SAÚDE PARA TODOS
[Para que não digam que eu só vos dou música
e poesia ou vos causo, com as minhas análises sociológico-políticas, mordazes e
irónicas, alguns momentos depressivos, arrastando-vos para a realidade
vivencial do dia-a-dia, eivada de arrelias, angústias e frustrações, nada
saudáveis nem desanuviadoras para nenhum leitor, atrevo-me a deixar-vos alguns
conselhos úteis no domínio da cura e prevenção das complicações desencadeadas por vírus da gripe, muito
ativos nesta época.]
1.Cura e
prevenção de complicações pós-gripais: aguns conselhos úteis
LEIAM COM ATENÇÃO
Na sequência destas agressões virais a todo o
aparelho respiratório, algumas delas responsáveis por quadros infecciosos
complicados pós-gripais, altos e/ou baixos, muitos dos doentes, vacinados ou
não contra a gripe, vêm a necessitar de antibioterapia prolongada ou mesmo
repetida, face às recorrências que não raramente acabam por acontecer. E
porquê?
Porque, quer os seios peri-nasais quer a
árvore respiratória pulmonar (traquebrônquica e alveolar), quando agredidos por
vírus e bactérias, em maior ou menor grau e em conformidade com a maior ou
menor resposta ou predisposição atópica (alérgica) ou sensibilidade imunitária de
cada indivíduo, respondem, não só, com uma produção exagerada de secreções
serosas e/ou mucosas como, não raras vezes, reagem com um broncoespasmo
incómodo e persistente, responsável por queixas de tosse permanente e de
desconforto respiratório. Os constantes acessos de tosse, despoletados pelas
secreções que persistem nas vias respiratórias, na sequência de uma infeção,
mesmo depois do tratamento antibiótico, com muita frequência, tendem a
manter-se devido ao broncoespasmo que se instalou, como consequência do recente
quadro inflamatório. Como tal, necessita de ser solucionado. E de que modo?
Para além da eventual antibioterapia,
prescrita para combater a infeção instalada e diagnosticada, o médico deverá avaliar
se o doente apresenta ou não queixas sugestivas de broncoespasmo, o qual, se
não for devidamente tido em conta, acaba por dificultar a resolução da
patologia respiratória em causa. As secreções esterilizam-se com a tomada
adequada do antibiótico, mas, em caso de broncoespasmo, tendem a persistir e a
infetar novamente. Perfeitamente audíveis através de uma cuidadosa auscultação
pulmonar, sob a forma de fervores subcrepitantes e/ou crepitantes, estas
secreções exigem um tratamento adequado que poderá passar pelo uso de
anti-histamínicos e de broncodilatadores e/ou corticoides, aplicados sob a forma oral ou inalatória, e de
cinesiterapia, por forma a prevenir sequelas pulmonares crónicas e irreversíveis.
Aconselhamos o doente a que procure, sempre, inspirar e expirar profundamente
através da boca, enchendo e esvaziando por completo os pulmões, uma dúzia de vezes, se necessário, enquanto é auscultado, por forma a facilitar ao clínico a auscultação e a interpretação perfeita do murmúrio vesicular, ou seja, de todos os sons pulmonares emitidos durante os movimentos respiratórios. Compete, naturalmente, ao médico
avaliar o tipo de tosse em presença e ponderar qual a medicação mais adequada.
Os mucolíticos, vulgarmente designados de
expetorantes, com aplicação e resultados medicamente discutíveis, podem não ser
suficientes para uma resolução total e rápida do quadro respiratório em causa.
A par disso, a produção constante de rinorreia posterior (aquela que escorre
dos peri-nasais para a garganta), seja ela uma rinorreia (vulgarmente conhecida
por ranho) serosa, mucosa ou mucopurulenta (verde ou amarelada), decorrente da
sinusopatia (sinusite; rinoadenoidite em crianças) que quase sempre se
manifesta ou “acorda” mais ativa após os quadros gripais, originada num foco
respiratório alto, isto é, a nível dos seios peri-nasais, só por si, pode
originar acessos de broncoespasmo (em tudo idêntico a um acesso de asma), e,
como tal, justifica tratamento específico adequado com broncodilatadores. O
médico saberá qual o fármaco que deverá prescrever, tendo em conta as
comorbidades e doenças concomitantes do seu paciente.
