domingo, 4 de janeiro de 2015

A EXTRAORDINÁRIA SABEDORIA MÉDICA DOS EGÍPCIOS FARAÓNICOS


OLHO [Clínico] de HÓRUS (que tudo vê, tudo sabe, tudo diagnostica)


A Extraordinária Sabedoria Médica dos Egípcios Faraónicos
 
 
Introdução
 
 
"Houve povos sem médicos, mas nunca houve povos sem medicina". (1) 
Desde que o homem se conhece como ser pensante e consciente de si próprio, a saúde e a doença têm marcado o ritmo do seu quotidiano. A medicina nasce e desenvolve-se em função desse binómio e, nessa medida, o conhecimento do ser humano, na sua dimensão física, corporal, psicológica e patológica, acaba naturalmente por constituir o seu principal objetivo. No Egipto faraónico, porém, a determinante religiosa e escatológica, fundamentada na crença de vida no além, permite a muitos dos sacerdotes e seus ajudantes uma visão e um grau de conhecimento da matéria médica (anatomia e patologia) de grande significado, a qual foi reconhecida, durante muito tempo, como uma verdadeira sabedoria hermética.  A esta só tinham acesso os escolhidos ou iluminados (sacerdotes e seus coadjuvantes). A preparação dos corpos, efetuada através de técnicas de mumificação e embalsamamento, funciona, assim, como uma das mais importantes fontes de conhecimento médico. Por outro lado, é também devido ao desenvolvimento das suas técnicas de conservação de cadáveres que foi possível preservar múmias, cuja integridade, passados 2000 anos, permite à ciência médica atual observar estruturas orgânicas, normais e patológicas, através das quais se pode construir a História Epidemiológica e Social deste povo.
Alicerçado no empirismo, em crenças místicas e mágicas, o  conhecimento médico do Egipto faraónico, no contexto geral da evolução técnica e cultural dos povos e das civilizações, caracteriza-se por um estádio pré-racionalista extremamente adiantado e complexo, que nos atreveríamos a designar de proto-racionalista.
Nesta sociedade, o médico, o sacerdote e o mago eram, frequentemente, uma mesma e única pessoa.
O saber médico egípcio, dominado por um Colégio de sábios e sacerdotes estudiosos, por vezes também acessível ao Faraó (Ramsés IV, por exemplo, aparece-nos ligado à arte médica), destinava-se, essencial e originalmente, a preservar a existência e a saúde do Rei, considerado a encarnação de Deus na Terra, razão da vida, lei, fertilidade e ordem.
Os deuses perversos, a magia inimiga e a doença eram os objetivos a controlar e a vencer.  O domínio do místico, do mágico e do real enformavam a imagem completa do verdadeiro médico sacerdotal.
No per-ankh ou Casa da Vida, instituição fundada pelo Estado,  desenvolviam-se todas as práticas inerentes à manutenção da ordem cósmica, impulsionada e dirigida para e pelo divino: a cura, o cultivo das artes de mumificação, da escultura e pintura dos corpos destinados a viver eternamente e o desenhar do "mais poderoso e versátil" instrumento mágico: a escrita hieroglífica. (2)
Na abordagem que nos propomos fazer desta matéria começaremos por refletir, num primeiro capítulo, sobre as diversas fontes utilizadas para o estudo da medicina egípcia.
No segundo capítulo focaremos os principais aspetos ligados ao ensino da  medicina .
No terceiro capítulo pretendemos realçar o grau adiantado de conhecimento atingido pelos egípcios no domínio da anatomia e da cirurgia, claramente resultante das suas práticas minuciosas de mumificação e embalsamamento dos corpos.
No quarto capítulo traçaremos um pequeno apontamento sobre alguns dos seus conceitos etiopatogénicos e terapêuticos e sobre o seu léxico médico.
No quinto  capítulo procuraremos descrever de uma forma sintética alguns aspetos fundamentais que caracterizam a sua riquíssima farmacopeia de origem vegetal, animal e mineral.
No sexto capítulo faremos algumas considerações sobre higiene e saúde pública egípcias.
No sétimo e último capítulo estabelecemos a abordagem das relações entre a magia e a medicina.
 
 
Capítulo I. Fontes
 
 
1.1. Escritos Clássicos
 
Antes dos numerosos papiros médicos virem a abrir novos horizontes ao estudo da medicina faraónica, o conhecimento desta matéria limitava-se às narrações de cronistas gregos (3)  e romanos, dentre os quais destacamos Heródoto, Estrabão, Teofrasto, Dioscórides e Galeno e Varro ou Varrão (116-27 a.C.). (4)
 
1.2. Papiros
 
Os papiros que atualmente conhecemos são cópias de originais bem mais antigos e deverão ter sido escritos entre os séc. XX, e XV a.C.
 
Papiro de Berlim - Datado da XIX Din.(1300 a.C.) inclui fragmentos sobre reumatismo, excesso de alimentação e uma versão do 2º Livro do Coração, esta mais completa que a citada no Papiro de Ebers.
Contém ainda uma série de provas de fertilidade e alguns parágrafos sobre doenças do ouvido.
 
Papiro de Carlsberg Nº VIII - De origem desconhecida, trata de doenças de olhos e dá-nos alguns apontamentos sobre prognósticos obstétricos.
 
Papiro Chester Beatty Nº VI - Sensivelmente da mesma data do de Berlim, contém uma série de receitas para doenças de ânus, peito, coração e bexiga e ainda alguns feitiços.
 
Papiro de Ebers - Da XVIII Din. (mais ou menos 1550 a.C), muito bem conservado e talvez o mais extenso, constitui a base essencial do que sabemos sobre medicina egípcia, especialmente no campo da clínica e da fisiologia.
Na sua introdução trata de uma prece mágica. No resto do texto contém muito poucos encantamentos e trata, sobretudo, de medicamentos para aumentar o apetite, a função intestinal e a digestão.
Refere-se também a uma infinidade de situações médicas e cirúrgicas, ligadas aos foros digestivo, pulmonar, cardiovascular, dermatológico urinário e ginecológico. É o único papiro com considerações sobre a vida, a saúde e a doença. Nele se mencionam numerosas drogas, ainda hoje usadas na farmacologia. Para além da sua riquíssima informação, este documento contém alguns comentários e correções estabelecidas, pensa-se, pelo seu possuidor, acerca da preparação de alguns medicamentos e sobre receitas que ele próprio havia experimentado: “Eu mesmo vi e fiz também com frequência” (5) . Este achado leva-nos a formular duas ilações. A primeira prende-se com o facto mais de este papiro não ser um original mas, sim, uma cópia de um mais antigo. A segunda permite-nos verificar que o sentido experimental não irrompe com o pensamento clássico (racionalista e hipocrático) e, muito menos, com o Nominalismo Medieval. Ele têm já a sua génese entre os Egípcios faraónicos.
 
Papiro de Edwin Smith - Da XVII Din. ( mais ou menos 2500-2000 a.C ), é talvez aquele que nos trouxe provas mais conclusivas de que a medicina faraónica era já uma verdadeira ciência. (6) 
Numa secção deste papiro, designada de Livro das Feridas, fazem-se alusões ao coração e às veias e narram-se múltiplas situações traumáticas osteoarticulares.
Os conhecimentos de anatomia cirúrgica e patologia indicam que o exame post-mortem era minucioso e demorado.
Procede-se a um diagnóstico clínico, impressionantemente, preciso e completo. O prognóstico é também cuidadosamente elaborado.
Citam-se tratamentos englobando ligaduras, talas, suturas, cautério e drenagem.
Crê-se que o autor deste papiro deverá ter sido um cirurgião praticante das Pirâmides.
 
Papiro de Hearst - Da XVIII  din., contemporâneo do de Ebers, contêm algumas descrições sobre novas enfermidades da época, sobre ossos, mordeduras de répteis e acro-algias dos membros.
 
Papiro de Kahoun - Da XII  din., é o mais antigo que se conhece e também o mais original, versando sobre doenças femininas, não se prescreve qualquer procedimento cirúrgico mas, antes, aconselha drogas, fumigações, cremes e aplicações vaginais. Estabelece prognósticos no domínio obstétrico e contém uma outra secção sobre medicina veterinária.
 
Papiro de Londres - trata de produtos comuns à sua farmacopeia acompanhados de encantamentos e procedimentos mágicos.
 
Papiros de Ramesseum - aborda aspetos em tudo idênticos aos de Kahoun. O nº V, estritamente médico, contém receitas essencialmente destinadas à relaxação de membros rígidos.
 
Papiro de Turim - Onde são referidas informações avultadas sobre sexologia e erotismo e pornografia. (7)
Papiro de Westcar - Com muitas informações sobre parto.
 
1.3. Múmias
 
A mumificação (8)  enriqueceu consideravelmente o conhecimento médico egípcio.
Familiarizados com a constituição e a disposição dos órgãos internos, estes médicos estabeleceram estudos de anatomia comparada, baseados em observações das vísceras do corpo humano e de animais, estes, anatomicamente bem conhecidos pelo tradicional costume sacrificial a que eram expostos. O estudo radiológico e histológico das múmias veio a enriquecer, extraordinariamente, os conhecimentos de patologia, de cirurgia e de antropologia médica egípcias.
 
1.4. Arte Egípcia
 
Dentre as múltiplas provas-documento chegadas até nós, portadoras de uma riquíssima informação sobre as características físicas, psicológicas e fisiológicas dos egípcios, a escultura, a gravura e a pintura são, indiscutivelmente, os melhores testemunhos histórico-arqueológicos disponíveis para a compreensão desta matéria. Muitos exemplos poderíamos apontar mas parece-nos que a saliência observada no pescoço de Cleópatra (9),  última rainha do Egipto, é claramente demonstrativa do quanto se pode especular a  partir destas fontes. Tratar-se-ia de tiroidismo, de uma neoplasia ou de qualquer outra patologia quística ou vascular? Relacionando com outros dados biográfico-comportamentais da rainha, na falta de se poder estabelecer o diagnóstico através da observação da sua múmia e de não se dispor de outras informações médicas emitidas sobre o assunto, nomeadamente, nos papiros alusivos a essa época,  apenas por “exclusão de partes” poderíamos tentar emitir alguns considerações sobre aquele aumento de volume cervical de Cleópatra.   
 
 
Capítulo II.  Exercício da Medicina
 
 
2.1. Ensino Médico
 
Julga-se que esta profissão, de carácter hereditário como todas as outras, condicionaria o estudante de medicina a iniciar a sua prática em ambiente de aprendizagem familiar. No entanto, o simples facto de se sentir uma certa inclinação para o exercício da medicina podia ser a primeira condição para iniciar a aprendizagem adequada. Alojados em casa dos Mestres, a quem pagavam habitualmente uma quantia estipulada, os alunos iam ouvindo e seguindo os seus ensinamentos teóricos e práticos e, ao fim de um certo tempo, às vezes anos, obtinham o reconhecimento e o estatuto que lhes permitia exercer a arte médica. Esta modalidade de ensino laico da medicina viria também a ser uma realidade frequente entre os gregos da época hipocrática e,  mesmo,  pré-hipocrática.

