O estado da Nação e os
“Sete Pecados Capitais” de António Costa
António Costa, ilustre
candidato do PS às próximas legislativas, depois de uma severa triagem e
análise política, ou não tenha sido ele um analista consagrado da “Quadratura
do Círculo” considera que as causas da ruína do país, nestes últimos quatro
anos de governação PSD/CDS, se resumem a “sete pecados capitais”. Nem precisaria
de os apontar, sabemos bem quais são. Duvidamos é que sejam ou tenham sido só
sete.
Mas, eis a sua tese em sete
pontos:
1.º - "A mentira eleitoral ao ter prometido não subir os impostos que
subiu e não cortar pensões e salários como cortou"; 2.º - "O
desemprego, precariedade e emigração que afastaram do mercado de trabalho 700
mil desempregados, mais de 200 mil desencorajados e que colocaram 90% dos novos
contratos celebrados em contrato a prazo", além de terem feito "o
país regressar aos anos 60 em termos de emigração"; 3.º - A "asfixia
da classe média"; 4.º - O problema "da pobreza e das desigualdades
que atingem 25% da população portuguesa", em especial a pobreza infantil,
que "atinge 470 mil crianças"; 5.º - O "abandono da prioridade
ao conhecimento", especialmente devido ao "desinvestimento" nas
áreas da ciência, educação e cultura; 6.º - O "do ataque aos serviços
públicos, em particular na área da saúde e justiça, e a incompetência na sua
gestão, de que foram bem exemplo o caos no início do último ano lectivo"
ou na questão dos tribunais; 7.º - A "quebra de mais de 25% no
investimento, quer público, quer privado".
(http://www.noticiasaominuto.com/politica/414445/os-sete-pecados-capitais-do-governo-segundo-antonio-costa)
Sobre esta matéria, porém,
assiste-nos uma dúvida: será que António Costa se esqueceu de que na “Era”
anterior, socialista, os pecados da governação, os que se conhecem e os que
ficaram por conhecer se somaram às dezenas e atingiram o país e milhões de
portugueses, não de uma forma venial e aligeirada, mas de uma forma altamente
ruinosa e mortífera, degradando a vida a milhões de famílias, agora endividadas
por gerações? Por tais “pecados”, e não apenas pela subida do preço do barril
de crude ou a crise financeira e imobiliária americana, perturbadoras da
conjuntura macroeconómica internacional, suportámos três PEC e não chegámos
ao quarto por um triz. E os sacrifícios já pedidos, nessa altura, à população
não foram, propriamente, leves penitências! Sempre se gastou “à tripa forra” e pouco
se cuidou em poupar para emergências, gerindo com rigor e sensatez os dinheiros
públicos. Os altos responsáveis do governo socialista, durante o período
socrático, visivelmente, desatentos em relação a uma série de irregularidades originadas
sob a sua administração, altamente lesivas do erário público, pondo em causa o
equilíbrio das finanças do país e a nossa credibilidade junto dos credores
internacionais, não se esforçaram em pôr termo a tais mazelas políticas.
Perante isto, ainda há quem creia que tal governação constituiu ou constitui um
exemplo para ser seguido por alguém ou, pelo contrário, merece também o nosso
repúdio pela insensatez e incompetência como administrou o país?
Não somos, nem quereríamos ser
advogado de defesa do atual governo e ainda que o pretendêssemos ser,
oficiosamente e “pro bono”, não teríamos competências para tal. Mas, custa-nos
a compreender como é que António Costa, tão arguto, como parece, ainda que algo
distraído como andou nos últimos anos, enquanto gestor autárquico…a cidade de
Lisboa, com exceção da “cara” (a Baixa de Lisboa), pra turista ver, sofre de sujidade e de estradas e ruas com lombas e buracos, “pecados” cometidos
pela sua gestão camarária, herdados e continuados pelo seu sucessor…, apenas
tenha concluído que a situação económica e financeira complicada em que nos
encontramos se pode resumir a “sete pecados capitais” cometidos pelo atual
governo de Passos Coelho.
A Europa, a Alemanha, o BE, o
FMI e, de um modo geral, os grandes credores internacionais que, para sempre,
detêm as chaves da nossa soberania na mão, e, pior do que isso, do nosso
presente e do nosso futuro, controlam, não há dúvida, todos os setores
estratégicos nacionais, impondo-nos as condições que lhes aprouveram e preparando-se
para inventar mais algumas que, por aí, ainda hão de vir. Com tais medidas
gravosas, impostos, cortes e reduções de salários, reformas e pensões, a
austeridade veio para ficar por várias décadas.
