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Imagem de um coração de mamute, desenhado há cerca de 12 000 anos (gruta de El Pindal, Oviedo (Espanha).
História da
Cardiologia, das origens ao dealbar do século XIX: alguns contributos
portugueses.
O coração,
músculo pulsátil imprescindível à manutenção de todos os fenómenos vitais,
parece ter atraído, nas mais diversas culturas e civilizações, a atenção de
todos aqueles que, direta ou indiretamente, tentaram compreender a vida e a
morte.
Desenhando, pintando, cortando ou dissecando com os seus afiados
bisturis (micrólitos feitos de sílex, obsidiana ou cristal de rocha),
esquartejando a presa ainda moribunda, o homem pré-histórico construiria as
suas primeiras noções sobre o papel deste órgão.
Henry Brevil, especialista em Pré-História e Arte Rupestre,
defende sem hesitação que a pintura vermelha da Gruta de Pindal, em Espanha,
traduz claramente a localização anatómica do coração de um mamute, parente
afastado do elefante.
Dentre as Civilizações Pré-Clássicas, destacamos os Egípcios que,
cerca do ano 1085 A.C., nos descrevem com um grande rigor o órgão cardíaco e os
seus batimentos, perfeitamente identificados pela palpação dos pulsos.
A leitura do Papiro de Edwin-Smith não deixa margem para dúvidas:
“A contagem de alguma coisa com
os dedos (acontece)- para reconhecer o ritmo do coração. Há vasos que saem dele
e vão em direção a qualquer parte do corpo... Se um sacerdote de Sekhmet,
qualquer médico de swnw... coloca seus dedos na cabeça... em ambas as mãos, no
lugar do coração... nas duas pernas, então ele mede o coração... Ele diz...em
cada vaso, cada parte do corpo... medem-se os vasos do coração, para conhecer
as informações que nele se realizam”.[1]
Henry James Breasted, egiptólogo americano do século XIX,
entusiasmado com estas descobertas, atreveu-se mesmo a escrever que os Egípcios não estavam muito longe de descobrir a
circulação do sangue, realização que só no século XVII viria a verificar-se pelo contributo de William Harvey.
Mas a sabedoria médica dos Egípcios, nesta e em tantas outras
áreas, não se ficava por aqui. Conhecedores das mais diversas patologias de
foro cardiovascular, o enfarte de miocárdio e a “angina pectoris” mereceram-lhes uma atenção especial, conforme nos atesta
o Papiro de Ebers, documento datando do ano de 1550 a.C., seguramente, cópia de
um original mais antigo. Dispondo de uma riquíssima farmacopeia, prescreviam
também tratamentos adequados à resolução da incómoda e dolorosa insuficiência
coronária.
“ Se... tu examinares um homem
sofrendo do cárdia e ele tiver dores no braço, no peito (mama) e num dos lados
do cárdia, e se diz sofrer de doença... então tu dirás a esse respeito: ela é
(devida) a qualquer coisa que entrou na boca, é a morte que o ameaça. Tu
prepararás para ele remédios com ervas estimulantes: fruto de...tomilho(?)/,
grãos vermelhos da semente de mostarda/,
os quais são fervidos com óleo e bebidos pelo homem. Tu aplicarás nele a tua
mão estendida(isto é, plana), até que o braço fique bem e livre de dores. Então
tu dirás: este sofrimento desceu para o verdadeiro intestino (recto?) e para o
ânus; eu não repito mais o remédio”.[2]
Para além da importância médica visivelmente atribuída pelos
egípcios a este órgão nobre, o coração assumia também um papel decisivo no
plano da concetualização mística e escatológica deste povo, que o via como o
espelho da sua consciência após a morte.
Na linha do Racionalismo médico iniciado com Hipócrates, duas
outras figuras merecem ser lembradas pelos seus brilhantes contributos na área
do conhecimento cardiológico: Herófilo de Calcedónia (300 a.C), considerado o
fundador da Anatomia (enquanto disciplina protocientífica) e Erasístrato
(300-250 a.C), natural de Keos (ilha do Arquipélago das Cíclades).
O primeiro investigador, para além de ter verificado que as
artérias continham sangue e não ar, como se pensava até aí, comprovou que o
pulso resultava da contração cardíaca e não da expansão sanguínea dos mesmos
vasos, conforme era defendido por Aristóteles e por muitos outros seus
seguidores.
