O Governo aprovou, hoje, o plano B que visa colmatar o
"buraco" de 388 milhões de euros deixados no Orçamento de Estado com
o chumbo pelo TC de uma das normas do programa de convergência de pensões. A
solução encontrada passa pelo alargamento da taxa de 3,5% de Contribuição
Extraordinária de Solidariedade às pensões a partir dos 1000 euros. Até agora,
a CES atingia apenas as pensões a partir dos 1350 euros e, desta forma, são
mais 79.862 pensionistas que, segundo a própria ministra das Finanças, irão
passar a pagar esta taxa adicional e, assim, ver as suas reformas reduzidas em
3,5%.
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“Reflexão”
Hoje, pelo
30º aniversário do PSD, Passos Coelho assume que as políticas levadas a efeito pela
governação anterior e, obrigatoriamente, continuadas pelo seu governo afetaram ou
afetam, de algum modo, os portugueses e que vivemos uma crise financeira
terrível e uma “crise económica e social sem precedentes”. Entretanto, numa
outra manifestação de aparente bipolaridade, afirma-se satisfeito, porque, na
sua opinião, estamos numa rota clara de reabilitação do país, de regresso aos
mercados já em maio de 2014, de despedida definitiva da Troika, de reequilíbrio
das nossas contas internas e externas, de volta à normalidade. Em suma, a
população portuguesa, na sua douta opinião de licenciado em economia, deve
sentir-se feliz com os progressos que as suas políticas têm obtido.
Perante uma
saída em massa de largos milhares de jovens entre os 20 e 45 anos, grande parte
deles com altas qualificações académicas e profissionais, um autêntico flagelo
demográfico, em busca de hipóteses de trabalho como emigrantes, com uma taxa de
desemprego brutal que atingiu e continuará a atingir nos próximos tempos,
sobretudo, as faixas etárias entre os 45 e os 65 anos, sem nenhuma hipótese de
reversão, já que indivíduos com estas idades muito dificilmente virão a ter
possibilidade de voltarem ao mercado de trabalho e, por isso mesmo, de tanto
procurarem trabalho em vão, se tornam desistentes e sem qualquer incentivo para
se inscreverem em centros de emprego, o governo e o PM, inteligentemente,
chegam a esta conclusão: o desemprego está a diminuir. Realmente, por este
andar, a oferta de trabalho acabará por ser superior à procura. Por isso, em
termos de emprego, resta saber que idades terão os poucos resilientes que o procuram
e que idades serão aceites por aqueles que o oferecem.
1.
Em 2014,
aumentaram as rendas de casa, as taxas de moderadoras nos serviços de saúde, os
preços dos serviços das operadoras de comunicações, a contribuição para a RTP,
o imposto único de circulação de veículos, incluindo os de trabalho, velhos ou
novos e seja qual for o respetivo preço base da viatura, bem como preços dos
transportes públicos, do gás e da eletricidade.
2.
“Aumentos de
preços em 2014 – Saldo Positivo” (saldopositivo.cgd.pt/o-que-vai-aumentar-em-2014)”
Por outro
lado, a queda brutal de nascimentos, por falta de casais jovens e prolíficos no
país e, como é óbvio, também pela miopia da política de saúde que não apoia
rigorosamente nada neste domínio, nem o nascimento nem o pós-nascimento, embora
apoie abortos, põe em risco, cada vez mais, por falta de renovação geracional e
demográfica, quer a Segurança Social quer mesmo a capacidade de resposta
técnico-profissional do país. E que fazem os governantes em prol disto? Nada.
Apregoam que se esteve tão próximo da felicidade suprema, porque a Troika parte
de vez e nós voltamos aos mercados. Brilhante! Não percebem, nem quem agora nos
governa nem quem anteriormente governou, que vão perdendo anos nestas
filosofias idiotas e que a nação, em vez de progredir e de se renovar, definha.
País sem gente é qualquer coisa anómica, menos país.
Entretanto,
como se lê pela notícia em epígrafe, já não bastava sangrar pensões acima dos
1350 euros, como se estas sejam gordas receitas para se suportar o custo de
vida imposto pela crise, que todos reconhecem existir, incluindo o PM, ainda
que de uma forma meio velada, subjetiva e confusa…claro está que nenhum
Ministro, Secretário de Estado, Assessor, Adjunto ou quejando algum dia soube,
saberá ou quererá experimentar viver com tal quantia…, e preparam-se agora
para, em nome de uma “recuperação económica e financeira do país visível “a
olhos vistos”, sangrar também com a “Contribuição Extraordinária de Solidariedade de 3,5% as
pensões a partir dos 1000 euros.” Os
ordenados, vencimentos, reformas e pensões da grande maioria dos portugueses,
gente não bafejada por nenhuma “estrela política”, seja ela de Belém, de São
Bento ou de qualquer outro sacrossanto panteão político erigido no país, ou são
congelados e autenticamente avassalados pela inflação e pelo crescente custo de
vida ou, pior que isto, são constantemente reduzidos em nome de uma austeridade
e de uma crise que, segundo o governo, existe, mas que a Passos largos vai
deixar de existir…já em 2014.
Afinal, perante todo o cenário de
cortes em ordenados, pensões e reformas, envelhecimento populacional,
desemprego, aumento de custo de vida sem aumento de poder de compra, estaremos
em vias de sair da dita crise ou condenados a continuar enterrados nela?
Será que nos consideram burros ou estará
alguém a sê-lo?
Pior do que um cego é aquele que
não quer ver.
João Frada