sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Memórias históricas de um analista “pro bono” e a descida do IVA em 1%

Um por cento (1%) de IVA era o que este animal político defendia como medida absolutamente salvítica da economia nacional e, como seria de esperar, teso como era e continua a ser, não se intimidou perante as diversas franjas parlamentares de bacocos que, só para o irritarem, pensamos nós, decidiram questioná-lo sobre o valor irrisório da descida. Respondeu-lhes à letra, como mereciam: frase lapidar, que nos ficou na memória, perante a qual toda aquela onda opositora se esfumou, silenciosa, convencida e decerto arrependida: "Meus senhores, uma descida de 1% de IVA só é desprezível para os ricos", não para os portugueses que trabalham e lutam em condições bem conhecidas por todos...este acréscimo é nosso, mas traduzirá, decerto, o que ia na alma do nosso 1.º Governante. Valente reprimenda. Gostei.
Oito ou dez dias depois, e a data aqui não tem significado, o Sr. Ministro das Finanças, no espaço do mesmo Parlamento, a propósito da aplicação de dinheiros públicos em offshores, nomeadamente, dos Fundos de estabilização financeira da Segurança Social, beneficiária de isenção de impostos coletivos, perante a exigência da oposição em esclarecer quais os capitais investidos, qual o retorno dessa aplicação, indubitavelmente de risco, e quais os benefícios que daí poderiam advir para a mesma Segurança Social, até há bem pouco tempo, na sua ótica, incapaz de sobreviver para além de 2015, fez saber, quando interpelado, não sem um pouco de crispação, que os milhões de dólares investidos, bem como os lucros resultantes, não passavam de uma gota de água, uma insignificância no contexto geral do orçamento geral do Estado e das respetivas verbas em jogo. O problema é que se trata de dinheiros públicos, de todos nós, dos trabalhadores, e temos algumas dúvidas se estas apostas vem beneficiar em alguma coisa o trabalhador que suporta desde sempre esta pesada máquina do Estado, com reduzidas, mal contadas e muito pouco seguras recompensas. Diremos, mesmo, que nenhumas, a avaliar o rumo que as coisas têm vindo a assumir. Os ricos continuam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Um por cento é desprezível...para os ricos, e a aplicação de milhões de euros aplicados em offshores trata-se de uma insignificância, que não justifica nem deve merecer preocupação de ninguém, porque não tem grande peso na economia e segurança social do País. Um Paradoxo. Ou não?! Mas paradoxos só podem ser compreendidos à luz de teorias paradoxais e isso é domínio da matemática e da probabilística e não me parece que os nossos leitores possam estar agora interessados em prestar provas nesta área, não exigidas, nem ainda impostas pelo Ministério da Educação a toda a cidadania. Seguramente, os resultados dessa aferição de competências não seriam 100% positivos. Mas, pelo menos, esta disciplina, como não se expressa em inglês, não foi suprimida.  
João Frada
Professor Universitário 

