suas razões, de resto, idênticas ou não, às de outros milhões de portugueses que não se manifestam acerca do perfil da nossa mais alta eminente figura institucional nem são tão visíveis como o Miguel S. Tavares, embora a muitos, estamos certos, não lhes falte igual vontade de clamarem o que lhes vai na alma…, fez o que pensou ser mais adequado: retratou-se. Afinal, esta consideração metafórica dita na hora e no local errados, diz-nos Miguel Sousa Tavares, foi mais um “deslize” instintivamente pronunciado porque o senhor Professor Doutor Cavaco Silva não faz realmente o seu género de figura política. Sousa Tavares, como qualquer ser humano, tem todo o direito de escolher os seus ídolos, de fazer as suas opções e o Professor Cavaco Silva, pelos vistos, não preenche os seus requisitos exigentes de “excelso animal político”. Éramos capazes de apostar que, para o Miguel S. Tavares, teria de ser um animal racional, inteligente, culto, certamente mais sisudo, dotado de uma boa armadura retórico-dialética de índole positivista, pragmática e laica, entre outras qualidades. A verdade é que o senhor Presidente, contrariamente ao Miguel S. Tavares, não é um literato no sentido real do termo, um intelectual, como o Miguel desejaria que fosse, acredita piamente na N. Sra. de Fátima e na sua divina intercessão para nos tirar da crise, é um homem de discurso simples e ecuménico, como convém a um presidente, de bom caráter, bem disposto, dá um pezinho de dança quando o convidam durante uma ou outra inauguração nas suas frequentes digressões regionais, diz umas piadas animadoras, queixa-se das mesmas amarguras que flagelam o povo (referindo que o baixíssimo fundo de pensões do banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações, que se supõe rondar apenas os 12.000 euros por mês, mal cobre as suas despesas), a ver se a malta mais desmilinguida pela austeridade, pelas crescentes dificuldades e pelo desemprego, não o apupa nem vaia demais, vai semeando esperança, fazendo de conta que tudo está mais ou menos bem, que o país caminha a passos lentos mas firmes para a recuperação, que estamos, não tarda, quase livres da malfadada TROIKA, convocando o Conselho de Estado para discutir o que, está à vista de toda a gente, a eminente saída desta “gente troikiana” (como diz o Paulo Portas) e a urgente e atempada definição estratégica do pós-troika para, enfim, podermos assistir a uma entrada triunfal do país em algo que se aproxime a um Oásis, parecido com aquele de que falava o ex-PM. Lembram-se?! Apenas fica um pouco mais tenso e reativo quando os chatos da comunicação social exageram ou o Alberto João Jardim o trata por senhor Silva. É um homem esperançoso, que pretende com a sua ação presidencial transmitir alegria, boa disposição e esperança no futuro a todos os portugueses. É visível todos os dias o seu esforço. Miguel Sousa Tavares, se atentasse bem, inteligente e culto como é, perceberia de imediato que escolheu mal o adjetivo, se a intenção era desprestigiar o PR, porque ser “palhaço” não é uma indignidade. Pelo contrário, o verdadeiro palhaço é uma figura grata capaz de transmitir ou até imitar na perfeição tudo aquilo que um Político, na concepção de muita gente, pode representar, uma série de facetas, incluindo a esperança, a fé e a utopia. E sem estas, o mundo não avança. Dito isto, e não pretendendo ser advogado de ninguém, porque para tal não temos nem formação nem procuração, mas colocando-nos mais na posição de psicoanalista, somos levados a crer que o adjetivo de “palhaço”, neste caso particular, referido por Miguel S. Tavares, deveria era ser encarado com uma distinção e não como um insulto, ainda que não fosse essa a intenção de Miguel S. Tavares…como ele assumiu. Porque afinal, à passagem e presença do PR em diversos locais e ocasiões, dada a situação tão emotiva que o país vive, já ouvimos, vimos e lemos na comunicação social televisiva e não televisiva considerações e adjetivos bem mais incómodos e, porventura, mais insultuosos. O conceito de palhaço, tantas vezes usado com sentido pejorativo, lamentavelmente, acaba por conduzir a estes exageros de interpretação e eis que o próprio PR se sentiu atingido na sua dignidade pessoal. E apresentou queixa ao MP, o mesmo que parece ter tido “ouvidos moucos”, como afirma José Sócrates, em relação a idênticas situações ocorridas anteriormente, visando outras figuras de Estado. Ao MP caberá pronunciar-se sobre este opróbio. Mas Sua Excelência, o senhor PR saberá, melhor do que ninguém, quem é e quem não é. E muitos já perguntam: será que não está a dar demasiada importância a quem não deve e ao que não deve? Lembremo-nos, por exemplo, dos simpáticos palhaços que espalham alegria, boa disposição, diversão, comicidade, ânimo e esperança, não apenas no circo, mas nas enfermarias dos hospitais, a quem sobrevive à doença, a quem está profundamente debilitado, fragilizado e deprimido…e precisa de sorrir e acreditar que há futuro. Ora, atente-se nas semelhanças e digam lá se deve ser considerado insulto! Achamos que tudo não passou de um comentário impremeditado, de uma verdadeira confusão semântica, e o Miguel S. Tavares, arguto como é, apenas não conseguiu, desta vez, analisar esta tão simples questão. Apelando ao espírito magnânimo e ao sentido de humor de Sua Excelência o PR, apetece-nos gritar bem alto: vivam os palhaços e as palhaçadas se forem para nos fazerem mais felizes. Os portugueses precisam de sorrir. Não dimensionemos o que não tem dimensão.
João Frada
Professor Universitário
Lisboa, 27.05.13
(comentário atualizado)
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OS NOSSOS CAUDILHOS
Ouvimos há dois dias na TV Constança Cunha e Sá, de língua afiada, mas bem orientada e acutilante, cortar a torto e a direito, ao centro e à direita, e um pouco mais moderadamente à esquerda, contudo, com a mesma precisão cirúrgica. Gostámos de a ouvir. Não poupa adjetivos a quem quer que seja.
Falou sobre o PM e sobre todos os seus admiráveis companheiros, gente de discurso elegante que vai papagueando com grande convicção o que o seu mestre ordena, apregoando o êxito de uma governação que, tendo recebido uma herança socialista pesada, mudou o rumo da navegação e acredita, finalmente, ter produzido aqui, neste jardim à beira mar plantado, o oásis em que Sócrates acreditava. Acrobaticamente, com um desgaste físico e mental tremendo, fazendo horas extraordinárias, aos sábados, domingos, feriados e dias santos…já em menor número…o nosso esforçado PM, nunca tendo trabalhado tanto na vida, nem enquanto prestava serviços dedicados aos seus grandes amigos Ângelo Correia e “Dr. Relvas” (absorvido também aqui na sua admirável campanha de formação aeroportuária garantida pela Tecnoforma), conseguiu o impossível: paradoxalmente, baixou a receita fiscal, apesar do agravamento tributário, baixou o desemprego, nomeadamente o dos boys ligados ao PSD, baixou as dívidas de centenas de amigalhaços a quem garantiu excelentes empregos, bem remunerados e compensados ainda com uns cartões de crédito para compras, viagens e refeições, sobretudo daqueles que, apesar de poderem gastar à tripa forra e terem ainda direito a subvenções ou subsídios de férias e de Natal, conseguem fazer umas boas poupanças com esta “sorte grande” que lhes saiu, conseguiu harmonizar os vencimentos entre o público e o privado, mesmo sabendo que o público lhe assegurou, por imposição obrigatória, duas bolsas gigantescas do Fundo de Pensões da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, hoje quase esgotadas pelas distrações dos sucessivos governos, incluindo o seu, minimizou os gastos com a saúde, poupando milhões de euros, claro está, não comparticipando a maior parte dos medicamentos e aumentando brutalmente as taxas moderadoras, contribuiu, com grande esmero, tal como os anteriores governos, diga-se de passagem, para a redução drástica de gastos com a educação, pondo milhares de professores na rua e alienando dezenas de escolas, já que, sem meninos, estavam às moscas. Mas fez mais: chutando para a emigração milhares largos de jovens, gente em idade de poder fazer meninos, e não apoiando nem alimentação, nem artigos de higiene, nem vacinas, nem vitaminas, nem a maior dos fármacos prescritos pela Pediatria à cachopada que ainda vai nascendo por aqui e por acolá e, a par dos pais desempregados e sem casa, vive em casa dos avós, estes, coitados, a braços com duras dificuldades pela redução dos “elevados” ordenados e pensões que, ele, o PM insiste em arrasar em 2014 um pouco mais para poder garantir emprego aos seus fiéis boys, muitos deles super-especialistas nas mais diversas áreas académicas e científicas, rapazes e raparigas entre os 23 e os 30 anos, por todas estas intervenções governativas excecionalmente brilhantes, direi mesmo inteligentes, o nosso ilustre PM e todo o seu séquito têm contribuído com grande sabedoria para o controlo demográfico e, visivelmente, para o equilíbrio das finanças públicas. O exemplo mais acabado é mesmo este, o da demografia: menos acesso a cuidados de saúde e a farmácias, morre-se mais e dura-se menos, menor natalidade, menos gente a mamar subsídios, menos hospitais, menos escolas, logo, menos encargos com a assistência médica, com docentes e com educação, na verdade, os dois grandes algozes das finanças de qualquer governo. Tem sido uma ginástica notável, esta governação, lamentavelmente, pouco solucionadora das dificuldades sentidas pela grande maioria dos portugueses e cada vez mais errática e gravosa…, como diz a Constança Cunha e Sá. Se houvesse Olimpíadas de Governos Incapazes, seríamos seguramente sérios candidatos ao primeiro lugar!
