quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

“Défice baixou, mas austeridade vai manter-se.”

Notícia “Saponews”acabada de entrar no meu telemóvel:

“Défice baixou, mas austeridade vai manter-se.”

Como eu, milhares ou milhões de portugueses, à espera de ouvir a boa notícia de que alguém responsável pela crise, pelo descalabro das contas públicas, pela agiotagem que nos tem governado o tempo todo, agora e antes, e são tantos que por aí andam às claras, convencidos que são invisíveis, foi sovado, e bem sovado, logo pela manhã, quando dobrava a esquina para comprar o Jornal Económico, tomar o café e comer o brioche na pastelaria do costume, por um bando de desconhecidos esfomeados que lhe roubaram o telemóvel, os quatro cartões dourados de crédito com plafond de 15.000€ cada, os duzentos euros para as refeições do dia, ouvimos, ou melhor, pudemos confirmar através desta “notícia gasta e idiota”, o que toda a gente previa e sabe: que o défice baixou, porque teria que baixar, mais hora menos hora, depois de tanta sangria fiscal e de tantas taxas e “ordinárias” contribuições extraordinárias emitidas pelo governo, ainda que seja um sol de pouca dura, à vigarice e corrupção que por aí abunda, e que a austeridade a que forçosamente nos sujeitam, para tapar os gigantescos buracos orçamentais  que escavaram e ajudaram a escavar, veio para ficar. Bela notícia, esta, do Saponews!! Ainda se alguém levasse a dita sova, ah, isso sim, era uma excelente notícia. Parafraseando uma linguagem ministerial: Que se lixe o Saponews.

PORTUGAL ESTÁ OU NÃO EM ESPIRAL ECONÓMICA RECESSIVA?

Coface: "Já não vemos risco de espiral recessiva em Portugal"⃰
21 Janeiro 2014, 08:00 por Edgar Caetano | edgarcaetano@negocios.pt

“Portugal e Espanha já fizeram boa parte das reformas estruturais que eram necessárias. Agora o desafio é estimular a procura interna e procurar gerar um “círculo virtuoso”, diz a Coface, que há um ano temia uma “espiral recessiva” em Portugal.”

Julien Mancilly (…) é economista e responsável pela pesquisa sobre “Risco País”, tema da conferência anual da seguradora de créditos francesa Coface (Compagnie Française d'Assurance pour le Commerce Extérieur).
(…) 
Mancilly falou com os jornalistas portugueses à margem da conferência, que decorre esta terça-feira em Paris.

Que previsões faz a Coface sobre a economia da Zona Euro em 2014?

Passámos a ter uma visão mais positiva acerca da Zona Euro, em relação a há alguns meses. A  recessão profunda que sofremos terminou, mas continuará a haver grandes divergências entre os vários países da Zona Euro. Numa visão simplista, temos a Alemanha e temos todos os outros.

(…) 

E, em particular, para Portugal?

Em Portugal, prevemos um crescimento de 0,5%. Há algumas notícias positivas em Portugal, tal como há em Espanha (…). A economia está a transformar-se, na nossa opinião, e está a virar-se mais para o comércio externo.

Os problemas que se mantêm são a baixa procura interna, a escassez de crédito e a taxa de desemprego elevada. Com um crescimento de 0,5%, mesmo que estejamos a ser demasiado pessimistas e seja um pouco mais, o desemprego vai manter-se em níveis elevados por muito tempo.

O que deve o País fazer para fomentar melhor perceção de risco?

A situação de Espanha e Portugal é diferente de França e Itália. As reformas estruturais estão feitas em Espanha e Portugal, em grande medida. O problema é outro e prende-se com a procura interna. Teremos de esperar para ver se as famílias vão poupar mais ou se vão investir mais. Se o sector privado investir mais, com a ajuda das exportações, talvez o país entre num círculo virtuoso.

Está a falar na possibilidade de um círculo virtuoso em países como Portugal. Há um ano, sobre o mesmo país, falava no risco de uma “espiral recessiva”. Ainda se revê nessa opinião?

Não. Já não é um cenário que consideremos provável.

