sábado, 14 de novembro de 2015

GUIA PRÁTICO MultiNormas - Novidade Editorial CLINFONTUR Edições

GUIA PRÁTICO MULTINORMAS

Este novo livro de João Frada, “Guia Prático MultiNormas”, 1.ª edição Clinfontur (2015), com 270 páginas, reúne grande parte da informação já publicada em 14 "reimpressões" (entre 1991-2009) de uma outra obra deste autor, “Novo Guia Prático para pesquisa, elaboração e apresentação de trabalhos científicos”, com mais de 30 000 livros vendidos.

Organizado em cinco partes distintas, o “Guia Prático MultiNormas aborda, não só, os cuidados e orientações a ter em conta, pelo investigador, durante a recolha e seleção dos dados, materiais e informações essenciais à apresentação e organização de qualquer trabalho científico, projeto, relatório ou documento de natureza curricular (modelos clássico ou europeu), como contempla, através de uma adequada profusão de exemplos práticos, devidamente realçados ao longo da obra, os múltiplos critérios, normas e sistemas de referenciação metodológica aconselhados e seguidos nos mais diversos campos técnico-profissionais e académicos:
- ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas);
- APA (American Psychological Association)
- Autor-data;
- Chicago;
- NP (Norma Portuguesa) 405;
- Vancouver.

Contactos: www.clinfontur.pt
Editora: ed.clinfontur0208@gmail.com

OBRA acessível em todas as lojas FNAC








quinta-feira, 20 de agosto de 2015

AVALIAÇÃO DE MÉDICOS: NOVOS CERTIFICADOS PROFISSIONAIS

Avaliação de Médicos: novos certificados profissionais

 “Médicos vão ter de fazer exames regulares para avaliar conhecimentos”

Os médicos, no setor público e privado, poderão vir a ser avaliados sobre os seus conhecimentos e capacidades técnico-profissionais, de cinco em cinco anos, por um júri constituído e designado pelo Ministério da Saúde, pela Ordem dos Médicos e por representantes das várias Faculdades de Medicina do país. A certificação das suas competências, a cargo dos respectivos arguentes avaliadores, constituirá, na opinião de José Manuel Silva, atual Bastonário da Ordem dos Médicos e de Paulo Macedo, Ministro da Saúde, a forma mais adequada de garantir à população uma saúde segura e de qualidade, prestada por técnicos dotados, responsáveis e eficientes. Inicialmente, segundo a ideia defendida pelo mesmo Bastonário e apoiada, naturalmente, pelo Ministério da Saúde, a sujeição a esta prova terá apenas um carácter voluntário. Assim, ficará ao critério de cada um tal decisão: o profissional de saúde, público ou privado, sujeitar-se-á ou não a este exame. Posteriormente, em data sine die, quando politicamente for achado conveniente, a exigência passará a ser obrigatória.
Se esta medida, claramente, discricionária, apenas dirigida a uma classe profissional, vier a ser implementada, antevemos um ambiente de guerra terrível que virá a eclodir no seio da corporação médica, o qual não favorecerá, de todo, uma melhor prestação dos cuidados de saúde médico-assistencial em Portugal. Mas, a ver vamos.
Os médicos certificados voluntariamente ou não, através de uma qualquer prova teórica ou teórico-prática, se para tal existirem estruturas e júris, com fartura, capazes de assegurarem tal avaliação, esses, podem exercer medicina. E os outros, os que porventura tropeçarem nessa prova?! Serão reenviados para reciclagem nas Faculdades de Medicina ou terão de ficar de quarentena profissional, sob a tutela do Ministério da Saúde, exercendo, porventura e apenas, funções administrativas ou de fiéis de armazém, procedendo à triagem das prendas ofertadas aos seus colegas “creditados” e, por isso mesmo, em exercício?! Para onde irão? Irão ser convidados a emigrar?
Como será, Senhor Bastonário e Senhor Ministro?!
Poderemos tentar adivinhar, desde já, quantos médicos Especialistas ou não, Assistentes Graduados hospitalares, com Mestrado, Doutoramento e Pós-Doutoramento em Medicina e Cirurgia, que hoje exercem clínica médica e cirúrgica, pública e ou privada, alguns com trinta ou quarenta anos de prática assistencial, virão a sujeitar-se a um exame desta natureza, tipo “Prova de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica exigida pelo Ministério da Educação”!
Mas, se a medida é, em si mesmo, uma exigência discutível, ela tem por objectivo conceder à população cuidados de saúde de boa qualidade, pelo menos no que diz respeito aos praticantes da arte médica. Obviamente, no que toca ao Ministério da Saúde, se ele cuidar também de garantir melhor e maior acesso aos medicamentos e não restringir tanto a lista de fármacos e produtos comparticipados, em particular os de Pediatria, como tem sido seu apanágio, então o exercício médico-assistencial poderá, efectivamente, ganhar uma outra qualidade e dimensão. Isto porque, a prática clínica não se exerce apenas com técnicos diferenciados e “certificados”,  capazes de propiciar saúde e bem-estar ao seus utentes apenas com gestos de mágica ou hipnose. Não. Os fármacos, conscientemente prescritos, a par dos sábios conselhos emitidos, são indispensáveis e o acesso a estas “armas terapêuticas” constitui um direito inalienável de todo o cidadão. O Senhor Bastonário, já agora, poderia também ter uma palavra a dizer sobre esta matéria. Melhorava, substancialmente, a possibilidade de garantir uma saúde mais segura e eficaz aos nossos pacientes, sobretudo, aos mais carenciados.
O bem-estar da população não depende, porém, apenas de praticantes de saúde. Os políticos, deputados e governantes, não são avaliados por ninguém, nem sofrem grandes repercussões pelas suas incompetências, aselhices ou erros crassos de governação, com repercussões altamente lesivas da saúde financeira, psicológica e física da população, caída no desespero e na miséria.
Os magistrados, segundo Marinho Pinto, bem conhecedor da arte jurídica, detêm “privilégios escandalosos à luz da realidade económica do país” e sofrem de um megacomplexo de superioridade profissional, não se inibindo de fazerem “uma espécie de chantagem política permanente”, nem de exercerem as suas funções com artimanhas que lhes permitam atingir os seus objectivos pessoais e corporativos: "Estão permanentemente a pôr processos, a inventar processos, a prolongar artificialmente a duração de processos para terem os políticos reféns das suas reivindicações, das suas exigências.” O ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, destaca ainda que apesar das “suas cabeças brilhantes, os magistrados portugueses, na sua maioria, não só sofrem de “falta de humildade”, como são “imaturos” e desconhecem a realidade da vida, aspetos fundamentais ao exercício da sua profissão, que deverá ou deveria pautar-se pela equidade, rigor e isenção, o que nem sempre acontece.

