De um pirilampo fiz uma lua-cheia,
Do pecado, a esperança renascida.
Fiz um presépio com três grãos de areia
Que foi cenário e palco de uma vida.
Da minha fé fiz manto guarnecido
Com retalhos de lã cortada a sesgo
E de um madeiro tosco e carcomido
Fiz um berço de palha e musgo seco.
Ali iria romper a alvorada
Tão límpida e serena, como um sino
Anunciando ao mundo ser chegada
A hora de nascer do Deus-Menino
Marcado pela pobreza, mal chorara
Jesus bebeu no seio de Maria
Um fio de leite, apenas, que brotara
Das migalhas que a Virgem não comia
De pétalas de flor escorri sumo
Macio e leve; do pólen, a geleia;
De uma gota de chuva, espremi néctar
Que lhe dei a beber durante a ceia.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR