sexta-feira, 9 de maio de 2014

“PASSOS AVISA: impostos podem continuar a subir”

Finalmente, Passos Coelho, mais realista, consegue perspetivar com antecipação o que até agora tem negado o tempo todo e até escamoteado, provavelmente eufórico pela Saída Limpa da Troika e, porventura, sob efeito da obnubilação causada pelas estratégias de limpeza utilizadas pela mesma, senão mesmo também alucinado pelo carnaval pré-eleitoral que o seu Partido vai preparando com tanta convicção. Dizia ele: baixa-se hoje a carga fiscal, não se aumentam impostos, o país está numa retoma formidável. No dia seguinte, caído na real, dando o dito pelo não dito, afirma com a convicção que lhe é peculiar: sobem-se a TSU e o IVA, é claro, coisa pouca,… afinal, trata-se apenas de uma pequena calibração, um ligeiro ajustamento, uma insignificante doação sanguíneo-tributária…, mas, se o Tribunal Constitucional se continuar a intrometer na trajetória das suas decisões de política fiscal, como vai sendo habitual, porque há que reduzir o défice e a dívida pública e equilibrar, rapidamente, a balança económico-financeira do país, Passos Coelho, não de orelhas caídas, mas de paciência esgotada, não vê, como não tem visto agora, outros cofres disponíveis para atingir os seus supremos objetivos de Governação. A sangria terá de continuar e, obviamente, não poupará os causadores da crise: o povo, o eterno gastador e perdulário.
Rever subvenções e privilégios fiscais de observatórios, fundações, institutos e quejandos, corrigir e controlar contratos com empresas, gabinetes e grandes escritórios de advogados, que sugam anualmente o erário público, cobrando milhões de euros, por um interminável trabalho de aconselhamento, de feitura de leis e pareceres jurídicos, rever condições de recapitalização da Banca, reanalisar contratos SWAP e PPP, mergulhar até ao fundo da cratera do BPN, apurando factos e responsabilidades e encontrar as pegadas dos milhares de milhões que se volatilizaram e repousam, algures, em contas de offshores de uma data de figurões que por aí se passeiam impávidos, incólumes e serenos, ah, isso não, não é ideia que lhe passe pela sua distinta cabeça pensante. 
O Tribunal Constitucional ou funciona segundo as suas regras, ou não. Como, lamentavelmente, este órgão não lhe favorece as intenções e decisões governativas, só lhe resta uma hipótese: meter a unha na mesma gaveta de sempre, a do povo trabalhador. Porque as outras, aquelas que se alimentam e, continuamente, são recheadas a coberto da Governação e dos grandes interesses da Política e da Finança, essas, são intocáveis. Há que as manter, hoje e sempre, gordas e opadas, porque elas são os cofres de muita gente no futuro.
João Frada