Enquanto
cidadãos pensantes, ainda que não especialistas na matéria, achamos que não
será um exercício mental difícil de realizar, este de nos debruçamos sobre as
medidas que deveriam ser (ou ter sido) implementadas como estratégias de
prevenção e combate a esta saga de incêndios que, desde há décadas, varrem o
território nacional.
Analisemos,
então, quais as medidas que foram acionadas no terreno, e quantas, até agora,
nunca foram ponderadas pelas “brilhantes cabeças” (autoridades públicas e
civis) responsáveis pela defesa da nossa floresta, setor este que se tem
revelado um autêntico sugadouro anual da nossa economia…já tão depauperada por
tantas outras mazelas (des)governativas.
1.“-
Vigilância adequada das nossas matas e florestas, através de meios humanos [acionar
novamente a actividade de guardas florestais, olheiros fundamentais ao
levantamento do estado anual da floresta, em relação à concentração de
biomassa, aos acessos, à capacidade de resposta de meios fixos de combate a
incêndios (açudes, cisternas e outros equipamentos] e ao equacionamento
atempado do risco de deflagração de fogos nesta ou naquela área mais
desprotegida ou suscetível);
2.-
Vigilância através de meios aéreos [drones, por exemplo]e de câmaras de vídeo
instaladas no alto de torres eólicas ou em balões estacionários, emitindo
informação “on-line” para centrais de controlo de incêndios, 24 sobre 24 horas,
em contacto direto com a proteção civil, unidades de bombeiros [e Forças
Armadas];
3. - Envolvimento
[das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea)], de bombeiros
profissionais e voluntários e, sob certas medidas, de toda a população
residente em áreas onde se verifique o risco de incêndio; dotação/atribuição a
agricultores de equipamentos e, sempre que possível, garantir a formação básica
a todos os intervenientes para uma pronta atuação, em caso de foco primário de
incêndio, seja qual for a sua origem;
4. - Limpeza
atempada e obrigatória das faixas laterais dos caminhos e estradas nacionais e florestais,
a par do alargamento destas mesmas vias, onde for julgado necessário, bem como
proceder à recolha de matos, sempre que conveniente nas próprias zonas
florestadas;
5.
- Vigilância dos níveis de reserva de água de açudes e cisternas, instaladas no
seio de matas e florestas, especialmente, durante a época das chuvas;
6.
- Abertura de largos aceiros, estrategicamente concebidos e acessíveis a
viaturas de 2 ou 4 rodas, desde que devidamente autorizadas e sob controlo de
segurança apropriado, enquanto circuitos de velocidade e de lazer e enquanto
vias rápidas de acesso a bombeiros ou outros intervenientes na luta preventiva
e de combate terrestre contra incêndios.”
[Excerto,
com alguns novos acréscimos, das medidas preconizadas para a prevenção e
combate dos fogos florestais na Serra da Romana, na Vila Termal de Aurora. (In
João Frada, Livres e Intocáveis. Edições Clinfontur: Lisboa, 2014; 156-57.]
Obviamente,
este esforço coordenado, eminentemente voltado para a prevenção e combate de
incêndios, deve merecer uma cuidada e oportuna atenção das autoridades centrais
e autárquicas, fazendo cumprir a legislação que já existe, impondo a obrigatória
manutenção de faixas de proteção numa largura adequada, ao longo dos caminhos e
estradas, bem como determinando, sobretudo em zonas rurais, a construção de
casas de habitação em locais bem delimitados e protegidas por faixas ainda mais
largas de terreno limpo, mantendo-se, deste modo, uma razoável distância em
relação às áreas de mata envolvente. Enquanto não for realizado um completo e
criterioso ordenamento florestal e territorial, a partir do qual venham a ser
estabelecidos níveis de risco e subsequentes prioridades de intervenção, proteção
e prevenção, em função de cada local, das dificuldades de acesso, da envolvente
e fixação humana e, bem entendido, das condições climatológicas de cada região,
sempre dinâmicas e imprevisíveis, os fogos continuarão a fazer vítimas e a devorar
vidas e bens, causando tragédias irreparáveis. A par destas medidas práticas, a
implementação de processos inteligentes de reflorestação em mosaico (áreas
livres, com ou sem cobertura florestal), utilizando espécies arbóreas mais ou
menos resistentes ao fogo, poderão também contribuir para a defesa da floresta e
das populações.
