Que se não lixem as eleições, quero ganhar as eleições de 2015, diz agora Passos Coelho.
Andará o homem baralhado ou fazem parte dos “faits divers” político-comunicacionais estes fingimentos?
Temos que aumentar a carga fiscal, para reduzir o défice e reduzir a dívida pública, disse ele e melhor o fez. Armazenou dividendos bem para além do que o previsto e imposto pela Troika. E acena, agora, com diminuição da carga fiscal, à espera de que “não lhe lixem as eleições”, como ele próprio, tão despreocupadamente, desejou em tempos. O povo, pensa ele, é burro, amnésico e “de memória curta”, e há que ter em conta esta importante certeza sobre o eleitorado, à boca das urnas. De resto, pensará ele, se estas bestas vierem a sentir alívio na “carga” fiscal e aumento dos seus vencimentos, reformas e pensões, não obstante estarem a receber apenas uma pequena parte do que lhes já lhes foi subtraído ou roubado, depende da perceção, até os idiotas dos funcionários públicos, reformados e no ativo, pensarão que chegou o D. Sebastião. E votarão em massa na sua excelsa e inteligente pessoa, o caudilho que faltava a esta nação, o salvador da pátria. Quando se olha ao espelho ou se vê projetado na sua solenidade segura e bem-falante nos écrans televisivos, nas entrevistas, nos congressos, seja onde for, mesmo onde é vaiado e insultado “até às últimas”, sente que muitos ignorantes não o entendem, não percebem as suas aflições nem os enormes compromissos que assumiu com tantas entidades da banca e da finança internacional, necessariamente, em prol da sociedade e do país. Embora Batista Bastos e Marcelo, para além de outros de “memória mais longa”, não comunguem desta opinião, Passos Coelho sente-se não um pérfido tirano mas um justo restaurador da saúde económica e financeira da nação. Os resultados, na sua opinião, estão à vista. O ano de 2014 virá provar a sua teoria. A baixa do desemprego e a melhoria do nível de vida dos portugueses virão para ficar…a par da queda de carga fiscal, como ele acabou de anunciar há poucos dias. O custo de vida, dada a inflação decrescente a que se assiste e ao controlo dos bens de primeira necessidade, eletricidade, água, luz, gás, telecomunicações e transportes, sob controlo rígido e atento da sua governação, está neste momento também a melhorar e, por todos os motivos e mais um ― “Que se não lixem as eleições”, Passos Coelho pede a maioria absoluta. Vamos a ver se esta maioria se traduz em votos nulos, favoráveis ou desfavoráveis à sua reeleição nas próximas legislativas, previstas para 2015.
João Frada