Já que o Centro,
como diz o povo, “não é carne nem é peixe”, e o trânsito, aqui, tem reduzido
seriamente, em que faixa devemos circular? Na Esquerda ou na Direita?
“A Itália assume
agora a dianteira do extremismo de direita na Europa Ocidental.
Em Espanha, o Vox
pega por uma linha semelhante, mas não igual.
Em Portugal, a
extrema-direita, [o CHEGA], começou com mais atraso a ter representação
política, [mas soma e segue. Segundo o último inquérito à população…e, sem
deixarmos de ter em conta que as sondagens e os inquéritos valem o que valem…,
coloca-se bem acima de velhas forças partidárias, como o CDS e o PCP, e
ligeiramente acima do BE, assumindo-se como 3ª força política, atrás do PSD e
do PS, situando-se este último à cabeça das intenções de voto, com 44,8%.]
A Grécia
constituiu-se como exceção pelo facto do movimento de extrema-direita, mais
forte dos últimos anos, não fazer parte desta nova era. A Aurora Dourada (…)
abertamente, neo-nazi, (…) conseguiu candidatar-se “como o partido da “Grécia
Primeiro”, aquando da crise das dívidas soberanas, explorando o tema dos
refugiados.
Estrela maior é
Geert Wilders na Holanda. O seu Partido pela Liberdade tem sido dos mais
eficazes a levantar a bandeira anti-islâmica.
Na Alemanha, o AfD
nasce a partir de um grupo de economistas liberais. Começando contra o euro,
tornou-se no partido de protesto contra a política de Merkel quanto aos
refugiados. Pensa e [defende] que o Islão “não tem lugar na Alemanha”, segundo
o manifesto partidário, e apela, por exemplo, à proibição de construção de
mesquitas. Em 2017, pela primeira vez depois da queda do nazismo, a
extrema-direita entrou no parlamento federal com 12,6%.
Na Áustria, o
“Partido da Liberdade”, FPÖ, ultranacionalista, viria a ser fundado em 1956.
Entrando pela primeira vez para o governo, em 2006, com 11,03% dos votos, nas
Eleições Legislativas, realizadas em 2019, assumiu-se como a 3ª maior força
política, com 16,17% dos votos.
Em França,
diferente de alguns destes fenómenos, é o partido de Marine Le Pen. Menos
liberal do que a maioria dos outros e até de uma geração anterior, a Frente
Nacional, criada em 1972, sob a responsabilidade de seu pai, Jean-Marie Le Pen,
cooptou muitos quadros da direita tradicional e tem apostado no
ultra-conservadorismo com tons protecionistas.
No Reino Unido, a
questão do Brexit absorveu, mobilizou e impulsionou a extrema-direita nos
últimos tempos.
Na Bélgica, o
Vlaams Belang sucede ao Partido Vlaams Blok, que chegou a alcançar, em 2004,
24% dos votos nacionais. (…). Reconhecidamente de extrema-direita, racista e
xenofóbico (…), o Vlaams Block acabaria por se dissolver e adotar uma postura
económica mais neoliberal. Depois de um período de declínio, o Vlaams Belang
parece estar a ressurgir; nas eleições legislativas de 2019, alcançou o segundo
lugar na região flamenga com 18,6%.
Vários movimentos
de extrema-direita obtiveram, assim, destaque ou chegaram mesmo ao governo. Na
Polónia, a extrema-extrema-direita tem partidos, como o Partido Confederação
que obteve 6,8% nas eleições de 2019. Igualmente, aqui, o PiS, partido
nacionalista designado como “Lei e Justiça”, obteve 43,6% nas últimas eleições.
Na Hungria, o
Jobbik, partido anti-imigração e protecionista, assumidamente, contra a União
Europeia, é dos poucos que faz do anti-semitismo uma bandeira, dizendo que
Israel quer dominar o país e o mundo. Propõe abertamente a criminalização da
homossexualidade, com penas de prisão até oito anos. É um Partido com 18% dos
votos em 2018.