As situações de rinorreia serosa (vulgarmente
conhecida por “aguadilha”) ou mucosa (um pouco mais espessa), mas não amarelada
nem esverdeada, esta, supostamente, já infetante), justificam o uso de
anti-histamínicos, naturalmente, orientados sob prescrição médica ou mesmo e,
em alguns casos, farmacêutica.
Em todo o caso, quer no início de um quadro
supostamente gripal, mais ou menos agressivo, quer após o período crítico da
doença, tratada ou não com antibiótico, enquanto se mantiverem queixas de
rinorreia serosa, mucosa ou mucopurulenta. uma das melhores medidas higiénicas,
de caráter preventivo e curativo, a ter em conta, é a seguinte:
1.Juntar a um recipiente com meio litro de
água entre o tépido e o quente, uma mão cheia de sal das cozinhas (cloreto
sódio), misturando bem e obtendo uma
solução ligeiramente hipersalina. Provando o sabor da mistura, poder-se-á obter
o grau de salinidade equilibrado, juntando mais água, se necessário, e obtendo
uma solução não muito concentrada. Uma solução demasiado salina pode não só
provocar uma grande libertação de histamina nos indivíduos que sofrem de rinite
alérgica, como vir a comprometer a função dos cílios da mucosa nasal,
fundamental à expulsão do muco viscoso originado durante o processo de
rinossinusite.
2. Inalar (através de contínuas inspirações
profundas e o mais intensivamente possível) a mistura de água moderadamente hipersalina
através de cada uma das narinas, tentando irrigar os seios peri-nasais e
esvaziar todas as secreções e impurezas neles contidas. Estes seios funcionam, no nosso organismo, aquecido a 36,5-37 graus centígrados, como um
ótimo laboratório para a replicação viral e como uma excelente estufa de cultura bacteriana.
As crises de sinusite, com todo o cortejo de queixas conhecidas (tosse, febre,
cefaleias, rinorreia anterior e/ou posterior, quantas vezes também responsável,
entre outras situações por otalgia (dor de ouvido), amigdalite, faringite e
laringite), ou nem sequer ocorrem ou cedem rapidamente a esta tão simples
medida de irrigação com água hipersalina. Não podendo mergulhar três ou quatro
vezes por dia na água do mar, porque é inverno e não é muito apetecível, então,
experimente fazê-lo em casa, usando aquela mistura hipersalina e verá os
resultados. Irá sentir o nariz e os seios peri-nasais menos congestionados e, ao
mesmo tempo, afastará a possibilidade de uma infeção que é sempre imprevisível
em termos de consequências e elas são múltiplas, algumas delas de prognóstico
bem complicado.
Os microrganismos (micróbios), sejam eles
vírus, bactérias ou fungos, não toleram este ambiente salgado e rapidamente
deixam de se replicar ou reproduzir. Esvaziando, por outro lado, através da
aplicação de água salina as secreções retidas e assoando energicamente cada uma
das narinas, expulsam-se as secreções ali coletadas e promove-se a recuperação
da mucosa sinusal, dilacerada e necrosada (apodrecida ou sem vida) pela
infeção.
No início de uma gripe, quando surgem os
primeiros sinais de um quadro viral em curso, cansaço acentuado, adinamia
(debilidade física), febre ou subfebre, dores musculares e articulares,
espirros, calafrios, congestão nasal e/ou rinorreia anterior acentuada, para
além dos habituais antipiréticos ou febrífugos (paracetamol, “aspirina” e
ibuprofen ou derivados), é de bom tom bochechar ou gargarejar, mesmo, várias
vezes por dia com água salgada.
