Garcia de Orta, médico e botânico: uma das maiores figuras da História da Medicina Portuguesa da Época Moderna (1415-1789)
Garcia de Orta, um pioneiro do
Experimentalismo Científico
Índice
Introdução
I - Alvores
do Experimentalismo Europeu
II -
Portugal e Experimentalismo
III - Estudo
Biográfico de Orta
IV - Garcia de
Orta e a Cultura do seu Tempo
V - Colóquios
dos Simples e o Método Experimental
Conclusão
Notas e referências bibliográficas
Bibliografia
* * *
Introdução
«Coisa natural é ao homem o querer saber»
Aristóteles
Muito antes do
Renascimento, já o homem se interrogava acerca de si próprio e do mundo que o
rodeava, procurando solucionar as suas dúvidas e chegar à “verdade” das coisas
pela experiência. Até aí, o pensamento arreigado ao pragmatismo do espírito
escolástico, não sentia necessidade do recurso experimental.
A explicação dos fenómenos, embora tendesse à
racionalidade, não passava de uma descrição superficial dos mesmos. Captados
pelos sentidos, fosse qual fosse o coeficiente de subjetividade do observador
ou das circunstâncias de observação, assim se tomavam, tantas vezes, como
verdades completas e irrefutáveis, aspetos parciais e pouco representativos
para a definição do real.
A explicação do Mundo, do Homem e das coisas, desde que
se apresentasse duma forma lógica, ainda que distante da verdadeira realidade,
seria tanto mais universalmente aceite quanto maior a importância do seu
responsável; bastava apenas ser ditada por uma reconhecida autoridade
(indivíduo, escola ou instituição), no campo do saber ou da cultura.
Erros absurdos pregavam-se como verdades irrefutáveis e
ideias e conceitos, ainda que meras opiniões inconsistentes, podiam gerar
dogmas que ninguém ousava contestar. O que o raciocínio não explicava, pela
natural limitação cultural e tecnológica, fazia parte do domínio transcendental
e metafísico, ininteligível pela razão. Cabia aqui, à Fé e à Religião, o papel
de arbitrar entre os homens os limites das certezas e das dúvidas.
O sentido místico atribuído aos fenómenos penetrava os
espíritos mais evoluídos e, até aos finais da Idade Média, a Escolástica,
alicerçada na Teologia entravou, consideravelmente, a afirmação desta neo-corrente
cognitiva indesligável da experiência, o Experimentalismo, um método inovador
para a conquista do saber.
Num período em que as instituições laicas e religiosas
ditavam as normas do pensamento e os sistemas de valores, esta ousadia, só de
uma forma pontual e sem grande significado, teve os seus reflexos nas
estruturas culturais e tecnológicas do tempo. A Idade Média galgava os seus
últimos séculos e uma nova fonte de sabedoria, forjada por alguns homens mais
iluminados (que, embora na penumbra e na incompreensão, souberam ultrapassar os
padrões plenos de arcaísmo e estagnação próprios da época) acabaria por emergir
na Europa Ociental, como um primeiro reflexo de uma maneira diferente de
contemplar o mundo e as coisas.
Adiantados alguns séculos em relação a uma nova forma de
pesquisar a “verdade” e de atingir realidades e certezas, vários
personagens destacam-se em diversos
países do Velho Continente. A necessidade de entender a “verdade” não repousava
já no estrito domínio da Dialética, da Lógica, da Teologia, mas na penetração
das coisas, da Natureza e do Homem, através da experiência e da reflexão
apoiada nos sentidos.
De raízes bem antigas, como vimos, o Experimentalismo
encontra no séc. XVI, as condições necessárias ao seu desenvolvimento e
afirmação, nos demais países europeus (1).
Em Portugal, esta revolução do pensamento surgiria também
mas, sem provocar grandes mudanças nas estruturas mentais da intelectualidade
da época (2). Todavia, no âmbito da Náutica, desenvolvida pelo movimento
expansionista dos Descobrimentos, esta nova faceta de encarar o Mundo, o
Experimentalismo, veio a ter uma dimensão bem particular.
Talvez não se deva ainda designar de ciência, pois, para
além da observação e experiência, carece ainda de outras componentes, a
racionalização e a generalização. No entanto, encontramo-nos, sem dúvida, numa
nova era, numa primeira etapa do pensamento científico, a que alguns
especialistas chamam de Experiencialismo.
Duarte Pacheco Pereira, Pedro Nunes, D. João de Castro e
Garcia de Orta, foram os grandes representantes desta nova atitude
científico-cultural.
Orta enfermou, como seria óbvio, das limitações
características do seu tempo. A sua obra, os Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, não
sendo um perfeito exemplar de experimentalismo científico é, contudo, uma das
primeiras tentativas sérias de fazer ciência experimental. O valor deste
trabalho foi quase imediatamente reconhecido no estrangeiro, após a sua 1ª
edição goesa.
Pouco conhecidos em Portugal, após a sua publicação, os “Colóquios”, depois da morte de Orta,
vieram a sofrer repúdio da Inquisição que os considerou heréticos, atirando-os
às chamas.
As traduções estrangeiras, sobretudo a partir de Charles
L´Écluse, o seu principal difusor, puderam garantir à posteridade a informação
inestimável contida nesta obra.
Muito rara, a edição goesa de 10 de Março de 1563, veio a
ser reeditada duas vezes no século XIX pela Academia das Ciências de Lisboa.
Pudemos ter uma ideia perfeita do seu texto através da
leitura da obra publicada em dois volumes, em 1891-92.
Para além de outras fontes consultadas sobre Orta, os “Colóquios”, publicação de 1891-92 dirigida
e anotada pelo Conde de Ficalho (um dos seus maiores biógrafos), constituíram o
elemento fundamental para a realização dos nossos objetivos.
Sem exagerarmos a importância de Orta no campo da
«Ciência Experimental», apontando até as lacunas e falhas existentes no seu
método, que nos impedem de o considerarmos completa e incondicionalmente
identificado com a «via científica», queremos ao longo deste estudo provar que
ele foi, a seu modo, um precursor, um pioneiro do Experimentalismo em Portugal.
Os Colóquios
transmitem-nos um perfil psicológico completamente desarreigado da cristalização
imposta pela Teologia e pela Escolástica. Orta conhecia a fundo os autores
clássicos e modernos do seu tempo, mas não se deixou influenciar muito pelos
cânones e mitos defendidos por muitos deles.
Outro aspeto nos impressiona após várias leituras dos “Colóquios”; o nosso ilustre naturalista
cita múltiplas passagens das obras clássicas mais difundidas na sua época, que
lera ou conhecera enquanto estudante e ou professor universitário em Lisboa, as
quais servem de base às suas críticas. Admitindo que muitas delas tenham sido
fruto de inúmeras leituras, obviamente bem retidas numa memória prodigiosa e
forte, a maior parte são resultado evidente do uso imediato da obra,
forçosamente ao seu alcance.
Custa-nos a perceber como terá Orta resolvido o difícil e
oneroso problema de dispor de biblioteca privada naquela época em que os livros
eram raros e difíceis de adquirir, ainda mais, tão afastado da Europa como
estava.