No que diz respeito à medicina eminentemente sacerdotal, sagrada por excelência, embora as informações sobre o assunto não sejam muito seguras, pode afirmar-se que os processos e a metodologia de ensino em nada diferiam dos seguidos pela medicina laica, no entanto, os estudantes dispunham já de uma instituição apropriada criada pelo Estado, o per-ankh ou Casa da Vida, onde podiam assistir às lições ministradas pelas sumidades médico-mágico-religiosas, ali reunidas.
Em Sais (10) e Heliópolis e, mais tarde, em Alexandria funcionaram célebres escolas médicas. Nesta última, considerada um dos mais importantes centros culturais da Antiguidade, iriam passar grandes nomes ligados a todos os domínios do conhecimento, das artes, da filosofia, do direito e da medicina.. Em Memfis, no Templo de Imhotep (11), considerado “Asclépio do Egipto”, conhece-se a existência de uma grande biblioteca médica (12) . De acordo com a leitura de um texto escrito por um médico-chefe egípcio, Uzahor-Resinet, em Edfu teria havido também uma escola médica.
 
2.2. Sanadores
 
Segundo o papiro de Ebers, três classes de sanadores, podiam "tomar o pulso" (praticar medicina):
- O sacerdote de Sekhmet
- O médico laico (Swnw = Suno)
- O mago.
Concentrados no per-ankh, onde escreviam e guardavam os seus escritos, os sacerdotes e escribas analisavam ali importantes problemas religiosos, mágicos e rituais ou questões de interesse oficial do Reino.
Numa atmosfera de magia e mística, assim se diferenciavam as três referidas classes médica, conforme a etiologia das doenças e a sua "especialidade terapêutica".
Entre os egípcios antigos, o médico parece assumir um estatuto privilegiado e dentre várias categorias, com uma certa importância hierárquica, aparecem médicos com títulos pomposos: "Médico da Casa da Esposa Real", "Médico Principal do Senhor das Duas Terras", etc.
A  maioria dos Swnw  praticavam medicina em departamentos estatais e casas nobres.
 
2.3. Especialidades Médicas
 
Talvez porque o corpo humano não era observado como uma unidade fundamental (conceito que só tardiamente foi revisto), no Império Antigo contavam-se entre os Swnw praticantes de quase todas as especialidades.
Diz-nos Heródoto que raramente duas especialidades eram exercidas pelo mesmo indivíduo. Afirma-se que os sacerdotes de Sekmet e, em especial, os seus ajudantes eram com frequência Cirurgiões. A circuncisão, devido às suas conotações mágico-rituais, era também da prática cirúrgica sacerdotal.
Contavam-se Especialistas de:       
-Olhos
-Ouvidos
-Nariz
-Dentes
-Abdómen
-Ânus
-Dermatologia
-Interpretação de Líquidos Internos
                                                
Ao serviço da nobreza, a especialização é muitas vezes levada ao extremo: o Faraó tinha, por exemplo, um especialista para cada um dos olhos. (13)
 
2.4. Medicina Sacerdotal e Mística
 
Dado que a doença era sempre, em última instância, resultante do desequilíbrio das relações homens-Deuses, quem melhor que o sacerdote poderia servir de mediador para restabelecer essa rutura?
Não havia um único Deus da Medicina. Eis alguns dos mais representativos:
 
- ANÚBIS - Patrono da mumificação
- HÓRUS ou HOR - Filho de Osíris e da Deusa Ísis, Hórus era considerado Deus da saúde. Tendo perdido um dos olhos em luta com SET, demónio considerado o seu pior inimigo, tal órgão de visão, na perspetiva de alguns historiadores de medicina, passou a ser considerado um poderoso amuleto. O sinal que representa este olho do Deus Hórus, semelhante a um R, viria a ser também o mesmo sinal com que o médico inicia(ria) as suas receitas (informando o farmacêutico, através deste R de Récipe = receba, que a receita deve ser aceite para execução (14) . Este conceito do R de Récipe, simbolizando o olho de Hórus , deus vigilante, que tudo sabe, que tudo vê, cujo olhar mágico pode curar é, portanto, uma questão indiscutível. O problema poderá pôr-se, se analisarmos esta questão numa outra perspetiva: será que o olho sobrante do Deus Hórus, exatamente por ter aumentado a sua acuidade e vicariado funções até então distribuídas pelos dois órgãos de visão, não passa a ser considerado como um precioso e divino instrumento de diagnóstico e terapêutica?
Será que este olho saudável do Deus Hórus, vigilante e sabedor, não corresponde já ao que nós hoje designamos por “olho clínico”?
- IMHOTEP - (aquele que dá satisfação) - só tardiamente com os Persas, e depois com os gregos, foi entronizado no panteão médico egípcio.
- SEKHMET - Convertida em deusa  da misericórdia, a quem se rogava saúde e proteção contra as calamidades. Os seus sacerdotes possuíam também conhecimentos de  Swnw.
- THOT - Deus de todo o saber
- DWAW - os oculistas, para além da proteção de Thot e de Amon, apelavam também os favores de Dwaw (Duau).
 
2.5. Auxiliares Médicos (wt)
 
Desde indivíduos destinados à aplicação de ligaduras, maníacos, ajudantes massagistas, etc., estes "paramédicos" da altura, parecem ter sido inúmeros com preparação teórica e prática especializada.
 
