quinta-feira, 2 de julho de 2015

O estado da Nação e os "Sete Pecados Capitais" de António Costa

O estado da Nação e os “Sete Pecados Capitais” de António Costa

António Costa, ilustre candidato do PS às próximas legislativas, depois de uma severa triagem e análise política, ou não tenha sido ele um analista consagrado da “Quadratura do Círculo” considera que as causas da ruína do país, nestes últimos quatro anos de governação PSD/CDS, se resumem a “sete pecados capitais”. Nem precisaria de os apontar, sabemos bem quais são. Duvidamos é que sejam ou tenham sido só sete.
Mas, eis a sua tese em sete pontos:
1.º - "A mentira eleitoral ao ter prometido não subir os impostos que subiu e não cortar pensões e salários como cortou"; 2.º - "O desemprego, precariedade e emigração que afastaram do mercado de trabalho 700 mil desempregados, mais de 200 mil desencorajados e que colocaram 90% dos novos contratos celebrados em contrato a prazo", além de terem feito "o país regressar aos anos 60 em termos de emigração"; 3.º - A "asfixia da classe média"; 4.º - O problema "da pobreza e das desigualdades que atingem 25% da população portuguesa", em especial a pobreza infantil, que "atinge 470 mil crianças"; 5.º - O "abandono da prioridade ao conhecimento", especialmente devido ao "desinvestimento" nas áreas da ciência, educação e cultura; 6.º - O "do ataque aos serviços públicos, em particular na área da saúde e justiça, e a incompetência na sua gestão, de que foram bem exemplo o caos no início do último ano lectivo" ou na questão dos tribunais; 7.º - A "quebra de mais de 25% no investimento, quer público, quer privado".

(http://www.noticiasaominuto.com/politica/414445/os-sete-pecados-capitais-do-governo-segundo-antonio-costa)

