quinta-feira, 22 de março de 2018

MARCELO REBELO DE SOUSA E O HUMOR NEGRO DA "BOMBA"

"Já pensaram? Uma bomba aqui era uma crise". O humor negro

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Humor Negro?! Uma bomba no meio deles todos, incluindo-o a ele, claro!…
Marcelo, ou fez humor, ou deixa transparecer algum remoto receio do imprevisível, comum nos tempos que vão correndo, ou, então, ironizando ainda com maior acuidade cáustica, sabe-se lá se, bem no fundo da sua consciência, não acharia ele que alguns dos presentes não mereceriam, mesmo, um castigo desta natureza. Seria crueldade demais. Acreditamos que tenha sido apenas humor negro aligeirado!
Mas, que o diabo as tece, tece.
Devemos pensar nisso.
De igual modo, se o nosso humor, na oralidade ou na escrita, alguma vez vier a assumir a mesma cor, creiam que não está ou esteve, minimamente, imbuído nem de radicalismo dissimulado, nem de qualquer forma de fundamentalismo extremista ou terrorista. Não. Trata(r))-se-(á), apenas e tão somente, de uma manifestação ou excerto ficcionista, que, simultaneamente, pretende glorificar a literatura libertária e, porventura, servir de alerta para quem por aí anda susceptível aos desmandos de tanto psicopata ou radical mais revoltado e criminoso. Porque, não se iludam, o pacífico silêncio e a paz que reinam à nossa volta, neste jardim florido plantado à beira mar, podem não durar sempre. Talvez, por isso mesmo, recorrendo a humor negro, Marcelo tenha expressado o seu temor.
Tal como o humor presidencial, também a ficção também pode ser premonitória.
“ Morreram vinte e duas pessoas electrocutadas na piscina [da unidade Termal de Aurora]. (…) Horas depois, conheciam-se as identidades de todos os falecidos: Um ex-chefe de Estado, três ministros, dois ex-primeiros ministros, cinco deputados, um ex-deputado, dois banqueiros, dois empresários, quatro ex-secretários de Estado e dois velhos dinossauros da vida política do país. (…) Soube-se, mais tarde que a piscina tinha sido reservada para aquele grupo especial de congressistas, barões mais notáveis da Banca, da Economia e da Política (…), ali reunidos no 1º Congresso Nacional de Reconciliação Política. (…)”  [Frada, João, Livres e Intocáveis. 1ª edição, Lisboa: Clinfontur; 2015, pp. 217; 231.]
Devemos pensar nisso.
João Frada

Calendas Semânticas 2000










quarta-feira, 21 de março de 2018

LUZ DIVINA




Posso cruzar mil portais, tempos perdidos,
voar sem asas, saltar de uma cascata,
sulcar o cosmos em busca de outros sóis,
de arcos-íris jorrando rios de prata,
finos rubis, tesouros e esmeraldas,
de mágicos faróis, jardins suspensos
de amores perfeitos, rosas e grinaldas…

Sonhando o impossível, sem temor,
posso alhear-me nas raias da loucura,
porque sei que a tua alma, meu amor,
olha por mim, zelosa, com ternura.
Meu anjo branco, sempre vigilante
nas minhas perdas de rumo e de razão,
luz divina que vejo a cada instante    
e traz o meu destino pela mão.

João Frada
Calendas Poéticas 2000
   
  

quarta-feira, 14 de março de 2018

METEOROLOGIA POÉTICA


A chuva, fria,
madrasta  deste inverno,
tão triste e estranho,
continua a cair, teimosamente,
em grossa gota, ora fustigante,
ora em mortalha fina, saturante,
como se um céu de nuvens,
grávido e negro,
nos julgue seus reféns,
e, numa maré louca de agonia
e de raiva, sem quartel e sem alívio,
apostado num martírio, noite e dia,
queira afogar-nos, de vez, neste dilúvio.

João Frada
Calendas Poéticas 2000

    

segunda-feira, 12 de março de 2018

DESILUSÃO


Bem, já cheguei,
já partiste,
de nada me serve protestar
ou ficar triste,
esperar que as estrelas brilhem
e os grilos cantem…
A noite de hoje, igual à de ontem,
mais uma, cheia de insónias,
sombras, nuvens,
um autêntico cortejo de “carneiros”,
percorrendo céus de breu,
feros, tamanhos,
tantos que contei,
todos eles  iguais,
feios rebanhos.

João Frada
Calendas Poéticas 2000    

quinta-feira, 1 de março de 2018

POETISA


Poetisa


Poetisa, poetisa,
Sabe-se lá vinda de onde,
Cantando odes à vida
Ao toque de um realejo.
Feiticeira de olhos verdes
Que cruzaste o meu caminho
E me soubeste encantar
Com rimas doces, falantes,
Ditas em verso, poema
Feito de cor e perfume.

Poetisa, poetisa,
Que nos teus versos me prendes
E em cada palavra solta
E em cada rima sentida
Sinto ser o meu ensejo
De colher céus, horizontes,
Raios de sol e luar,
Brisas repletas de aromas
De hortelã e alfazema,
De rosmaninho e poejo.

Poetisa, poetisa,
Enquanto o vento lançar
Odores, assim, de arrastão,
Meu amor, a minha vida,
Presa a ti por tantos laços
É como o trigo e a fonte,
Nascidos do mesmo chão,
Saídos da mesma fenda.
Quando me estreitas nos braços
Ceifando a fome, o desejo,
És a ceifeira mais linda
Das terras do Alentejo.

Calendas Poéticas 2000
J.F.