segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Passos Coelho e as suas teimosias

Marcelo Rebelo de Sousa: «Teimoso como é, Passos não vai fazer nenhuma remodelação»

Passos Coelho é teimoso, firme e inabalável nas suas atitudes e decisões, diz o Professor Marcelo de Sousa e afirmam outros analistas. E não vai alinhar nem em remodelações nem em reformas do Estado. Não há dúvida. Os que esperam ver ousadias dessas, podem esperar sentados. 
É pena, realmente, que essa determinação e firmeza governativas não sejam orientadas para iniciar a esperada remodelação, depois de uma tão intensiva programação do “Perdoa-me” governamental, na qual outros ministros ainda podem vir também a ser tentados a participar, e brilhariam certamente, quanto mais não seja pela sua enorme capacidade de improviso, patente em todo o seu percurso governativo. 
A par disso, tem faltado também a Passos Coelho a vontade de se aplicar com a necessária perseverança no controlo do descalabro das despesas públicas. Reduzir drasticamente as "gorduras" do Estado, os gastos supérfluos, as despesas exageradas com a manutenção de privilégios de todos os altos cargos da administração pública e de instituições ligadas ao mesmo Estado, deveria  constituir o objetivo supremo da sua teimosia. Aí, sim, é que Passos Coelho poderia dar azo à sua insistente obstinação, erradicando de vez esse cancro que tanto pesa nas contas públicas. Mas, comprende-se que não o faça, já que nesta fatídica alternância governativa, do ora agora  mando eu ora agora mandas tu, o “inteligente” licenciado Passos Coelho tem bem a noção do que ficará a perder quando passar, mais dia menos dia, a enfileirar as hostes da oposição. Mais vale não mexer nestas áreas tão sensíveis, senão pode pôr em causa as compensações tão generosas de tanta gente e as dele próprio. E é capaz de já não poder contar com outros “prémios de representação” como aqueles que recebeu, in illo tempore, da Tecnoforma. Por isso, é melhor não se exceder na pertinácia. Ir por aí teria altos custos políticos, os quais, seguramente, não deve estar disposto a pagar. 
Extinguir vícios e reduzir mordomias a toda a classe política, enfrentar notáveis que o colocaram e mantêm no poder, mexer em poderes instalados, rever contratos ruinosos do Estado, equilibrando assim as despesas públicas, sem ter de carregar impostos sobre a grande maioria dos portugueses, isso, não irá fazer parte da sua persistente e inflexível ação governativa. Que ninguém duvide. E se tem de afirmar a sua tão rígida e esforçada mão de ferro, não afrouxando a soga do país, pois hão de ser os mais dóceis e fáceis de domar que virão a sofrer a tirania da sua teimosia. Corre menos riscos. Pensa ele. 
João Frada