sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Instante que Passa

O instante que passa, quando o procuras gravar nos teus sentidos, já passou…
Mas ficou, fica sempre algo impercetível, coisa pouca que se aninha dentro de ti algures no peito, nas retinas dos teus olhos, nos ouvidos, na alma, até, se ela for capaz de o pressentir, de estremecer com esse instante que quase não tem rasto, de agonizar quando uma paixão veloz cruza o céu e morre como estrela cadente, no seio da tua noite, amargurada. Não mais se repete esse célere momento que passou num ápice e dele só te há de ficar uma lembrança doce ou amarga, pesada ou leve, duradoura e fugaz, mas sempre um instante. 
Os teus instantes hão de fluir, assim, junto de ti, soltos, imprevistos, excêntricos, cândidos, misteriosos, infernais, como ventos indomáveis de invernia. Não tentes desviá-los do seu rumo, não procures acorrentá-los numa clausura forçada, não lhes traces o percurso de um destino, deixa-os passar livremente por dentro de ti, procura apenas respirá-los como se eles fossem o teu fôlego vital, e cada instante assim absorvido, na tua mente e no teu espírito, constituirá a certeza de que viveste a infinitesimalidade possível de cada um deles, momentos únicos que nunca mais se virão a repetir.    

João Frada

BREJEIRICE “ARY-BOCAGIANA”: LIXADOS COM “F”

Com tanta taxa e imposto
há quem viva num delírio
carpindo-se sem cessar
entre suspiros e ais.

Há quem carregue no rosto
o peso deste martírio
e não se deixe abalar
gritando: “Fora o Governo
está na hora de mudar
já nos roubaram demais!”

Um regabofe de gente
pendurada no povinho,
vivendo à grande e à francesa
bandidos de colarinho
branco ou preto, tanto faz,
trafulhas com ar decente,
todos roubam com largueza,
saca mais quem é audaz.

Do proxeneta ao ladrão,
do corrupto ao mentiroso,
do falsário ao magarefe…
todos vão metendo a mão.
Mas se não se acautelar
esta trupe mequetrefe,
do jeito que as coisas estão,
quando mal se precatar
será lixada com “f”.

João Frada