Constança Cunha e Sá analisou também, sem grandes rodeios, o papel do PR: uma espantosa figura, dizia ela, que chefia fielmente e com coerência partidária o clã governamental, ou não seja ele também um venerável membro do partido. Mas surgem mais sinais de descontentamento da cidadania. Mário Soares acusa-o, tal como Constança Cunha e Sá, de desonestidade ou incoerência política, pela sua incapacidade de assumir a ligação privilegiada ao BPN. Estranhamente, Cavaco Silva assume-se como um simples depositante do BPN e não como um convidado privilegiado que foi, já que o acesso àquela instituição bancária não era para toda a gente e muito menos a compra de ações. Depois, a diferença entre o preço de compra e de venda foi de tal ordem que o banco, com negócios destes, perdendo um valor astronómico na transação, só mesmo por especial razão poderia ter efetuado este negócio. E qual seria?! Toda a gente gostaria de saber. Até nós.
Estranha compra (oferta?) de ações BPN à SLN e a Oliveira Costa (BPN), diz Soares, insistindo que Cavaco Silva venha a público explicar, de uma vez por todas, o inexplicável. E a única resposta de Cavaco Silva que se ouve e nada esclarece sobre a questão é esta: “ainda está para nascer quem seja mais honesto que eu”. Aguardemos, então, por esse utópico nascimento tão dotado e genial, não obstante a quebra de natalidade que se aponta, fragilizada por tantas dificuldades económicas e precaridade alimentar, e esperemos por um cruzamento de gâmetas tão privilegiado como o que terá ocorrido, in illo tempore, lá para os lados do Algarve!
Miguel Sousa Tavares batizou, quanto a nós, erradamente, o PR de palhaço e teve de se retratar. Esta grata figura de circo, palhaço, considerando o conceito integrado num espaço de entretenimento e não na arena política, de um modo geral, reúne uma enorme diversidade de atributos, patentes nas piruetas, nas cambalhotas, nas falsas magias que divertem a quem o vê, nas cançonetas que interpreta afinando ou desafinando, nas improvisadas macacadas cheias de graça e boa disposição, nas capacidades acrobáticas que tantas vezes lhe são peculiares. Claramente, Miguel Sousa Tavares não escolheu bem o dito adjetivo. Cavaco Silva não se identifica minimamente com esta figura, nem nas graçolas nem nas acrobacias. É um homem sério e de riso não fácil, de certo modo, até comedido. E, neste caso, do BPN e das ações a que Mário Soares, Constança e outros tantos analistas se referem, por mais “flexibilidade esquelética” que os seus argumentos possam ter, por mais contorcionismo que as suas razões possam intentar, vai ter uma enorme dificuldade em “descalçar a bota”.
João Frada
Professor Universitário
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sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Discorrências sobre as parcerias estratégicas luso-angolanas
“O Presidente angolano, [José Eduardo dos Santos], pediu à UNESCO que acompanhe o combate à pobreza, porque em Angola muitas pessoas ainda vivem mal” (Correio da Manhã, 9 de Abril de 2012). [Esta notícia foi matéria de um artigo que publicámos com o título “Discorrências” no jornal O Caravela, edição da Comunidade Luso-Brasileira do RGS-Porto Alegre-Brasil]
Hoje, em 15 de outubro de 2013, Sua Excelência, o PR de Angola, cortou, de vez, a parceria estratégica estabelecida com Portugal. Cremos que não ficará por aí, esta perrice decorrente da saga Rui Machete-Procuradoria Geral da República Portuguesa. Mais umas vingançazinhas poderão vir aí.
