domingo, 21 de dezembro de 2014

PARTIR É MORRER UM POUCO


 PARTIR É MORRER UM POUCO

 “Partir é morrer um pouco”.

As ausências doem muito

E as despedidas também.

“Partir é morrer um pouco”.

Quem ama, sabe-o bem.


As despedidas são breves,

Não duram mais que um segundo

Naquele virar de esquina,

Mas alimentam saudades

Quando o silêncio domina.

 
Custa-me sempre deixar-te,

Nasce-me um nó na garganta

E um lago dentro do peito,

E até as fases do dia

Viram confusas, sem jeito.

 
A  manhã, feita de sol,

Faz-se uma névoa cinzenta,

A tarde, calma e serena,

Cai numa triste apatia

E a noite morre de pena.

 
De me ver nesta agonia,

Até o mar agitado

Amansa em maré vazia,

Mais submisso que um escravo

Aos pés da areia, deitado.

 
Custa-me sempre deixar-te,

Fechando a porta ao encanto,

Custa-me tanto sentir-te

Na solidão, nesse pranto

Que calas dentro de ti.

 
Nesse luto, te garanto,

Quando me afasto dali, 

Choram meus olhos e os teus

e, baixinho, as nossas bocas  

Vão dizendo adeus, adeus.


E quando a noite galopa

Levando nossas paixões,

Fico de longe a acenar-te,

Mal te vendo, mal te ouvindo.

Custa-me tanto deixar-te…

 
Deus, perante esta paixão,

Não hesitou e, do alto,

Soprou-me  fé e coragem

E agora, sempre que parto,

Sinto ouvir outra mensagem:

  
Algo soa entre nós dois,

Um som nítido, tão lindo,

Um bater seguro e seco

 São os nossos corações.

É musical o seu eco.

 
Batem ao mesmo compasso,

Em uníssono, sorrindo,

Dois em um, muito serenos.

Partir assim custa pouco

E as saudades doem menos. 

 
Lisboa, Calendas de março. 2010