terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

SAÚDE PARA TODOS: Alguns conselhos úteis


SAÚDE PARA TODOS

 

[Para que não digam que eu só vos dou música e poesia ou vos causo, com as minhas análises sociológico-políticas, mordazes e irónicas, alguns momentos depressivos, arrastando-vos para a realidade vivencial do dia-a-dia, eivada de arrelias, angústias e frustrações, nada saudáveis nem desanuviadoras para nenhum leitor, atrevo-me a deixar-vos alguns conselhos úteis no domínio da cura e prevenção das complicações  desencadeadas por vírus da gripe, muito ativos nesta época.]

1.Cura e prevenção de complicações pós-gripais: aguns conselhos úteis

LEIAM COM ATENÇÃO

Na sequência destas agressões virais a todo o aparelho respiratório, algumas delas responsáveis por quadros infecciosos complicados pós-gripais, altos e/ou baixos, muitos dos doentes, vacinados ou não contra a gripe, vêm a necessitar de antibioterapia prolongada ou mesmo repetida, face às recorrências que não raramente acabam por acontecer. E porquê?

Porque, quer os seios peri-nasais quer a árvore respiratória pulmonar (traquebrônquica e alveolar), quando agredidos por vírus e bactérias, em maior ou menor grau e em conformidade com a maior ou menor resposta ou predisposição atópica (alérgica) ou sensibilidade imunitária de cada indivíduo, respondem, não só, com uma produção exagerada de secreções serosas e/ou mucosas como, não raras vezes, reagem com um broncoespasmo incómodo e persistente, responsável por queixas de tosse permanente e de desconforto respiratório. Os constantes acessos de tosse, despoletados pelas secreções que persistem nas vias respiratórias, na sequência de uma infeção, mesmo depois do tratamento antibiótico, com muita frequência, tendem a manter-se devido ao broncoespasmo que se instalou, como consequência do recente quadro inflamatório. Como tal, necessita de ser solucionado. E de que modo?

Para além da eventual antibioterapia, prescrita para combater a infeção instalada e diagnosticada, o médico deverá avaliar se o doente apresenta ou não queixas sugestivas de broncoespasmo, o qual, se não for devidamente tido em conta, acaba por dificultar a resolução da patologia respiratória em causa. As secreções esterilizam-se com a tomada adequada do antibiótico, mas, em caso de broncoespasmo, tendem a persistir e a infetar novamente. Perfeitamente audíveis através de uma cuidadosa auscultação pulmonar, sob a forma de fervores subcrepitantes e/ou crepitantes, estas secreções exigem um tratamento adequado que poderá passar pelo uso de anti-histamínicos e de broncodilatadores e/ou corticoides, aplicados sob a forma oral ou inalatória, e de cinesiterapia, por forma a prevenir sequelas pulmonares crónicas e irreversíveis. Aconselhamos o doente a que procure, sempre, inspirar e expirar profundamente através da boca, enchendo e esvaziando por completo os pulmões, uma dúzia de vezes, se necessário, enquanto é auscultado, por forma a facilitar ao clínico a auscultação e a interpretação perfeita do murmúrio vesicular, ou seja, de todos os sons pulmonares emitidos durante os movimentos respiratórios. Compete, naturalmente, ao médico avaliar o tipo de tosse em presença e ponderar qual a medicação mais adequada.

Os mucolíticos, vulgarmente designados de expetorantes, com aplicação e resultados medicamente discutíveis, podem não ser suficientes para uma resolução total e rápida do quadro respiratório em causa. A par disso, a produção constante de rinorreia posterior (aquela que escorre dos peri-nasais para a garganta), seja ela uma rinorreia (vulgarmente conhecida por ranho) serosa, mucosa ou mucopurulenta (verde ou amarelada), decorrente da sinusopatia (sinusite; rinoadenoidite em crianças) que quase sempre se manifesta ou “acorda” mais ativa após os quadros gripais, originada num foco respiratório alto, isto é, a nível dos seios peri-nasais, só por si, pode originar acessos de broncoespasmo (em tudo idêntico a um acesso de asma), e, como tal, justifica  tratamento específico adequado com broncodilatadores. O médico saberá qual o fármaco que deverá prescrever, tendo em conta as comorbidades e doenças concomitantes do seu paciente.