BIORRITMOS E INSUCESSO ESCOLAR: algumas opiniões e reflexões

A criança é fruto da genética, do ambiente social e cultural. 
Nem sempre, porém, os modelos e sistemas reguladores da educação e do comportamento estão suficientemente adaptados à realidade. Definem-se e estabelecem-se programas educativos que, numa perspetiva sociológica, psicológica e cognitiva, são considerados com a resposta metodológica mais eficaz à transmissão de conhecimentos, à formação do saber e da consciência fundamental e imprescindível para o desenvolvimento das capacidades de adquirir capacidades ou, como diria Vítor da Fonseca, a “aprender a aprender”. As diversas estratégias escolares, de natureza formativa e educacional, visam preparar os jovens para as suas futuras apostas sociais, familiares, emocionais e profissionais e, nessa medida, pretendem ser os instrumentos essenciais para esse êxito multidireccionado, ao longo das suas vidas. A Escola e o Professor, os Programas e as Estratégias de ensino, hoje mais do que nunca, globalmente, enquanto agentes atuantes de formação, não visam indivíduos, mas o grupo, não obstante a atenção específica dispensada a alguns deles, mais carentes de uma aprendizagem mediatizada e, por vezes, personalizada. Esta situação é comummente considerada quando a Escola se confronta com jovens com carências de determinadas “capacidades cognitivas para a resolução de problemas” [1]. 
Mas, apesar das sucessivas experiências e dos múltiplos contributos teóricos no campo da pedagogia e da pedo-psicologia educacional, constatamos, no terreno prático do ensino, que há sempre uma percentagem enorme de insucesso escolar. As razões, umas, talvez não muito difíceis de descortinar à luz das ciências biomédicas, explicativas da grande diversidade de comportamentos, bem como das grandes diferenças observadas em relação à procura do saber, ao grau de curiosidade, ao nível de labilidade da atenção, ao coeficiente de inteligência, à maior ou menor apetência cognitiva, à capacidade de memória exercitada, outras, de índole socioeconómica e política, no seu conjunto, acabam, sempre, por favorecer assimetrias de formação que muitas vezes não são possíveis de corrigir pelo docente ou pela Escola e se traduzem, mais tarde, na vida adulta, em disfuncionalidades cognitivas pouco identificadas com o sucesso pessoal, académico e profissional.
Há estudos recentes de neurofisiologia de sono que parecem apontar para a noção de que a criança, à medida que se aproxima da puberdade, “experimentando”, naturalmente, as profundas alterações biopsicológicas e, em particular, neuro-hormonais que marcam o seu desenvolvimento, parece sofrer uma espécie de atraso no “seu relógio biológico, ou seja, passa a dormir mais tarde e a acordar também mais tarde”. [2] Isto leva a que muitos jovens, de idade escolar, revelem, durante a primeira fase de aulas, ou seja, pela manhã, grande dificuldade de concentração e de aprendizagem, sobretudo, quando confrontados com “matérias mais complicadas” [3]. Os agentes e mecanismos neuro-hormonais responsáveis pelo estado de vigília, em alguns indivíduos, apenas entre o meio e o final da manhã garantem um estado de atenção e de lucidez cerebral e cognitiva suficientes para o processo de aprendizagem participativa e interativa.
Há contudo a noção, entre outros autores (A. Gomes, J. Tavares e M. Azevedo), de que se podem classificar os indivíduos, neste caso as crianças, de uma forma geral, em dois grupos distintos: os matutinos, madrugadores ou cotovias e os verpertinos, noctívagos ou mochos [4]. Para estes investigadores, “a maioria da população encontra-se numa posição intermédia”. Os primeiros, “cotovias”, com ritmos biológicos responsáveis por um estado de vigília matinal, são claramente mais adaptados à primeira fase do dia; os últimos, “mochos”, com um ciclo de vigília-sono bem diferente, sofrendo de grande sonolência durante a manhã, manifestam frequentemente graus de interesse e de atenção diminutos que podem ameaçar inexoravelmente o seu desempenho escolar. Por outro lado, o processamento de informações cerebrais e cognitivas, bem como a consolidação de memórias e aprendizagens, parecem depender do número de horas de sono, do seu horário e da regularidade em que ele se estabelece. 
