terça-feira, 20 de junho de 2017

A prevenção e o combate de incêndios fazem-se, adequadamente, em Portugal?!

Enquanto cidadãos pensantes, ainda que não especialistas na matéria, achamos que não será um exercício mental difícil de realizar, este de nos debruçamos sobre as medidas que deveriam ser (ou ter sido) implementadas como estratégias de prevenção e combate a esta saga de incêndios que, desde há décadas, varrem o território nacional.
Analisemos, então, quais as medidas que foram acionadas no terreno, e quantas, até agora, nunca foram ponderadas pelas “brilhantes cabeças” (autoridades públicas e civis) responsáveis pela defesa da nossa floresta, setor este que se tem revelado um autêntico sugadouro anual da nossa economia…já tão depauperada por tantas outras mazelas (des)governativas.

1.“- Vigilância adequada das nossas matas e florestas, através de meios humanos [acionar novamente a actividade de guardas florestais, olheiros fundamentais ao levantamento do estado anual da floresta, em relação à concentração de biomassa, aos acessos, à capacidade de resposta de meios fixos de combate a incêndios (açudes, cisternas e outros equipamentos] e ao equacionamento atempado do risco de deflagração de fogos nesta ou naquela área mais desprotegida ou suscetível);
2.- Vigilância através de meios aéreos [drones, por exemplo]e de câmaras de vídeo instaladas no alto de torres eólicas ou em balões estacionários, emitindo informação “on-line” para centrais de controlo de incêndios, 24 sobre 24 horas, em contacto direto com a proteção civil, unidades de bombeiros [e Forças Armadas];
3. - Envolvimento [das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea)], de bombeiros profissionais e voluntários e, sob certas medidas, de toda a população residente em áreas onde se verifique o risco de incêndio; dotação/atribuição a agricultores de equipamentos e, sempre que possível, garantir a formação básica a todos os intervenientes para uma pronta atuação, em caso de foco primário de incêndio, seja qual for a sua origem;
4. - Limpeza atempada e obrigatória das faixas laterais dos caminhos e estradas nacionais e florestais, a par do alargamento destas mesmas vias, onde for julgado necessário, bem como proceder à recolha de matos, sempre que conveniente nas próprias zonas florestadas;
5. - Vigilância dos níveis de reserva de água de açudes e cisternas, instaladas no seio de matas e florestas, especialmente, durante a época das chuvas;
6. - Abertura de largos aceiros, estrategicamente concebidos e acessíveis a viaturas de 2 ou 4 rodas, desde que devidamente autorizadas e sob controlo de segurança apropriado, enquanto circuitos de velocidade e de lazer e enquanto vias rápidas de acesso a bombeiros ou outros intervenientes na luta preventiva e de combate terrestre contra incêndios.”

[Excerto, com alguns novos acréscimos, das medidas preconizadas para a prevenção e combate dos fogos florestais na Serra da Romana, na Vila Termal de Aurora. (In João Frada, Livres e Intocáveis. Edições Clinfontur: Lisboa, 2014; 156-57.]