Inserindo Orta no panorama cultural geral europeu e
português da sua época, iremos orientar este estudo em torno de dois polos de
interesse essenciais: o Experimentalismo, pressentido nos “Colóquios”, patente em excelentes passagens a que iremos dar corpo
e organização no último capítulo do trabalho; e a utensilagem documental e
bibliográfica de Orta, matéria imprescindível à elaboração da sua obra.
Por acharmos que a leitura dos vários tópicos, selecionados
como pontos de análise, se reveste de especial importância para o conhecimento
da bagagem intelectual de Orta, procuraremos estabelecer, definitivamente, as
nossas ilações na Conclusão deste trabalho.
I - Alvores do Experimentalismo Europeu
Surge nos finais do séc.
XIII um sistema filosófico, o Nominalismo. Perante esta nova corrente, a
Escolástica e o seu último representante, Duns Escoto, acabaram por perder
progressivamente a grande importância que até aí se lhes reconhecia. Aquela
expressão filosófica, talvez nascida do seio da Escolástica, opondo-se-lhe,
contudo, frontalmente, teve em Guilherme de Ockam (discípulo de Duns Escoto) o seu
maior representante.
Na perspetiva nominalista, «todo o conhecimento tem a sua
fonte na experiência» (3).
Profundamente influenciadas e envolvidas neste ambiente
teológico e filosófico, algumas figuras medievais se haveriam de distinguir no
domínio intelectual e tecnológico, enriquecendo um pouco mais a história
cultural do Homem. Abelardo de Bath (inícios do séc. XII), descobriu algumas
particularidades sobre funções do cérebro humano, processos de respiração e
digestão); o Imperador Frederico II (2ª metade do séc. XIII), experimentador
infatigável, legalizou a prática de dissecação anatómica, criou um sistema de
exames e de licenças para médicos e veio a fundar a Universidade de Nápoles,
talvez uma das melhores escolas médicas desse tempo.
Nesta linha do método experimental surge,
indiscutivelmente, um dos mais brilhantes e decerto o mais conhecido cientista
medieval, Roger Bacon (1210 ou 1214 – 1292 ou 1294). Segundo Aldo Mieli, as
três prerrogativas (ou dignitates) da
ciência experimental eram, no conceito de Bacon, as seguintes:
1º – Comparação das conclusões a que chegaram outros
métodos escolásticos.
2º – Obtenção das conclusões que ocupam lugar nas
ciências já existentes e que, todavia, são completamente novas.
3º – Conquista das partes da Ciência que são totalmente
novas.
Dotado de um espírito inventivo invulgar, diremos mesmo
ficcionista, realizou trabalhos práticos de grande valor. Estudou lentes de
aumento e segundo alguns especialistas, terá mesmo inventado o microscópio,
descoberta que só muito mais tarde, com Levwenhoeck, no séc. XVII, se passou a
aceitar universalmente (4).
Figura de uma personalidade científica bem patente,
desligado dos cristalizados dogmas e conceitos do seu tempo, salvaguardando um
certo avicenismo que o influenciava, Roger Bacon tinha ideias próprias,
realmente originais. Projetando-se muito além da época em que viveu, terá sido
o menos medieval entre os físicos medievais (5). Este seu aforismo, pleno de atualidade,
assim no-lo demonstra:
«Não te detenhas em raciocínios efémeros. Observa
primeiro e experimenta depois.»
Nascera o Experimentalismo. Estavam assim lançadas as
bases para o progresso científico da Renascença.
Muitos outros filósofos se podem considerar inseridos
nesta linha de pensamento; Santo Alberto Magno, Pedro Hispano, Santa
Hildegarda, João de Santa Amanda ou Grosseteste, todos eles deram, de certo
modo, alguns passos audaciosos na «via
experimenti».
II – Portugal e o Experimentalismo
A sabedoria unânime dos antigos dizia que das cinco
partes do mundo, três são inabitáveis e que as duas extremas são frígidas, por
virtude do frio, e a média é tórrida, por virtude do calor. Mas a experiência
de comerciantes e navegadores iletrados refutou agora esta sabedoria.»
(Pierre de La Ramée, apud
Maria Tereza Fraga, Humanismo e
Experimentalismo na Cultura do séc. XVI, p. 39)
Dogmas cristalizados há
séculos, sabedoria antiga que ninguém ousava pôr em dúvida, acabariam por ser
corrigidos e contrariados por comerciantes e navegadores nem sempre de formação
clássica superior ou erudita. Tinham, no entanto, a seu favor um instrumento
importante e eficiente: um saber empírico, claro e inconfundível, fruto da sua
própria experiência assente nas tentativas e nos erros.
Mergulhados na linha tradicional da Escolástica e indissociados
dos valores impostos pela Igreja, éramos, aparentemente, nos finais do séc.
XIV, como a maior parte dos países europeus ocidentais, a perfeita imagem do
modelo de civilização medieval.
Bem antes da Itália, da França, da Alemanha e dos Países
Baixos, Portugal, mercê de várias circunstâncias muito particulares de ordem
geopolítica, económica e certamente também, étnico-cultural, inicia a grande
empresa dos Descobrimentos.
O Experimentalismo português assumiu um cariz
completamente diferente do europeu de Oxford, de Pádua e das outras cidades
italianas.
Embora na Universidade portuguesa, tal como no
estrangeiro, o saber livresco de carácter dedutivo, com muito pouco de
científico (no sentido moderno da palavra)(6) fosse, de facto, a tónica do
ensino ministrado aos estudantes, a génese de uma nova via de acesso ao
conhecimento – através do método experimental e indutivo –, havia já despontado
entre nós.
Desde o reinado de D. Dinis que a «ciência» náutica em
Portugal, apoiada na prática da Astronomia, contributo de judeus, mouros e
italianos (genoveses, etc.), assume uma importância crescente na vida da Nação.
Com o Infante D. Henrique, a Escola Náutica de Sagres vem
a representar e a congregar toda esta tradição para a qual nós estávamos
virados.
Nesta escola prática, os conhecimentos de Cartografia e
Náutica eram produtos de uma aprendizagem sem quaisquer bases de preparação
superior teórica astronómica ou matemática, e a sabedoria ali transmitida era
apenas resultante da aquisição empírica, da persistência, do engenho e da
reflexão circunstancial dos navegadores.
Esta sabedoria revolucionária nos conceitos e nas
técnicas, engrandecida por constantes acréscimos fundamentados no erro e na
experiência, sujeita à reflexão dos teóricos menos ortodoxos, assumiria, pouco
a pouco, uma feição eminentemente científica, impondo uma clara rutura na linha
de pensamento teológico-escolástica, da qual resultaria uma nova era cultural.
O Experimentalismo joeirava, a cada passo, a ciência dos
antigos e, expunha os portugueses a permanentes confrontos entre o clássico
dogmatismo medievo e da realidade apreendida e verificada pelos sentidos.
Ptolomeu (séc. II) e outros geógrafos antigos, citados
por Duarte Pacheco Pereira na sua obra Esmeraldo
de Situ Orbis, foram, realmente, os alicerces sobre os quais se estabeleceram
as primeiras conceções geográficas, orientadoras dos Descobrimentos.
Os sábios medievais, de um modo geral, pouco haviam
modificado ou acrescentado a tais conhecimentos.
