Estando o país melhor e não pior, como defendeu o Primeiro-Ministro, não obstante os diversos alertas ouvidos durante este Congresso, apontando algumas mazelas crónicas que, certamente, ainda irão flagelar a maior parte da sociedade portuguesa durante mais uns largos anos, esta frase slogânica (Portugal Tem Esperança), a ser tomada como uma afirmação, convicta e inquestionável, traduzindo exatamente aquilo que o PSD pretende, isto é, a mensagem entusiasmante de que há que ter esperança, nem que seja num futuro longínquo, não só carece da devida acentuação através do necessário ponto de exclamação, como traduz de uma forma implícita que nem tudo vai bem. Recomenda-se esperança a quem não a tem ou a quem, mergulhado na dor, no sofrimento, na miséria, na doença, nas dificuldades, no desemprego, na frustração de ver os seus a passarem fome, utopicamente, acredita que algum dia o paraíso de poucos se abrirá também para si. É este o ópio que a democracia podre tem para oferecer aos seus consumidores, o "povo burro e politicamente analfabeto”, sempre esperançados de que o seu dia, luminoso e feliz, há de chegar. Confiem, tenham esperança, não desesperem, esperem, que não tarda…
A mesma frase, seguida de um ponto de interrogação, dadas as tantas interrogações que se colocam, vindas de dentro e de fora do PSD e do Governo, sobre o futuro incerto que se avizinha depois de 18 de maio próximo, determinado pela incerteza do comportamento dos mercados e das agências de rating, pela flutuação do dólar e da economia americana, pela eventual subida do preço do petróleo, pelas decisões emanadas do BCE e do FMI, se entre a minoria que governa não gera pruridos de pontuação, uma vez que a mesma minoria está sempre mais do que escudada em relação ao “rigor gramatical” dos textos que executa, tirando um ou outro erro corrigido pelo Tribunal Constitucional, sempre compensados pelos planos B, seria, quanto a nós, mais coerente.
Os que vivem bem e nunca sentiram, nem hão de sentir dificuldades, esses, não se incomodarão, minimamente, de colocar tal ponto de interrogação, porque sabem que o futuro nunca deixará de lhes sorrir e, para eles, enquanto minorias privilegiadas, sempre houve e continuará a haver esperança de mais proventos, neste Portugal ao seu serviço.
Para aqueles que perderam a esperança de ver um país melhor, a grande maioria, aguardando que num futuro qualquer, mais ou menos longínquo, a crise e a austeridade terminem ou aliviem e, finalmente, a felicidade e o bem-estar, como um simples raio de sol, venham iluminar as suas vidas, crentes na boa vontade, na honestidade, no desvelo, na retidão e no esforço de governação da minoria em que quer acreditar, ainda que com tantas reticências, o ponto de interrogação, à frente do “Portugal Tem Esperança”, seria certamente a pontuação mais coerente.
João Frada
João Frada