 
Capítulo III. Anatomia e Cirurgia
 
 
3.1. Anatomia
 
Não tendo ainda uma correta noção da importante função circulatória do coração, os egípcios reconheciam-no, no entanto, como "aquele que não para", centro mediador entre a vida e a morte.
Persuadidos pela palpação dos pulsos arteriais sincrónicos aos batimentos cardíacos, julgavam-no a essência vital de todos os membros. Decerto, por este facto, havia a crença que o coração deveria ser o advogado de defesa do morto, propiciando-lhe ou não a sua entrada na Ilha dos Beatos. (15)
Nos embalsamamentos não se retirava o coração, embora se extraíssem as vísceras restantes (até certa altura da História Egípcia).
Possuíam também extensos conhecimentos de anatomia topográfica, conforme nos atesta o papiro de Edwin Smith.
 
3.2. Cirurgia
 
3.2.1. Feridas e Queimaduras
 
A guerra, a caça e as grandes construções de pedra foram o grande manancial de elementos preciosos para a formação cirúrgica dos médicos, no Antigo Egipto.
Parece ter sido nesta época, que pela 1ª vez se falou em sutura na História da Cirurgia.
À mistura com produtos de origem vegetal e mineral, calmantes, cicatrizantes e estimulantes do tecido de granulação, utilizavam verdadeiros mixórdias (pelos e excremento de gato (16), leite de mulher a amamentar filho varão, urina, etc). Os feitiços complementavam o tratamento instituído.
 
3.2.2. Inflamações e Tumores
 
A observação clínica destas lesões era minuciosa e atenta e obedecia aos mesmos cuidados semiológicos de hoje. Palpava-se, percutia-se, averiguava-se a temperatura local, fazia-se uso da drenagem, cauterizava-se pelo fogo e observavam-se requisitos e métodos de pequena Cirurgia.
 
3.2.3. Intervenções Cirúrgicas
 
A trepanação, a traqueotomia (quase sempre em observância a razões mágicas), a amputação e a circuncisão eram as práticas mais comuns no Antigo Egipto. Esta última, não obrigatória nem extensiva a toda a população masculina adolescente (17), terá servido nas épocas das grandes invasões estrangeiras como marca distinta entre estes povos infiéis e os egípcios ortodoxos.
 
3.2.4. Instrumentos Cirúrgicos
 
Existem nos museus algumas coleções instrumentais descritas como cirúrgicas. Contudo, nunca foram encontrados objetos com tal finalidade a acompanhar os médicos encontrados em túmulos e não se conhecem documentos ou inscrições com a sua utilidade detalhadamente explicada.
 
 
Capítulo IV. Medicina Interna

4.1. Ato Clínico
 
Ao contrário do que se verificava entre outros povos e civilizações, o enfermo, o deficiente e o estropiado eram tratados com benevolência e dignidade.
Já Amenemope recomendava especial amabilidade para com o cego, o coxo e o louco.
Observavam-se regras de ética e deontologia médicas. O segredo profissional era respeitado.
A observação do doente assentava numa anamnese exaustiva e minuciosamente anotada.
Fazia-se um exame objetivo cuidadoso, apoiando-se na palpação, na determinação do pulso e da temperatura, e na percussão. Já se sabia proceder a um exame neurológico sumário.
 
4.2. Conceitos de Etiopatogenia
 
O corpo, acreditava-se, nascia são, e a doença, excluindo as causas traumáticas, só poderia dever-se a influências externas (distintamente reconhecidas, portanto) ou maléficas, incompreensíveis, do domínio do mágico-religioso.
As externas, resultantes do clima e estações do ano, regime de vida e modo de alimentação, implicavam normas de conduta higiénica e terapêutica visando o restabelecimento da ordem perturbada.
As segundas, forças sobrenaturais, deuses ou demónios interessados na permanente morbidez e na morte, só a magia e os rituais religiosos (exorcismos) os lograriam afugentar ou contrapor.
 
4.3. Órgãos Internos, Doenças e Terapêutica
 
4.3.1. Sistema Vascular
 
Eram correntemente empregues muitos termos, hoje fazendo parte do vocabulário de patologia cardiovascular (arritmia, hipertrofia, ateroma, aneurisma, calcificação arterial, etc), tal como já eram sobejamente conhecidos clinicamente a angina de peito e o enfarte de miocárdio.
A terapêutica consistia essencialmente na sangria, operação que através da cultura arábico-galénica se introduziu na Medicina Ocidental e se manteve na Medicina Portuguesa, como prática corrente até ao séc. XX.
 
4.3.2. Aparelho Digestivo
 
Pormenorizadas descrições sintomáticas e uma terminologia vasta constituem, também, uma imagem do seu grande contributo neste sector.
A medicação baseava-se na aplicação de supositórios enemas e emplastros.
A higiene alimentar era observada com um certo rigor e aconselhava-se a ingestão de fruta.
 
4.3.3. Aparelho Respiratório
 
Devem ter sido frequentes as doenças deste foro, conforme nos atestam os estudos radiológicos e histológicos das múmias.
O Egipto era considerado pelos Romanos como um verdadeiro Sanatório, pelo seu magnífico clima.
 
4.3.4. Sistema Nervoso
 
Conheciam-se o cérebro, as estruturas cérebroespinais, o líquor e a dura-mater.
Muniam-se já de uma imensa tecnologia neurológica e reconheciam, assim, múltiplos aspetos inerentes a este foro, com um preciosismo invulgar.
A epilepsia tinha-se em conta como resultante de lesões situada na metade longitudinal direita do corpo.
A sua terapêutica consistia na ingestão de produtos vegetais e urina, mas, simultaneamente, teria que ser respeitadas algumas observâncias de carácter mágico e ritual.
 