Erasístrato, considerado fundador da Fisiologia e da Anatomia
Patológica, descreve a anatomia cardíaca com as respetivas válvulas
auriculoventriculares, as válvulas sigmoides, aórticas e pulmonares, a aorta,
a veia cava, a artéria pulmonar, as artérias renais, etc.
Galeno (130-200 d.C.) de Pérgamo, grande sistematizador da
medicina conhecida no seu tempo, foi, ao mesmo tempo, um experimentador
incansável e um investigador original. Anatomista e fisiólogo, Galeno considera
o coração não uma espécie de motor central da circulação sanguínea, mas o órgão
central da função respiratória, fonte do calor intrínseco do organismo[3].
Conhecendo a morfologia das válvulas cardíacas, já descritas com
grande minúcia por Erasístrato, Galeno não percebeu, entretanto, do mesmo modo
que este último, o fenómeno da pulsação arterial, o qual atribui à dilatação da
parede destes vasos, acreditando que há passagem de sangue do ventrículo
direito para o ventrículo esquerdo através de poros localizados no septo
interventricular. As suas noções sobre o trajeto do sangue através dos vasos
pulmonares anteciparam em vários séculos os trabalhos de Ibn al-Nafis (f. 1289)
e de Miguel Servet (1509-1553), nomes que, na História da Ciência, ficariam
ligados à descoberta da pequena circulação sanguínea.
Pedro Hispano ou Pedro Julião (1210-1277), figura carismática da
Idade Média Portuguesa, licenciado em Medicina e Astrologia pela Faculdade de
Medicina de Paris e também o primeiro e único Papa Português na História do
Vaticano (Papa João XXI), revelar-nos-ia em várias obras escritas um
conhecimento profundo, à luz da sua época, de toda a matéria médica de feição
hipocrático-galénica. As suas noções de anatomia e de função cardíaca estão
claramente retratadas neste excerto da sua obra: “O coração é um órgão côncavo, cavernoso em baixo, amplo em cima, e é o
termo de todas as operações da alma racional, segundo o testemunho de Galeno.
As operações do espírito começam no cérebro e recebem o seu complemento no
coração”.[4]
Sobre “As coisas que fazem
mal ao coração”[5],
o autor começa por enumerar alguns
alimentos que considera desapropriados para a saúde cardíaca: “peixes sem escamas, legumes não descascados,
nabos, cebolas e tudo o que for cheio de ar e fritos” e, em especial, a
ingestão excessiva de acrumina[6]. Considera também desaconselháveis “o banho a seguir às refeições e beber vinho
durante o banho” (...) e “o exagero
na bebida e na comida”. Como factores favorecedores de doença cardíaca,
aponta “a inchação, tristeza,
preocupações e qualquer causa que provoque síncope”(...), as febres “contínua e terçãs verdadeiras e todo o
abcesso das vias respiratórias”, bem como o “excesso de estudo e muita meditação, coito frequente e tudo o que fizer
mal ao baço”, “excesso de vigílias
(...), pegar em objectos pesados, trabalhos difíceis e todo o serviço
intolerável e o que quer que faça a alma entristecer-se”, porque, na sua
opinião, “o coração é o princípio da vida
e o termo da morte”.
A par dos
inúmeros fatores e situações que considera nefastos para o bom funcionamento
cardíaco, Pedro Hispano aponta-nos exaustivamente todas as “coisas que fazem
bem ao coração”: “Canto aprazível e
alegria moderada. Electuários bons, como o de âmbar, de alecrim, de acónito, e
muitos semelhantes. Carne de animais bravios. Osso de coração de veado e de
marfim. Vinho fervido com açúcar, coral vermelho e branco, pérolas, limalha de
ouro e prata, em antídotos e pós; sândalos e almíscar, galanga, ácoro legítimo,
cúbebas, espica-nardi, junco, pau de canela, âmbar e aloés em antídotos e pós.
Hortelã-de-água e melissa, mangericão e mangerona: estas quatro ervas fazem bem
aos tristes e esplenéticos. Borragem e a sua flor purgam o sangue do coração.