Os Descobrimentos lançariam o pensamento português e
europeu noutros rumos, em novas dimensões e perspetivas, de que resultariam as
bases de uma verdadeira ciência geográfica, despojada de fantasias e de mitos,
depurada de falsas ideias e conceitos anquilosados.
«A experiência, a experiência empírica, a experiência do
senso comum, a experiência sensível, é o novo critério de Verdade, em
detrimento das autoridades…»(7).
Este sentido da experiência, patente na obra de Pacheco
Pereira, encontramo-lo também em João de Lisboa (1514), Sá de Miranda (1515),
Gaspar Barreiros (1546) e D. João de Castro (entre 1538 e 1548) nos seus Roteiro de Lisboa e Tratado da Esfera (8). Estas obras são documentos
importantes para a história do pensamento moderno, que bem podemos considerar
elementos fundamentais para a compreensão da chamada pré-história da
experiência científica, da experimentação.
Vários textos de autores estrangeiros, mas também
portugueses, deixam-nos entrever fórmulas bem identificativas de uma nova
maneira de pretender atingir e conhecer a real essência do mundo e das coisas,
a verdade «científica»:
«… ficamos sabendo que a experiência nos ensina.»(9) «… a
experiência mestra de todas as coisas.»(10) «… a experiência que é a mãe das
coisas, ou a experiência que é a mãe de todas as coisas.»(11)
Muitos outros exemplos poderíamos apontar como
significativos de uma nova atitude subjacente à reflexão e à pesquisa da
verdade.
Desponta a mentalidade moderna entre os portugueses e,
neste clima de racionalidade positivista e indutiva, os mais sensíveis e os
mais dotados seriam indubitavelmente influenciados e influenciariam eles
próprios.
III – Estudo Biográfico de Orta
Divergem as opiniões dos
vários autores interessados no estudo biográfico de Garcia de Orta, quanto ao
local e data do seu nascimento. Mas se a data em que foi nado apresenta difícil
solução para a maior parte dos investigadores, o mesmo não acontece quanto à
sua origem. Diogo Barbosa Machado (na sua Bibliotheca
Lusitana), A. Thomaz Pires, C.N. Tavares, Conde de Ficalho, Santo Adrião do
Sever e D. Joaquim Olmedilla Y Puij, são absolutamente concordantes quanto à
naturalidade de Orta, e apontam Elvas como tendo sido o berço do ilustre
«cientista» (12).
Garcia d'Orta, «depois de estar instruído com os
primeiros rudimentos passou a Castela» (13).
Apesar dos esforços, os seus estudiosos também não
conseguiram, até agora, definir completamente a condição socioeconómica dos seus
pais ou familiares mais diretos.
Barbosa Machado aponta-o como doméstico da nobre família
de Martim Afonso de Sousa, fidalgo com o qual viria a embarcar rumo à Índia, em
1534. Segundo este biógrafo, entre os servidores de Lopo de Sousa, senhor de
Vila Viçosa, pai de Martim Afonso, ter-se-ão contado alguns dos Orta de Elvas.
Somos levados a admitir o facto, pela afinidade e proteção indiscutíveis que
lhe viriam a ser concedidas por este futuro governador da Índia. Simples conjeturas
de Barbosa Machado, já que não dispomos, até ao momento, de qualquer prova
documental a apoiar tais suposições.
Mas, o certo é que, não devia ser muito modesta a
condição económica dos pais de Orta, na medida em que estes lhe vieram a
propiciar uma formação universitária no estrangeiro.
Descendente de pais judeus espanhóis, segundo C.N.
Tavares e José Pedro Machado, os reflexos da sua origem étnica e da sua
formação religiosa, marcadamente judaica para a maior parte dos seus biógrafos
(ainda que outros o apontam menos convicto, de feição consideravelmente
cristianizada), vieram a pesar na sua vida e para além da sua morte.
A Inquisição, surgida em Espanha em 1481, adivinhando-se
em Portugal desde 1496 (com as primeiras medidas anti-semitas e anti-mouras no
reinado de D. Manuel) e definitivamente aqui instituída em 1536 com D. João
III, terá tido grande influência nas atitudes de Orta.
Permanecendo em Espanha cerca de 10 anos, Garcia de Orta,
após ter frequentado as Universidades de Salamanca e Alcalá de Henares, onde
estudou Gramática, Artes, Súmulas (14), Filosofia Natural e Medicina, terá
regressado a Portugal entre 1525-26, doutorado (15) ou já licenciado em
Medicina, não se sabe ao certo. Em Alcalá deve ter sido orientado no domínio da
Botânica por António de Lebrija que lhe terá dado uma formação profunda de
herborização em pleno campo.
Obtidas as licenças em Lisboa, para exercícios de
medicina e «andar em mula», passados por D. João III (perante o Físico-Mor),
instala-se, na Primavera de 1526, em Castelo de Vide e por aqui se haveria de
demorar vários anos, levando uma monótona vida de «João Semana», cavalgando na
serra e na charneca que vão do Crato a Alpalhão e a Niza, relendo os seus
livros ou passando as tardes na botica.
Pretendendo enveredar pela carreira do Ensino Superior,
após várias tentativas falhadas, veio, finalmente, em 1530, a reger a cadeira
de Filosofia Natural (Física Aristotélica) e de 1531 a 1532, interinamente,
Filosofia Moral na Universidade de Lisboa (16).
Dotado de «fino ceticismo, temperamento de bom humor e a
crítica pachorrenta e graciosa, mas nem por isso menos mordaz, o que não é raro
encontrar entre os nossos provincianos do sul» (17), revelando desde muito cedo
um insatisfeito espírito científico, abandonou a vida calma e rotineira da
província, e procurou o ambiente citadino de Lisboa. Era aqui que a
intelectualidade fervilhava na Universidade e fora dela, e os novos conceitos e
doutrinas, criações da época, irrompiam e faziam eco nos espíritos mais
avançados.
Inseguro, pela dimensão que a Inquisição vinha a tomar em
Portugal e, indiscutivelmente, movido pela sua curiosidade científica, rumou ao
Oriente.
Viu Goa em Setembro de 1534 e acompanhou Martim Afonso de
Sousa, como físico, nas suas campanhas de mar e terra. Físico-Mor de alguns
governadores que se seguiram a Afonso de Sousa no Oriente, foi médico de
príncipes e sultões indianos, entre os quais veio a granjear uma fama
considerável.
Mercador de drogas ou coisas de natureza médica, joias e
pedras preciosas (18), nesta atividade, estende a sua presença a múltiplos
locais onde vem a conhecer nobres, intelectuais e médicos hindus e muçulmanos.
Nestes contactos, sempre sequioso de saber, atento a tudo, enriqueceu
enormemente a sua bagagem cultural e muniu--se das bases fundamentais à
realização dos seus “Colóquios”.
Era 1541, casa-se no seio de uma família de
cristãos-novos mas o seu casamento revelar-se-ia, bem depressa, fracassado.
A sua obra, Colóquios
dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, publicada em 1ª edição
indo-portuguesa em Goa, no ano de 1563 (19). Embora não tivesse grande impacto
no meio cultural português da época, de certo modo espartilhado e anquilosado
pela Escolástica e pela Igreja, ainda dominantes na Península (avesso à Reforma
e sem grandes espírito de receção ao rejuvenescimento humanista europeu), teve
a projeção merecida no estrangeiro.