4.3.5. Doenças Reumatismais
 
Muitos são os testemunhos revelados pelo estudo radiológico das múmias, sobre enfermidades provocadas por reumatismo articular. São, no entanto, poucas ou nenhumas as referências sobre reumatismo de etiologia infecciosa.
Dentre a enorme gama de métodos e produtos usados nestes tratamentos, dois deles merecem atenção:           
 
                        - Expunham-se aos pacientes ao Sol
                        - Cobriam-se as articulações com barro
 
4.3.6. Aparelho Urinário
 
Os rins, não parecem ser conhecidos e só os ureteres assumiam algum significado.
Nos papiros muitas são as prescrições para estimular a diurese.
Os cálculos, apesar de serem encontrados em várias múmias do período pré-dinástico, não aparecem referidos nos papiros. (18)
A gota é praticamente desconhecida. Custa-nos, no entanto, a acreditar que alguns dos sábios da época faraónica não tenham diagnosticado e relacionado a gota com os exageros alimentares.
A hematúria é um sinal clínico repetidamente mencionado. Estaria, sem dúvida, frequentemente relacionada com a bilharziose ou esquistossomíase urinária, doença endémica do Vale do Nilo.
 
4.4.      Saúde e Higiene Infantis
 
A criança, desde o nascimento era "objeto" de uma série de cuidados e preceitos, alguns deles ainda hoje seguidos no mundo ocidental.
Cortado o cordão umbilical, o recém-nascido era lavado e logo após deposto num leito de pedra, onde se escreviam fórmulas especiais a assegurar a sua futura felicidade.
Tal como atualmente, o 1º som ou grito emitidos e o modo como girava a cabeça constituíam valiosas informações sobre a normalidade ou o bem-estar da criança.
Durante os primeiros seis meses, o leite materno era recomendado. Nesta idade, introduzia-se leite de vaca, cuja qualidade era analisada previamente.
No período Ptolemaico, a distribuição deste leite, regularmente fornecido pelas casas, era pontualmente assegurada e a sua falta implicava severa punição.
A Enurese e a Retenção Urinária da criança eram sujeitas a tratamento médico, baseado em drogas.
 
4.5. Ortopedia e Traumatologia
 
Perante os projetos ciclópicos de construção das pirâmides, onde se concentravam autênticos batalhões de trabalhadores, seria difícil conceber a inexistência de problemas de natureza ortopédica ou traumatológica. Na verdade, o papiro de Edwin Smith dá-nos uma clara perspetiva da diferença entre fratura e luxação, com base no achado de crepitação.
As relações precisas entre lesões da coluna cervical e os respetivos compromissos neurológicos eram já estabelecidas com grande rigor pelos médicos egípcios. Por outro lado, submetiam-se os doentes a exames neurológicos primários como forma de localizar o nível da lesão. No que toca ao prognóstico das fraturas de crânio, também aqui se havia atingido um grau considerável de precisão: o estabelecimento do tratamento a um paciente, por exemplo, que apresentasse uma fratura de crânio com afundamento e lesão de encéfalo, acompanhada de hemorragia nasal ou otológica pós-traumática,  era considerado inútil.
A redução de uma fratura ou o tratamento de luxação mandibular ou dos ossos próprios do nariz eram manobras relativamente comuns na prática médica egípcia.
 
 
Capítulo V. Farmacopeia
 
 
5.1. Produtos Vegetais, Animais e Minerais
 
Destinadas exclusivamente a terapêutica médica rotineira ou associadas a práticas mágicas e  religiosas, muitas eram as substâncias manuseadas pelos egípcios.
Substâncias e produtos mais ou menos inócuos, extratos da acácia, azeites vários, cevada, cebola, alho, rábano, cerveja, romã, figo, pão, mel, leite e alho, e tóxicos, sucos de meimendro, cicuta, teixo, barbassa, sândalo vermelho e papoila negra, constituíam um imenso arsenal na Medicina Egípcia.
O incenso, sob a forma de essência, obtido pela destilação das folhas era empregue na epilepsia, como calmante e bloqueador das convulsões características da doença.
No campo mineral, são extensas as listas de produtos. Os mais conhecidos, são o sal, o natrão, a calamina, o carvão vegetal e o betume. Este último, quando queimado em fumigações, servia aos sacerdotes médicos e mágicos dos templos para diagnosticar a epilepsia. Se o paciente era potencialmente predisposto, desencadeava-se-lhe imediata crise convulsiva pela inalação do produto, a qual era  tratada, do mesmo modo, com incenso.
 
5.2. Preparação e Uso de Remédios
 
Eram três os técnicos que intervinham na preparação, manuseamento e uso dos remédios:
 
- O manipulador;
- O homem dos unguentos;
- O homem do laboratório. (19)
 
Parece, de facto, ter havido um corpo farmacêutico responsável por este sector de transformação pesquisa e produção.
A maneira de administrar uma droga obedecia sempre a um cerimonial detalhado, às vezes com um envolvimento e uma liturgia complicados.
 
 
Capítulo VI. Higiene e Saúde Pública
 
 
6.1. Alimentação
 
Julgamos que as estilizadas figuras humanas, observadas em baixos relevos, nem sempre corresponderão aos traços físicos dos corpos que lhes serviram de modelos mas, sim, terão pretendido representar o corpo idealizado após reencarnação.
A obesidade, mais comumente observada entre as classes sociais elevadas, não era, porém, generalizada entre os Egípcios.
Segundo Heródoto, este povo, depois do Líbio, era o mais saudável que havia conhecido.
Possuindo uma alimentação rica e variada, as deficiências de nutrição eram praticamente desconhecidas.
Do Raquitismo, não há qualquer referência documental.
A cárie, quase inexistente no Império Antigo, veio a ser mais frequente nos períodos seguintes e estaria, sem dúvida, relacionada com maior riqueza, festins orgíacos e uma alimentação mais fermentativa. Refletindo sobre este tipo de dietas, uma vez mais teremos de admitir que a gota não seria uma doença, assim, tão difícil de observar entre os egípcios, conforme parece revelar o silêncio das respetivas fontes históricas. 
 
