sábado, 25 de abril de 2015

O 25 de ABRIL de 1974: O QUE RESTA PARA COMEMORAR

O 25 de Abril de 1974: o que resta para comemorar

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Participei na guerra colonial, como muitos, educado e mentalizado nos valores que à minha volta modelaram princípios, crenças e convicções: os de servir a Pátria e a família.

Envolto no obscurantismo filosófico-político do tempo, que mantinha dentro de portas tanta gente na ignorância, no conformismo ou no analfabetismo, completamente alheada e, ao mesmo tempo, incapaz de acompanhar a evolução e a transformação mental, social e política fora de portas, também eu acreditava que o rumo do país passava por mim, pela minha solidariedade patriótica, pelo meu sacrifício, ainda que isso me custasse os olhos da cara. E custou. Entre abril de 71 e dezembro de 74, estacionei em Angola, convicto como tantos outros que Angola era Portugal. Tive sorte. A experiência não foi traumática, com a de outros jovens da minha geração. Solidário com o meu país, errado ou certo, não ponderei outra atitude que não fosse esta: servir a Grei, sem pestanejar.

Ao contrário de muitos democratas dos nossos dias, eu e outros da minha geração, servimos de carne pra canhão, fomos o isco que alimentou uma guerra, a qual iria servir de leitmotiv de uma revolução, a do 25 de Abril de 1974. Em boa hora, sob muitos aspectos, foi bem-vinda a revolução dos cravos. Findou a guerra colonial, onde muitos pereceram e de onde outros tantos vieram estropiados mental e fisicamente. E o povo Angolano, ainda que na sua maioria viva na miséria, com um ou dois dólares por dia, “entre o lixo e o luxo”, governado por uma minoria cleptoplutocrática, gozando de fausto e de fartura, finalmente, conseguiria a Independência. Resta saber, ainda hoje, de quem ou de quê.

À sombra da nossa Revolução e, sobretudo, dos cravos que a adornaram, cresceram tantas, mas tantas, ervas daninhas que, chegado ao dia de hoje, me interrogo se era este, se foi este o objectivo da mudança: mudar de um regime violento contra ideias e princípios, para outro virulento contra pessoas e bens. A democracia nasceu neste país, não há dúvida, e a escrita e a palavra conseguiram chegar, enquanto formas de protesto, crítica e alerta, onde nunca tinham chegado antes, porque a censura aberta foi banida. A encapotada, essa, continua e não dá mostras de afrouxar. Escutas sofisticadas e pressões de lobbies (políticos, financeiros ou de outra natureza) dirigidas por quem toma as rédeas do poder democrático nas mãos, constituem a negação do 25 de Abril de 74. Até um Presidente da República, não descartou a possibilidade dessa forma de censura.

Excluindo alguns das gerações mais novas, hoje Ministros e Secretários de Estado, muitos dos que têm passado pelas altas hierarquias da governação, identificados por uma diversidade ideológico-política notável, ou foram figuras, plácida e convenientemente, colocadas e vivendo à sombra do antigo regime, ou indivíduos que se opuseram à filosofia ditatorial do Estado Novo, repudiando tudo quanto colidisse com os princípios fundamentais da democracia: igualdade, fraternidade e justiça. Porém, uma vez instalados no poder, ao longo de quatro décadas de democracia, que deveria ser em prol de uma sociedade mais feliz, com maior acesso à cultura, à riqueza e ao bem-estar, aproveitando todo o potencial do país, sobretudo, o humano, delapidaram e continuam a delapidar tudo quanto havia, herança do velho regime, em privatizações, negócios SWAPS e PPP, aplicações erradas, fraudulentas e corruptas da banca, e, finalmente, expulsaram, através do desemprego e da emigração subsequentes, o que de melhor existia cá dentro:  300 a 400 mil jovens, qualificados e em idade ativa e fértil.

Que diferenças nos trouxeram, então, estes novos governantes, do pós-25 de abril de 74, com a sua inteligente gestão, dita democrática representativa? Mais igualdade, fraternidade, justiça?! Menos fome, mais emprego, melhor remuneração do trabalho, mais oportunidades, mais transparência, mais equilíbrio na distribuição de riqueza, maior justiça social?! Onde?! Quando?! Pra quem?!    

Ainda tenho algum fôlego, contudo, para dar Vivas ao 25 de abril de 74. Em relação aos que se seguiram e aos que antevejo, vou-me sentindo cada dia mais desiludido e reticente.

João Frada
Professor Universitário
Calendas Semânticas 2000            

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