quinta-feira, 21 de maio de 2015

AS CERTEZAS E DÚVIDAS CRUÉIS DO PR

As Certezas e Dúvidas Cruéis do PR  

     “Errare humanum est” (Santo Agostinho)

     “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas.”
     (http://pt.wikiquote.org/wiki/An%C3%ADbal_Cavaco_Silva)
   
     Será que não?!
     Duvidava, e vá lá saber-se se não sofre ainda dessa cruel dúvida, da sua capacidade de sobreviver à crise e à austeridade, dispondo apenas de uma miserável receita mensal de 10 a 12 mil euros, independentemente das gordas verbas disponíveis para gastos em despesas de representação e outras mordomias a que Sua Excelência, justamente, tem direito…
     Duvidou, e sabe-se lá se tinha ou não razão, quando pressentiu que lhe teriam instalado escutas no gabinete e, eventualmente, noutros cantos da sua residência…
     Duvidou, até há bem pouco tempo, de que a agricultura, o mar e as pescas poderiam vir a ser áreas estratégicas e verdadeiros motores do emprego e da economia, se explorados com inteligência e racionalidade…medidas fundamentais ao reequilíbrio financeiro do país…e, finalmente, depois de se ter empenhado em aniquilar e destruir estes sectores, cumprindo como bom aluno o que Bruxelas lhe determinava, defende e exalta agora, exactamente, o contrário, pelos vistos duvidando novamente das suas canónicas certezas de outrora…  
     Duvidou ou alguém, atempadamente, lhe fez duvidar de que, se não vendesse as “ações” do BPN na hora certa e a bom preço, ia perder a grande oportunidade financeira de arrecadar uns bons milhares…como aconteceu a outros crentes…
     Arguto e competente na área da economia e das finanças, nunca se enganando e raramente tendo dúvidas, manteve encontros com Ricardo Salgado, durante os quais, seguramente, se terá apercebido de que algo não corria bem no BES e, quando esta instituição se encontrava já em colapso total, confiante nas suas imaculadas certezas, veio à liça impingir ou defender o impensável, diremos mesmo o “impinjável”!
     Aparentemente, sem o mínimo de dúvidas em relação à saúde bancária desta instituição, conforme foi bem noticiado pela comunicação social, “Cerca de duas semanas antes do anúncio da entrada do Estado no banco, (…) [Cavaco Silva] frisou que os portugueses podiam confiar no BES”, levando muitos depositantes e accionistas a crerem nas suas axiomáticas certezas e a não tomarem, atempadamente, as devidas providências, perdendo poupanças de uma vida inteira.(http://www.esquerda.net/artigo/bes-cavaco-silva-sabia-mais-do-que-os-cidadaos-em-geral/34015)
             
     Cavaco Silva encontrava-se de visita à Coreia do Sul, quando declarou, sem qualquer hesitação, que “Os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo”, e fê-lo, porque o Banco de Portugal, sob a administração de Carlos Costa, governador desta instituição, também este, visivelmente, algo desatento ao que se passava sob a sua alçada e supervisão, como se viu, lhe tinha garantido que o BES irradiava uma saúde financeira de ferro. 
     “Portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo…-TSF”        (www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=4038266)

     Posteriormente, algo amnésico em relação ao que havia dito, quando interpelado sobre a situação do BES, afirmaria peremptoriamente que jamais se tinha referido a esta instituição bancária, durante a sua visita àquele país asiático. O seu lema proverbial, “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, falhou novamente.

  Duvidou, uma vez mais, daquilo que todo o país tem conhecimento. Em casa, na rua, nos cafés, nos transportes, em todos os meios de comunicação social, não há ninguém que não saiba que a grande maioria dos jovens portugueses, académica e profissionalmente qualificados, depois de concluir os seus cursos e formações, desacreditada da política e descrente dos políticos, tem como único objectivo a emigração. Sem esperança de empregabilidade e, muito menos, de uma justa remuneração pelo seu trabalho que lhes permita ter em Portugal uma vida digna e sem grandes sobressaltos, embora sentindo a mágoa e a revolta pela bastardia forçada a que se sentem devotados no seu país, milhares de jovens qualificados procuram e continuarão a procurar no estrangeiro o seu futuro.
      Não fora o estudo “Transforma Talento Portugal”, realizado pela COTEC e pela Fundação Gulbenkian, apontando para a insuficiente valorização do talento em Portugal ” e os portugueses, incluindo o PR, o homem que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”, jamais “desconfiariam” que 70% dos jovens, […senão mais, dizemos nós…], entre os 20 e 24 anos, não só se estão “borrifando” para os rumos da política e, sobretudo, para os políticos, que consideram, na sua maioria, corruptos e incompetentes, como veem, efectivamente, na emigração o grande objectivo das suas vidas, a única solução para organizarem carreiras profissionais e poderem constituir família.
   Com o descalabro a que o país chegou, em termos de desemprego, salários e remunerações miseráveis, salvaguardando, naturalmente, as imprescindíveis e insubstituíveis classes privilegiadas da governação e da administração pública, onde os empregos abundam… e quando não existem criam-se (boy jobs)… e os respectivos vencimentos são chorudos, apetitosos e, devidamente, acompanhados de subvenções e mordomias, e ainda há quem só acredite e se pronuncie sobre este drama pátrio ― “a fuga de talentos” e de braços ― apenas depois de se ter concluído um estudo especificamente centrado neste problema, estudo este, por sinal, prefaciado por Sua Excelência, o Senhor Presidente da República!
    Santo Deus! Que dúvida cruel, esta, que apenas se desfez perante os resultados estatísticos de um estudo tão brilhante e oportuno! Há que reconhecer que, não se tratando da descoberta da pólvora, foi efectivamente um feito “Nobel”, um trabalho notável de “inteligência colectiva” levado a cabo por cerca de 48 personalidades, todas elas, aparentemente conhecedoras da realidade mas, só agora, conscientes em definitivo da dura realidade: “fuga de talentos” e, com eles, queda demográfica, quebra de rendimentos, definhamento da Segurança Social e empobrecimento global do país.                  
     Mas o PR, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, finalmente, elucidado pela claridade da estatística, adianta a “chave do busílis”:
     “Temos, isso sim, de criar condições de atração para todos, para os que desejam ficar e para os que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar ou a vir viver para Portugal", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.”
    
     Temos?! Quem? O Governo, na pessoa do PM? A Presidência da República, na figura do atual PR, ou do próximo? O povo? A Troika que, só a sua conta, destruiu 471 000 empregos entre 2010 e 2015 ?!
     emprego.pdf) 
   
     Temos, quando?! Quando todos tiverem emigrado? Ou o projecto do “temos” visa não esta, mas a próxima geração, daqui a dez ou vinte anos?!

     “Temos”, é mais uma das suas certezas indubitáveis, ou continua a ser uma das suas raras dúvidas cruéis?! Será que alguma delas lhe tira o sono, lhe causa infelicidade ou preocupação, solidário como diz ser com a população e com a situação que o país atravessa, devassado por tantas e tão graves mazelas políticas, económicas e sociais? 
(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=376956)

Calendas Semânticas 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D.)