terça-feira, 21 de janeiro de 2014

QUE SE NÃO LIXEM AS ELEIÇÕES

Que se lixem as eleições, diria Passos Coelho há uns tempos.
Que se não lixem as eleições, quero ganhar as eleições de 2015, diz agora Passos Coelho.
Andará o homem baralhado ou fazem parte dos “faits divers” político-comunicacionais estes fingimentos? 
Temos que aumentar a carga fiscal, para reduzir o défice e reduzir a dívida pública, disse ele e melhor o fez. Armazenou dividendos bem para além do que o previsto e imposto pela Troika. E acena, agora, com diminuição da carga fiscal, à espera de que “não lhe lixem as eleições”, como ele próprio, tão despreocupadamente, desejou em tempos. O povo, pensa ele, é burro, amnésico e “de memória curta”, e há que ter em conta esta importante certeza sobre o eleitorado, à boca das urnas. De resto, pensará ele, se estas bestas vierem a sentir alívio na “carga” fiscal e aumento dos seus vencimentos, reformas e pensões, não obstante estarem a receber apenas uma pequena parte do que lhes já lhes foi subtraído ou roubado, depende da perceção, até os idiotas dos funcionários públicos, reformados e no ativo, pensarão que chegou o D. Sebastião. E votarão em massa na sua excelsa e inteligente pessoa, o caudilho que faltava a esta nação, o salvador da pátria. Quando se olha ao espelho ou se vê projetado na sua solenidade segura e bem-falante nos écrans televisivos, nas entrevistas, nos congressos, seja onde for, mesmo onde é vaiado e insultado “até às últimas”, sente que muitos ignorantes não o entendem, não percebem as suas aflições nem os enormes compromissos que assumiu com tantas entidades da banca e da finança internacional, necessariamente, em prol da sociedade e do país. Embora Batista Bastos e Marcelo, para além de outros de “memória mais longa”, não comunguem desta opinião, Passos Coelho sente-se não um pérfido tirano mas um justo restaurador da saúde económica e financeira da nação. Os resultados, na sua opinião, estão à vista. O ano de 2014 virá provar a sua teoria. A baixa do desemprego e a melhoria do nível de vida dos portugueses virão para ficar…a par da queda de carga fiscal, como ele acabou de anunciar há poucos dias. O custo de vida, dada a inflação decrescente a que se assiste e ao controlo dos bens de primeira necessidade, eletricidade, água, luz, gás, telecomunicações e transportes, sob controlo rígido e atento da sua governação, está neste momento também a melhorar e, por todos os motivos e mais um ― “Que se não lixem as eleições”, Passos Coelho pede a maioria absoluta. Vamos a ver se esta maioria se traduz em votos nulos, favoráveis ou desfavoráveis à sua reeleição nas próximas legislativas, previstas para 2015.

João Frada