Rosmaninho, centáurea, timo marinho, alfazema, segurelha, hipericão, betónica,
valeriana[7],
rosas, violetas, alquequingue [ou erva-noiva] em xaropes e antídotos. Abrótano e poejo em banhos. Calaminta, orégão,
mentastro e casca de cidra em vinho do melhor, e tudo o que for azedo e
aromático e quanto purgar o cérebro e fortalecer o estômago, e todo o cheiro
aprazível que há nos pomares e prados, na estação da primavera, faz bem aos
melancólicos e cardíacos.”[8]
Valesco de Taranta, médico português dos finais do século XIV/1º
quartel do século XV, na sua obra Philonium
Pharmaceuticum et Cirurgicum, aborda no 3º capítulo as moléstias do coração
e dos pulmões[9].
Contudo, a ótica com que encara esta matéria médica não se dissocia,
naturalmente, dos conceitos galénicos
e bizantinos dessa época de
charneira medievo-renascentista.
André Vesálio (1514-1564), na sua monumental obra, De Humani Corpori Fabrica, publicada em
Basileia, em Junho de 1543, e considerada como o primeiro tratado moderno de
Anatomia, não só procede a descrições rigorosas do coração, dos vasos e das
válvulas como, definitivamente, destrona a ideia Galénica do septo interventricular
perfurado.
Até aos finais do século XVII, a cardiologia, não ainda como
verdadeira ciência mas como área do conhecimento médico, na sua perspetiva
anatómica ou fisiológica, pouco ou nada ficaria a dever ao esforço de
investigação desenvolvido em Portugal por investigadores nacionais ou
estrangeiros. De resto, compreender-se-á, perfeitamente, o nosso relativo
alheamento ao movimento renascentista europeu, face ao peso da Igreja e das
suas ideias, durante séculos um travão de considerável rigidez a tudo quanto
pusesse em causa a visão “aristotélico-tomista” do mundo e da vida, em total
antagonismo com a investigação em
cadáveres humanos. Entre a elite intelectual da modernidade portuguesa, apenas
os judeus ousaram identificar-se com esta revolução ideológica e concetual. E
não há dúvida que muitas das suas obras vieram a contribuir para o avanço das
“ciências médicas” e, em alguns casos, da própria matéria cardiológica. João
Rodrigues de Castelo Branco, mais conhecido por Amato Lusitano (1511-1568), com
a descoberta das válvulas da veia ázigos, antecipando-se a Canano e a Fabrício
de Acquapendente, possibilita uma melhor compreensão da influência destas
estruturas na regulação da corrente sanguínea[10].
André Vesálio, considerado uma autoridade no campo do anatomia
humana por muitos intelectuais da sua época, nem por isso ficou a salvo do
espírito crítico-experimentalista de Amato Lusitano. O grande anatomista do
Renascimento, Vesálio, não pressentira, assim, a existência de válvulas na veia
ázigos, ou seja, desconhecera que “o
sangue não corre
fora nem volta (recua) através da
veia sem-par” . Deste modo, o
raciocínio de Vesálio é, na ótica de Amato, “inútil e vão”[11].
Fundamentando-se nas suas próprias observações, a partir das
dissecções que executa em cadáveres humanos, Amato Lusitano afirma-nos,
peremptoriamente, que “as (veias) que dão
para esta veia sem-par, não mais voltam nem se prolongam para fora, estando
certos ostíolos a opor-se e a impedir as que se apresentam abertas para
receber. ”[12]
Esta descoberta foi, sem dúvida, uma achega de grande significado para o
conhecimento da circulação sanguínea.
O “Iluminismo médico”, porém, a nível do conhecimento
cardiológico, ficou inquestionavelmente, ligado a uma grande figura do
experimentalismo científico: William Harvey (1578-1657). Com este grande mestre
da Anatomia e Fisiologia Hemodinâmica, a maior parte dos conhecimentos acerca
da circulação sanguínea, bem como do papel do coração, dos vasos e válvulas
neste complexo processo, ficaria completa e definitivamente estabelecida.
As obras e ideias de Galeno, de Vesálio, de Amato Lusitano e, mais
tarde, de William Harvey, entre outros, tornar-se-iam, efetivamente, a base
fundamental do ensino e da prática anatómica e cirúrgica, geral e cardiológica,
não só durante quase toda a Época Moderna, como na Contemporaneidade.
