O instante que passa, quando o procuras gravar nos teus sentidos, já passou…
Mas ficou, fica sempre algo impercetível, coisa pouca que se aninha dentro de ti algures no peito, nas retinas dos teus olhos, nos ouvidos, na alma, até, se ela for capaz de o pressentir, de estremecer com esse instante que quase não tem rasto, de agonizar quando uma paixão veloz cruza o céu e morre como estrela cadente, no seio da tua noite, amargurada. Não mais se repete esse célere momento que passou num ápice e dele só te há de ficar uma lembrança doce ou amarga, pesada ou leve, duradoura e fugaz, mas sempre um instante.
Os teus instantes hão de fluir, assim, junto de ti, soltos, imprevistos, excêntricos, cândidos, misteriosos, infernais, como ventos indomáveis de invernia. Não tentes desviá-los do seu rumo, não procures acorrentá-los numa clausura forçada, não lhes traces o percurso de um destino, deixa-os passar livremente por dentro de ti, procura apenas respirá-los como se eles fossem o teu fôlego vital, e cada instante assim absorvido, na tua mente e no teu espírito, constituirá a certeza de que viveste a infinitesimalidade possível de cada um deles, momentos únicos que nunca mais se virão a repetir.
João Frada