“Quanto à quantidade de sono necessária para se funcionar adequadamente, sabe-se que a privação de sono afeta, entre outras funções cognitivas (…) o pensamento divergente e flexível, a capacidade para lidar com a surpresa e a novidade, a fluência verbal, a emissão de respostas inovadoras” e a capacidade de emitir respostas simples e rotineiras (Horne, 2000) [5]. 
Com horários de estudo e de trabalho que se prolongam muito para além do período de presença na Escola, na qual permaneceram 8 ou 9 horas seguidas, muitos jovens e crianças têm que ultimar ou preparar em casa, lições, trabalhos académicos e tarefas que, de um ou de outro modo, acabam por interferir nas normais horas de descanso noturno, gerando alguma privação e irregularidade no ciclo de vigília-sono.
Por outro lado, por razões socioeconómicas e culturais nem sempre as mais recomendáveis, as sociedades e a maior parte dos jovens, arrastados muitas vezes pelo exemplo dos seus familiares, alheios, ignorantes ou demitentes na/da sua condição de educadores, tutores ou disciplinadores, tendem cada vez mais a identificar-se, em termos de horários tardios de atividade e de vigília, com o último grupo, dos “mochos”. Para este grupo, o sono assume uma importância secundária e processa-se com uma irregularidade, quantidade e qualidade de consequências pouco reparadoras, face às enormes motivações e solicitações dos meios audiovisuais, entre eles a TV e a Internet. Interrompido, precocemente, pelas 6 ou 7 horas da manhã, o período de sono essencial ao equilíbrio e rendimento físico, mental e psicológico destes indivíduos, crianças e jovens, não é minimamente compatível com o horário de escolaridade a que muitas vezes estão sujeitos. 
Dos estudos e revisões efetuados pelos investigadores cujas fontes constituíram a base da nossa reflexão, pode-se concluir “com horários de sono tardios apresentaram piores resultados escolares(…)”. Os alunos mais vespertinos, que adotam horários de sono-vigília mais tardios [6], por razões plausíveis, positivas ou não, podem ter pior desempenho escolar, apenas porque os horários escolares não são ajustados aos seus padrões biológicos de sono-vigília.
Esta é uma questão importante a ponderar, se algum dia os responsáveis pelas políticas de educação pretenderem compreender e corrigir o insucesso escolar verificado entre os jovens portugueses. As causas deste problema não se situam seguramente no ensino secundário, mas enraízam-se no próprio ensino básico ou mesmo pré-escolar. Hábitos saudáveis, criam mentes saudáveis.
Seria interessante estabelecer inquéritos ou questionários sobre hábitos de sono ou de vigília e poder relacioná-los com comportamentos e aproveitamentos escolares. Talvez pudesse vir a ser uma achega importante para a compreensão e correção deste problema que, aparentemente, gerado na infância, se vai agudizando na adolescência, conduzindo a níveis de insucesso escolar consideráveis. Em Portugal, segundo recentes estatísticas, cerca de 50 a 60 mil jovens não passam do 9.º ano de escolaridade. 
Criar grupos de alunos, de acordo com a sua natureza biopsicofisiológica e enquadrá-los em horários mais ajustados aos seus biorritmos, poderia ser, futuramente, entre outras medidas, uma das chaves para a diminuição do insucesso académico e profissional. 
Bibliografia
FONSECA, Vítor da, Aprender a Aprender: a educabilidade cognitiva, 2.ª edição, Lisboa, Âncora Editora, 2007
GOMES, Ana A., TAVARES, José, AZEVEDO, Maria Helena, Padrões de sono-Vigília e (In)sucesso Académico no Ensino Superior, 13 p.(http://www.ualg.pt/OPQE/fases/2/comunicacoes/allengomes-tavares.htm)
MELLO, Luciana, Os Ritmos Biológicos e os Horários Escolares (http:www.crono.icb.usp.br/horariosescolares.htm) 
S.a., Estudar pela manhã pode prejudicar rendimento escolar (http://www.ccs.usp.br/espacoaberto/marco99/noticias.html) 