Sobre esta matéria, porém, assiste-nos uma dúvida: será que António Costa se esqueceu de que na “Era” anterior, socialista, os pecados da governação, os que se conhecem e os que ficaram por conhecer se somaram às dezenas e atingiram o país e milhões de portugueses, não de uma forma venial e aligeirada, mas de uma forma altamente ruinosa e mortífera, degradando a vida a milhões de famílias, agora endividadas por gerações? Por tais “pecados”, e não apenas pela subida do preço do barril de crude ou a crise financeira e imobiliária americana, perturbadoras da conjuntura macroeconómica internacional, suportámos três PEC e não chegámos ao quarto por um triz. E os sacrifícios já pedidos, nessa altura, à população não foram, propriamente, leves penitências! Sempre se gastou “à tripa forra” e pouco se cuidou em poupar para emergências, gerindo com rigor e sensatez os dinheiros públicos. Os altos responsáveis do governo socialista, durante o período socrático, visivelmente, desatentos em relação a uma série de irregularidades originadas sob a sua administração, altamente lesivas do erário público, pondo em causa o equilíbrio das finanças do país e a nossa credibilidade junto dos credores internacionais, não se esforçaram em pôr termo a tais mazelas políticas. Perante isto, ainda há quem creia que tal governação constituiu ou constitui um exemplo para ser seguido por alguém ou, pelo contrário, merece também o nosso repúdio pela insensatez e incompetência como administrou o país?
Não somos, nem quereríamos ser advogado de defesa do atual governo e ainda que o pretendêssemos ser, oficiosamente e “pro bono”, não teríamos competências para tal. Mas, custa-nos a compreender como é que António Costa, tão arguto, como parece, ainda que algo distraído como andou nos últimos anos, enquanto gestor autárquico…a cidade de Lisboa, com exceção da “cara” (a Baixa de Lisboa), pra turista ver, sofre de sujidade e de estradas e ruas com lombas e buracos, “pecados” cometidos pela sua gestão camarária, herdados e continuados pelo seu sucessor…, apenas tenha concluído que a situação económica e financeira complicada em que nos encontramos se pode resumir a “sete pecados capitais” cometidos pelo atual governo de Passos Coelho.
A Europa, a Alemanha, o BE, o FMI e, de um modo geral, os grandes credores internacionais que, para sempre, detêm as chaves da nossa soberania na mão, e, pior do que isso, do nosso presente e do nosso futuro, controlam, não há dúvida, todos os setores estratégicos nacionais, impondo-nos as condições que lhes aprouveram e preparando-se para inventar mais algumas que, por aí, ainda hão de vir. Com tais medidas gravosas, impostos, cortes e reduções de salários, reformas e pensões, a austeridade veio para ficar por várias décadas.
Como é óbvio, a dívida e o défice tremendos herdados por Passos Coelho e pelo seu governo, na sequência da governação socrática que reinou, como quis e lhe apeteceu, durante uma dúzia de anos, parece-nos justificar também uma revisão histórica cuidadosa. Atrevemo-nos, então, a elencar alguns outros “pecados capitais” de marca socialista: SWAP (1); PPP (2); negócios ruinosos como o do BPN,  a que o governo e o governador do BP não estiveram atentos (3); gastos brutais com obras de auto-estradas, túneis e troços que nunca mais seriam concluídos e para os quais não havia disponibilidade financeira, entre os quais, a vergonhosa A26, entre o nó da A1-Ferreira-Beja (4); prejuízos públicos gerados por pareceres, principescamente pagos, que a nada conduziram, derrapagens brutais em obras públicas e negociatas de milhões, envolvendo terrenos públicos e privados destinados à construção de um novo aeroporto de Lisboa e de uma linha TGV, atravessando, segundo o ex-ministro Mário Lino, todo o “deserto” da margem Sul do Tejo, obras que nunca chegariam a arrancar (5); destruição de áreas protegidas à beira do Tejo (6); destruição de centenas de sobreiros no Vale da Rosa,…e poderiam ter sido milhares, se a Quercus e o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa não tivessem agido a tempo…para criação projectos urbanísticos (7); etc., etc…e isto, só para citarmos sete dos muitos outros pecados capitais do governo de Sócrates.  
Será que as demais aberrações governativas, as citadas e outras tantas que nem vale a pena enunciarmos, trouxeram ou propiciaram alguma saúde às Finanças do país ou viriam também a contribuir, fortemente, para o clima de austeridade em que a grande maioria da população portuguesa acabaria por cair?
Na ótica de muitos analistas, Passos Coelho, insensível ao drama social e às dificuldades sentidas pelos mais frágeis, não mexe ou mal mexe nas gorduras do Estado, mas cumpre, religiosamente, o que lhe ditam em Bruxelas e o que as “corporações financeiras”, internas e externas, lhe aconselham: apertar o cinto, se preciso, até aos ossos. Tem sido esta a sua linha de conduta para equilibrar o défice e a dívida tremendos da nação e, sem rebuço, vai dizendo que tem os “cofres cheios” para o que der e vier. Demagogo e lírico! Pagasse ele as dívidas que temos e logo veríamos o que restaria. Mais “troikista” do que a própria Troika, protegendo os seus aliados como ninguém, Passos Coelho levou e continua a levar o país, ou melhor, os mais débeis, ao limite das suas possibilidades, porque os mais “encorpados”, esses, sempre privilegiados a todos os níveis, sem problemas de emprego ou de contas bancárias, resistem bem a todos os apertos de cinto e a todos os impactos da crise e da austeridade, fazendo uso das almofadas especiais (subvenções de todo o tipo) a que têm direito.   
Os inúmeros pecados capitais, que afunda(ra)m a nação, são também, em grande parte, uma triste herança do passado e os respectivos pecadores nunca se chegarão a redimir, nem a cumprir pena ou penitência.
A situação que atravessamos deve-se, sem dúvida, a diversos factores, uns de ordem exógena e outros de natureza endógena. Quer pela ação usurária, cifrónica, fria e calculista  dos vários agentes e instituições internacionais, que constituem, cada vez mais, o verdadeiro patronato do país, quer pelas consequências trágicas de gestão incompetente e ruinosa dos sucessivos governos, todos os bens que constituíam o património da nação, incluindo os melhores setores estratégicos, têm vindo a ser delapidados e vendidos (privatizados) a preço da uva-mijona, ainda que, reconhecidamente, considerados lucrativos, quando explorados por privados. Até o setor demográfico não escapou a esta alienação desenfreada. Não apoiando a natalidade e fomentando a emigração, através de erros grosseiros, falta de prospectiva e de cometimento de graves “pecados capitais”, dificilmente redimidos ou reparados, o Estado português, na mão de sucessivos governos, perdeu também o que tinha de melhor e único: a sua juventude, qualificada e ávida pelo trabalho.       
Como corolário, lembraríamos a António Costa a velha máxima:
“Quem tem telhados de vidro, deveria ter cautela com as pedras que arremessa aos telhados alheios”.

Calendas Semânticas, 2000
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.)