quarta-feira, 2 de setembro de 2020

AUTO-ESTRADA POLÍTICA



Já que o Centro, como diz o povo, “não é carne nem é peixe”, e o trânsito, aqui, tem reduzido seriamente, em que faixa devemos circular? Na Esquerda ou na Direita?

“A Itália assume agora a dianteira do extremismo de direita na Europa Ocidental.
Em Espanha, o Vox pega por uma linha semelhante, mas não igual.
Em Portugal, a extrema-direita, [o CHEGA], começou com mais atraso a ter representação política, [mas soma e segue. Segundo o último inquérito à população…e, sem deixarmos de ter em conta que as sondagens e os inquéritos valem o que valem…, coloca-se bem acima de velhas forças partidárias, como o CDS e o PCP, e ligeiramente acima do BE, assumindo-se como 3ª força política, atrás do PSD e do PS, situando-se este último à cabeça das intenções de voto, com 44,8%.]
A Grécia constituiu-se como exceção pelo facto do movimento de extrema-direita, mais forte dos últimos anos, não fazer parte desta nova era. A Aurora Dourada (…) abertamente, neo-nazi, (…) conseguiu candidatar-se “como o partido da “Grécia Primeiro”, aquando da crise das dívidas soberanas, explorando o tema dos refugiados.
Estrela maior é Geert Wilders na Holanda. O seu Partido pela Liberdade tem sido dos mais eficazes a levantar a bandeira anti-islâmica.
Na Alemanha, o AfD nasce a partir de um grupo de economistas liberais. Começando contra o euro, tornou-se no partido de protesto contra a política de Merkel quanto aos refugiados. Pensa e [defende] que o Islão “não tem lugar na Alemanha”, segundo o manifesto partidário, e apela, por exemplo, à proibição de construção de mesquitas. Em 2017, pela primeira vez depois da queda do nazismo, a extrema-direita entrou no parlamento federal com 12,6%.
Na Áustria, o “Partido da Liberdade”, FPÖ, ultranacionalista, viria a ser fundado em 1956. Entrando pela primeira vez para o governo, em 2006, com 11,03% dos votos, nas Eleições Legislativas, realizadas em 2019, assumiu-se como a 3ª maior força política, com 16,17% dos votos.
Em França, diferente de alguns destes fenómenos, é o partido de Marine Le Pen. Menos liberal do que a maioria dos outros e até de uma geração anterior, a Frente Nacional, criada em 1972, sob a responsabilidade de seu pai, Jean-Marie Le Pen, cooptou muitos quadros da direita tradicional e tem apostado no ultra-conservadorismo com tons protecionistas.
No Reino Unido, a questão do Brexit absorveu, mobilizou e impulsionou a extrema-direita nos últimos tempos.
Na Bélgica, o Vlaams Belang sucede ao Partido Vlaams Blok, que chegou a alcançar, em 2004, 24% dos votos nacionais. (…). Reconhecidamente de extrema-direita, racista e xenofóbico (…), o Vlaams Block acabaria por se dissolver e adotar uma postura económica mais neoliberal. Depois de um período de declínio, o Vlaams Belang parece estar a ressurgir; nas eleições legislativas de 2019, alcançou o segundo lugar na região flamenga com 18,6%.
Vários movimentos de extrema-direita obtiveram, assim, destaque ou chegaram mesmo ao governo. Na Polónia, a extrema-extrema-direita tem partidos, como o Partido Confederação que obteve 6,8% nas eleições de 2019. Igualmente, aqui, o PiS, partido nacionalista designado como “Lei e Justiça”, obteve 43,6% nas últimas eleições.
Na Hungria, o Jobbik, partido anti-imigração e protecionista, assumidamente, contra a União Europeia, é dos poucos que faz do anti-semitismo uma bandeira, dizendo que Israel quer dominar o país e o mundo. Propõe abertamente a criminalização da homossexualidade, com penas de prisão até oito anos. É um Partido com 18% dos votos em 2018.