João Frada
Professor Universitário 

Portugal e o Crónico Complexo da Pequenez

A ideia de discorrer sobre este problema, “o nosso eterno complexo da pequenez”, não é original. Já foi tratada e “retraçada” por muitos outros articulistas e analistas, mas nunca é demais proceder a mais uma “catarse”. O doente de foro psicológico (e quem é que actualmente, e neste estado de coisas, está imune à doença) raramente melhora na primeira sessão de análise. Repete-se, rebusca-se, “introspecciona-se” ou “extrospecciona-se” umas tantas vezes, organiza as suas ideias desarrumadas e acaba por encontrar algum equilíbrio fundamental à coexistência pacífica dos seus estados de espírito (emoções, complexos, frustrações, medos, revoltas, traumas e impotências) e do seu instinto de sobrevivência.  
Há 500 anos, ansiosos por sair da nossa pequenez, rumámos ao desconhecido e na pertinácia e ousadia fomos capazes de impor a nossa língua, a nossa cultura, a nossa raça pelos quatro cantos do Mundo. As vicissitudes, porém, ontem como hoje, eram muitas e depressa perdemos o fôlego numa tarefa que nada tinha de liliputiana. Faltou-nos a organização, a solidariedade individual e colectiva, a sobriedade institucional, a honestidade, a visão projectada no futuro. Minados por uma “tendência quase hereditária” para o facilitismo,  corrupção e venalidade, rapidamente voltámos à nossa pequenez.  
Acabou-se-nos o afluxo das especiarias do Oriente e o ouro do Brasil, e, na segunda metade do século XX, não soubemos encontrar o rumo civilizacional que haveria de nortear quase todos países europeus na reestruturação social e económica do pós-guerra. Orgulhosamente sós, alheados das novas realidades empresariais, tecnológicas e científicas, voltados para a nossa pequenez e para as colónias, onde também apenas implantámos a mesma forma de ser e de estar, sempre pequenez, perdemos uma  nova etapa ou oportunidade de progresso e desenvolvimento e distanciámo-nos mais do pelotão da frente. Acabada a “teta”colonial, que só serviu para a amamentação de alguns, com magros recursos e pobres ideias, não apostámos na educação das nossas gentes, alimentámos o analfabetismo e a ignorância, distribuímos bulas e credos benfazejos de bem-estar individual e social, fazendo crer que a nossa sina era vontade de Deus e que o vinho, não a instrução, dava de comer a um milhão de Portugueses. Até poderia dar, se, na altura própria, depois da nossa entrada na Comunidade Europeia, com torrentes de fundos estruturais, escoando anos seguidos para o nosso País, tivesse sido criteriosamente definida e orientada a sua aplicação em projectos de viticultura rentáveis, sérios e economicamente viáveis, geradores de emprego, riqueza e desenvolvimento social. Metade dos avultados subsídios europeus (milhares de milhões de euros), caíram directamente nos canais e esgotos da corrupção e da venalidade. A marca da pequenez, em relação a objectivos e a valores positivos, uma espécie de contrafacção que os governos sucessivos teimam em continuar a produzir, apesar dos protestos cada vez mais sonoros de rejeição, audíveis em todos os quadrantes sociais e políticos, continua a substituir a ideia de um futuro próspero, com melhor qualidade de vida e saúde física e mental para a grande maioria dos Portugueses, esses que representam e sentem na pele a pequenez das suas condições de vida, a pequenez da empregabilidade (pelo desemprego ou pelo emprego precário ou temporário, mal remunerado), a pequenez alimentar pela magreza de recursos, a pequenez de alegria e de bem-estar pela carga fiscal, directa e indirecta que os avassala, a pequenez de formação que lhes não garante capacidade competitiva neste mundo global, e a pequenez demográfica das famílias portuguesas, como é óbvio, pouco incentivadas e apoiadas pelo Estado, no domínio da educação, da saúde e de toda a logística económica e formativa exigida por qualquer criança, não apenas na idade escolar.
Querem-se meninos inteligentes, competitivos, criativos, aptos a receber formação continuada e “de excelência”, mas, paralelamente, os seus pais vivem numa permanente angústia de subemprego, de desemprego ou de emprego precário ou de baixos salários), querem-se jovens com preparação técnico-profissional, universitária ou não, para apostar na grande competição tecnológica e económica que marca cada vez mais as sociedades industrializadas e desenvolvidas do século XXI. Para qualquer recém-licenciado ou jovem, porém, a aposta convicta na educação e na formação contínua, especializada e prática, conducente ao êxito profissional e laboral, perante a crescente pequenez da economia portuguesa, afogada no desemprego, no miserabilismo salarial e na permanente ausência de oportunidades, visível em todos os sectores, industrial, tecnológico ou científico, é um esforço, um apelo, pouco convincente. E assim, sem grandes perspectivas de futuro, ou emigram, “ofertando” a sua inteligência e a sua capacidade produtiva e criativa além fronteiras, e o recente meeting de cérebros portugueses em troca de melhores contrapartidas, ou desistem a meio da sua formação escolar, engrossando o pelotão de gente impreparada, analfabeta, incapaz de ser competitiva, num mundo laboral cada vez mais exigente e pautado por regras de mérito e excelência. Na nossa pequenez, não apostamos suficientemente na nossa juventude. As condições impostas pela nossa pequenez política e governativa, mais apostada em ultrapassar algum trauma arquetipal com obras megalómanas, de fachada, estádios, aos montes, centros e exposições culturais, que nos levam anéis e dedos, megaestruturas ferroviárias e aeroportuárias, o mais onerosas possíveis, “como manda a