Os Colóquios, reproduzidos em versões latinas, francesas,
etc., encontram, sem dúvida, no eminente botânico belga Charles L'Écluse
(1526-1604), a partir de 1567, o seu maior divulgador no mundo ocidental. Já
falecido (em data incerta no ano de 1568), quando muitos dos seus familiares
caíam nas malhas da Inquisição (20), "é denunciado" ao Stº Ofício em
1569, por um seu cunhado, íntimo conhecedor das suas tendências religiosas.
Assim, perante a consternação de todos, e, foram muitos quantos o admiraram e
respeitaram em vida, os inquisidores, em Dezembro de 1580, desenterraram os
seus restos mortais, queimando o que restava deste homem (21), sem dúvida, uma
das figuras mais notáveis da medicina portuguesa renascentista.
IV – Garcia de Orta e a Cultura do seu Tempo
A exemplo do que acontecia
nas Universidades Europeias, o ensino de Medicina em Salamanca baseava-se nas
obras de Hipócrates, ainda que se considerassem outras correntes e se
estudassem outros autores antigos e mesmo mais modernos. Galeno era,
naturalmente, uma figura obrigatória. Contudo, como este se filiava e
continuava na escola hipocrática, era realmente Hipócrates quem dominava o
pensamento médico da época. Com a morte daquele grande vulto o pensamento
hipocrático-galénico entre em decadência, lançando, no entanto, alguns clarões
que ainda influenciaram a escola de Salerno, durante a Idade Média.
Levada por médicos gregos que se fixaram na Ásia Menor, a
ciência médica, moribunda no Ocidente, alastra no Oriente, cultivada,
enriquecida e difundida por judeus e muçulmanos, em especial por estes últimos.
Califas ilustres e generosos acolheram e abrigaram nas
suas cortes os homens de ciência; eles encarregavam-se da tarefa grandiosa da
promoção do desenvolvimento cultural, através de centros de ciência em Damasco,
Bagdad, Córdova, etc.
Entre os grandes nomes da ciência oriental, destaca-se o
de Avicena, cuja obra notável teve influência tanto no Ocidente como no
Oriente. O seu “Canon” é uma compilação da maioria das doutrinas de então,
formando uma obra completa e metódica, inspirada no espírito e na obra de
Galeno. Até 1510-1520, as ciências médicas tinham por base os estudos
hipocráticos.
A Botânica era simples matéria médica vegetal, de
importância relativa em Medicina. Nesta perspetiva, a obra de botânica com
maior conteúdo científico, que se deve a Teofrasto, foi quase desconhecida,
embora se tenham feito algumas edições latinas das suas obras, História Plantarum e Causis Plantarum.
Por outro lado, a obra de Dioscórides, “Matéria Médica”,
teve uma enorme expansão na Idade Média entre muçulmanos e cristãos.
Importantes noções de Botânica, dominantes no tempo em que Garcia de Orta
ingressou nos estudos universitários, marcaram, de facto, uma época na história
do pensamento médico.
Pouco antes da chegada de Orta a Salamanca, verifica-se
uma importante modificação nos estudos universitários. Com a tomada de
Constantinopla em 1453, muitos eruditos se refugiaram no Ocidente. Importantes
figuras de Escol, no Império Bizantino, trariam consigo o que de melhor haviam
conservado da cultura grega, o culto das Ciências e das Letras.
Da vinda destes sábios, imediatamente relacionados com as
escolas e universidades peninsulares, resultou um melhor conhecimento e
aperfeiçoamento da língua grega no Ocidente. Nesse profícuo contacto,
corrigiam-se os inúmeros erros e deturpações resultantes das múltiplas
traduções e complicações, efetuadas na sua maior parte por árabes. Nesta série
enorme de transmissores, verificar-se-iam discrepâncias, senão mesmo autênticas
oposições relativamente aos fundamentos mais originais. Assim, Hipócrates surge
deturpado, Galeno arabizado e Aristóteles pleno de fantasias.
Confrontados com a verdade sobre as doutrinas e língua
gregas, indiscutivelmente testemunhadas por tais sumidades, a cultura arábica
ficou terrivelmente desacreditada no seio da Universidade Espanhola. Avicena e
outros autores árabes foram banidos (22).
Desconhecendo-se em qual das Universidades, Salamanca ou
Alcalá, se graduou, como já anteriormente afirmámos, Orta terá, no entanto,
contactado de perto com tais inovações no domínio da cultura.
Entretanto, Conde de Ficalho pretende situar a graduação
de Orta naquela última universidade, inferindo as suas suposições a partir do
seguinte dado: Orta cita múltiplas vezes nos Colóquios um indivíduo, de nome
Tordelaguna, que havia sido boticário, que ouvia também medicina, o qual
conhecera em Alcalá (23).
Em Alcalá de Henares, Orta recebeu, certamente, uma
sólida formação clássica, cursando Gramática, Artes e Medicina, lendo e
aprofundando os seus conhecimentos sobre Dioscórides e Plínio, de quem se
faziam estudos profundos nessa altura. Pela primeira vez, na Península Ibérica,
estabeleceu-se aqui uma cátedra especial de Botânica, de que foi regente
António Lebrija ou Nebrija (já atrás citado). Dez anos em Espanha, regressa a
Portugal em 1525-26 e, decerto, devido à sua natureza insatisfeita e inquieta,
carente de erudição e intelectualidade, deixa a província e vem integrar--se na
docência universitária de Lisboa.
Entre as obras clássicas de autores portugueses,
breviários do seu tempo, que lhe seriam, na sua maior parte, familiares,
destacamos os trabalhos de Pedro Hispano ou Pedro Julião (24), médico ilustre
do reinado de D. Afonso III. Formado em Astrologia e Medicina pela Escola de
Paris, Pedro Hispano escreveu as, que vieram a ter uma difusão enorme em toda a
Europa. Este Sumulae Logicales importante
tratado de Filosofia, seguido em Portugal pelos estudiosos e eruditos seus
contemporâneos, constituiu uma obra de leitura obrigatória, durante vários
séculos, na Universidade portuguesa. Além desta última obra de carácter
filosófico, uma outra, essencialmente versando a Medicina , Thesaurus Pauperum, se lhe ficou
devendo.
Garcia de Orta, só dificilmente não terá conhecido e lido
as obras deste notável personagem.
De não menos importância, as suas relações com homens
distintos e cultos do seu tempo: António de Ataíde, Conde de Castanheira, primo
do seu principal protetor, Martim Afonso de Sousa, muito influente na corte de
D. João III, Pedro Margalho, seu amigo pessoal, lente prima de Teologia e
vice-reitor da Universidade, também provavelmente Pedro Nunes, de quem teria
sido amigo e contemporâneo enquanto docente universitário, terão sido marcas
fundamentais para a definição do seu perfil psicológico e cultural.
No séc. XVI sentia-se, também já em Portugal, o
ressuscitar da Antiguidade Clássica no Humanismo florescente, nas notas
renascentistas de feição italiana; mas, para além disso, vivia-se algo de
diferente e grandioso: a euforia do Império das Índias.