Em Portugal, contudo, e decerto na vizinha Espanha, onde o peso da
ortodoxia religiosa da Igreja vedava qualquer abertura às novas ideias
experimentalistas oriundas, sobretudo, dos demais países reformistas europeus,
as Escolas Médicas, pelo menos, até meados do século XVIII, continuavam a
seguir as orientações de Galeno e de Avicena, perpetuando conceitos e noções
completamente desfasados da realidade. No domínio do conhecimento cardiológico
e, em particular, no respeitante à circulação sanguínea, a descrição realizada
por Harvey não parece ter tido grande impacto, entre nós, Portugueses. Deste
modo, cento e dez anos após a morte de Harvey, as conceções Galénicas sobre a
anatomia cardíaca continuavam firmes entre grande parte da intelectualidade
médica do País. António Gomes Lourenço, na sua obra Cirurgia Clássica, Lusitana, Anatómica, Farmacêutica, Médica (Segunda
Parte), “Livro VI – Do fluxo de Sangue”, publicada em 1761, retrata-nos,
claramente, essa perspetiva
anatómica “pré-Harveysiana:
“1. O
coração é uma entranha do peito situada entre os dois lobos dos bofes e é
composto de muitas fibras musculosas e tendinosas muito fortes, e postas de
forma que formam duas cavidades chamadas ventrículos, um esquerdo, outro
direito: tem dois movimentos, um de contracção chamado sístole, outro de
dilatação chamado diástole, com os quais serve à circulação e sanguificação do
sangue, com os vasos sanguíneos comuns.
2. Cada
ventrículo do coração tem dois grandes vasos comuns: o ventrículo esquerdo tem
a artéria magna ou [a]orta e veia pulmonar; o direito, a veia cava e artéria
pulmonar. (...) Quando faz o movimento de dilatação, recebe o ventrículo
esquerdo o sangue que vem dos bofes pela veia pulmonar; e o direito recebe o
sangue que vem de todas as partes do corpo pela veia cava; e assim faz o sangue
dois círculos, um do coração aos bofes, e dos bofes ao coração, outro do
coração a todas as partes do corpo, e de todas as partes do corpo ao coração
outra vez (...)”[13].
O autor setecentista descreve, assim, o
coração como um órgão apenas dividido em duas cavidades: os ventrículos
esquerdo e direito; as aurículas são, para ele, estruturas completamente
desconhecidas.
Frei Manuel de Azevedo, na Correcção
de Abusos Introduzidos Contra o Verdadeiro Método da Medicina, obra publicada
em 1668, trata ainda as maleitas de coração com sangrias [de eficácia comprovada em algumas
situações de edema pulmonar agudo] e com panaceias de duvidosa ação, teriagas e unguentos,
cordiais, electuários e linimentos[14]
que, seguramente, não deveriam constituir grande ajuda para o doente. Eis uma
dessas fórmulas seiscentistas: “E assim,
para defender ao coração e ajudá-lo, convém muito [que] se faça um saquinho de
tafetá, e este se encherá dos seguintes pós: das espécies cordiais temperadas
nas qualidades, uma onça; sementes de cidra, e de azedas, flores de borragem,
de língua de vaca. E de rosas vermelhas, de cada coisa meia onça; alcanfor [cânfora], um escrópulo[15];
sândalos vermelhos, uma oitava; raiz de angélica e de bistorta e folhas de
escórdio, de cada coisa meia oitava. De tudo se faça pó subtil; e cheio o
saquinho de modo que fique brando e a modo de colchãozinho, se porá sobre o
coração.”[16] Colocado o saquinho de mezinhas, sobre a
região precordial, esperava-se de seguida um efeito terapêutico especialmente
tonificante.
