domingo, 1 de dezembro de 2013

Crónica de Ficção - A Prova de Avaliação do Sr. Ministro da Educação

O Ministério da Educação, pela primeira vez, merece o nosso aplauso. 
E porquê?! 
Porque o Senhor Ministro, digníssimo representante máximo deste ministério, em nome da transparência e da solidariedade académica, não só faz questão de exigir exames rigorosos a todos os docentes, como, para evitar que lhe apontem o dedo, ele, que também é docente, temporariamente fora do ensino por ter abraçado a vida política, neste caso, a difícil gestão da educação no país, fez saber através de todos os canais de comunicação social que está, como todos os seus colegas, disponível para ser avaliado, não apenas como governante mas como docente universitário. Aguarda que lhe assegurem uma prova de avaliação das suas competências e um júri justos e que lhe deem tempo disponível para se preparar para tal demonstração. Cremos que, com tantos professores do quadro a voluntariarem-se para corrigir este tipo de provas, não faltarão recursos disponíveis para julgar o Senhor Ministro. Ou, perante tamanha formação e eloquência, por falta de júri qualificado, lhe terá de ser atribuída a qualificação automática de “excelente”?!
A necessidade que o senhor Ministro defende de reforçar a formação dos futuros professores nas áreas científicas que vão lecionar e de realizar a avaliação de conhecimentos e capacidades, obrigatória para todos os docentes sem vínculo ou com uma interrupção prolongada no ensino (avaliação em tudo idêntica à prova de aptidão pedagógica e capacidade científica, comum em muitas instituições de ensino superior), levam-no, pois, por questões de coerência, a sujeitar-se ao mesmo exame. Aplaudimos a sua coragem. Outra coisa não seria de esperar de um homem tão decidido, tão coerente e tão determinado.
Convicto de que este exemplo pessoal não só poderá vir a redimir alguns dos seus erros ou exageros, como quiserem chamar-lhe, e, simultaneamente, acalmará os seus críticos mais ferrenhos e radicais, o Senhor Ministro apenas espera que os moldes de avaliação e as questões que lhe venham a estar destinados sejam objetivas e não verdadeiras “ratoeiras”, não venham a ser divulgados antes do tempo, pondo em dúvida a transparência do próprio Ministério e não contemplem assuntos ou temas que, de há muito, por falta de tempo e de predisposição para revisões de literatura, ocupado como tem andado em alterar toda a legislação que contempla a “formação de professores”, não o obriguem a fazer má figura, tropeçando na língua materna, na matemática ou mesmo numa ou noutra questão mais complexa da sua área pedagógica. Isso seria o pior exemplo que poderia dar a todos os seus colegas pedagogos e, tendo em conta que tantas vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro, perdidas as próximas eleições legislativas, como é capaz de acontecer, lá terá de regressar de novo à base, com grandes possibilidades de ter de se sujeitar a outra prova ou, eventualmente, a perder o vínculo ao ensino por provas deficientes e não acreditadas. 
Às vezes o diabo tece-as. Por isso, esperemos que o Senhor Ministro se apure nestas provas a que, tão democraticamente, se pretende sujeitar, em nome da equidade, da transparência, da solidariedade de classe, da coerência e da formação de excelência que defende e exige a todos os docentes. 
Se o Senhor Ministro, também ele, pedagogo contratado, efetivo e vinculado e com experiência profissional mais do que comprovada, faz questão de se aplicar a fundo no cumprimento desta exigência, sujeitando-se voluntariamente a tal avaliação, ninguém deve ser dispensado desta prova. Ponto final.  

João Frada
Professor Universitário