(…)

⃰ Em Paris a convite da COFACE

REFLEXÃO 
Com um crescimento de 0,5% e com um desemprego que, ao contrário do que os nossos governantes apontam, baseados em estatísticas erradas e manipuladoras, tenderá a manter-se em níveis elevados por muito tempo, pensamos que a espiral económica recessiva veio para ficar e sufocar lentamente a maioria das famílias portuguesas. E não serão as exportações que nos virão a servir de catapulta essencial à reabilitação da economia interna do país e consequentemente à melhoria das condições de vida da população. Os cortes tremendos e duradouros a que se referia recentemente a atual ministra das Finanças são a prova disso. 
O empobrecimento causado pela constante sangria tributária, sob a forma de impostos, taxas e contribuições obrigatórias, esvaziando o poder de compra da maioria das famílias, tem levado a uma profunda retração da economia interna e, pelos vistos, contrariando as previsões estupidamente pessimistas de alguns analistas e papagaios ao serviço da propaganda governamental, tende a durar e a agravar-se. Os bancos, reconhecendo a situação caótica em que se encontram famílias e empresas, sujeitas a enormes dificuldades, consideram-nas clientes financeiramente inviáveis e pouco fiáveis e, temendo aumentar o crédito mal parado e as situações de dívida, não lhes concedem quaisquer empréstimos. A espiral económica recessiva persiste. 
Julien Mancilly, da Coface, pelos vistos, pouco conhecedor da realidade portuguesa, dá uma cravo e outra na ferradura e, com as necessárias reticências, como convém a qualquer inteligente nestas áreas da economia e da finança, afirma que “os problemas que se mantêm são a baixa procura interna, a escassez de crédito e a taxa de desemprego elevada.” Todavia, mais adiante, na sua entrevista (supracitada), diz-nos que apesar de um crescimento de 0,5%, mesmo que estejamos a ser demasiado pessimistas e seja um pouco mais, o desemprego vai manter-se em níveis elevados por muito tempo.” 
Parece querer reivindicar a descoberta da pólvora!
Julien Mancilly diz-nos mais, do alto da sua “cátedra”, enquanto especialista da Coface: 
“Teremos de esperar para ver se as famílias vão poupar mais ou se vão investir mais. Se o sector privado investir mais, com a ajuda das exportações, talvez o país entre num círculo virtuoso.” 
Pelos vistos, Julien Mancilly desconhece as estatísticas da organização social em Portugal. Não tem a noção de quantas famílias se encontram em total incapacidade de fazer tal esforço de poupança para levantar o país do caos económico em que se encontra. Para 2012, a sociedade portuguesa, em termos de capacidades económicas,… e o panorama entre 2012 e 2014 piorou indiscutivelmente, atirando mais famílias para a pobreza…, apresentava percentagens de 27,3 % para a classe Baixa; 29,8% para a classe Média Baixa; 27,5% para a classe Média; 15,4% para a classe Alta e Média-Alta. 


Atendendo a estes valores percentuais, será fácil percebermos que a grande maioria da população carenciada e sem grandes recursos corresponderá, com pequenos desvios e atendendo às oscilações para um cenário que piorou entre 2012 e 2014, a 84,6% do contingente demográfico global do país. 
Sujeitos a uma profunda sangria fiscal, confrontados com um custo de vida altamente inflacionista e inflacionado sem qualquer controlo estatal, mergulhados num pântano de desemprego que ninguém contesta existir, …apenas os ceguinhos dos nossos governantes teimam em não ver, apegados a estatísticas duvidosas e falaciosas…, sem poder de compra, sem acesso ou com muito pouco acesso ao crédito bancário, com vencimentos precários constantemente reduzidos, reformas e pensões cada dia mais baixas, os portugueses em maiores dificuldades, representando quase 85% da população do país, poderão algum dia ter hipótese de aspirar a ter uma vida digna e sem angústias, sem o espetro da fome e da miséria a rondar-lhes a porta?! 
Poupar?! aconselha Jean Mancilly… Poupar o quê? Mais um anafado que, para além do “rei na barriga”, fala de barriga cheia. Cá, lá e pelo caminho é o que mais se vê: gente de pança cheia que apenas consegue ver o seu umbigo.

João Frada
Professor Universitário