Tomé Pires,
Garcia de Orta e Cristovão da Costa, entre outros estudiosos da Flora Oriental,
assinalam o início da mudança no domínio dos recursos farmacológicos da
Medicina. Em particular, a obra de Garcia de Orta, os Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia,
constitui(u) um contributo de grande importância para o conhecimento
terapêutico dos múltiplos produtos e substâncias de origem vegetal,
milenarmente conhecidos e utilizados pelos povos asiáticos, comprovadamente
eficazes em diversas patologias, incluindo as do foro cardiológico. Mas os
homens do Renascimento e da Época Moderna, de uma maneira geral, não utilizam
em seu proveito o grande manancial de recursos farmacológicos obtidos a partir
da fauna e da flora da Índia, de África e das Américas; só nos séculos
seguintes viria a descobrir-se, finalmente, o valor desse filão. O saber
farmacopeico resultante, sobretudo, da grande evolução observada no domínio da
Química analítica, viria a contribuir para uma profunda revolução terapêutica e
farmacológica nas múltiplas áreas das ciências biomédicas.
O café, o chá, o estrofanto (sementes ricas em ubaína), a
dormideira (a partir da qual se extrai o ópio, analgésico potente seguramente
usado nos tempos mais heroicos da cardiologia seiscentista), a cinchona[17]
ou árvore da quina (a partir da qual viriam a ser isolados, no século XVIII,
vários alcaloides, a cinchonina, a quinina e a quinidina), a cânfora[18] e a noz vómica são apenas alguns dos
múltiplos exemplos dessa riquíssima Farmacopeia Ultramarina chegada até nós
durante a Época Expansionista e dos Descobrimentos, mas só valorizada e
integrada no arsenal terapêutico da melhor medicina Europeia Ocidental a partir
dos finais do século XVIII.
BIBLIOGRAFIA
ACTAS CIBA,
Ano VI, Nº 6, Junho de 1939
AZEVEDO, Manuel de, Correcção de abusos introduzidos contra o
verdadeiro método da medicina, Lisboa, Impresso na Oficina de Diogo
Soares de Bulhões, 1668
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3ª Edição (Baseada na 29ª Edição do Black’s Medical Dictionary), Lisboa, Argo
Editora, 1978
FRANCO, Evaristo, Glórias da Medicina Portuguesa,
Lisboa, Tipografia da União Gráfica, 1949
GOODMAN
AND GILMAN’S, The Pharmacological Basis of Therapeutics, Sixth Edition, New
York, Macmillan Publishing Co., Inc., 1980
LOURENÇO, António Gomes Lourenço, Cirurgia Clássica, Lusitana,
Anatómica, Farmacêutica, Médica (...), Segunda Parte, Lisboa, Oficina
de António Rodrigues Galhardo, 1761
LUSITANO, Amato, Centúrias de Curas Medicinais,
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Dir. e anotada pelo Conde de Ficalho, Lisboa, Imprensa Nacional, 1891-92, 2
Vols.
SNELLEN,
H.A., History of Cardiology, Rotterdam, Donker Academic Publications,
1984
S.A., Descrições concordantes feitas por um médico de um Faraó e por um
cardiologista contemporâneo, Lisboa, Laboratories Warner-Chilcott, s.d.
[1] “Suno
ou os médicos antigos do rio Nilo”, in Jurgen Thorwald, O Segredo dos Médicos Antigos,
São Paulo, 1990, p. 58
[2]
“Angina Pectoris”, in Descrições concordantes feitas por um
médico Faraó e por um cardiologista contemporâneo, Lisboa, s.d..
[3] A.
Tavares de Sousa, Curso de História da Medicina: das origens aos fins do século XVI, Lisboa, 1981, p. 124
[4]
“Livro Sobre a Conservação da Saúde – Coisas que fazem bem ao coração”, in Maria Helena da Rocha Pereira, Obras
Médicas de Pedro Hispano, Coimbra, 1973, p. 462
[5]
Idem, p. 464
[6] Para
Maria Helena da Rocha Pereira, tradutora da obra de Pedro Hispano, o
significado da palavra “acrumina”, foi
também difícil de estabelecer. Confrontando-se, porém, com o vocábulo
“acrimoni”(cebola), citado por A. Souter in “A Glossary of Later Latin to 600
A. D”., Oxford, 1949, a autora é levada a supor tratar-se do mesmo conceito.
(Idem, p. 450)
[7] Dada
a sua ação hipotensora, a valeriana era, obviamente, de grande utilidade para
alguns doentes cardíacos.