Na República
Checa, existem fenómenos anti-ciganos, como o Partido Nacional, que tem um
grupo paramilitar. Em 2009, em campanha para o Parlamento Europeu, defendia
“uma solução final para o problema dos ciganos”, que seria a deportação para a
Índia. Sem sucesso, acabaria por se dissolver. Também aqui, o Partido Operário
viria a ser interditado em 2010, depois de um grupo de seus militantes terem
incendiado uma casa com uma família cigana dentro, causando queimaduras graves
às três pessoas que lá habitavam. O Partido de Tomio Okamura, também adepto da
deportação de ciganos, chega ao Parlamento com a Coligação Nacionalista –
Aurora.
Na Eslováquia, o
Partido do Povo – A nossa Eslováquia, é abertamente anti-cigano e radicalmente
anti-imigração, nas palavras do seu dirigente, Marian Kotleba; na sua opinião,
“um só imigrante já era demais”…[Nas eleições parlamentares de 2016, o seu
partido obteve 8% dos votos.]
Na Estónia, a
mesma trajetória de sucesso: o Partido Conservador do Povo da Estónia entrou,
pela primeira vez, no parlamento em 2015, para quatro anos depois duplicar a
presença, atingindo 18%. É o terceiro maior partido do país.
Na Eslovénia, o
Partido Democrático Esloveno (SDS) foi o mais votado nas últimas eleições.
Janez Jansa diz que é de centro-direita, fã de Viktor Orban (líder do Partido
Húngaro Fidesz) e afirma querer “pôr o bem-estar e a segurança dos eslovacos
primeiro.” É um Partido com um discurso, completamente, anti-imigração.
Ironicamente
chamados Democratas Suecos, o partido principal da extrema-direita da Suécia
tem forte presença parlamentar, a partir de 2014. São a terceira força política
do país e, em 2018, aumentaram a votação para os 17,6%. (…) Num país que era
conhecido pela sua tolerância e que aceita refugiados, o Partido foi, não só,
impondo uma agenda contra a imigração, como quer ainda sair da União Europeia e
expressa a sua total admiração por Trump.
Na Finlândia, o
Partido dos Verdadeiros Finlandeses irrompeu, a partir de 2011, com 19.1% dos
votos. As negociações para formar governo com os conservadores encalham num
ponto: o empréstimo a Portugal, que a extrema-direita considerava ser errado.
Deixaram depois cair os “Verdadeiros” no nome, passando só a Partido dos
Finlandeses, mas nunca deixaram a retórica xenófoba.
Na Dinamarca, o
Partido do Povo Dinamarquês demorou dez anos a alcançar o lugar de segundo
maior Partido, objetivo conseguido em 2015. O seu fundador, Daniel Carlsen,
oriundo de um Partido neo-nazi, (…) defende o Estado Social e não tem uma
retórica tão, marcadamente, anti-feminista e homófoba. Todavia, também ataca a
imigração proveniente de países muçulmanos e quer sair do acordo de circulação
de pessoas da zona Schengen.
Na Noruega, o
partido do Progresso, criado em 1973 por Anders Lange, assenta as suas raízes
numa organização fascista, chamada Círculo da Pátria. Em 2005, obtém 22,1% dos
votos, sendo o segundo mais votado. O seu dirigente de então, Carl Ivar Hagen,
presidente do parlamento neste mandato, declarou nesse ano: “os muçulmanos, tal
como Hitler, (…) [já nos
transmitiram, há muito, as suas intenções]; (…) a longo prazo, o seu
objetivo é islamizar o mundo. (…) Devemos combatê-los.”
COMENTÁRIO
Olhando o panorama político europeu,
quando observamos o crescimento de uma onda enorme “anti social-democracia”,
bem expressa através do voto eleitoral, e do nascimento, ressurgimento e
fortalecimento de Partidos conotados com ideologias de Direita em múltiplos
países, interrogamo-nos: o que poderá explicar esta mudança tão alargada de
convicções, afetando tanta gente?
- As populações
que, na sua maioria, até agora, têm tido, supostamente, senso político e
sabedoria para saberem o que pretendem dos seus governantes de ideologia
“socialista-democrática”, repentinamente, terão começado a desacreditar deles e
da sua competência e decidiram mostrar-lhes um “cartão vermelho”, votando
noutras forças políticas?