Na República Checa, existem fenómenos anti-ciganos, como o Partido Nacional, que tem um grupo paramilitar. Em 2009, em campanha para o Parlamento Europeu, defendia “uma solução final para o problema dos ciganos”, que seria a deportação para a Índia. Sem sucesso, acabaria por se dissolver. Também aqui, o Partido Operário viria a ser interditado em 2010, depois de um grupo de seus militantes terem incendiado uma casa com uma família cigana dentro, causando queimaduras graves às três pessoas que lá habitavam. O Partido de Tomio Okamura, também adepto da deportação de ciganos, chega ao Parlamento com a Coligação Nacionalista – Aurora. 
Na Eslováquia, o Partido do Povo – A nossa Eslováquia, é abertamente anti-cigano e radicalmente anti-imigração, nas palavras do seu dirigente, Marian Kotleba; na sua opinião, “um só imigrante já era demais”…[Nas eleições parlamentares de 2016, o seu partido obteve 8% dos votos.] 
Na Estónia, a mesma trajetória de sucesso: o Partido Conservador do Povo da Estónia entrou, pela primeira vez, no parlamento em 2015, para quatro anos depois duplicar a presença, atingindo 18%. É o terceiro maior partido do país.
Na Eslovénia, o Partido Democrático Esloveno (SDS) foi o mais votado nas últimas eleições. Janez Jansa diz que é de centro-direita, fã de Viktor Orban (líder do Partido Húngaro Fidesz) e afirma querer “pôr o bem-estar e a segurança dos eslovacos primeiro.” É um Partido com um discurso, completamente, anti-imigração.
Ironicamente chamados Democratas Suecos, o partido principal da extrema-direita da Suécia tem forte presença parlamentar, a partir de 2014. São a terceira força política do país e, em 2018, aumentaram a votação para os 17,6%. (…) Num país que era conhecido pela sua tolerância e que aceita refugiados, o Partido foi, não só, impondo uma agenda contra a imigração, como quer ainda sair da União Europeia e expressa a sua total admiração por Trump.
Na Finlândia, o Partido dos Verdadeiros Finlandeses irrompeu, a partir de 2011, com 19.1% dos votos. As negociações para formar governo com os conservadores encalham num ponto: o empréstimo a Portugal, que a extrema-direita considerava ser errado. Deixaram depois cair os “Verdadeiros” no nome, passando só a Partido dos Finlandeses, mas nunca deixaram a retórica xenófoba.
Na Dinamarca, o Partido do Povo Dinamarquês demorou dez anos a alcançar o lugar de segundo maior Partido, objetivo conseguido em 2015. O seu fundador, Daniel Carlsen, oriundo de um Partido neo-nazi, (…) defende o Estado Social e não tem uma retórica tão, marcadamente, anti-feminista e homófoba. Todavia, também ataca a imigração proveniente de países muçulmanos e quer sair do acordo de circulação de pessoas da zona Schengen.
Na Noruega, o partido do Progresso, criado em 1973 por Anders Lange, assenta as suas raízes numa organização fascista, chamada Círculo da Pátria. Em 2005, obtém 22,1% dos votos, sendo o segundo mais votado. O seu dirigente de então, Carl Ivar Hagen, presidente do parlamento neste mandato, declarou nesse ano: “os muçulmanos, tal como Hitler, (…) [já nos transmitiram, há muito, as suas intenções]; (…) a longo prazo, o seu objetivo é islamizar o mundo. (…) Devemos combatê-los.”

COMENTÁRIO

     Olhando o panorama político europeu, quando observamos o crescimento de uma onda enorme “anti social-democracia”, bem expressa através do voto eleitoral, e do nascimento, ressurgimento e fortalecimento de Partidos conotados com ideologias de Direita em múltiplos países, interrogamo-nos: o que poderá explicar esta mudança tão alargada de convicções, afetando tanta gente?
- As populações que, na sua maioria, até agora, têm tido, supostamente, senso político e sabedoria para saberem o que pretendem dos seus governantes de ideologia “socialista-democrática”, repentinamente, terão começado a desacreditar deles e da sua competência e decidiram mostrar-lhes um “cartão vermelho”, votando noutras forças políticas?
