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Participei na guerra colonial, como muitos, educado e mentalizado nos valores que à minha volta modelaram princípios, crenças e convicções: os de servir a Pátria e a família.
Envolto no obscurantismo filosófico-político
do tempo, que mantinha dentro de portas tanta gente na ignorância, no
conformismo ou no analfabetismo, completamente alheada e, ao mesmo tempo,
incapaz de acompanhar a evolução e a transformação mental, social e política
fora de portas, também eu acreditava que o rumo do país passava por mim, pela
minha solidariedade patriótica, pelo meu sacrifício, ainda que isso me custasse
os olhos da cara. E custou. Entre abril de 71 e dezembro de 74, estacionei em
Angola, convicto como tantos outros que Angola era Portugal. Tive sorte. A
experiência não foi traumática, com a de outros jovens da minha geração.
Solidário com o meu país, errado ou certo, não ponderei outra atitude que não
fosse esta: servir a Grei, sem pestanejar.
Ao contrário de muitos
democratas dos nossos dias, eu e outros da minha geração, servimos de carne pra
canhão, fomos o isco que alimentou uma guerra, a qual iria servir de leitmotiv de uma revolução, a do 25 de
Abril de 1974. Em boa hora, sob muitos aspectos, foi bem-vinda a revolução dos
cravos. Findou a guerra colonial, onde muitos pereceram e de onde outros tantos
vieram estropiados mental e fisicamente. E o povo Angolano, ainda que na sua
maioria viva na miséria, com um ou dois dólares por dia, “entre o lixo e o
luxo”, governado por uma minoria cleptoplutocrática, gozando de fausto e de fartura,
finalmente, conseguiria a Independência. Resta saber, ainda hoje, de quem ou de
quê.
À sombra da nossa Revolução e,
sobretudo, dos cravos que a adornaram, cresceram tantas, mas tantas, ervas
daninhas que, chegado ao dia de hoje, me interrogo se era este, se foi este o
objectivo da mudança: mudar de um regime violento contra ideias e princípios,
para outro virulento contra pessoas e bens. A democracia nasceu neste país, não
há dúvida, e a escrita e a palavra conseguiram chegar, enquanto formas de
protesto, crítica e alerta, onde nunca tinham chegado antes, porque a censura aberta
foi banida. A encapotada, essa, continua e não dá mostras de afrouxar. Escutas
sofisticadas e pressões de lobbies
(políticos, financeiros ou de outra natureza) dirigidas por quem toma as rédeas
do poder democrático nas mãos, constituem a negação do 25 de Abril de 74. Até
um Presidente da República, não descartou a possibilidade dessa forma de
censura.
Excluindo alguns das gerações
mais novas, hoje Ministros e Secretários de Estado, muitos dos que têm passado
pelas altas hierarquias da governação, identificados por uma diversidade
ideológico-política notável, ou foram figuras, plácida e convenientemente,
colocadas e vivendo à sombra do antigo regime, ou indivíduos que se opuseram à
filosofia ditatorial do Estado Novo, repudiando tudo quanto colidisse com os
princípios fundamentais da democracia: igualdade, fraternidade e justiça. Porém,
uma vez instalados no poder, ao longo de quatro décadas de democracia, que
deveria ser em prol de uma sociedade mais feliz, com maior acesso à cultura, à
riqueza e ao bem-estar, aproveitando todo o potencial do país, sobretudo, o
humano, delapidaram e continuam a delapidar tudo quanto havia, herança do velho
regime, em privatizações, negócios SWAPS e PPP, aplicações erradas,
fraudulentas e corruptas da banca, e, finalmente, expulsaram, através do
desemprego e da emigração subsequentes, o que de melhor existia cá dentro: 300 a 400 mil jovens, qualificados e em idade
ativa e fértil.
Que diferenças nos trouxeram,
então, estes novos governantes, do pós-25 de abril de 74, com a sua inteligente
gestão, dita democrática representativa? Mais igualdade, fraternidade,
justiça?! Menos fome, mais emprego, melhor remuneração do trabalho, mais oportunidades,
mais transparência, mais equilíbrio na distribuição de riqueza, maior justiça
social?! Onde?! Quando?! Pra quem?!
Ainda tenho algum fôlego,
contudo, para dar Vivas ao 25 de abril de 74. Em relação aos que se seguiram e aos que antevejo, vou-me sentindo cada dia mais desiludido e reticente.
João Frada
Professor UniversitárioCalendas Semânticas 2000