Percebe-se que acabou, definitivamente, a paciência para aturar os idiotas dos “portugas” que passam a vida a levantar falsos testemunhos sobre infundadas somas de capitais que ele, a família e os mais bem-aventurados do clã, farão escorrer para a Europa e, em particular, para bancos portugueses, alguns, que apenas por acaso ou sorte, lhes vieram parar às mãos, somas essas consideradas como “branqueamentos ilícitos”. Boatos, falsidades, iniquidades, invejas ou dores de corno, como diz o povo, que é sábio, apenas para denegrir quem tem sérias preocupações com a governação e com os dramas da pobreza sentidos pelo povo angolano, como dá para ver naquele sentido pedido formulado junto da UNESCO, em abril de 2012. Um problema sério como a pobreza, a que se juntarão, como é óbvio, a miséria e a fome, não pode ser combatido em meia dúzia de meses. O trabalho de luta contra a pobreza prossegue no terreno. O empenhamento da governação angolana é um assunto sério e, como tal, há lá tempo e disposição para branquear o que quer que seja!? Só gente invejosa ousa inventar tretas e denegrir a imagem de indivíduos que não veem mais nada senão a reabilitação da pobreza no país, respondendo ao lancinante apelo do seu presidente, junto daquele organismo das Nações Unidas.
Como é que alguém sabendo do tremendo envolvimento anímico, político e monetário do Estado angolano nesta estratégia de reabilitação social, em que todos os recursos, gente e capitais, fazem falta dentro de portas, porque está em causa a nação e, sobretudo, as “muitas pessoas que ainda vivem mal”, tem a lata de levantar calúnias como as que se ouviram em torno de gente da maior confiança do governo? Só alguns excedentes é que foram aplicados fora do país e tudo sob absoluta transparência e clareza financeira. Quem disser o contrário mente, divaga, delira, e é exatamente o que se tem passado com esta história da suspeição em torno de ilustres figuras do governo angolano. Os refinados ladrões e corruptos que, como “ouro de lei”, pululam, isso sim, dentro da administração política e judicial portuguesa, é que lançam atoardas e veem o crime, a maldade e segundas intenções em gestos e atos onde eles não existem. Estamos para ver o que irá sair da PGR. Depois, não se queixem que o défice aumenta com a quebra das exportações ou com um bom pontapé bem assestado na “bunda” dos milhares largos de “portugas” que por lá ganham a vida e, convictamente, enviam para cá gordas remessas, pelo menos, enquanto o vírus de Chipre não se estender para o mediterrâneo ocidental e, em especial, para a Península Ibérica. À fome de dinheiro que por aí anda, já faltou mais.
Olhando para Angola, há que ter em conta o pesado fardo que é governar num país acabado de sair de uma guerra civil de 30 anos a somar a uma outra anterior de 25. Por isso, não façamos mais guerrinhas, senão corremos o risco de ninguém mais nos querer comprar os poucos haveres que ainda sobram do nosso património, fundamentais a evitar outro resgate. Enquanto houver investimentos oriundos de Angola, estamos garantidos. Não os enxotem daqui.
Ponhamos uma pedra em cima do caso Machete-PGR e deixemos os angolanos em paz. Se querem investir e têm com quê, pois sejam bem-vindos. Afinal de contas, porque é que, com tantos paraísos fiscais à nossa volta, tolerados e usados por toda a gente… até o Banco de Portugal terá fechado os olhos à colocação dos Fundos da Segurança Social, 42 milhões de euros, facto conhecido por Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças, e nunca desvendou quem foi o responsável por esta negociata…, não podemos também abrir aqui neste jardim à beira mar plantado um convidativo offshore, competindo com a Suíça, com a Madeira, com Gibraltar, com Mónaco ou com as Caimão, dando hipótese a angolanos, a chineses, a indianos e a brasileiros de colocarem cá os seus baús, malas e containers cheios de “papel”?!
Os estraga-prazeres da PGR ainda não perceberam que essa seria a melhor maneira de pagar a dívida num ápice e de deixarmos de ser, de uma vez por todas, o eterno protetorado da troika e o refém das diversas entidades financeiras internacionais.
Mais vale cortarmos com as imposições da União Económica e Monetária, que só nos têm trazido austeridade, desemprego, miséria e fome e, por mais carga fiscal e manobras que se inventem, não chegam para reduzir nem dívida, nem défice. Deveríamos, isso sim, ponderar em abrir de vez as portas ao investimento estrangeiro em regime de offshore. Não vamos lá com políticas de bom comportamento ditadas pela Alemanha, pela troika ou pelos sábios ao serviço do FMI ou dos interesses da Alta Finança Internacional.