Os «fumos da Índia», na opinião de Afonso de Albuquerque,
perturbavam os espíritos e a sua tremenda influência projetava-se na vida
comum, nas ideias, nos costumes, na literatura na história, nos demais ramos da
ciência e da cultura desse tempo.
Garcia de Orta, envolvido por este ambiente cultural e,
particularmente privilegiado por importantes influxos ibéricos e de além
Pirinéus (nos seus contactos com a Espanha), aberto às novas vias de perscrutar
o Mundo, viria a tornar-se um dos nossos maiores vultos no campo do
experimentalismo, reconhecidamente, um dos melhores naturalistas ao serviço da
medicina no Oriente.
Apaixonado pela Natureza que aprendera a conhecer de
perto, sedento de saber e experimentar, asfixiado pela regência de matérias
rigidamente indesligáveis da Lógica, decerto incompatível com a sua mente já
permeável à «dúvida metódica», temendo a Inquisição, talvez ambicionando fazer
fortuna, larga a cátedra e, em Março de 1534, sai de Portugal rumo à Índia, de
onde nunca mais regressa.
Os seus «Colóquios dos Simples», um verdadeiro tratado de
Farmacologia (podemos mesmo considerá-los uma autêntica Farmacologia de
produtos orientais) são, indiscutivelmente, o retrato fiel da sua bagagem
cultural e científica.
Após de uma cuidadosa análise da obra, apercebemo-nos não
só da sua considerável sabedoria, fruto de uma capacidade de observação e da
experiência pessoais, mas também da profunda formação teórica que possuía,
alicerçada no conhecimento alargado dos naturalistas e médicos seus
contemporâneos e no de mestres de cultura arábica e greco-latina, nomeadamente
Teofrasto, Celso, Plínio e Dioscórides.
A lista de autores citados nos Colóquios, elaborada por
Conde de Ficalho, é muito mais extensa (25). Informação valiosa, já que nela
constam, embora de uma forma breve, os aspetos biográficos mais importantes de
cada uma dessas figuras apontadas por Orta no seu estudo, os Colóquios
permitem-nos, para além disso, avaliar a utensilagem cultural e, sobretudo,
bibliográfica do grande naturalista.
V – “Colóquios dos Simples” e o Método Experimentalista
O Homem não perde o seu
tempo ao perscrutar a Natureza, tentando desvendar os seus mistérios, antes porém se enriquece com «reais
descobertas, isto é, novos recursos» (Francis Bacon, Novum Organum, I, 81(26)).
Orta, bem antes de Bacon, para alguns autores o
introdutor do método experimental, serve-se da aliança de duas faculdades: a
experimental e a racional. Através dela, refaz ideias, corrige velhas doutrinas
e conceitos, comprova o saber antigo e descobre coisas novas.
Garcia de Orta investiga minuciosamente as fontes
clássicas e emenda-as com provas experimentais. Apontado as posições erradas, mesmo
dos seus mestres mais diretos, a «verdade científica» acima de tudo, não
condescendendo perante as maiores autoridades, usando de subtileza algumas
vezes, noutras, duma forma incisiva, a sua crítica é demolidora. O diálogo com
Ruano e com várias outras figuras fictícias e reais dos seus Colóquios, fazem
do seu trabalho uma obra admirável, de estilo e conteúdo incomparáveis.
Muitos e diversos foram os seus contributos para o estudo
da Botânica, da Zoologia, da Etnologia e da Etnografia hindustânicas e de
outras partes do Oriente, e para um melhor conhecimento das Medicinas de tais
povos.
Orta foi, e uma vez mais o afirmamos, um pioneiro da
ciência experimental, em particular de medicina experimental (Farmacologia e
Terapêutica). Procuramos argumentar a sua posição, servindo-nos de algumas
passagens dos seus Colóquios.
Publicada na cidade de Goa em 1563, a sua obra Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas
Medicinais da Índia, foi traduzida para Latim por Charles de L'Écluse ou
Clusio em 1567. Esta edição goesa, raríssima, veio a ser reeditada em Portugal
em 1872, e mais recentemente em 1891-1892 (2 volumes) pela Academia das
Ciências de Lisboa.
Seguindo rigorosamente o texto desta última edição, eis a
nomenclatura dos 59 Colóquios em que ela se divide:
I - Introdução
II - Aloés
III - Ambar
IV - Amomo
V - Anacárdio
VI - Árvore Triste
VII - Altitude, Anjudem, Assafétida
e Anil
VIII -
Bangue
IX - Benjoim
X - Ber e Brindões
XI - Cálamo Aromático e Cáceras
XII - Cânfora e Carambolas
XIII - Cardamomo e Carandas
XIV - Cássia-Fistula
XV - Canela, Cássia-Linha e
Cinamomo
XVI - Coco comum e das Maldivas
XVII -
Costo e Colérica-Passio
XVIII -
Crísocola, Croco Indiano e Curcas
XIX - Cúbedas
XX - Datura e Duriões
XXI - Ebur ou Marfim e do Elefante
XXII - Faufel e Figos da Índia
XXIII -
Fólio Indo
XXIV -
Galanga
XXV - Cravo
XXVI -
Gengibre
XXVII -
Ervas
XXVIII - Jaca, Jambolões, Jambos e Jangomas
XXIX -
Lacre
XXX - Linaloes
XXXI -
Cate
XXXII -
Maça e Noz
XXXIII - Maná
XXXIV - Mangas
XXXV -
Margaridas
XXXVI - Mungo e Melão da Índia
XXXVII - Mirabolanos
XXXVIII - Mangostães
XXXIX - Negundo
XL - Nimbo
XLI - Anfião
XLII - Pau da Cobra
XLIII -
Diamante
XLIV -
Pedras Preciosas
XLV - Pedra Bazar
XLVI - Pimenta
XLVII -
Raiz da China
XLVIII - Ruibarbo
XLIX -
Sândalo
L - Espiquenardo
LI - Espódio
LII - Esquinanto
LIII - Tamarindos
LIV - Turbite
LV - Incenso e Mirra
LVI - Tutia
LVII - Zedória e Zerumbete
LVIII -
Cousas Novas
LIX - Colóquio do Bétele
Ao longo dos Colóquios, Orta procura cimentar as suas
observações e conclusões duma forma inabalável, quase dogmática. Sustentando
tal atitude, usa imensas vezes expressões como estas: «eu experimentei»,
«falando a verdade», «esta é verdade», «não o sei bem sabido», «por meus olhos
eu vi», «segundo experimentei» etc.
No discurso, alguns aspetos pontuais repreensíveis,
insignificantes, contudo (na nossa opinião), quando observados no contexto
geral da obra, merecem, no entanto, alguns reparos. Criticando as autoridades e
os antigos que tantas vezes firmavam o seu saber na opinião de outrem, dando
crédito a erros que se chegavam a ensinar durante séculos, ele próprio enferma
dessa imprudência.