6.2. Doenças Infecciosas e Endémicas
 
A tuberculose e a esquistossomíase foram, indubitavelmente, as mais espalhadas por todo o Vale do Nilo. Contudo, o enorme índice de espondilite aponta-nos também para uma considerável existência de brucelose e de salmonelose tífica.
Aparecem escassas e mal definidas referências ao paludismo e a doenças de natureza exantemática. A varíola deverá ter sido um dos flagelos mais temidos pelos egípcios. As lesões que dela resultavam, bem retratadas na célebre cabeça mumificada do sacerdote de Amon, constituem uma prova indesmentível da sua presença e da sua terrível ação sobre os doentes.
 
6.3. Higiene Pessoal e Geral
 
Os egípcios, tal como nos asseguram Heródoto e Diodoro, seguiam e mantinham ótimas regras de vida higiénica e sanitária.
"Os antigos egípcios de Alexandria chegaram a deixar testemunhos do uso de palitos, escovas ou outros utensílios, destinados à higiene da boca". (20)
O desporto, representado por inúmeras manifestações, danças, exercícios, jogos, caça, lutas, etc, a organização sanitária excecional (e atente-se na perfeição e eficácia demonstradas na manutenção de uma população com milhares de trabalhadores, concentrados dezenas de anos consecutivos na construção das grandes Pirâmides, os quais, aparentemente, parecem não ter sofrido de graves problemas endémicos), as condições de construção e ventilação a que se deveria atender no levantamento de qualquer residência; os banhos e as suas prescrições, os sistemas de conduta dessas águas e das residuais, através de complicados processos, demonstrando já uma cuidadosa e bem elaborada urbanística sanitária, todos estes aspetos  nos revelam o adiantado grau desta civilização no domínio da Higiene e da Saúde Publicas.
 
 
Capítulo VII. Medicina e Magia    
 
 
“Os egípcios acreditavam que toda a palavra articulada por um sacerdote, todo o gesto esboçado por um sacerdote tinham um efeito maravilhoso”. (21)
Numa amálgama de prescrições mágicas e médicas, os papiros demonstram-nos, em absoluto, que os conceitos de magia e de medicina, intrinsecamente ligados, refletiam o quotidiano do pensamento e da sabedoria do médico egípcio. O primeiro, por meio da sugestão, preparava o terreno do segundo, que atuava devido à real eficácia dos medicamentos prescritos pelos sacerdotes-mágicos.
Para os egípcios tudo quanto consideravam como seu, cabelo, unhas, roupas, objetos, retrato e o próprio nome era considerado parte integrante do seu eu, constituía uma extensão mágica da sua pessoa. Assim, um mago podia infligir um determinado sofrimento ou uma punição a uma vítima, utilizando uma ou mais dessas extensões mágicas, mesmo quando não tinha qualquer contacto físico com ela; do mesmo modo, servindo-se de uma dessas extensões (um objeto de uso pessoal, por exemplo), o mago podia invocar forças mágicas benignas, promovendo a cura, o bem-estar e a felicidade da pessoa. O nome do indivíduo era, todavia, considerado um bem demasiado precioso a preservar e, sobretudo, a proteger do conhecimento de magos ou de espíritos maléficos. Por isso mesmo, o recém-nascido recebia dois nomes: o verdadeiro, pelo qual ficava conhecido, e o bom, secreto, incorporando todo o poder mágico individual, só acessível ao sacerdote, aos pais e ao próprio, quando tivesse idade para tal. Deste modo, os poderes sobrenaturais desenvolvidos por entidades ruins, homens ou deuses, não tinham, segundo as suas crenças, qualquer êxito.
  
 
Considerações Finais
 
 
Os médicos egípcios, por falta de audácia e curiosidade, negligenciaram muitas oportunidades e ocasiões para se instruírem e aprofundarem o seu saber no campo médico. Abriram, no entanto, o caminho para a medicina grega, que haveria de tornar-se na medicina do Mundo Ocidental.
Não aceitando a clássica opinião de que os egípcios, nas suas observações e descrições médicas, enfermariam de falta de originalidade, crédito e sentido de discriminação (como nos parece apontar a leitura de alguns papiros, cópias, aliás, de outros bem mais antigos), alguns historiadores pretendem demonstrar que a medicina deste povo não terá sido assim tão insignificante, como à primeira vista poderá parecer.
A  rica terminologia usada pelos egípcios em relação às diversas áreas médicas, a órgãos e doenças, é posteriormente aceite e reutilizada pelos gregos. A nível da Farmacopeia passa-se o mesmo.
Alguns historiadores defendem que os povos vizinhos do Egipto, com os quais teriam tido, durante séculos, diversos tipos de relações mais ou menos pacíficas, não possuem quaisquer lembranças ou testemunhos atestando essas pretendida medicina de “marca racionalista” (atribuída aos gregos), no entanto, tal facto não deve constituir motivo de admiração ou servir de prova concludente do contrário, dado o sigilo e o hermetismo de que se rodeavam os seus praticantes e iniciados. Outros, porém, provam, sem margem para dúvidas, que os egípcios eram internacionalmente conhecidos. E há mesmo relatos que descrevem estrangeiros em busca de médicos egípcios, a fim de obterem cura para as suas maleitas.
A transmissão e a guarda dos conhecimentos médicos, rodeados por esse ambiente místico e esotérico, eram rigorosamente cumpridas pelos sacerdotes. Transferidos do per-ankh para os arquivos das Escolas de Sais, Tebas, Heliópolis e, em particular, Alexandria, muitos desses conhecimentos nunca haveriam de ser acessíveis a nenhuma outra cultura, incluindo a grega. Acrescente-se que o Cristianismo (nos seus primeiros tempos) e os próprios Árabes, alimentando um fanatismo religioso inconsciente, contribuíram para a destruição do importante repositório cultural entesourado durante séculos na Biblioteca de Alexandria. Se estas tragédias não tivessem ocorrido, Imohtep, o “Esculápio Egípcio”, teria tido, decerto, muito mais cedo, um lugar como de Hipócrates no “Olimpo Médico” e não se teria perdido a oportunidade, talvez para sempre, de melhor clarificar esta cultura misteriosa e fascinante.
 