tradição”, resultam, obviamente, num corolário económico inevitável: os elevados gastos exigidos por tais projectos, que até poderiam ser compreensíveis se ponderados com equilíbrio, rigor, transparência e sentido de Estado, conduzirão, impreterivelmente, uma vez mais, a uma abundante sangria dos habituais “dadores involuntários: a classe média, os funcionários públicos, os trabalhadores por conta de outrem e todos aqueles que, sendo uma grande maioria demográfica, vivem na anemia económica, social, educacional, sanitária e agora quase afónica, deste país. As minorias economicamente privilegiadas, da grande indústria, dos bancos e seguradoras, com acesso a energias mais baratas (electricidade, gás, combustíveis, a tributos muito mais baixos (patentes em IRC, isenções, etc.) e a lucros anuais fabulosos, bem como as franjas “fora do sistema”, algumas delas movimentando milhões de euros, e o negócio da contrafacção é a prova disso, continuam a não participar no esforço económico e fiscal que é ou deveria ser de todos, mas, lamentavelmente, cabe só a alguns aguentar. Sentido de equidade, de justiça, de moralidade, perderam-se completamente na vertigem dos sucessivos governos que temos eleito. Será que a nossa permanente pequenez, e falo pela grande maioria dos que, estoicamente, suportam o sistema, é uma condição sócio-genética irreversível? Talvez não. Se todos participassem ou tivessem que participar mais no esforço conjunto do sistema, os mais ricos continuariam pouco afectados e os menos ricos viveriam mais desafogados. Se os mais abastados pagassem um pouco mais (e medite-se, por exemplo, nos lucros fabulosos dos bancos portugueses nos 2 últimos anos) e aqueles que pouco ou nada pagam, através de adequados mecanismos fiscais (cruzamentos de dados informáticos, contas bancárias, sinais exteriores de riqueza, registos de bens e património, leasings, seguros, cartas de condução, etc.), pagassem também à sua escala, então, através desse esforço conjunto mais harmonioso e justo, poder-se-ia, gradativamente, baixar o miserável e pseudo-provisório imposto IVA de 23%, que empobrece Portugal e todos os portugueses, em particular, os que constituem a pequenez económica do país. Não acredito em iluminados e esta receita não fará de mim um iluminado. Os especialistas em Finanças públicas já terão pensado nestas e em outras hipóteses, quantas vezes? As ideias de muitos políticos que têm passado pela governação e podemos apontar, entre outros, o  Eng.º. João Cravinho, preocupados com a a evasão e corrupção fiscal, afloraram, com grande rigor as diversas medidas capazes de limitar esse cancro da economia nacional. Então, o que tem faltado ou falta  ao governo para as pôr em prática?  Ousadia política? Até nisto somos exemplo de pequenez política. Corrigindo uma boa parte dos 40 mil milhões da economia paralela, equilibrávamos a nossa balança externa, corrigíamos o malfadado défice e libertavamo-nos de vez das troikas e dos FMI. De outro modo, serão sempre os mesmos a apertar o cinto e, na verdade, a grande maioria só tem mesmo um cinto para apertar. À nossa volta, porém, quantos vemos com 2, 3 ou mais cintos, bem largos, que mal sentem aperto ou nunca foram (ou virão a ser) apertados. A lei e as obrigações destinam-se apenas a quem usa um cinto. Quem detém mais do que um ou usa suspensórios fica isento ou nem dá por isso. É pena, porque se a vontade política dos nossos governantes não se pautasse, apenas, pela pequenez e fosse mais recta e abrangente, os Portugueses acreditariam mais nos seus representantes, nos seus deputados, na sua governação. 
Com mais receita, obtida à custa de uma política séria de equidade e de justiça, baixavam-se os impostos e os preços energéticos, fixavam-se e atraíam-se novas empresas, dissuadiam-se as deslocalizações de outras, tornava-se o nosso mercado económico mais aliciante, aumentava-se a possibilidade e a oferta de emprego e de salários, reduziam-se fricções laborais e sindicais, garantiam-se boas margens de lucro empresariais, com subsequentes estabilidade de emprego e ganhos familiares mais justos e duradouros. A economia rejuvenescia, a maioria das famílias portuguesas sairia, lentamente, da situação de pequenez  económica, frustrante e doentia, em que se encontra, estancar-se-ia definitivamente a emigração das nossas gentes (incluindo imensos jovens cientistas que, por ineficácia do sistema, nunca mais virão trabalhar no seu País), a educação revelar-se-ia um bem fundamental para todas as gerações, as de hoje e de amanhã, e a sociedade portuguesa encontraria, certamente, algum bem-estar e qualidade de vida.
Enquanto os nossos governantes não apostarem nestas transformações obrigatórias, acreditando que encontram, apenas, a solução dos problemas da crise através de um maior controlo fiscal, sempre  dirigido contra à classe média, congelando salários (seria melhor chamar-lhe hibernação plurianual, indeterminada), não olharem para uma distribuição equitativa e justa desse esforço tributário, aplicado a todas as classes sociais e profissionais, não regularem o custo de vida, em particular, no que se refere a necessidades básicas, não controlarem as [suas próprias] despesas públicas, esbanjadoras e perdulárias, evitando desperdícios e vícios de gestão com pareceres jurídicos e com gastos supérfluos, enquanto não houver uma entidade, isenta e neutra, que regule, imparcialmente e sem pressões, os gastos do próprio Estado, Portugal nunca passará da pequenez em que se encontra. Alhearmo-nos desta realidade é aceitarmos, definitivamente, a nossa condição de pequenez económica, política, cultural e social num Mundo cada vez mais global e em desenvolvimento.