- As opções de voto terão sido sempre determinadas por decisões aleatórias e sem consciência real das implicações do ato eleitoral? …dito de outro modo: - Os cidadãos que, até agora, supostamente, têm sabido afirmar, com discernimento, a sua vontade político-representativa, optando por governos democráticos de Esquerda ou tendencialmente de Esquerda, viraram radicais (na opinião de alguns analistas), ou “emburreceram” e passaram a olhar com admiração para a Direita, crentes de que é esta a “saída da autoestrada” mais adequada à solução e prevenção dos múltiplos “desastres” governativos?    
- As escolhas eleitorais serão influenciadas pelas constantes sondagens, pelo impacto dos debates televisivos e, acima de tudo, pela maior ou menor “lábia” dos candidatos, nestes momentos cruciais, mais refinados do que “vendedores de banha da cobra”? 
- No seio de uma enorme multidão europeia que se vai posicionando na ala Direita da Política, contabilizando-se já em alguns milhões de cidadãos, uns mais extremistas do que outros, desiludidos com os rumos das pseudo-socialdemocracias (de Esquerda), que consideram podres e corruptas, será que apenas vamos encontrar indivíduos idiotas, degenerados, malfeitores, xenófobos e racistas, sem qualquer consciência ou formação? Ou na Direita, à imagem do que acontece na Esquerda, onde parece haver de tudo, também é possível identificarmos gente culta, informada, honesta, competente, patriótica, psicológica e intelectualmente equilibrada?
    Será que o povo, que vota nestas “forças crescentes de Direita”(...e nem sequer nos estamos a referir às de cariz mais radical, de Extrema Direita…), cujas ideologias visam respeitar e proteger, enquanto princípios indeléveis da sua cartilha politica, a identidade nacional e a integração, mas não o “apartheid”, cultural, religioso e linguístico, como está a acontecer em muitos países, onde algumas minorias querem impor e sobrepor as suas leis às leis das comunidades maioritárias…por enquanto…que as recebem e acolhem, é, na sua generalidade, ESTÚPIDO?
     Em Itália e noutros países, onde a Esquerda, mercê das suas enormes “burrices” governativas e desonestidades, está, notoriamente, a perder terreno, a população tem vindo a engrossar as hostes da Direita, em busca de soluções ou curas para os seus males sociais, económicos e políticos. Esta população, deve ser então considerada, na sua maioria, como IDIOTA?! Não nos parece.
      A Social democracia, na sua descuidada condução política, eivada de vícios, incapaz de se sujeitar a uma adequada autocrítica e depuração interna e completamente acomodada em quase todos os países da Europa Ocidental, desde o final da II Guerra Mundial, tem vindo, despreocupadamente, a apagar ou a contribuir para destroçar a identidade das nações e dos povos onde se instalou, onde governa ou tem governado, com maiorias absolutas ou relativas, mais ou menos “geringonçadas, conforme os interesses e acordos governativos das várias forças em presença. Defraudando os interesses desses países e da cidadania que juraram servir com justiça e equidade, endividando-os por largas décadas, protegendo e conluiando com vigaristas, ladrões e agiotas de toda a espécie (empresários, banqueiros e gestores públicos ou privados, ineptos e desonestos), alimentando a evasão fiscal e a corrupção, enchendo os bolsos e enriquecendo com os mais surreais esquemas e tramoias, distribuindo migalhas a quem precisa e esfolando o eterno contribuinte até ao tutano, sem escrúpulos ou limitações, o socialismo democrático tem vindo a definhar em todo o lado. O povo, porém, na opinião de muitos, eternamente “burro” e politicamente analfabeto, apenas versado em cultura futebolística e telenovelas, terá começado a acordar dessa longa hibernação e amorfismo, após largas décadas de “música de violino no telhado” e de ocas promessas de um Oásis onde o trabalho, o emprego e o bem-estar para todos, a proteção social, o acesso à justiça, isenta e célere, a redução de desigualdades e a justa repartição de rendimentos iriam ser os grandes objetivos, as grandes metas do Estado Democrático. Iria, mas não foi!…clama muita gente.