Augusto Abelaira, no trabalho que lhe serviu de tese de
licenciatura – «Garcia de Orta, um experiencialista do séc. XVI (Alguns
Problemas)» (27), a que se refere Joaquim Barradas de Carvalho (em obra
citada), traça de uma forma inconfundível a análise crítica dos Colóquios,
perspetivando as várias contradições do seu autor. Orta, segundo Abelaira,
baseava o seu conhecimento não só na Experiência e na Razão, mas também na Fé.
Garcia de Orta, imprudentemente, toma assim como
verdadeiro aquilo que é dito por «pessoas mui dignas de fé (…)» (XLVI-246). Em
várias outras passagens, tal fé está de novo presente no discurso: «(…) porque
se formos duas testemunhas, ajuntadas de Malaca, darlheemos autoridade.»
(LVIII-382); «E isto soube eu de Portuguezes, dignos de fé, que me deixerão
(…)» (XIX-288).
As testemunhas visuais, dignas de crédito, tinham para
ele, grande importância. A propósito do Unicórnio, diz-nos: «Dizem tantas
cousas incertas desse animal, que, por nam as saber bem, não as queria contar;
porque as pessoas que mas contam, não as contam como testemunhas de vista.»
(XXI-75).
Estes aspetos contraditórios, e alguns outros que se lhe
poderiam apontar o seu método do mesmo género, contidos nas suas afirmações,
denotam que o seu método ainda não contém totalmente o critério e o rigor
científico inerentes ao verdadeiro Experimentalismo.
Alicerçando-se em muitos contributos que advêm desde a
Idade Média, a ciência experimental só vem a aperfeiçoar-se nos séculos XVII e
seguintes e a atingir o seu máximo expoente com Claude Bernard em 1878.
Claude Bernard aponta as vias fundamentais a que o
espírito humano e a Ciência devem recorrer para, duma forma racional e lógica,
se ultrapassarem a desordem e o caos natural aparente das coisas, captados
instintivamente pelos sentidos:
1ª – A primeira coisa que um Homem faz é ver duma forma
geral o que está à sua volta. Daqui ele fica com uma ideia confusa, adquirindo
uma espécie de conhecimento instintivo das coisas.
2ª – Em seguida, observa de mais perto o que ele não
havia feito senão de um modo geral, empirismo.
3ª – Então, o Homem emite uma ideia, uma hipótese sobre o
que ele viu.
4ª – O Homem verifica a sua hipótese pela observação ou
pela experiência.
5ª – Daqui resulta a Teoria da Ciência.
Orta seguiu muitas vezes os passos que viriam a ser
aconselhados por C. Bernard. Sirvamo-nos desta passagem: «He costume dos
boticários da Índia (a quem chamam guandis) secálo ao sol, dizem que secálo à
sombra o faz preto. E dahi o tomaram os nossos boticários, e por experiência se
acha isto do modo de secar esta mesinha. E já pode ser o que for preto por ser
seco com a sombra seja melhor, mas até o presente não o esprementei.»
(LIV-331). Na verdade, o nosso experimentalista admitia a possibilidade do
turbitepreto e sem goma (por ter sido, provavelmente, seco à sombra) ser tão
bom como o branco e gomoso. Todavia, a sua reserva é evidente, e a cautela com
que age em relação à possibilidade de vir a considerar o turbite negro melhor
que o branco, reside apenas na necessidade que vê em confirmar aquela hipótese.
«(…) até o presente, não o esprementei.» (LIV-331). Esta
atitude, para não citar outras mais, reveladas nos Colóquios, antecipa Orta a Claude
Bernard, pelo elevado senso de experimentalismo que contém.
Estabelecendo um princípio deontológico e ao mesmo tempo
subordinando-se a normas de ética médica experimental, afirma que «não é bom
experimentar mézinhas não sabidas.» (IV-59). Repare-se na atualidade deste princípio,
regra básica e fundamental a seguir pelos médicos e organismos de saúde em
todos os países. Antes de se lançar no mercado terapêutico, quaisquer produtos
ou substâncias com propriedades farmacoterápicas, são obrigatória e
necessariamente ensaiados in vitro e in
vivo, antes da sua aplicação no ser humano.
A verdade não deve estar subordinada a nada ou a ninguém.
O tido como certo hoje pode amanhã já não o ser. É um princípio de progresso
cultural e científico. A verdade não se possui nunca, algo fica sempre por
descobrir. Constrói-se hoje o saber, para amanhã, se possível, o podermos
corrigir um pouco mais. Para Orta, também «a verdade tem pés, e anda e nunca
morre» (LVII-365). «O nosso saber é a mais pequena parte do que ignoramos» (…).
O erro e a falsidade devem ser combatidos, mesmo que os seus responsáveis sejam
vultos veneráveis do saber. As autoridades consagradas não lhe abalaram a sua
dúvida metódica, o seu ceticismo. Na sua pesquisa da verdade, os nomes sonantes
e conceituados também não sossegaram nem impediram de estabelecer as suas
críticas no momento exato.
«(…) e em repreender aos que dizem que carabe, fez bem
Avicena, mas errou em dizer que tem as propriedades (…)» (XXIX-31-2).
«E diguo, como já dixe, que Serapio se enganou (…)»
(XXIX-36).
«E o que diz Mateus Silvático é muito falso» (XIII-185).
Sobre Avicena e Serapião comenta ainda: «(…) de longas
vias, longas mentiras» (XII--154).
Algumas vezes, menos ríspido e direto, critica sabiamente
com diplomacia, servindo-se de pura dialética. Quando Ruano lhe pergunta:
«Como, todos esses que diseis, erraram?», Orta responde: «Si; se chamaes errar
a dizer o que não he» (XLVI-243).
Orta, apesar de sujeito a múltiplas limitações
dependentes quer da sua própria personalidade e formação, quer do envolvimento
cultural e mental em que viveu, soube projectar o raciocínio para além das
barreiras do seu tempo. Não foi, na verdade aceção da palavra, nem criador do
método experimental, anterior a si, nem um experimentalista puro mas, a sua ação
no domínio médico-farmacológico identifica-se, indiscutivelmente, com a nova
via de acesso ao conhecimento científico.
Conclusão
A leitura dos “Colóquios” permitiu aos biógrafos de
Orta não só a possibilidade de conhecer múltiplas facetas da sua personalidade,
como de definir com alguma precisão a sua bagagem cultural e bibliográfica. Este
último aspeto foi, de certo modo, analisado por Conde Ficalho na sua obra Garcia de Orta e o seu Tempo. Apontando-os
como principais autores citados por Orta nos “Colóquios”, este biógrafo dá-nos uma listagem com cerca de 59
personagens, entre antigos, medievais e modernos.
Orta entrou em contacto com muitos deles, sobretudo os de
formação clássica greco-latino-arábica, através das suas obras, recomendadas e
de leitura obrigatória durante a sua aprendizagem escolar-universitária
realizada em Salamanca, Alcalá e, mais tarde, também em Portugal, por exigência
das suas funções docentes.
Em Espanha, dada a ótima formação teórica ministrada nas
universidades, ficámos convictos que terá tido acesso a grande parte dos livros
escritos pelos mais conceituados nomes da cultura clássica e moderna. Os livros
eram nesta época muito raros, a impressão era ainda novidade e as condições
eram pequenas e onerosas. Ter acesso a uma obra, fora de uma biblioteca
pública, régia ou universitária, era um luxo a que nem todos conseguiam chegar.