Uma outra recomendação, para esta altura de
gripes, consiste em não cumprimentar de aperto de mão ou com beijos quem está
infetado. Porque não cumprimentar, à boa maneira japonesa, apenas com um respeitoso curvar da cabeça ou, então, com um simples toque de punho fechado (punho com punho), limitando a probabilidade de contágio viral? Invocando que está "engripado", ainda que não esteja, e que pretende não contagiar quem está à sua frente, aguardando o seu aperto de mão, salvaguarda-se, de imediato, e não corre tanto o risco de ferir suscetibilidades nem gerar mal-estares desnecessários. Trata-se de um conselho que, admitimos, pode vir a ser considerado algo excêntrico, bizarro ou radical, mas que, tomado à letra, reduz significativamente a possibilidade de contágio, isso, nem duvidem. Fica ao critério de cada um a opção do "curvar da cabeça", do toque de punho fechado ou do simples aperto de mão. Todavia, vale a pena refletir sobre o assunto. Ponderando bem, depressa se conclui que é um gesto habitual colocar-se a mão à frente da boca sempre que se tosse e, por vezes,
quando se espirra, sem que alguém ou muita gente faça uso de lenço ou de guardanapo
para o efeito. O indivíduo espirra ou tosse e, depois, no momento seguinte
aperta a mão a outra pessoa, ainda antes de a lavar ou desinfetar. É óbvio que
o contágio viral pode ocorrer de outras formas: uma maçaneta de porta, uma esferográfica ou um simples talher (manuseado
por um indivíduo portador de um vírus de gripe agressivo, mas ainda
assintomático ou com queixas muito incipientes), enquanto objetos diretamente contactados por um doente infetado, poderão constituir também pontos
de partida para disseminar o agente gripal. O peso da importância destes objetos infetantes (medicamente designados de “fomites”), no contexto geral das vias de contágio, tende a diminuir, sempre que os cuidados higiénicos e as regras de saúde pública são respeitados e generalizadamente implementados, o que nem
sempre acontece. Lavagem de mãos em água corrente ou limpeza frequente das mãos
com toalhetes ou com soluções de gel alcoólico poderão ser, na nossa opinião,
uma das melhores medidas preventivas, neste domínio, recomendada, sobretudo, para
todos aqueles que não conseguem perder o vício, tão consolador, de roer as
unhas.
A nuvem de aerossol de partículas de saliva que
emitimos após um acesso de tosse e, sobretudo, depois de um enérgico espirro, no caso
de estarmos numa fase prodrómica de gripe (fase inicial da doença), uma vez que
está carregado de vírus, se for em espaço fechado, sem quaisquer correntes de
ar, fica durante largos segundos no ar (como um aerossol que é) e, naturalmente, acaba
por ser inalado por todos quantos possam respirar ali perto. O contágio através
destas micropartículas (de Fludge) é uma das formas mais comuns de disseminação
do vírus da gripe. Pura e simplesmente, não nos poderíamos acautelar espirrando
para um lenço ou, na falta deste, colocando o antebraço ou a roupa que o cobre
à frente da nossa boca, para absorver o espirro, uma perfeita bomba biológica
caseira?! E fazemo-lo sempre?! E todos o fazem?!
Proceder às irrigações nasais com água
salgada, seja ela de preparação caseira ou farmacêutica, e bochechar ou
gargarejar com água hipersalina, três ou quatro vezes por dia, pode fazer a
diferença e, na nossa opinião, são excelentes medidas para prevenir e curar a
gripe e os seus efeitos mais comuns.
As irrigações nasais com água hipersalina
deverão ser realizadas antes das refeições e, eventualmente, ao deitar. E
porquê? Porque, a água entrada pelas narinas nem toda acaba por sair pelas
mesmas vias e ao escorrer pela garganta pode, ocasionalmente, provocar algum
engasgamento pontual nos menos habituados a este exercício, o que poderá
ocasionar vómito. De resto, o sabor salino da água não é normalmente
agradável.
Recomenda-se que os indivíduos hipertensos ou
que sofrem de rinite alérgica não usem água muito hipersalina e possam recorrer
a soluções farmacêuticas de água do mar esterilizada, de preferência contendo
manganés, vendidas sob a forma de nebulizadores nasais. O manganés minimiza a
resposta alérgica, habitualmente, traduzida por uma escorrência abundante de
rinorreia serosa. A mucosa nasal é, por outro lado, bastante permeável a sódio
e, portanto, no caso de doentes hipertensos, há que respeitar essa cautela,
usando apenas água do mar esterilizada (isotónica) ou uma preparação caseira de
água ligeiramente salina.
Médico/Professor Universitário (Ph.D.)