Obviamente, este esforço coordenado, eminentemente voltado para a prevenção e combate de incêndios, deve merecer uma cuidada e oportuna atenção das autoridades centrais e autárquicas, fazendo cumprir a legislação que já existe, impondo a obrigatória manutenção de faixas de proteção numa largura adequada, ao longo dos caminhos e estradas, bem como determinando, sobretudo em zonas rurais, a construção de casas de habitação em locais bem delimitados e protegidas por faixas ainda mais largas de terreno limpo, mantendo-se, deste modo, uma razoável distância em relação às áreas de mata envolvente. Enquanto não for realizado um completo e criterioso ordenamento florestal e territorial, a partir do qual venham a ser estabelecidos níveis de risco e subsequentes prioridades de intervenção, proteção e prevenção, em função de cada local, das dificuldades de acesso, da envolvente e fixação humana e, bem entendido, das condições climatológicas de cada região, sempre dinâmicas e imprevisíveis, os fogos continuarão a fazer vítimas e a devorar vidas e bens, causando tragédias irreparáveis. A par destas medidas práticas, a implementação de processos inteligentes de reflorestação em mosaico (áreas livres, com ou sem cobertura florestal), utilizando espécies arbóreas mais ou menos resistentes ao fogo, poderão também contribuir para a defesa da floresta e das populações.
Não se deva pensar que apenas o cipreste, o carvalho, o zimbro e o pinheiro, menos inflamáveis, poderão ser as opções mais adequadas ao restauro (reflorestação) da mancha enorme ardida durante vários anos e nunca reposta. O eucalipto, controladamente (re)plantado, a fim de não ser factor de desequilíbrio ecoambiental, pela secura e consequente erosão dos terrenos onde se fixa, a par de todas as outras espécies arbóreas,  constitui também uma enorme mais valia, não só em termos de produção de biomassa (apesar de, ainda, não dispormos de “centrais de biomassa” em número suficiente e sem capacidade de resposta adequada às necessidades do país), como em termos da sua importância celulósica, cosmética e farmacêutica.
Hoje, em dia, com o fácil acesso a tecnologia de ponta, incluindo o recurso a inteligência artificial e a modelos computacionais, é possível recolher dados de natureza cartográfica, terrestre e aeroespacial, exaustivos e minuciosos, obtidos, especialmente, através da fotografia panorâmica tridimensional, e cruzá-los com outras variáveis de natureza climatológica e meteorológica (grau de humidade, vento e quantidade de biomassa combustível), simulando, com muita precisão, não só as zonas de maior risco de incêndio, como a própria trajetória ou progressão de fogos, em função dos diversos fatores em causa.
Só com medidas sérias e eficazes, o país poderá vir a assistir a uma redução drástica deste tipo de calamidades que, ano após ano, e desde há décadas, vem ceifando vidas e bens todos os verões, drama, este, perante o qual, para além do sentido pesar e das condolências de ocasião, as governações sucessivas têm demonstrado uma considerável inércia, incapacidade de resolução ou mesmo alheamento. Acaba a “época dos fogos” e, aparentemente, deixa de se ouvir falar em gestão florestal ou prevenção de incêndios.
Mas, admitindo que, até agora, muito possa ter sido feito neste domínio, a confiar nas informações e nos relatórios oficiais veiculados pelo governo e pelas autoridades responsáveis por esta área (gestão estrutural da floresta e prevenção de fogos), os resultados estão à vista! Basta olharmos, aí pelo mês de abril, para o estado de limpeza das nossas matas e para a biomassa e “lixo”, altamente inflamável, que se acumula junto às bermas da maior parte dos caminhos e estradas florestais e nacionais, e ficamos logo elucidados.
Esperemos, pois, que no próximo mês de Outubro, época que dá início, habitualmente, a uma longa amnésia política sazonal coincidente com o começo das chuvas e inundações, não se apague, como sempre, o horror de tantas memórias dramáticas e tragédias horríveis como estas a que acabámos de assistir neste “mês negro” de junho de 2017, e os nossos governantes possam repensar, definitivamente, quais as estratégias mais eficazes de gestão da nossa floresta, para que se minimize ou ponha termo a este crónico descalabro nacional.    

Fontes consultadas:  
“Simuladores podem reduzir riscos de incêndio”
(https://www.rtp.pt/noticias/incendios-2015/eucalipto-a-arvore-que-reina-sobre-a-floresta-nacional_es869927)
“Centrais de Biomassa em Portugal”
“Sistema de informação de risco de incêndio florestal”
Pedrógão: a tragédia evitável
http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/pedrogao-a-tragedia-evitavel-173263#.WUkCTj4_cBw.facebook

João Frada
Calendas Semânticas 2000



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