- As opções de
voto terão sido sempre determinadas por decisões aleatórias e sem consciência
real das implicações do ato eleitoral? …dito de outro modo: - Os cidadãos que,
até agora, supostamente, têm sabido afirmar, com discernimento, a sua vontade
político-representativa, optando por governos democráticos de Esquerda ou
tendencialmente de Esquerda, viraram radicais (na opinião de alguns analistas),
ou “emburreceram” e passaram a olhar com admiração para a Direita, crentes de
que é esta a “saída da autoestrada” mais adequada à solução e prevenção dos
múltiplos “desastres” governativos?
- As escolhas
eleitorais serão influenciadas pelas constantes sondagens, pelo impacto dos
debates televisivos e, acima de tudo, pela maior ou menor “lábia” dos
candidatos, nestes momentos cruciais, mais refinados do que “vendedores de
banha da cobra”?
- No seio de uma
enorme multidão europeia que se vai posicionando na ala Direita da Política,
contabilizando-se já em alguns milhões de cidadãos, uns mais extremistas do que
outros, desiludidos com os rumos das pseudo-socialdemocracias (de Esquerda),
que consideram podres e corruptas, será que apenas vamos encontrar indivíduos
idiotas, degenerados, malfeitores, xenófobos e racistas, sem qualquer
consciência ou formação? Ou na Direita, à imagem do que acontece na Esquerda,
onde parece haver de tudo, também é possível identificarmos gente culta,
informada, honesta, competente, patriótica, psicológica e intelectualmente
equilibrada?
Será que o povo, que vota nestas “forças
crescentes de Direita”(...e nem sequer nos estamos a referir às de cariz mais
radical, de Extrema Direita…), cujas ideologias visam respeitar e proteger,
enquanto princípios indeléveis da sua cartilha politica, a identidade nacional
e a integração, mas não o “apartheid”, cultural, religioso e linguístico, como
está a acontecer em muitos países, onde algumas minorias querem impor e
sobrepor as suas leis às leis das comunidades maioritárias…por enquanto…que as
recebem e acolhem, é, na sua generalidade, ESTÚPIDO?
Em Itália e noutros países, onde a
Esquerda, mercê das suas enormes “burrices” governativas e desonestidades,
está, notoriamente, a perder terreno, a população tem vindo a engrossar as
hostes da Direita, em busca de soluções ou curas para os seus males sociais,
económicos e políticos. Esta população, deve ser então considerada, na sua
maioria, como IDIOTA?! Não nos parece.
A Social democracia, na sua descuidada
condução política, eivada de vícios, incapaz de se sujeitar a uma adequada
autocrítica e depuração interna e completamente acomodada em quase todos os
países da Europa Ocidental, desde o final da II Guerra Mundial, tem vindo,
despreocupadamente, a apagar ou a contribuir para destroçar a identidade das
nações e dos povos onde se instalou, onde governa ou tem governado, com
maiorias absolutas ou relativas, mais ou menos “geringonçadas, conforme os
interesses e acordos governativos das várias forças em presença. Defraudando os
interesses desses países e da cidadania que juraram servir com justiça e
equidade, endividando-os por largas décadas, protegendo e conluiando com
vigaristas, ladrões e agiotas de toda a espécie (empresários, banqueiros e
gestores públicos ou privados, ineptos e desonestos), alimentando a evasão
fiscal e a corrupção, enchendo os bolsos e enriquecendo com os mais surreais
esquemas e tramoias, distribuindo migalhas a quem precisa e esfolando o eterno
contribuinte até ao tutano, sem escrúpulos ou limitações, o socialismo
democrático tem vindo a definhar em todo o lado. O povo, porém, na opinião de
muitos, eternamente “burro” e politicamente analfabeto, apenas versado em
cultura futebolística e telenovelas, terá começado a acordar dessa longa
hibernação e amorfismo, após largas décadas de “música de violino no telhado” e
de ocas promessas de um Oásis onde o trabalho, o emprego e o bem-estar para
todos, a proteção social, o acesso à justiça, isenta e célere, a redução de
desigualdades e a justa repartição de rendimentos iriam ser os grandes
objetivos, as grandes metas do Estado Democrático. Iria, mas não foi!…clama
muita gente.
