Se eu fosse Primeiro Ministro (PM), com as eleições que se aproximam e, tendo em conta que mais uma vez menti e não me estou, efetivamente, borrifando para os votos, como arrogantemente, fiz saber há uns tempos, lixado que estava com os eleitores, idiotas que, não compreendendo as minhas intenções salvíticas, passam o tempo a dirigir-me vaias, apupos e insultos, agora que caí em mim, preciso de recuperar, podendo ser, pelo menos 600 000 votos (https://www.iol.pt/push/iol-push---economia/salario-minimo-smn-salarios/1435774-6469.html), senão não vou ter hipóteses nas próximas legislativas. E o Partido, tramado com as minhas atoardas desfigurantes da sua imagem, não me irá perdoar, correndo o risco de me tirarem o tapete. Tal situação, a nível partidário, pessoal, familiar, nacional e internacional, era a que menos me agradava. Seria um desastre completo para o meu ego confiante,… apetecia-me dizer também seguro, mas, como de há uns tempos para cá odeio esta palavra, liminarmente, risco-a do meu vocabulário…, vaidoso, porque não dizê-lo, convicto, vitorioso, pujante de retórica e dialética, firme e baritonado, como convém a qualquer caudilho.
Ponderei no "que se lixem as eleições"… e, confesso, não sendo meu costume assumir erros, ainda que me apontem a dedo falhas, inverdades ou incongruências…, desta vez, tenho de dar a mão à palmatória: preciso de votos e não é a classe média quem mos dará. Professores, médicos, enfermeiros, funcionários públicos em geral, os que estão no ativo e os que estão aposentados e na reforma, nenhuns me irão dar o seu aval. Estão lixados com a carga de impostos e de taxas que lhes carreguei no lombo. É tudo gente com parcos vencimentos, é certo, comparados com o meu, mas que, terá de ter paciência, não poderá livrar-se tão cedo da fundamental carga tributária de que necessitamos para taparmos os buracos orçamentais e darmos a ideia aos credores internacionais de que estamos a sair da crise. Estes, irritados como andam, chumbam-me os projetos e a continuidade como PM, e não poderei contar com eles, estou seguro.
Diabos! Lá estou eu de novo a cair no mesmo adjetivo. É doentia esta tendência! Começo a ficar preocupado. Estes últimos tempos, sinto que ando crispado de mais e, até no Parlamento, onde devia dar mostras de firmeza e completa estabilidade psicológica, para afrontar aqueles lobos da oposição, deixo-me resvalar para a insegurança. Cruzes! Aqui estou eu, de novo, a roçar o tal vocábulo!
Será que a língua portuguesa não dispõe de outras formas linguísticas que me permitam expressar as minhas ideias e os meus traumas e complexos com maior segurança, sem ter medo de tropeçar em vocábulos que deveriam ser banidos da oralidade e da escrita política, ou terei mesmo de fazer um seguro numa Companhia de Seguros qualquer, a fim de me prevenir, convenientemente, contra tais acidentes?
Voltando aos votos. Conceder um aumento simbólico aos 600 000 que recebem o salário mínimo, não aquece nem arrefece, agora que dispomos da dita almofada dos milhares de milhões. Não irá animar a economia, é certo, porque o que lhes irei dar, quando muito, animar-lhes-á um pouco mais o estômago. Não dará para mais. Nem pensar em gastos supérfluos! Não poderão, com tal aumento, sonhar sequer em comer fora, estimulando a restauração e o comércio, e revertendo em IVA o que lhes dou. Mas, se não se pode ter tudo, que se tenham, pelo menos, votos favoráveis. Atendendo ao nível médio de reflexão política comum entre este grupo e tendo ainda em conta a curta extensão de memória do povo, 50% por cento ou mais destes eleitores irão votar em mim. Estou seguro!
Irra! Para além dos votos de que vou precisar, necessito, urgentemente, de uma consulta…e não me refiro a referendos. Não quero entrar em choque com nenhuma deputada mais “leal” do meu Partido.
João Frada