João Frada
Professor Universitário
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DISCORRÊNCIAS
“O Presidente angolano, [José Eduardo dos Santos], pediu à UNESCO que acompanhe o combate à pobreza, porque em Angola muitas pessoas ainda vivem mal” (Correio da Manhã, 9 de Abril de 2012).
Não nos precipitemos com críticas e comentários apressados, já que a interpretação desta notícia pode não ser tão linear quanto parece.
Procedendo a uma análise hermenêutica, isenta e rigorosa, deste “pedido presidencial” aparentemente tão polémico são várias as conclusões ou ilações possíveis.
A primeira poderá significar um acordar repentino e genuíno de Sua Excelência para a tremenda pobreza que se acumula todos os dias à sua volta, mas que se não vê porque se não quer ver, quase não se ouve porque não se expressa, porque não protesta, porque não tem voz, porque mal alimentada, passando fome, sobrevivendo “com menos de um dólar por dia” [e não inventamos nada, apenas citamos palavras de Filomeno Vieira Lopes em 2004], lhes vai faltando calorias, alento e o fôlego necessários para clamar a sua triste condição. Mas o Senhor Presidente, finalmente, num rasgo de lucidez e de solidariedade institucional dá mostras de pretender acabar com esta mazela social: a pobreza. É de aplaudir. E que faz ele, para que o Mundo saiba que está determinado a corrigir um pesadelo que lhe pesa(rá), decerto, na consciência? Pede “à UNESCO que acompanhe o combate à pobreza.” Ou seja, que observe o que a governação, em boa hora, pretende fazer. Não pede à UNESCO que combata a pobreza que flagela o seu País. Não. Angola tem recursos de sobra, ainda que tenham levado estas últimas décadas umas boas tesouradas para mega-investimentos em prol de quem entende de negócios. Não pede apoio à UNESCO, coisa nenhuma! Essa interpretação só pode ser mesmo com intuito de desprestigiar a honorabilidade de um homem que, embora tarde, decidiu combater o pior flagelo do seu país: a fome. Angola ainda não está precisada de esmolas da ONU ou seja de quem for.
Uma segunda explicação, defendida apenas por meia dúzia de adeptos, pessimistas e mal-intencionados, consiste na possibilidade, remota, dos imensos recursos angolanos, que muitos julgam infindáveis, estarem mesmo esgotados por terem sido utilizados “à tripa forra” em aplicações fora e dentro do País, em investimentos rentáveis, sim, mas apenas para quem os investiu, sem retorno nem proveito para a grande maioria da população, essa que Sua Excelência diz que “vive mal”. E, nestas circunstâncias, só mesmo a UNESCO poderia dar uma ajudazinha para extinguir o drama da fome e da miséria a que o Senhor Presidente se refere. Contar com apoio da Europa, que está de pantanas, ou com os Chineses, que não são grandes beneméritos, é esperar em vão. Por isso só mesmo a UNESCO. Mas custa-nos a acreditar nesta possibilidade tão radical. Liminarmente, rejeitamo-la. Esta teoria não passa de uma pura especulação utópico-filosófica. O petróleo, o ouro e os diamantes, para não falar noutros recursos, ainda não estão nas lonas. Garantem, seguramente, a todos os diretamente interessados mais uns aninhos de grandes benesses, investimentos e bons lucros.
Uma terceira hipótese, esta mais plausível, passa pela possibilidade de Sua Excelência pretender ganhar, com toda a transparência, certeza e isenção, as próximas presidenciais. A memória do povo, cá, lá e pelo caminho, é curta e, perante o drama da fome e da pobreza, qualquer dádiva à boca das urnas é balsâmica e apaziguadora. Numa atitude magnânima de governação minimiza-se a fome, ainda que se não possa eliminá-la, combate-se a pobreza, ainda que ela nunca acabe, e a UNESCO poderá testemunhar a grande dimensão de tal estratégia humanitária, ainda que este gesto não passe de um rasgo ornamental de engenharia pragmático-política.
Uma quarta e última hipótese, só um sonhador ou poeta ousaria concebê-la. Mas que o sonho e a poesia comandam o Mundo, ninguém tem dúvidas.