As situações de rinorreia serosa (vulgarmente conhecida por “aguadilha”) ou mucosa (um pouco mais espessa), mas não amarelada nem esverdeada, esta, supostamente, já infetante), justificam o uso de anti-histamínicos, naturalmente, orientados sob prescrição médica ou mesmo e, em alguns casos, farmacêutica.

Em todo o caso, quer no início de um quadro supostamente gripal, mais ou menos agressivo, quer após o período crítico da doença, tratada ou não com antibiótico, enquanto se mantiverem queixas de rinorreia serosa, mucosa ou mucopurulenta. uma das melhores medidas higiénicas, de caráter preventivo e curativo, a ter em conta, é a seguinte:

1.Juntar a um recipiente com meio litro de água entre o tépido e o quente, uma mão cheia de sal das cozinhas (cloreto sódio), misturando bem  e obtendo uma solução ligeiramente hipersalina. Provando o sabor da mistura, poder-se-á obter o grau de salinidade equilibrado, juntando mais água, se necessário, e obtendo uma solução não muito concentrada. Uma solução demasiado salina pode não só provocar uma grande libertação de histamina nos indivíduos que sofrem de rinite alérgica, como vir a comprometer a função dos cílios da mucosa nasal, fundamental à expulsão do muco viscoso originado durante o processo de rinossinusite.      

2. Inalar (através de contínuas inspirações profundas e o mais intensivamente possível) a mistura de água moderadamente hipersalina através de cada uma das narinas, tentando irrigar os seios peri-nasais e esvaziar todas as secreções e impurezas neles contidas. Estes seios funcionam, no nosso organismo, aquecido a 36,5-37 graus centígrados, como um ótimo laboratório para a replicação viral e como uma excelente estufa de cultura bacteriana. As crises de sinusite, com todo o cortejo de queixas conhecidas (tosse, febre, cefaleias, rinorreia anterior e/ou posterior, quantas vezes também responsável, entre outras situações por otalgia (dor de ouvido), amigdalite, faringite e laringite), ou nem sequer ocorrem ou cedem rapidamente a esta tão simples medida de irrigação com água hipersalina. Não podendo mergulhar três ou quatro vezes por dia na água do mar, porque é inverno e não é muito apetecível, então, experimente fazê-lo em casa, usando aquela mistura hipersalina e verá os resultados. Irá sentir o nariz e os seios peri-nasais menos congestionados e, ao mesmo tempo, afastará a possibilidade de uma infeção que é sempre imprevisível em termos de consequências e elas são múltiplas, algumas delas de prognóstico bem complicado. 

Os microrganismos (micróbios), sejam eles vírus, bactérias ou fungos, não toleram este ambiente salgado e rapidamente deixam de se replicar ou reproduzir. Esvaziando, por outro lado, através da aplicação de água salina as secreções retidas e assoando energicamente cada uma das narinas, expulsam-se as secreções ali coletadas e promove-se a recuperação da mucosa sinusal, dilacerada e necrosada (apodrecida ou sem vida) pela infeção.

No início de uma gripe, quando surgem os primeiros sinais de um quadro viral em curso, cansaço acentuado, adinamia (debilidade física), febre ou subfebre, dores musculares e articulares, espirros, calafrios, congestão nasal e/ou rinorreia anterior acentuada, para além dos habituais antipiréticos ou febrífugos (paracetamol, “aspirina” e ibuprofen ou derivados), é de bom tom bochechar ou gargarejar, mesmo, várias vezes por dia com água salgada.

