As Certezas e Dúvidas
Cruéis do PR
“Errare humanum est” (Santo Agostinho)
“Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas.”
(http://pt.wikiquote.org/wiki/An%C3%ADbal_Cavaco_Silva)
Será que não?!
Duvidava, e vá lá saber-se se não sofre ainda dessa cruel dúvida, da sua
capacidade de sobreviver à crise e à austeridade, dispondo apenas de uma
miserável receita mensal de 10 a 12 mil euros, independentemente das gordas
verbas disponíveis para gastos em despesas de representação e outras mordomias a que Sua Excelência, justamente, tem direito…
Duvidou, e sabe-se lá se tinha ou não razão, quando pressentiu que lhe teriam
instalado escutas no gabinete e, eventualmente, noutros cantos da sua
residência…
Duvidou, até há bem pouco tempo, de que a agricultura, o mar e as pescas
poderiam vir a ser áreas estratégicas e verdadeiros motores do emprego e da
economia, se explorados com inteligência e racionalidade…medidas fundamentais
ao reequilíbrio financeiro do país…e, finalmente, depois de se ter empenhado em
aniquilar e destruir estes sectores, cumprindo como bom aluno o que Bruxelas
lhe determinava, defende e exalta agora, exactamente, o contrário, pelos vistos
duvidando novamente das suas canónicas certezas de outrora…
Duvidou ou alguém, atempadamente, lhe fez duvidar de que, se não vendesse as
“ações” do BPN na hora certa e a bom preço, ia perder a grande oportunidade
financeira de arrecadar uns bons milhares…como aconteceu a outros crentes…
Arguto e competente na área da economia e das finanças, nunca se enganando e
raramente tendo dúvidas, manteve encontros com Ricardo Salgado, durante os
quais, seguramente, se terá apercebido de que algo não corria bem no BES e,
quando esta instituição se encontrava já em colapso total, confiante nas suas
imaculadas certezas, veio à liça impingir ou defender o impensável, diremos
mesmo o “impinjável”!
Aparentemente, sem o mínimo de dúvidas em relação à saúde bancária desta
instituição, conforme foi bem noticiado pela comunicação social, “Cerca de duas
semanas antes do anúncio da entrada do Estado no banco, (…) [Cavaco Silva]
frisou que os portugueses podiam confiar no BES”, levando muitos depositantes e
accionistas a crerem nas suas axiomáticas certezas e a não tomarem,
atempadamente, as devidas providências, perdendo poupanças de uma vida
inteira.(http://www.esquerda.net/artigo/bes-cavaco-silva-sabia-mais-do-que-os-cidadaos-em-geral/34015)
Cavaco Silva encontrava-se de visita à Coreia do Sul, quando declarou, sem
qualquer hesitação, que “Os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo”, e fê-lo, porque o Banco de Portugal, sob a administração de Carlos Costa,
governador desta instituição, também este, visivelmente, algo desatento ao que
se passava sob a sua alçada e supervisão, como se viu, lhe tinha garantido que
o BES irradiava uma saúde financeira de ferro.
“Portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo…-TSF” (www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=4038266)
Posteriormente, algo amnésico em relação ao que
havia dito, quando interpelado sobre a situação do BES, afirmaria
peremptoriamente que jamais se tinha referido a esta instituição bancária,
durante a sua visita àquele país asiático. O seu lema proverbial, “Eu nunca me
engano e raramente tenho dúvidas”, falhou novamente.
Duvidou, uma vez mais, daquilo que todo o país tem conhecimento. Em casa, na
rua, nos cafés, nos transportes, em todos os meios de comunicação social, não
há ninguém que não saiba que a grande maioria dos jovens portugueses, académica
e profissionalmente qualificados, depois de concluir os seus cursos e
formações, desacreditada da política e descrente dos políticos, tem como único
objectivo a emigração. Sem esperança de empregabilidade e, muito menos, de uma
justa remuneração pelo seu trabalho que lhes permita ter em Portugal uma vida
digna e sem grandes sobressaltos, embora sentindo a mágoa e a revolta pela
bastardia forçada a que se sentem devotados no seu país, milhares de jovens
qualificados procuram e continuarão a procurar no estrangeiro o seu futuro.
Não fora o estudo “Transforma Talento Portugal”, realizado pela COTEC e pela
Fundação Gulbenkian, apontando para a insuficiente valorização do talento em
Portugal ” e os portugueses, incluindo o PR, o homem que “nunca se engana e
raramente tem dúvidas”, jamais “desconfiariam” que 70% dos jovens, […senão
mais, dizemos nós…], entre os 20 e 24 anos, não só se estão “borrifando” para
os rumos da política e, sobretudo, para os políticos, que consideram, na sua
maioria, corruptos e incompetentes, como veem, efectivamente, na emigração o
grande objectivo das suas vidas, a única solução para organizarem carreiras
profissionais e poderem constituir família.
Com o descalabro a que o país chegou, em termos de desemprego, salários e
remunerações miseráveis, salvaguardando, naturalmente, as imprescindíveis e
insubstituíveis classes privilegiadas da governação e da administração pública,
onde os empregos abundam… e quando não existem criam-se (boy jobs)… e os
respectivos vencimentos são chorudos, apetitosos e, devidamente, acompanhados
de subvenções e mordomias, e ainda há quem só acredite e se pronuncie sobre
este drama pátrio ― “a fuga de talentos” e de braços ― apenas depois de se ter
concluído um estudo especificamente centrado neste problema, estudo este, por
sinal, prefaciado por Sua Excelência, o Senhor Presidente da República!
Santo Deus! Que dúvida cruel, esta, que apenas se desfez perante os resultados
estatísticos de um estudo tão brilhante e oportuno! Há que reconhecer que, não
se tratando da descoberta da pólvora, foi efectivamente um feito “Nobel”, um
trabalho notável de “inteligência colectiva” levado a cabo por cerca de 48
personalidades, todas elas, aparentemente conhecedoras da realidade mas, só
agora, conscientes em definitivo da dura realidade: “fuga de talentos” e, com
eles, queda demográfica, quebra de rendimentos, definhamento da Segurança
Social e empobrecimento global do
país.
Mas o PR, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, finalmente, elucidado
pela claridade da estatística, adianta a “chave do busílis”:
“Temos, isso sim, de criar condições de atração para todos, para os que desejam
ficar e para os que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar ou a vir viver
para Portugal", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.”
(http://visao.sapo.pt/cavaco-recusa-ideia-que-emigracao-e-sempre-uma-perda-irreparavel-para-o-pais=f811493#ixzz3adLyc57w)
Temos?! Quem? O Governo, na pessoa do PM? A Presidência da República, na figura
do atual PR, ou do próximo? O povo? A Troika que, só a sua conta, destruiu 471
000 empregos entre 2010 e 2015 ?!
emprego.pdf)
Temos, quando?! Quando todos tiverem emigrado? Ou o projecto do “temos” visa
não esta, mas a próxima geração, daqui a dez ou vinte anos?!
“Temos”, é mais uma das suas certezas indubitáveis, ou continua a ser uma das
suas raras dúvidas cruéis?! Será que alguma delas lhe tira o sono, lhe causa
infelicidade ou preocupação, solidário como diz ser com a população e com a
situação que o país atravessa, devassado por tantas e tão graves mazelas
políticas, económicas e sociais?
(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=376956)
Calendas Semânticas
2000
João Frada
Professor
Universitário (Ph.D.)
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