     A comunicação social, felizmente, nem toda ela ao serviço do populismo político-ideológico e higiénico-cosmético das forças no Poder, têm tido, cada vez mais, um papel desmitificador e defensor da verdade, sobretudo onde a censura governativa ainda se mantém algo incipiente. É, por enquanto, essa permanente ação de informação e alerta que acaba por servir de “Norte” a todos os cidadãos, incluindo, obviamente, os mais distraídos e ausentes dos rumos da política. Só os eternos beneficiários da Lei, que a fazem à medida e dela colhem os demais privilégios decorrentes do seu estatuto de intocabilidade, imunidade e impunidade, não se sentirão, de certeza, prejudicados pelo Sistema Político que estruturam, gerem e aplicam a seu belo prazer.
      Mas, visivelmente, o povo vai acordando e saindo dessa letargia pacífica e silenciosa que o tem caracterizado durante décadas. E ao constatar que a “Demo-Esquerda” não lhe serve, muda de faixa e experimenta a Direita. Esta também tem defeitos, buracos, pisos escorregadios e inseguros e bermas perigosas? Tem. Apenas tem tido menos trânsito e, como tal, regista(rá), temporariamente, menos riscos e acidentes.
      O futuro é, contudo, o melhor conselheiro. E, “quem está mal muda-se”. Assim, não há como experimentar, já que enquanto o pau vai e vem, folgam as costas!
     A História é feita de ciclos. E que ninguém duvide, o Poder não é eterno, nem exclusivo de ninguém. Em democracia, não há Partidos, completamente, bons, nem Partidos totalmente maus. Eles representam ou pretendem representar os anseios e os objetivos práticos, vivenciais do povo ou da nação, em cada período conjuntural ou estrutural da sociedade e do país. E, ou se adaptam ou acabam por fenecer. Como, de igual modo, não há alianças impossíveis. O CHEGA, por exemplo, uma força relativamente jovem no panorama da política portuguesa, conotada com a Direita, na opinião de alguns, enfermando de algum Radicalismo, caso venha a demonstrar-se “mais moderado, mais suave nas suas posições, menos demagógico e populista”, afirma Rui Rio, poderá contar, sem reservas, com o entendimento eleitoral por parte do PSD, partido atualmente sob a sua liderança.
   A velha elite instalada no Poder, através da democracia representativa, com cores mais alaranjadas ou mais avermelhadas, vai circulando, alternadamente e a seu belo prazer, nos caminhos e estradas da governação, mas, há muito que deixou de consertar ou mandar reparar alguns dos “pontos e pontes” mais problemáticos e viciosos do “trajeto”, heranças tristes de sucessivas administrações, afetando a saúde, a educação, a justiça e equidade social, em especial, no que toca a direitos e deveres. O povo tem voz, mas não sabe falar, nem protestar, a não ser quando se trata de matéria futebolística, e a elite, que o diz representar, opta pelo silêncio e pelo “dolce fare niente”. Porém, quando alguém assume a “voz do povo” e, sem recorrer a partidos ou corporações, usa o seu carisma, disposto a confrontar as forças enraizadas e acomodadas no Poder e não hesita em apontar-lhes os erros, as incongruências, as imoralidades, as decisões insensatas, o perdularismo na gestão das finanças públicas, é Populista. Curiosamente, este epíteto, usado como arma política de arremesso, apenas é considerado incómodo e inconveniente em períodos não eleitorais. Nas batalhas travadas durante as eleições legislativas, os candidatos, na defesa da sua cartilha ideológica, afirmando traduzir “a voz do povo”, os seus desejos, necessidades e anseios, esgrimem como ninguém a sua arte de retórica e dialética e não se inibem, minimamente, de recorrer a linguagem e argumentos “populistas”, roçando quantas vezes o insulto, para anular o adversário político e favorecer a sua imagem eleitoral. O “populismo”, usado na luta pela liderança, aqui, nestes momentos especiais, anda de mãos dadas com a política e, paradoxalmente, aos olhos do Poder, é considerado uma arte legítima e legal. Pasme-se!   
      O pensamento, os rumos e meandros da política são, verdadeiramente, imprevisíveis, mas as mudanças de opinião e de voto eleitoral também.        
 Calendas Políticas 2000
João Frada