O Eurogrupo e os
Euroescrúpulos
“O presidente do Eurogrupo,
Jeroen Dijsselbloem, acaba de retira do currículo um mestrado em Economia
Empresarial, pela University College Cork (UCC), que nunca existiu naquela
instituição.”
(http: //
www.publico.pt/economia/noticia/presidente-do-eurogrupo-corrige-curriculo-retirando-mestrado-que-nao-tinha-feito-1591368)
Curioso o perfil deste ilustre
“intocável”, que preside ao Eurogrupo, não acham?! Pretendendo engrossar o
currículo, abrilhantando o seu perfil académico e científico, na área da
economia, selecionou um Mestrado que
nunca existiu na University College Cork (Irlanda) e acrescentou-o à sua
informação biográfico-curricular. Obviamente, o status científico e pessoal que
este grau lhe poderia conferir, pensava ele, garantir-lhe-ia, junto da maior
parte dos seus bacocos colegas do Eurogrupo, um maior grau de supremacia,
respeito e admiração. Tinha razão. Na verdade, só viria, mesmo, reforçar um
pouco mais a solidez da sua ação político-presidencial, enquanto alto dirigente
do Eurogrupo, como se viu.
Descoberta a fraude, enquanto
o Miguel Relvas sentiu na pele a fogueira política (pelo menos, durante uns
tempos, já que a memória do povo é curta) e se obrigou a sair da vida pública,
apenas não retirando do currículo o título de “Dr.” que a sua esforçada
licenciatura lhe outorgou, Jeroen Dijsselbloem apressou-se a corrigir o
“scripto lapse” (lapso de escrita) na sua informação curricular, a qual, pelos
vistos, entre os seus pares, poucos lêem ou valorizam. Como vimos, esta faceta
do ilustre presidente do Eurogrupo, não obstante traduzir, claramente, um
perfil pessoal e político revelador de desonestidade e de falta de escrúpulos,
não poria em causa a sua continuidade de funções no alto cargo europeu que
desempenha.
Impávido e sereno, continua a
sua missão, ali alicerçado de “pedra e cal”.
Os seus colegas do Eurogrupo,
porventura, familiarizados com estas e outras manhas que constituem a “praxis”
diária da sua actividade, enquanto “pastores” de todo o “rebanho” europeu,… com
alguns carneiros mais rebeldes do que outros…, terão feito letra morta, ou
vista grossa, sobre este insignificante incidente. O que pensaram, comentaram
ou criticaram nos bastidores sobre o comportamento do seu “presidente” com
aspiração a Mestre, não sabemos. Mas que decidiram mantê-lo, manifestando-lhe
deste modo a sua confiança, pelo seu exercício, pessoal e profissional, isento,
escorreito e criativo, isso, não há dúvida.
Resta-nos, no entanto, uma
última reflexão, perante a qual atrevemos-nos a afirmar que, independentemente
do currículo que Jeroen tem ou venha a ter, nós, europeus, temos um presidente
à frente do Eurogrupo que, se não é burro, disfarça muito mal. Num rasgo genial
de inteligência saloia, resolveu auto distender as suas competências
curriculares, acrescentando-lhe um pomposo Mestrado em Economia Empresarial que
não existia na referida Universidade, e, para que tal grau viesse a ser
considerado fraudulento, nem precisou de datar a sua conclusão a um domingo.
Pura e simplesmente, tal área académica e científica não se processa(va) nesta
instituição universitária irlandesa. Não pôde comprovar tamanho dislate, e,
encolhendo o status, retirou-o do currículo. Mas, apesar desta atitude bem
demonstrativa do seu carácter pretensioso, insensato e descuidado, continua a
passear-se no seio do Eurogrupo, como um bom “menino de coro”. E todos o ouvem.
E o eco da sua voz, nas decisões que a todos nos tocam, continua a fazer-se
ouvir, apesar de tanta distorção.
É esta a sorte que,
certamente, merecemos.
João Frada
Professor Universitário (Ph.D.)
Calendas Semânticas, 2000