A comunicação social, felizmente, nem toda
ela ao serviço do populismo político-ideológico e higiénico-cosmético das
forças no Poder, têm tido, cada vez mais, um papel desmitificador e defensor da
verdade, sobretudo onde a censura governativa ainda se mantém algo incipiente.
É, por enquanto, essa permanente ação de informação e alerta que acaba por
servir de “Norte” a todos os cidadãos, incluindo, obviamente, os mais
distraídos e ausentes dos rumos da política. Só os eternos beneficiários da
Lei, que a fazem à medida e dela colhem os demais privilégios decorrentes do
seu estatuto de intocabilidade, imunidade e impunidade, não se sentirão, de
certeza, prejudicados pelo Sistema Político que estruturam, gerem e aplicam a
seu belo prazer.
Mas, visivelmente, o povo vai acordando e
saindo dessa letargia pacífica e silenciosa que o tem caracterizado durante
décadas. E ao constatar que a “Demo-Esquerda” não lhe serve, muda de faixa e
experimenta a Direita. Esta também tem defeitos, buracos, pisos escorregadios e
inseguros e bermas perigosas? Tem. Apenas tem tido menos trânsito e, como tal,
regista(rá), temporariamente, menos riscos e acidentes.
O futuro é, contudo, o melhor
conselheiro. E, “quem está mal muda-se”. Assim, não há como experimentar, já
que enquanto o pau vai e vem, folgam as costas!
A História é feita de ciclos. E que
ninguém duvide, o Poder não é eterno, nem exclusivo de ninguém. Em democracia,
não há Partidos, completamente, bons, nem Partidos totalmente maus. Eles
representam ou pretendem representar os anseios e os objetivos práticos,
vivenciais do povo ou da nação, em cada período conjuntural ou estrutural da
sociedade e do país. E, ou se adaptam ou acabam por fenecer. Como, de igual
modo, não há alianças impossíveis. O CHEGA, por exemplo, uma força
relativamente jovem no panorama da política portuguesa, conotada com a Direita,
na opinião de alguns, enfermando de algum Radicalismo, caso venha a
demonstrar-se “mais moderado, mais suave nas suas posições, menos demagógico e
populista”, afirma Rui Rio, poderá contar, sem reservas, com o entendimento
eleitoral por parte do PSD, partido atualmente sob a sua liderança.
A velha elite instalada no Poder, através
da democracia representativa, com cores mais alaranjadas ou mais avermelhadas,
vai circulando, alternadamente e a seu belo prazer, nos caminhos e estradas da
governação, mas, há muito que deixou de consertar ou mandar reparar alguns dos
“pontos e pontes” mais problemáticos e viciosos do “trajeto”, heranças tristes
de sucessivas administrações, afetando a saúde, a educação, a justiça e
equidade social, em especial, no que toca a direitos e deveres. O povo tem voz,
mas não sabe falar, nem protestar, a não ser quando se trata de matéria
futebolística, e a elite, que o diz representar, opta pelo silêncio e pelo
“dolce fare niente”. Porém, quando alguém assume a “voz do povo” e, sem
recorrer a partidos ou corporações, usa o seu carisma, disposto a confrontar as
forças enraizadas e acomodadas no Poder e não hesita em apontar-lhes os erros,
as incongruências, as imoralidades, as decisões insensatas, o perdularismo na
gestão das finanças públicas, é Populista. Curiosamente, este epíteto, usado como
arma política de arremesso, apenas é considerado incómodo e inconveniente em
períodos não eleitorais. Nas batalhas travadas durante as eleições
legislativas, os candidatos, na defesa da sua cartilha ideológica, afirmando
traduzir “a voz do povo”, os seus desejos, necessidades e anseios, esgrimem
como ninguém a sua arte de retórica e dialética e não se inibem, minimamente,
de recorrer a linguagem e argumentos “populistas”, roçando quantas vezes o
insulto, para anular o adversário político e favorecer a sua imagem eleitoral.
O “populismo”, usado na luta pela liderança, aqui, nestes momentos especiais,
anda de mãos dadas com a política e, paradoxalmente, aos olhos do Poder, é
considerado uma arte legítima e legal. Pasme-se!
O pensamento, os rumos e meandros da
política são, verdadeiramente, imprevisíveis, mas as mudanças de opinião e de
voto eleitoral também.
João Frada
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