Não
se deva pensar que apenas o cipreste, o carvalho, o zimbro e o pinheiro, menos
inflamáveis, poderão ser as opções mais adequadas ao restauro (reflorestação) da
mancha enorme ardida durante vários anos e nunca reposta. O eucalipto,
controladamente (re)plantado, a fim de não ser factor de desequilíbrio
ecoambiental, pela secura e consequente erosão dos terrenos onde se fixa, a par
de todas as outras espécies arbóreas, constitui
também uma enorme mais valia, não só em termos de produção de biomassa (apesar
de, ainda, não dispormos de “centrais de biomassa” em número suficiente e sem
capacidade de resposta adequada às necessidades do país), como em termos da sua
importância celulósica, cosmética e farmacêutica.
Hoje,
em dia, com o fácil acesso a tecnologia de ponta, incluindo o recurso a
inteligência artificial e a modelos computacionais, é possível recolher dados
de natureza cartográfica, terrestre e aeroespacial, exaustivos e minuciosos,
obtidos, especialmente, através da fotografia panorâmica tridimensional, e
cruzá-los com outras variáveis de natureza climatológica e meteorológica (grau
de humidade, vento e quantidade de biomassa combustível), simulando, com muita
precisão, não só as zonas de maior risco de incêndio, como a própria trajetória
ou progressão de fogos, em função dos diversos fatores em causa.
Só
com medidas sérias e eficazes, o país poderá vir a assistir a uma redução
drástica deste tipo de calamidades que, ano após ano, e desde há décadas, vem
ceifando vidas e bens todos os verões, drama, este, perante o qual, para além
do sentido pesar e das condolências de ocasião, as governações sucessivas têm demonstrado
uma considerável inércia, incapacidade de resolução ou mesmo alheamento. Acaba
a “época dos fogos” e, aparentemente, deixa de se ouvir falar em gestão
florestal ou prevenção de incêndios.
Mas,
admitindo que, até agora, muito possa ter sido feito neste domínio, a confiar
nas informações e nos relatórios oficiais veiculados pelo governo e pelas
autoridades responsáveis por esta área (gestão estrutural da floresta e
prevenção de fogos), os resultados estão à vista! Basta olharmos, aí pelo mês
de abril, para o estado de limpeza das nossas matas e para a biomassa e “lixo”,
altamente inflamável, que se acumula junto às bermas da maior parte dos
caminhos e estradas florestais e nacionais, e ficamos logo elucidados.
Esperemos,
pois, que no próximo mês de Outubro, época que dá início, habitualmente, a uma
longa amnésia política sazonal coincidente com o começo das chuvas e inundações,
não se apague, como sempre, o horror de tantas memórias dramáticas e tragédias horríveis
como estas a que acabámos de assistir neste “mês negro” de junho de 2017, e os nossos
governantes possam repensar, definitivamente, quais as estratégias mais
eficazes de gestão da nossa floresta, para que se minimize ou ponha termo a
este crónico descalabro nacional.
Fontes
consultadas:
“Simuladores
podem reduzir riscos de incêndio”
(https://www.rtp.pt/noticias/incendios-2015/eucalipto-a-arvore-que-reina-sobre-a-floresta-nacional_es869927)
“Centrais
de Biomassa em Portugal”
“Sistema
de informação de risco de incêndio florestal”
Pedrógão:
a tragédia evitável
http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/pedrogao-a-tragedia-evitavel-173263#.WUkCTj4_cBw.facebook
João
Frada
Calendas Semânticas 2000