“Muitas pessoas vivem mal”, diz o seu presidente. Vivem mergulhadas na miséria, na pobreza e na fome. Há pois que lhes dar melhores condições de vida. Há que convidar a UNESCO a presenciar ali, em solo Angolano, o que um governo pode fazer pelos seus cidadãos. É fundamental que o Mundo assista à maior revolução de sempre, pensada e dirigida por um presidente na África Negra. A Comunidade Internacional só acreditará se a ONU, através de um dos seus organismos mais representativos, como é o caso da UNESCO, puder presenciar e testemunhar de perto o maior feito da História Angolana. Eis o cenário, utópico, mas possível:
As maiores cidades Angolanas e, em particular, Luanda, têm sentido estes últimos anos uma profunda transformação arquitetónica e urbanística através da construção de milhares e milhares de residências, condomínios e blocos de apartamentos que conferem a estas urbes e a quem ali vier a residir condições de grande conforto e dignidade. Será que Sua Excelência e os excelentíssimos governantes sob a sua alçada presidencial, em total sigilo, imunes e indiferentes às críticas internas e externas centradas sobre a sua nobre missão governativa não projetam, desde o início, criar um novo conceito de habitações sociais, bem diferente do que assistiu e assiste ao modelo de realojamento ocidental, distribuindo definitivamente casas em massa a quem precisa, a quem “vive tão mal”?! Será que em troca das cabanas imundas que perlavam os bairros de lata dos musseques, arrasadas aos milhares nestes últimos tempos, esta gente desalojada não vai finalmente receber a casa de renda social que nunca teve? O período pré-eleitoral o confirmará. E a UNESCO o testemunhará. E que já era tempo de Sua Excelência distribuir alguma coisa por aqueles que “vivem mal” e nada têm, era.
Há que sermos razoáveis e darmos o benefício da dúvida a Sua Excelência. Para aqueles que pensam e dizem que o Chefe de Estado Angolano não se apercebe, nem se compadece da real situação em que vive a grande maioria da população, gostaríamos de lhes lembrar que a sua preocupação está bem patente nas citadas afirmações dirigidas à UNESCO.
Artigo publicado in Jornal O Caravela POA (RGS)
João Frada
Professor Universitário
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Medicina Pública ou Privada?
Teoricamente, optar-se apenas por uma única modalidade, a pública, bem dotada e à qual todos, sem isenção ou diferenças de tratamento, tivessem acesso, até faria todo o sentido. Por outro lado, os médicos que se forma(ra)m em universidades públicas deveriam tratar os cidadãos cujo esforço tributário contribuiu também para a sua formação com toda a cortesia e não com indiferença ou quaisquer laivos de xenofobia social, económica ou académica. Profissionais mal formados, no sentido pejorativo do termo, em qualquer área ou setor, sempre os houve e seguramente continuará a haver. Uma árvore, porém, não faz a floresta inteira. Quanto ao acesso a tudo quanto uma medicina de excelência pode oferecer, em todas as suas vertentes de atual oferta médico-cirúrgica, isso, também numa verdadeira sociedade democrática onde se pratique a equidade na redistribuição de riqueza, no acesso ao emprego, na justiça, na educação e, sobretudo, na saúde, deveria acontecer. Mas nem as sociedades são democráticas, no sentido pleno do termo, nem o dito acesso é igual para todos. A medicina e a saúde que ela pode propiciar, a par de uma boa qualidade de vida higiénica e alimentar, lamentavelmente e por múltiplas razões não acessíveis a toda a cidadania, podem e devem ser encaradas como bens de natureza pública e, como tal, deverão ser facultadas a qualquer cidadão, seja qual for a sua condição económica ou social. Deste modo, enquanto houver ricos e pobres, abastados e remediados, classes altamente privilegiadas e deserdados da sorte, castas alta e baixas, realidade tão comum na maior parte dos países, a medicina há de ser sempre diferente para uns e para outros. Só numa sociedade democrática utópica é que a saúde e a medicina poderiam ser iguais para todos, em termos de acesso a recursos humanos, técnicos e tecnológicos de natureza diagnóstica ou terapêutica, independentemente da raça, da condição social e económica ou do estatuto académico. Porém, onde existe tal sociedade? Quando muito, os praticantes da medicina pública, querendo aperfeiçoar-se e otimizar recursos, poderão exercer uma arte mais hipocrática, mais racional e humanista, disponibilizando a todos os seus utentes os melhores meios ao seu alcance.
Temos mesmo que conviver com a medicina pública e com a medicina privada. O dinheiro, quer queiramos quer não, traça grandes diferenças em termos de oferta e de procura. Os Estados e os seus gestores não vivem de utopias nem as alimentam.
João Frada
Professor Universitário
Lisboa, 06.09.13
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