Uma outra recomendação, para esta altura de gripes, consiste em não cumprimentar de aperto de mão ou com beijos quem está infetado. Porque não cumprimentar, à boa maneira japonesa, apenas com um respeitoso curvar da cabeça ou, então, com um simples toque de punho fechado (punho com punho), limitando a probabilidade de contágio viral? Invocando que está "engripado", ainda que não esteja, e que pretende não contagiar quem está à sua frente, aguardando o seu aperto de mão, salvaguarda-se, de imediato, e não corre tanto o risco de ferir suscetibilidades nem gerar mal-estares desnecessários. Trata-se de um conselho que, admitimos, pode vir a ser considerado algo excêntrico, bizarro ou radical, mas que, tomado à letra, reduz significativamente a possibilidade de contágio, isso, nem duvidem. Fica ao critério de cada um a opção do "curvar da cabeça", do toque de punho fechado ou do simples aperto de mão. Todavia, vale a pena refletir sobre o assunto. Ponderando bem, depressa se conclui que é um gesto habitual colocar-se a mão à frente da boca sempre que se tosse e, por vezes, quando se espirra, sem que alguém ou muita gente faça uso de lenço ou de guardanapo para o efeito. O indivíduo espirra ou tosse e, depois, no momento seguinte aperta a mão a outra pessoa, ainda antes de a lavar ou desinfetar. É óbvio que o contágio viral pode ocorrer de outras formas: uma maçaneta de porta, uma esferográfica ou um simples talher (manuseado por um indivíduo portador de um vírus de gripe agressivo, mas ainda assintomático ou com queixas muito incipientes), enquanto objetos diretamente contactados por um doente infetado, poderão constituir também pontos de partida para disseminar o agente gripal. O peso da importância destes objetos infetantes (medicamente designados de “fomites”), no contexto geral das vias de contágio, tende a diminuir, sempre que os  cuidados higiénicos e as regras de saúde pública são respeitados e generalizadamente implementados, o que nem sempre acontece. Lavagem de mãos em água corrente ou limpeza frequente das mãos com toalhetes ou com soluções de gel alcoólico poderão ser, na nossa opinião, uma das melhores medidas preventivas, neste domínio, recomendada, sobretudo, para todos aqueles que não conseguem perder o vício, tão consolador, de roer as unhas.

A nuvem de aerossol de partículas de saliva que emitimos após um acesso de tosse e, sobretudo, depois de um enérgico espirro, no caso de estarmos numa fase prodrómica de gripe (fase inicial da doença), uma vez que está carregado de vírus, se for em espaço fechado, sem quaisquer correntes de ar, fica durante largos segundos no ar (como um aerossol que é) e, naturalmente, acaba por ser inalado por todos quantos possam respirar ali perto. O contágio através destas micropartículas (de Fludge) é uma das formas mais comuns de disseminação do vírus da gripe. Pura e simplesmente, não nos poderíamos acautelar espirrando para um lenço ou, na falta deste, colocando o antebraço ou a roupa que o cobre à frente da nossa boca, para absorver o espirro, uma perfeita bomba biológica caseira?! E fazemo-lo sempre?! E todos o fazem?!

Proceder às irrigações nasais com água salgada, seja ela de preparação caseira ou farmacêutica, e bochechar ou gargarejar com água hipersalina, três ou quatro vezes por dia, pode fazer a diferença e, na nossa opinião, são excelentes medidas para prevenir e curar a gripe e os seus efeitos mais comuns.

As irrigações nasais com água hipersalina deverão ser realizadas antes das refeições e, eventualmente, ao deitar. E porquê? Porque, a água entrada pelas narinas nem toda acaba por sair pelas mesmas vias e ao escorrer pela garganta pode, ocasionalmente, provocar algum engasgamento pontual nos menos habituados a este exercício, o que poderá ocasionar vómito. De resto, o sabor salino da água não é normalmente agradável. 

Recomenda-se que os indivíduos hipertensos ou que sofrem de rinite alérgica não usem água muito hipersalina e possam recorrer a soluções farmacêuticas de água do mar esterilizada, de preferência contendo manganés, vendidas sob a forma de nebulizadores nasais. O manganés minimiza a resposta alérgica, habitualmente, traduzida por uma escorrência abundante de rinorreia serosa. A mucosa nasal é, por outro lado, bastante permeável a sódio e, portanto, no caso de doentes hipertensos, há que respeitar essa cautela, usando apenas água do mar esterilizada (isotónica) ou uma preparação caseira de água ligeiramente salina.  

 
João Frada

Médico/Professor Universitário (Ph.D.)

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