Acreditamos que Orta, já por si um felizardo, face à
preparação universitária que os pais ou protetores (eventualmente Lopo de Sousa
ou Martim Afonso de Sousa) lhe propiciaram no estrangeiro, tenha também tido
cabedais suficientes para a aquisição de alguns livros, cujo conteúdo parece
ter conhecido, conforme se depreende pela leitura dos Colóquios. Terá,
eventualmente, copiado alguns deles enquanto estudante ou durante a sua
docência da Universidade portuguesa.
As suas relações com altas figuras da vida e da cultura
lisboetas, sobretudo a partir da entrada no ensino superior, ter-lhe-ão
granjeado sólidas e profícuas amizades.
Parte para a Índia mas, julgamos não ter quebrado, de
todo, esses contactos, estabelecendo e continuando a alimentar relações de
intercâmbio cultural com o Velho Continente. Tal hipótese dar-lhe-ia a
possibilidade de conhecer, quase de imediato, as últimas novidades da cultura
portuguesa e europeia. As crescentes edições de autores modernos e antigos, as
novas conceções e doutrinas surgidas no mundo ocidental chegavam, não restam
dúvidas, àquelas longínquas paragens. E Orta, sequioso de notícias, através da
transmissão oral ou escrita, mantinha-se permanentemente atualizado.
No Oriente, durante o tempo que acompanhou Martim Afonso
de Sousa, viajou por múltiplos lugares, conheceu gente rica e ilustre,
mercadores, califas, médicos e intelectuais. Manteve contactos assíduos com
vários médicos de formação hindu e árabe. Em relação a estes últimos,
informa-nos no seu Colóquio II que a sua sabedoria é considerável, pois
receitam de cor Avicena, Hali Rodoam, Razés e Mesué e conhecem as obras de
Platão, Aristóteles, Hipócrates e Galeno.
Para além dos seus objetivos científicos, Garcia de Orta
terá rumado à Índia, também na mira da fortuna. Como médico serviu príncipes,
nobres e sultões e amealhou, decerto, bons proventos. Foi mercador de pedras
preciosas, estudou-lhes as virtudes terapêuticas e soube, com certeza, aproveitá-las
como fonte de lucro e riqueza.
Assim, a vasta bibliografia descoberta nos “Colóquios”, faz-nos supor que o ilustre
naturalista teria de possuir, bem à mão, uma magnífica biblioteca (ainda que
constituída, apenas, por Súmulas das grandes obras do seu tempo), instrumento
fundamental à realização do seu trabalho.
Entre os autores que aponta, alguns deles foram seus
contemporâneos e as suas obras são edições que datam das primeiras décadas do
séc. XVI. Há mesmo livros que só vêm a ser conhecidos após a sua partida para a
Índia. Assim, poderíamos levantar várias hipóteses sobre este assunto:
– Orta teria levado consigo na bagagem uma razoável
biblioteca, mas nunca com a dimensão que lhe vimos a reconhecer nos seus
Colóquios. Admitimos que alguns trechos, nos quais Orta comenta autores
clássicos, possam ter sido reproduzidos, ipsis
verbis, de memória (decerto prodigiosa), fruto de atentas e inúmeras
leituras.
Por outro lado, não é de todo impossível que nos seus
contactos no Oriente, entre ambientes cultos e homens que ele próprio
reconhece, como já dissemos, possuidores de grande preparação cultural, não
tenha tido acesso a valiosíssimas bibliotecas, onde o saber
greco-latino-arábico estava depositado e ao alcance de consulta.
Embora admitindo várias hipóteses explicativas sobre o
assunto, o que nos parece mais provável, após várias posições consideradas, é
que Orta, munido de grande preparação teórica livresca, conhecedor das boas
obras clássicas e modernas, levou consigo algumas delas para a Índia. Ali, auferindo
bons rendimentos pelas atividades que desempenhou como mercador e médico,
rapidamente pôde dispor de capital, até aí bem limitado. Com outras posses,
senhor e ciente do que pretendia adquirir em termos documentais e
bibliográficos, em permanente contacto com a Europa, Lisboa e, porque não, com
outros centros culturais (de Espanha, por exemplo), enriquece assim enormemente
o seu património livresco, a sua biblioteca, magnificamente retratada nos
Colóquios.
O espírito português da Época Moderna revolucionou
radicalmente doutrinas e conceitos, clarificou realidades, extinguiu fantasias
e mitos e aproximou os homens um pouco mais da certeza e da verdade.
No mar, mas também em terra, os portugueses dos
Descobrimentos criaram uma cultura nova, de base experimental e tendência
crítica, "universalista", como diria Jaime Cortesão.
Seguindo uma diretriz de pensamento subordinada à
curiosidade objetiva, à observação rigorosa e à experiência, os portugueses do
séc. XVI criam novas conceções da vida e do mundo. Os sábios, filósofos e
doutores antigos são, pela primeira vez, postos em causa.
Os critérios da «ciência moderna» surgem bem patentes nas
obras que estes homens vão realizando a todos os níveis culturais. O despontar
da mentalidade experimentalista é, de facto, o advento do novo espírito
científico.
Os “Colóquios”
de Garcia de Orta são bem a imagem dessa inovação. Decalcando o que ao longo
deste estudo e, sobretudo, no último capítulo tornámos conclusivo, achamos que
Orta, distanciando-se do contexto geral da sua época, não se limitou apenas ao
plano descritivo, como nos pretende fazer crer Conde de Ficalho.
Não sendo totalmente rigoroso na utilização da via
experimental, em termos científicos, também não se limitou a simples estudos
morfológicos e farmacêuticos da Natureza Oriental.
Criando e defendendo novos parâmetros de descoberta e
prova da verdade em total antagonismo com os ditames da Escolástica e da
Teologia, cada vez mais anquilosadas e ultrapassadas, Orta lança com os “Colóquios” mais uma pedra no alicerce
secular da ciência experimental.
As passagens em que procurámos ilustrar tal contributo,
parecem-nos bem demonstrativas do seu pioneirismo na História do método
científico experimental.
Notas e
referências bibliográficas
(1) –Escolástica, Inquisição, Igreja Contra-Reformista,
marcas de importância secular na cultura Ibérica, não só não permitiam a
difusão de novos conceitos ou ideias, heréticos aos seus olhos, como
asfixiavam, à partida, toda e qualquer intenção de demonstrar a Verdade por vias
diferentes dos seus credos.
(2) –Aqui, como no estrangeiro, o ensino universitário
assentava no saber livresco, de «carácter dedutivo, pouco ou nada científico no
sentido moderno da palavra» (Maria Tereza Fraga. Humanismo e Experimentalismo na Cultura do século XVI, p. 41).
(3) –Edward McNall Burns. História da Civilização Ocidental, p. 374.
(4) –Luís de Pina. Expressão Universitária, Metodologia
Científica e Sentido Ético da Epopeia Henriquina das Descobertas, p. 13).
(5) –Bacon, na sua Opus
Magus, não se considera entre os maiores sábios ou investigadores do seu
tempo. Fala-nos, contudo, e com entusiasmo, de Pierre de Maricourt a quem
chamava dominus experimentorum – o
mestre das experiências:
«O
que os outros, com esforço, não veem senão vaga e obscuramente, como morcegos
ao crepúsculo, ele (Pierre de Maricourt) vê-o às claras, porque é o mestre da
experiência.»
