sexta-feira, 31 de julho de 2015

JOBS FOR THE BOYS

Jobs for the Boys


O Governo de Dilma Rousseff arrocha (oprime) brasileiros, mas mantém 107 mil cargos comissionados (“jobs for the boys”) integrados no governo não por concurso público, realização de provas curriculares ou entrega de reconhecidos títulos académico ou profissionais, comprovativos de conhecimento e habilidade específica para o exercício destes  cargos, mas por livre decisão e nomeação político-partidária.
Este enorme “exército” de gente não chegou ao Governo do Brasil, apenas, pela mão do Partido Trabalhista PT), ao qual Dilma Rousseff e Lula da Silva, seu antecessor na Presidência da República, pertencem. Não. Apesar da maior expressividade e responsabilidade do PT neste contexto, o contingente estes 107 mil “jobs for the boys” são o resultado das nomeações realizadas por todos os outros partidos que, sucessivamente, têm passado pela governação deste país.
Com remunerações que oscilam entre 1 e 40 salários mínimos nacionais, esta lista de “cargos comissionados” constitui uma tremenda sobrecarga para os cofres de Estado. Para apoiar a Copa do Mundo e as Olimpíadas realizadas no Brasil, muitas das comissões então criadas com objectivos temporários, após os eventos, numa grande maioria, nunca viriam a extinguir-se, passando a permanentes. Atualmente com outras funções, principescamente pagas (recebendo salários que chegam  a atingir os 22 mil reais), tendo em conta a média de vencimentos recebidos pela normal função pública brasileira e o baixíssimo ordenado mínimo nacional (788 reais, correspondendo a cerca de 214 euros), há comissionados espalhados por todos os setores da administração pública, verdadeiras peças de xadrez ao serviço de interesses, eminentemente, político-partidários.
As remunerações dos “jobs” de comissionados que ocupam cargos de direcção e assessoramento superior, ministerial ou outro, chegam a atingir os 14,3 mil reais mensais, sem ter em conta outros benefícios e subvenções.         

Notícia de 05 de março de 2015

Por cá, pior ainda. Segundo um estudo efectuado por Patrícia Silva, investigadora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, o qual viria a constituir o material da sua tese de doutoramento, defendida na mesma instituição, das “11 mil nomeações celebradas em 15 anos pelos sucessivos e diferentes partidos” que passaram pela governação portuguesa, entre 1995 e 2009, abrangendo os executivos de Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, a maioria serviu apenas para “recompensar lealdades partidárias”.
Estas conclusões foram confirmadas por entrevistas realizadas, por esta investigadora, a “51 dirigentes políticos, ministros e observadores privilegiados da política portuguesa". (…) "Há um alinhamento [notório de índole político], " entre os partidos que estão no governo e as pessoas à frente" da administração pública do país.

Houve já quem tivesse tido um rasgo de sensatez e de moralidade ético-política, pondo a hipótese de acabar com tantos “jobs for the boys”: António Guterres. Tendo acabado de tomar posse como primeiro-ministro, em 1995, manifestou nessa altura esta saudável e bem-vinda decisão político-administrativa. Não passaria, porém, de uma boa intenção. Vinte anos depois, como nos afirma e prova a ilustre investigadora da Universidade de Aveiro, as nomeações para cargos públicos quer de direcção, quer de quadros técnicos, continuam a verificar-se e a serem influenciadas pelos interesses, não do país, mas dos partidos políticos…todos eles.
No seu estudo, a autora, depois de analisar e comparar esta realidade a nível de diversos países, constatou que esta estratégia viciosa de gestão político-administrativa, com sérias repercussões sobre o erário público, face aos elevados salários ou remunerações pagos a tantos assessores, jovens especialistas técnicos disto e daquilo, alguns deles acabados de sair dos bancos das universidades, "não é exclusiva de Portugal". "Nos casos de uma administração pública permanente, como no Reino Unido, os ministros sentem-se desconfortáveis em trabalhar com essas administrações, nomeiam “special advisors” e contornam estas limitações", diz-nos Patrícia Silva.

Paulo Morais, vice-presidente da Transparência e Integridade, Associação Cívica, sobre o mesmo assunto, afirma-nos que esta realidade tem um "Impacto económico tremendo", nas contas do país.
"Só por milagre um boy de uma juventude partidária, habituado a organizar jantares e comícios, consegue fazer um bom trabalho num organismo público", critica Morais. O investigador reconhece que "há milagres, mas a regra é que [os nomeados] tomem decisões incompetentes e erradas".
O dirigente da TIAC admite que, no "círculo mais restrito da execução de políticas, se recrutem pessoas de confiança [dos governos], mas sempre com competência", sublinhando que "esse critério da confiança faz sentido num universo de cem pessoas, não de cem mil".
O governo atual, PSD/CDS, em 2012, através da criação da Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (Cresap), reaproveitando a ideia de Guterres, parece ter dado um passo em frente, ainda que curto e inseguro, para a moralização definitiva deste problema, de modo a que o recrutamento para cargos públicos possa vir a efectuar-se, não por cunhas, simpatias ou influências político-partidárias, mas por mérito e competências profissionais e curriculares. João Bilhim, presidente da Cresap, acredita que esta mazela político-legislativa tem os dias contados. Mas, nem todos os analistas compartilham desta visão optimista. Paulo de Morais afirma que ainda é cedo para se fazer uma avaliação do novo paradigma, lembrando, todavia, que "em teoria, é melhor que o anterior". "A questão é saber se vem romper com o modelo anterior ou se o vai branquear."

Como última achega a esta análise, resolvemos comparar os números de “jobs for the boys” que se apontam, quer para o Brasil, país com 202,7 milhões de habitantes (dados demográficos de 2014), quer para Portugal, com cerca de 10,6 milhões de habitantes (2014).
Tendo em conta que no país irmão, como uma população vinte vezes superior à nossa (isto é, mais de 200 milhões de habitantes), se contabilizam 107.000 “nomeações políticas”, por cada 10 milhões de habitantes brasileiros há cerca de 5 a 6.000 cargos públicos comissionados. Portugal, com uma população de 10, 6 milhões de habitantes e 11.000 “cargos” de nomeação política, apresenta uma taxa de “jobs for the boys” duas vezes superior à do Brasil.  
É perdularismo, governação insensata, grande complexidade de gestão e administração pública dos recursos do país, mania das grandezas?!
Quais serão as razões que levam o Estado português e os governos sucessivos a não alterarem este paradigma do desperdício e do esbanjamento, continuando a legislar, a proteger e a perpetuar situações tão aberrantes como esta, dos largos milhares de “jobs for the boys”, realidades profundamente gravosas para os cofres públicos e para a economia nacional?!  
Perguntamos, porque é nosso dever interpelar quem nos governa, mas todos nós sabemos a resposta.
Como diria Eça de Queiroz, “mudam-se as moscas e a… [história] continua a ser a mesma…”.

Calendas Semânticas
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.) da FML