"Já pensaram? Uma bomba aqui era uma crise". O humor negro
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Humor Negro?! Uma bomba no meio deles todos, incluindo-o a
ele, claro!…
Marcelo, ou fez humor, ou deixa transparecer algum remoto
receio do imprevisível, comum nos tempos que vão correndo, ou, então, ironizando
ainda com maior acuidade cáustica, sabe-se lá se, bem no fundo da sua
consciência, não acharia ele que alguns dos presentes não mereceriam, mesmo, um
castigo desta natureza. Seria crueldade demais. Acreditamos que tenha sido
apenas humor negro aligeirado!
Mas, que o diabo as tece, tece.
Devemos pensar nisso.
De igual modo, se o nosso humor, na oralidade ou na escrita, alguma
vez vier a assumir a mesma cor, creiam que não está ou esteve, minimamente,
imbuído nem de radicalismo dissimulado, nem de qualquer forma de
fundamentalismo extremista ou terrorista. Não. Trata(r))-se-(á), apenas e tão somente,
de uma manifestação ou excerto ficcionista, que, simultaneamente, pretende
glorificar a literatura libertária e, porventura, servir de alerta para quem por
aí anda susceptível aos desmandos de tanto psicopata ou radical mais revoltado
e criminoso. Porque, não se iludam, o pacífico silêncio e a paz que reinam à
nossa volta, neste jardim florido plantado à beira mar, podem não durar sempre.
Talvez, por isso mesmo, recorrendo a humor negro, Marcelo tenha expressado o
seu temor.
Tal como o humor presidencial, também a ficção também pode
ser premonitória.
“ Morreram vinte e duas pessoas electrocutadas na piscina [da
unidade Termal de Aurora]. (…) Horas depois, conheciam-se as identidades de
todos os falecidos: Um ex-chefe de Estado, três ministros, dois ex-primeiros
ministros, cinco deputados, um ex-deputado, dois banqueiros, dois empresários,
quatro ex-secretários de Estado e dois velhos dinossauros da vida política do
país. (…) Soube-se, mais tarde que a piscina tinha sido reservada para aquele
grupo especial de congressistas, barões mais notáveis da Banca, da Economia e
da Política (…), ali reunidos no 1º Congresso Nacional de Reconciliação
Política. (…)” [Frada, João, Livres e Intocáveis. 1ª edição, Lisboa:
Clinfontur; 2015, pp. 217; 231.]
Devemos pensar nisso.
João Frada
Calendas Semânticas
2000
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