João Frada
Professor Universitário

OS REFORMADOS


“Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal" por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os MATEM pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].
Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 ¤ de impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).
Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações.(…)”
Por António Bagão Félix
Estas e outras considerações a que todos temos acesso levam os ânimos ao rubro. 
Perdoem-se os mais sensíveis, pela linguagem que a seguir se transcreve, traduzindo um sentimento global que aqui, entre internautas, se não consegue de todo ultrapassar e que, por isso mesmo, mereceu a minha humilde análise.
Leem-se comentários por todo o lado, aqui na Internet, de gente que se interroga, despudoradamente, se um Ministro, primeiro ou segundo, não importa, em plena e zelosa governação, invocando razões de moralidade, equidade, justiça e solidariedade, por ter decidido aplicar em 2014 mais uma penalização a quem já está mais do que sangrado nas suas magras reformas e pensões, ou seja, um imposto novo extraordinário aplicado a pensionistas e reformados, deixando de fora várias castas especiais, diplomatas e magistrados jubilados e outros altos funcionários da administração pública com os mesmos privilégios,  deve ou não ser considerado “um filho de puta” ou “um filho da puta”?! Achamos que, semanticamente, este adjetivo é desajustado e merece o nosso maior repúdio, seja ele considerado "de" ou "da"...e, seguramente, ao contrário do caso do presidente “de” e “da” Câmara, nem precisamos de qualquer opinião interpretativa judicial superior. A ir por diante tal imposto, de certeza que não irão faltar adjetivos bem mais justamente adequados, capazes de traduzir esse excelso sentido de equidade e de justiça ministerial…ou talvez não. Poderão mesmo faltar vocábulos ajustados à necessária classificação dessa medida legislativa que tanta emoção tem gerado entre os mais inquietos e descontentes com os rumos da governação, e não serão os “de” ou os “da” que farão a diferença. A imaginação é pródiga e os bois, como irão ver, hão de mesmo chamar-se pelos nomes.   

