domingo, 12 de janeiro de 2014

AFINAL 2014 é ano de crise ou não?!

 O Governo aprovou, hoje, o plano B que visa colmatar o "buraco" de 388 milhões de euros deixados no Orçamento de Estado com o chumbo pelo TC de uma das normas do programa de convergência de pensões. A solução encontrada passa pelo alargamento da taxa de 3,5% de Contribuição Extraordinária de Solidariedade às pensões a partir dos 1000 euros. Até agora, a CES atingia apenas as pensões a partir dos 1350 euros e, desta forma, são mais 79.862 pensionistas que, segundo a própria ministra das Finanças, irão passar a pagar esta taxa adicional e, assim, ver as suas reformas reduzidas em 3,5%.
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“Reflexão”
Hoje, pelo 30º aniversário do PSD, Passos Coelho assume que as políticas levadas a efeito pela governação anterior e, obrigatoriamente, continuadas pelo seu governo afetaram ou afetam, de algum modo, os portugueses e que vivemos uma crise financeira terrível e uma “crise económica e social sem precedentes”. Entretanto, numa outra manifestação de aparente bipolaridade, afirma-se satisfeito, porque, na sua opinião, estamos numa rota clara de reabilitação do país, de regresso aos mercados já em maio de 2014, de despedida definitiva da Troika, de reequilíbrio das nossas contas internas e externas, de volta à normalidade. Em suma, a população portuguesa, na sua douta opinião de licenciado em economia, deve sentir-se feliz com os progressos que as suas políticas têm obtido.
Perante uma saída em massa de largos milhares de jovens entre os 20 e 45 anos, grande parte deles com altas qualificações académicas e profissionais, um autêntico flagelo demográfico, em busca de hipóteses de trabalho como emigrantes, com uma taxa de desemprego brutal que atingiu e continuará a atingir nos próximos tempos, sobretudo, as faixas etárias entre os 45 e os 65 anos, sem nenhuma hipótese de reversão, já que indivíduos com estas idades muito dificilmente virão a ter possibilidade de voltarem ao mercado de trabalho e, por isso mesmo, de tanto procurarem trabalho em vão, se tornam desistentes e sem qualquer incentivo para se inscreverem em centros de emprego, o governo e o PM, inteligentemente, chegam a esta conclusão: o desemprego está a diminuir. Realmente, por este andar, a oferta de trabalho acabará por ser superior à procura. Por isso, em termos de emprego, resta saber que idades terão os poucos resilientes que o procuram e que idades serão aceites por aqueles que o oferecem.

1.       Em 2014, aumentaram as rendas de casa, as taxas de moderadoras nos serviços de saúde, os preços dos serviços das operadoras de comunicações, a contribuição para a RTP, o imposto único de circulação de veículos, incluindo os de trabalho, velhos ou novos e seja qual for o respetivo preço base da viatura, bem como preços dos transportes públicos, do gás e da eletricidade.

2.       “Aumentos de preços em 2014 – Saldo Positivo” (saldopositivo.cgd.pt/o-que-vai-aumentar-em-2014)”

Por outro lado, a queda brutal de nascimentos, por falta de casais jovens e prolíficos no país e, como é óbvio, também pela miopia da política de saúde que não apoia rigorosamente nada neste domínio, nem o nascimento nem o pós-nascimento, embora apoie abortos, põe em risco, cada vez mais, por falta de renovação geracional e demográfica, quer a Segurança Social quer mesmo a capacidade de resposta técnico-profissional do país. E que fazem os governantes em prol disto? Nada. Apregoam que se esteve tão próximo da felicidade suprema, porque a Troika parte de vez e nós voltamos aos mercados. Brilhante! Não percebem, nem quem agora nos governa nem quem anteriormente governou, que vão perdendo anos nestas filosofias idiotas e que a nação, em vez de progredir e de se renovar, definha. País sem gente é qualquer coisa anómica, menos país.
Entretanto, como se lê pela notícia em epígrafe, já não bastava sangrar pensões acima dos 1350 euros, como se estas sejam gordas receitas para se suportar o custo de vida imposto pela crise, que todos reconhecem existir, incluindo o PM, ainda que de uma forma meio velada, subjetiva e confusa…claro está que nenhum Ministro, Secretário de Estado, Assessor, Adjunto ou quejando algum dia soube, saberá ou quererá experimentar viver com tal quantia…, e preparam-se agora para, em nome de uma “recuperação económica e financeira do país visível “a olhos vistos”, sangrar também com a “Contribuição Extraordinária de Solidariedade de 3,5% as pensões a partir dos 1000 euros.” Os ordenados, vencimentos, reformas e pensões da grande maioria dos portugueses, gente não bafejada por nenhuma “estrela política”, seja ela de Belém, de São Bento ou de qualquer outro sacrossanto panteão político erigido no país, ou são congelados e autenticamente avassalados pela inflação e pelo crescente custo de vida ou, pior que isto, são constantemente reduzidos em nome de uma austeridade e de uma crise que, segundo o governo, existe, mas que a Passos largos vai deixar de existir…já em 2014.
Afinal, perante todo o cenário de cortes em ordenados, pensões e reformas, envelhecimento populacional, desemprego, aumento de custo de vida sem aumento de poder de compra, estaremos em vias de sair da dita crise ou condenados a continuar enterrados nela?
Será que nos consideram burros ou estará alguém a sê-lo?
Pior do que um cego é aquele que não quer ver.

João Frada

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