 
Notas e referências bibliográficas
 
 
(1) A. Tavares de Sousa, Curso de História da Medicina- das origens aos fins do século XVI, p. 15
(2) Paul Ghalioungui, La Medicina en el Egipto Farónico  In  Pedro Lain Entralgo, Historia Universal da Medicina, Tomo I, p. 95
(3) Fascinados pela sabedoria oculta dos egípcios, assevera-nos Plutarco, muitos foram os pensadores gregos- Sólon, Tales, Pitágoras, Eudóxio e o próprio Licurgo - a empreender  a árdua viagem ao Vale do Nilo, no intuito de dialogar com os sacerdotes-sábios (Kurt Seligmann, História da Magia, p. 45)
(4) Para este escritor, a malária contraida nos pântanos egípcios não seria proveniente de eflúvios mas de bichinhos (bestiolae), os quais continham substâncias maléficas que, em contacto com os seres vivos, incluindo o homem, provocavam esta e outras doenças.
(5) Médicos no Antigo Egipto, Actas Ciba, Nº 3, Ano VIII, p.54
(6) Este "papiro-cópia" é, sem dúvida, a fonte mais indesmentível do elevado grau de proto-racionalismo atingido pelos egípcios. A profunda lucidez e o conhecimento iniludível da anatomia e da fisiologia humanas, patentes em algumas passagens e descrições que constituem matéria do seu texto, não deixam margem para dúvidas. Deste modo, a marca de arcaismo pré-racionalista, que classicamente define e caracteriza a medicina do egipto faraónico, tem que ser seriamente repensada.
(7) Cf. Luís Manuel de Araújo, Estudos Sobre Erotismo no Antigo Egipto, p. 123-6
(8) A mumificação consistia em dissecar os cadáveres e aprontá-los para o embalsamamento. Este, embora se rodeasse de intenções e rituais mágico-religiosos, visando garantir a vida no além-túmulo, não escondia a sua faceta humana, material e comercial. Podia executar-se de três maneiras, em conformidade com as posses de cada um:
- A primeira implicava sempre a extracção das vísceras, com excepção do coração, mergulhando-se o corpo em produtos especiais e obedecendo-se a processos bastante sofisticados de conservação. Extraía-se o cérebro através das fossas nasais com um gancho de bronze retorcido e  depois procedia-se a uma incisão no lado esquerdo do baixo ventre, com uma faca afiada de pedra Etíope. Inseria-se então, na cavidade abdominal vazia, farelo de mirra, folhas de cássia e outras resinas misturadas com incenso, após o que se procedia à sutura da mesma parede. Submergido agora em soda, setenta dias depois era retirado deste líquido e envolvido em ataduras feitas de bisso, por sua vez revestidas por uma camada de goma. Depois disto era entregue à família que providenciava o caixão de madeira. Este processo era de facto o mais dispendioso e podia atingir cerca de 300 libras esterlinas. (Jurgen Thorwald, O Segredo dos Médicos Antigos, p. 30).
- Na segunda procedia-se à injecção de óleos e conservantes pelo ânus (nomeadamente, óleo de cedro), sem extrair vísceras ou fazer quaisquer aberturas corporais. A estes produtos juntava-se também, com frequência, a lixívia de soda, durante 70 dias, pelo menos. A familia do morto teria de proceder aos últimos preparativos do cadáver. Ficava esta modalidade de preparação em cerca de 60 libras esterlinas (Idem, ibidem).
- Na terceira, menos dispendiosa e mais simples,  recorria-se apenas a água e a lixívia de soda. Depois de se aplicar esta última, por irrigação, no ventre do defunto, apenas sobravam a pele e os ossos (Idem, ibidem).
(9) Idem, p. 46
(10) Na Escola de Sais, especialmente voltada para a Ginecologia e Obstetrícia há referências acerca de  mulheres com formação médica, responsáveis não só por esta prática especializada da medicina, como pelo seu ensino.
(11) Imhotep (“aquele que dá satisfação), arquitecto e sábio médico da Corte do 1º Faraó - Zozer (soberano egípcio da 3ª dinastia do Reino Antigo ou das Pirâmides), que terá vivido no ano de 2.900 a.C., construiu a Pirâmide de degraus de Saqquarah ou de Zozer. O seu culto, porém, só durante o reinado de Amasis (570-525 a.C.), faraó da 26ª dinastia, viria a ser uma realidade.
(12) Mário Curtis Giordani, História da Antiguidade Oriental, pp. 103-4  
(13) História do Homem nos Últimos Dois Milhões de Anos, p. 322
(14) Luís de Pina, História Geral da Medicina, p. 157
(15) A Descoberta da Circulação do Sangue: dos primitivos a Galeno, In  Medicina e Saúde - Enciclopédia Semanal da Família (História da Medicina), Vol.I, p. 114
(16) O gato era considerado um animal sagrado no Egipto faraónico, daí a importância das suas fezes como elemento terapêutico. Na Índia, são as fezes de vaca. Mas a medicina dos excretos não é nem foi apenas apanágio destas civilizações. Na Idade Média, físicos de grande craveira académica recomendavam convictamente tais produtos como terapêutica para uma série de doenças. De origem portuguesa, formado em Medicina e Astrologia pela Faculdade de Medicina de Paris, Pedro Hispano (conhecido também como Pedro Julião ou Papa João XXI - em 1276), prescrevia, entre muitas coisas,“esterco de porco” como remédio eficaz contra dores de dentes (Matias Boleto Ferreira de Mira, História da Medicina Portuguesa, p. 27)  
(17) Pedro Lain Entralgo, História Universal de la Medicina, Tomo I, p. 109
(18) Pedro Lain Entralgo, História Universal de la Medicina, p. 106
(19) Pedro Lain Entralgo, História de la Medicina Universal, Tomo I, p. 117
(20) Calvin Wells, Ossos, Corpos e Doenças, p. 132
(21) Kurt Seligman, História da Magia, p. 45
 