João Frada
Professor Universitário


Portugal e a Crise: reflexões, respostas e medidas

Apostou-se em estádios de futebol e a maioria “está às moscas” todo o ano, mas ponderar em valorizar os nossos recursos, isso, ou é condicionado por quotas europeias, levando à “mumificação” destes sectores, ou é relegado, pura e simplesmente, a uma prioridade secundaríssima no contexto das preocupações de governação central e autárquica. Estabelecem-se tantas parcerias público-privadas e algumas têm sido um desastre para as finanças públicas. Todavia, estas “parcerias estratégicas”, se implementadas com o maior sentido de racionalidade, seriedade e ponderação ao serviço de novos projectos viáveis e sustentáveis, podem vir a tornar-se rápidos motores de emprego, de desenvolvimento e de riqueza. O tempo urge e as nossas tremendas “obrigações de dívida” não perdoam. O mar, a todos os níveis, é um dos nossos maiores bens. Desde recursos alimentares, a energia limpa, se a soubermos explorar (e há já tecnologia para o efeito), a lazer, podemos encontrar nesta vertente uma quase inesgotável fonte de receita e de saúde. É espantoso como um país com mais de 800 Kms de costa, sem contar com Mediterrâneo e Ilhas, com sol quase todo o ano e um clima dos mais amenos da Europa, não dispõe de mais de meia dúzia de talassocentros e alguns deles apenas de acesso restrito! Oferecendo talassoterapia (sol, água do mar, areia marinha, algas) todo o ano, boa gastronomia e hotelaria, lazer e saúde, criavam-se empregos, atraíam-se turistas e dinamizava-se, deste modo, um importante sector da nossa economia que, por ora, se mantém praticamente inexplorado. Esta modalidade terapêutica, tal como a termalismo-terapia, é uma das melhores alternativas para a correcção ou cura de patologias osteoarticulares, agudas ou crónicas, e poderia vir também a representar uma aposta inteligente e de grande eficácia no domínio da Saúde Pública em Portugal. Se é possível estabelecer convénios com centros termais, porque não com talassocentros, caso eles existam e ofereçam as condições convenientes de utilização?! Explorando inteligentemente os nossos recursos e capacidades, estes ou outros que garantam viabilidade e rendibilidade económicas imediatas, talvez então possamos vislumbrar alguma luz ao fundo do túnel. Ou se fazem investimentos e se gera riqueza familiar através do emprego, ou venham “os milhões” que vierem, não viremos a ter quaisquer hipóteses de sobrevivência económica e financeira. Seremos, pura e simplesmente, engolidos pelo Grande Capital Estrangeiro que, a pouco e pouco, nos atirará para a pobreza generalizada, tomando conta e anexando todos os nossos sectores estratégicos e produtivos. Não é com uma contínua e crescente sangria fiscal, altamente lesiva da capacidade de sobrevivência e investimento de famílias e empresas, que a Economia Portuguesa se conseguirá endireitar. Esta fonte, Senhores Governantes, já tem um lençol freático muito exaurido. 

João Frada 
Professor Universitário
Lisboa, 01.07.13