[10]
“Primeira Centúria – Cura LII”, in
Amato Lusitano, Centúrias de Curas Medicinais, Vol. I, Lisboa, s.d., p. 172
[11]
“Quinta Centúria – Cura LXX”, in
Amato Lusitano, Centúrias de Curas Medicinais, Vol. III, Lisboa, s.d., p. 254
[13] “Do coração e circulação
do sangue”, Livro VI – Do Fluxo de Sangue, in
António Gomes Lourenço, Cirurgia Clássica, Lusitana, Anatómica,
Farmacêutica, Médica (...), Segunda Parte, Lisboa, 1761, p. 37
[14]
“Capítulo IX - Ao coração, como e com que se deve acudir”, in Manuel de Azevedo, Correcção de abusos introduzidos contra o
verdadeiro método da medicina, Lisboa, 1668, pp. 336-41
[15] Peso antigo equivalente a
uma terça parte da oitava (antigo peso de farmácia correspondente à oitava
parte de uma onça).
[17] O
uso da cinchona em cardiologia aparece, pela primeira vez, referido por Sénac
(1683-1770), que descreve este remédio como eficaz no tratamento de palpitações
cardíacas.(H. A. Snellen, History of Cardiology, Rotterdam,
1984, pp. 35; 153). A ação antiarrítmica da quinina foi redescoberta,
ocasionalmente, por K.F. Wenchebach (1864-1940), quando um doente seu lhe
refere que, ao tomar com regularidade quinino para controlar os seus acessos de
malária, interrompe, ao mesmo tempo, os “seus
ataques de arritmia”. Na sequência destas investigações, W. Frey viria a
comprovar, em 1918, que a quinidina era, dentre os diversos princípios ativos
extraídos do córtex da quina, o mais eficaz no tratamento de arritmias.(Idem,
p. 153)
[18]
Desconhecida por gregos e latinos, crê-se que a primeira referência ao seu
emprego na História das Ciências se deva remeter aos Árabes, no VI século da
Era Cristã. Também conhecida e utilizada pelos Chineses, a cânfora terá sido
trazida para a Europa, em 1674, pelo médico holandês Willem tem Rhyne (Carlos
Edmundo Chenaud, “Da cânfora, seus derivados e sucedâneos”, Actas
Ciba, Nº 6, 1939, p. 26).
Parece-nos que Carlos Chenaud desconhece, completamente, a descrição
exaustiva das propriedades conferidas à cânfora presente na obra de Garcia de
Orta, os “Colóquios”, publicados em 1563, ou seja, 111 anos antes da notícia
difundida por Willem Rhyne. Garcia de
Orta, no seu Colóquio Duodécimo (“De duas maneiras de Camfora e das
Carambolas”) descreve-nos, alargadamente, “a
árvore da camfora”, a sua origem, as suas características e algumas das
suas acções sobre o organismo: “Faz sono
e faz vigília, scilicet, o pouco della por fora ou dentro applicado faz sono, e
o muito uso do cheiro della, secando o cérebro, faz vigiar; e isto nam he muito
de maravilhar em effeitos contrairos nesta maneira.(...)”[Garcia
de Orta, Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, Vol. I, Lisboa, 1891,
p. 161]
Usada durante muito tempo
no tratamento de “colapsos e astenias cardíacas”, a sua ação cardiotónica
acabaria por ser posta em causa por diversos investigadores. Dos estudos
realizados no laboratório de Fisiologia do University College de Londres,
parece ter-se concluído que “a sua acção
toni-cardíaca só é manifesta quando está alterado o funcionamento do músculo
cardíaco.” Por outro lado, os comprovados efeitos benéficos “da cânfora sobre o coração, no decurso de
doenças infecciosas”, ficarão a dever-se a dois fatores, “um circulatório, representado pela
vasodilatação coronária”, da qual resulta melhor irrigação da própria
máquina cardíaca, “e outro respiratório,
correspondente a melhor oxigenação do sangue”. Dos sucedâneos da cânfora,
hoje em desuso, destacamos a “Coramina”, introduzida na terapêutica pelo Prof.
Faust, cujos efeitos se traduziam num aumento do “tónus vascular e [d]a pressão sanguínea, melhorando a irrigação miocárdio, graças à
sua acção incontestável sobre os vasos coronários”, de que resultava ”um aumento da capacidade de contracção das
fibras cardíacas.”(Actas Ciba, Nº 6, 1939, pp.28-31.