Como é óbvio, a dívida e o
défice tremendos herdados por Passos Coelho e pelo seu governo, na sequência da
governação socrática que reinou, como quis e lhe apeteceu, durante uma dúzia de
anos, parece-nos justificar também uma revisão histórica cuidadosa.
Atrevemo-nos, então, a elencar alguns outros “pecados capitais” de marca
socialista: SWAP (1); PPP (2); negócios ruinosos como o do BPN, a que o governo e o governador do BP não
estiveram atentos (3); gastos brutais com obras de auto-estradas, túneis e
troços que nunca mais seriam concluídos e para os quais não havia
disponibilidade financeira, entre os quais, a vergonhosa A26, entre o nó da A1-Ferreira-Beja
(4); prejuízos públicos gerados por pareceres, principescamente pagos, que a
nada conduziram, derrapagens brutais em obras públicas e negociatas de milhões,
envolvendo terrenos públicos e privados destinados à construção de um novo
aeroporto de Lisboa e de uma linha TGV, atravessando, segundo o ex-ministro
Mário Lino, todo o “deserto” da margem Sul do Tejo, obras que nunca chegariam a
arrancar (5); destruição de áreas protegidas à beira do Tejo (6); destruição de
centenas de sobreiros no Vale da Rosa,…e poderiam ter sido milhares, se a
Quercus e o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa não tivessem agido a
tempo…para criação projectos urbanísticos (7); etc., etc…e isto, só para
citarmos sete dos muitos outros pecados capitais do governo de Sócrates.
Será que as demais aberrações
governativas, as citadas e outras tantas que nem vale a pena enunciarmos,
trouxeram ou propiciaram alguma saúde às Finanças do país ou viriam também a contribuir,
fortemente, para o clima de austeridade em que a grande maioria da população portuguesa
acabaria por cair?
Na ótica de muitos analistas, Passos
Coelho, insensível ao drama social e às dificuldades sentidas pelos mais
frágeis, não mexe ou mal mexe nas gorduras do Estado, mas cumpre,
religiosamente, o que lhe ditam em Bruxelas e o que as “corporações financeiras”,
internas e externas, lhe aconselham: apertar o cinto, se preciso, até aos ossos.
Tem sido esta a sua linha de conduta para equilibrar o défice e a dívida
tremendos da nação e, sem rebuço, vai dizendo que tem os “cofres cheios” para o
que der e vier. Demagogo e lírico! Pagasse ele as dívidas que temos e logo
veríamos o que restaria. Mais “troikista” do que a própria Troika, protegendo
os seus aliados como ninguém, Passos Coelho levou e continua a levar o país, ou
melhor, os mais débeis, ao limite das suas possibilidades, porque os mais
“encorpados”, esses, sempre privilegiados a todos os níveis, sem problemas de
emprego ou de contas bancárias, resistem bem a todos os apertos de cinto e a
todos os impactos da crise e da austeridade, fazendo uso das almofadas
especiais (subvenções de todo o tipo) a que têm direito.
Os inúmeros pecados capitais, que
afunda(ra)m a nação, são também, em grande parte, uma triste herança do passado
e os respectivos pecadores nunca se chegarão a redimir, nem a cumprir pena ou
penitência.
A situação que atravessamos deve-se,
sem dúvida, a diversos factores, uns de ordem exógena e outros de natureza
endógena. Quer pela ação usurária, cifrónica, fria e calculista dos vários agentes e instituições
internacionais, que constituem, cada vez mais, o verdadeiro patronato do país,
quer pelas consequências trágicas de gestão incompetente e ruinosa dos
sucessivos governos, todos os bens que constituíam o património da nação,
incluindo os melhores setores estratégicos, têm vindo a ser delapidados e
vendidos (privatizados) a preço da uva-mijona, ainda que, reconhecidamente,
considerados lucrativos, quando explorados por privados. Até o setor
demográfico não escapou a esta alienação desenfreada. Não apoiando a natalidade
e fomentando a emigração, através de erros grosseiros, falta de prospectiva e
de cometimento de graves “pecados capitais”, dificilmente redimidos ou
reparados, o Estado português, na mão de sucessivos governos, perdeu também o
que tinha de melhor e único: a sua juventude, qualificada e ávida pelo
trabalho.
Como corolário, lembraríamos a
António Costa a velha máxima:
“Quem tem telhados de vidro,
deveria ter cautela com as pedras que arremessa aos telhados alheios”.
Calendas Semânticas, 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D.)