Jean
Gimpel. A Revolução Industrial da Idade
Média, p. 187-8.
(6) –Maria Tereza Fraga. op. cit., p. 41.
(7) –Duarte Pacheco Pereira. Esmeraldo de Situ Orbis. apud
Joaquim Barradas de Carvalho. Portugal e
as Origens do Pensamento Moderno, p. 112.
(8) –Idem, Ibidem.
(9) –Fórmula que se atribui a vários cronistas
portugueses: Infante D. Pedro, Fernão Lopes, D. Duarte, Gomes Eanes de Zurara,
Fernão Lopes Castanheda, Gaspar Correia e ao próprio Camões.
(10) –Frase que de atribui a Leonardo de Vinci (1508).
(11) –Em documento de D. Afonso de Aragão, em 1438, e no Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte
Pacheco Pereira (1505-1508).
(12) –Curiosamente, Laranjo Coelho, no seu trabalho “Três
Médicos Cientistas Naturais de Castelo de Vide”, dá-nos a informação da naturalidade
de Orta, segundo a perspetiva dos seus biógrafos (acima apontados) – Elvas. Mas
na p. 25 do mesmo estudo, afirma o seguinte: «Passada a sua infância e
adolescência nesta sua vila natal de Castelo de Vide foi Garcia d'Orta…» (P.M.
Laranjo Coelho. op. cit., p. 24). Há aqui, portanto, uma contradição.
(13) –Santo Adrião do Sever. Bibliotheca Lusitana apud
Conde de Ficalho. Garcia da Orta e o seu Tempo, p. 1.
(14) -Estas Súmulas (Summulae
Logicales), que Orta acabaria por vir a ler também como professor em
Lisboa, são o resumo das “Lógicas” dos antigos, Boecio, Porphyrio e
principalmente Aristóteles, escrito obviamente, dentro da mais pura linha escolástica
e, necessariamente, descrito segundo o gosto e o estilo medievais.
(15) –A aquisição deste título era bastante difícil nessa
época, pois não só exigia os necessários conhecimentos científicos (e tal
preparação não seria empresa transcendente para Orta), como eram obrigatórios
determinados requisitos de pompa e ostentação académica e social, decerto bem
onerosos para qualquer candidato. Exigiam-se: – a construção e ornamentação dos
estrados para o ato; um passeio solene pelas ruas de Salamanca, de toda a
Universidade, a cavalo e em traje de gala, precedida por trombetas e atabales;
a tourada de estilo, a que não faltava um passeio para ver o gado no prado, e
outros atos. Tudo acompanhado de merendas, distribuição de donativos e grande
consumo de açúcar (Conde de Ficalho. Garcia
de Orta e o seu Tempo, p. 28).
(16) –“Garcia de Orta”, in Serrão, Joel (Dir). Dicionário
de História de Portugal (Vol. IV), p. 484-86
(17) –Conde de Ficalho. Garcia de Orta e o seu Tempo.
p. 2.
(18) – As pedras preciosas são apontadas nos seus
Colóquios, em relação às suas virtudes terapêuticas.
(19) –Composta em oficina pertencente a João de Endem,
mestre tipógrafo alemão.
(20) –Sua irmã, Catarina, é presa em 28 de Outubro de
1568 e, antes de ser queimada em 25 de Outubro de 1569, denuncia praticamente
toda a família aos inquisidores (P.M. Laranjo Coelho. op. cit., p. 40).
(21) –As suas cinzas foram lançadas ao rio Mandovi.
(22) –Na Universidade Portuguesa, só no séc. XVIII, com a
Reforma Pombalina de 1772, Avicena veio a perder a importância que até aí se
lhe reconhecia.
(23) –Cf. Garcia de Orta. “Colóquios dos Simples” (Vol. II), Colóquio LVIII, p. 379.
(24) –Prior de Mafra e Arcebispo de Braga, Pedro Hispano
viria a ser o primeiro Papa português, eleito em 1276 com o nome de João XXI.
(25) –Conde de Ficalho. op. cit., pp. 284-97.
(26) –Enciclopédia
da Pléiade - As Ciências (Vol. I),
p. 469.
(27) –Esta obra, cotejada na Biblioteca da Faculdade de
Letras de Lisboa, no ficheiro que diz respeito a Teses de Licenciatura, lamentavelmente,
não a pudemos consultar por já não existir em depósito, desconhecendo-se o seu
paradeiro atual.
Bibliografia
Fonte:
Orta, Garcia de, Colóquios
dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, (2 Vols.), ed. dirigida
e anotada por Conde de Ficalho, Lisboa, Imprensa Nacional, 1891-1892.
Bibliografia auxiliar:
Burns, Edward McNall. História
da Civilização Ocidental (Vols. I-II). 1ª ed. portuguesa. Lisboa: Editora Globo/Centro
do Livro Brasileiro; 1977.
Carvalho, Joaquim Barradas de. Portugal e as Origens do Pensamento Moderno. Col. Horizonte, nº 42.
Lisboa: Livros Horizonte; 1981.
Idem. As Fontes de
Duarte Pacheco Pereira no «Esmeraldo de Situ Orbis». Estudos Portugueses.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda; 1982.
Coelho, P.M. Laranjo. Três médicos cientistas naturais de
Castelo de Vide. [Separata de] O
Instituto (Vol. CXVI). Coimbra; 1953.
Damas, Maurice (Dir.). Enciclopédia da Pléiade – As Ciências (Vol. I). Lisboa: Arcádia
Lda; s.d.
Ficalho, Conde de. Garcia
de Orta e o seu Tempo. reprod. fac. similada da 1ª ed. Temas Portugueses.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda; 1983.
Fraga, Mª Tereza de. Humanismo
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1976.
Gimpel, Jean. A
Revolução Industrial da Idade Média. Col. Saber. Lisboa: Publicações Europa
América; 1976.
Peterson, Marianna Allen. Introdução à Filosofia Medieval. Fortaleza/Ceará (Brasil): Edições
U.F.C. Proedi; 1981.
Pina, Luís de. Expressão Universitária, Metodologia
Científica e Sentido Ético da Epopeia Henriquina dos Descobrimentos. [Separata
de] Comemorações do V Centenário da Morte
do Infante D. Henrique (Vol. III). s.l.; 1963. (Oração de Sapiência
proferida na Universidade do Porto, em 20.Out.1960).
Revista da
Junta de Investigação do Ultramar : Garcia de Orta ( Vol. II, nº 4). Lisboa:
J.Inv. do Ultramar; 1963.
Serrão, Joel (Dir.). Dicionário
de História de Portugal (vol. IV). Porto: Livraria Figueirinhas; 1985.
Silva Dias, J.S. da. Os
Descobrimentos e a Problemática Cultural do séc. XVI. Lisboa: Editorial
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Sousa, A. Tavares de. Curso
de História da Medicina – Das origens aos fins do séc. XVI. Lisboa: Fund.
Calouste Gulbenkian; 1981.
João Frada
Professor
Universitário (Ph.D.)
|