 
BIBLIOGRAFIA
 
 
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ARAÚJO, Luís Manuel de Araújo, Estudos sobre o Erotismo no Antigo Egipto, Coleção Temas Pré-Clássicos, Lisboa, Edições Colibri, 1995
BUZZI, Alfredo, Evolucion Histórica de la Medicina Clinica, s.n.t., 1968
ENTRALGO, Pedro Lain, História Universal de la Medicina, Tomo I, Barcelona, Salvat Editores S.A., 1972
GIORDANI, Mário Curtis, História da Antiguidade Oriental, 4ª Edição, Petrópolis, Editores Vozes Lda, 1977
HISTÓRIA DO HOMEM nos últimos dois milhões de anos, Lisboa, Seleções Reader´s Digest, 1980
MEDICINA E SAÚDE- Enciclopédia Semanal da Família, Vol. I (História da Medicina), São Paulo, Abril Cultural, 1969
MIRA, Matias Boleto Ferreira de, História da Medicina Portuguesa, Lisboa, Edição da Empresa Nacional de Publicidade, 1947
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PINA, Luís de, História Geral da Medicina, I Volume, Porto, Livraria Simões Lopes, s.d.
REVERTE, José Manuel, Antropologia Médica I, Madrid, Editora Rueda, 1981  
RUEFF, Claudine Brelet,  As Medicinas Tradicionais Sagradas, Coleção Esfinge, Lisboa, Edições 70, 1978
SELIGMANN, Kurt, História da Magia, Lisboa, Edições  70, 1976
SOUSA, A. Tavares de, Curso de História da Medicina das Origens aos Fins do Séc. XVI, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1981
THORWALD, Jurgen, O Segredo dos Médicos Antigos, Trad. por Alfred J. Keller e Horst Muller Carioba, S. Paulo, Edição Melhoramentos, 1990
VANDERBERG, Phillip, A Maldição dos Faraós, Lisboa, Edição Livros do Brasil, 1973
WELLS, Calvin, Ossos, Corpos e Doenças, Col. História Mundi, Lisboa, Editora Verbo, 1969


 
ÍNDICE
 
Pág.:
                                                                                                         
Introdução                                                                 01
Capítulo I. Fontes                                                    02
1.1. Escritos Clássicos                                            02
1.2. Papiros                                                               02
1.3. Múmias                                                              03
1.4. Arte Egípcia                                                      04
Capítulo II. Exercício da Medicina                     04
2.1. Ensino Médico                                                 04
2.2. Sanadores                                                         05
2.3. Especialidades Médicas                                05
2.4. Medicina Sacerdotal e Mística                    06
2.5. Auxiliares Médicos                                         06
Capítulo III. Anatomia e Cirurgia                       06
3.1. Anatomia                                                           06
3.2. Cirurgia                                                              07
3.2.1. Feridas e Queimaduras                              07
3.2.2. Inflamações e Tumores                              07
3.2.3. Intervenções Cirúrgicas                             07
3.2.4. Instrumentos Cirúrgicos                            07
Capítulo IV. Medicina Interna                              07
4.1. Ato Clínico                                                         08
4.2. Conceitos de Etiopatogenia                          08
4.3. Órgãos Internos, Doenças e Terapêutica  08
4.3.1. Sistema Vascular                                          08
4.3.2. Aparelho Digestivo                                      08
4.3.3. Aparelho Respiratório                                08
4.3.4. Sistema Nervoso                                           09
4.3.5. Doenças Reumatismais                              09
4.3.6. Aparelho Urinário                                        09
4.4. Saúde e Higiene Infantis                                09
4.5. Ortopedia e Traumatologia                          10
Capítulo V. Farmacopeia                                       10
5.1. Produtos Vegetais, Animais e Minerais    10
5.2. Preparação e Uso de Remédios                   10
Capítulo VI. Higiene e Saúde Pública                 11
6.1. Alimentação                                                      11
6.2. Doenças Infecciosas e Endémicas              11
6.3. Higiene Pessoal e Geral                                 11
Capítulo VII. Medicina e Magia                           12
Considerações Finais                                             12
Notas e referências bibliográficas                     13
Bibliografia                                                               13
Índice                                                                          16