A par dos médicos, professores (apenas alguns, por enquanto), políticos e magistrados, alguém acha que outros profissionais, das mais diversas áreas técnico-profissionais, funcionários públicos ou não, polícias, militares, etc., não deveriam também ser sujeitos a avaliações periódicas e a certificações das suas capacidades e competências, muitas delas, que, de igual modo, põem em causa a harmonia, a segurança, o bem-estar, a condição vivencial, financeira, económica, física e psicológica das populações?!
O que acharão Vossas Excelências, Senhor Bastonário da OM, José Manuel Silva, e Senhor Ministro Paulo Macedo, disto tudo? A par dos exames que propõem aos profissionais de saúde, justifica-se também, ou não, uma avaliação geral de todos os outros profissionais, em Portugal? E quanto à avaliação do desempenho, por exemplo, dos Ministros, será que somente as eleições devam constituir bitola de aviso às falhas de competência ou de navegação governativa? Ou, se bem se recorda, Senhor Dr. Paulo Macedo, será preciso ouvirem-se protestos ou ameaças veladas dentro do Parlamento, a fim de se corrigirem algumas trajectórias governativas, em favor da saúde dos utentes do SNS, como já aconteceu?!
Gostávamos de saber.

Calendas Semânticas
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.) da FML

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

DISCORRÊNCIAS SOBRE A NATALIDADE EM PORTUGAL

Discorrências sobre a Natalidade em Portugal

“Mais de 1500 bebés nasceram em Portugal até ao fim de julho” [2015]

Finalmente, a demografia portuguesa, até agora, em queda livre, não só pela saída de gente jovem, em massa, para o estrangeiro, na mira de emprego e melhores condições de vida, que aqui lhes têm sido negados, como pela baixíssima natalidade verificada nesta última década -  100.000 nascimentos a menos – parece ter começado a soerguer-se.   
Os governantes ousam pronunciar-se, agora mais do que nunca, já que a campanha eleitoral está à porta, defendendo e destacando o apoio à natalidade, como um dos pontos fundamentais da sua “bandeira”. E que bandeira! Neste domínio, nunca foi tão negra!  
Apoio à natalidade, como?
Criando emprego mal pago e de curta duração, a prazo, portanto, com a condição de desemprego sempre à vista e também a prazo, situação esta, para os casais mais jovens, altamente estimulante e convidativa à organização de vida e ao aumento do agregado familiar?!
Será que é esta forma iníqua de apoio à natalidade que o Governo tem em mente?
Pelo que temos visto, a menos que muita coisa mude, rapidamente, a nível do sistema político, em particular, nos domínios da Fiscalidade, da Saúde e da Segurança Social, não nos parece que o Estado esteja decidido a criar as necessárias condições sociais e económicas para mudar o atual “status quo”, conduzindo ao franco aumento da natalidade em Portugal. Mesmo porque, isso custa dinheiro, e o que vemos constantemente é sacar, sacar, e não dar ou apoiar o que quer que seja. O setor da Saúde, se bem que com algumas notas positivas, no que toca a controlo de desperdícios e gastos perdulários, continua a não estar atento à natalidade. Toda a gente sabe que, sem natalidade, a Segurança Social está condenada a médio prazo e, todavia, enquanto outros países europeus já acordaram há muito para este gravíssimo problema demográfico, os nossos governantes continuam impávidos e serenos, e, dizem eles, a preparar o futuro, mas sem novas gerações, ou melhor, sem nenhumas gerações. Um grande futuro, não há dúvida!
Qualquer casal jovem, hoje em dia, quando decide que é chegada a altura de assumir o nascimento de um filho, sabe que não pode contar com apoios do Estado para nada.    
Os produtos alimentares, leites e farinhas lácteas, os artigos de higiene (fraldas, cremes, loções adequadas às peles sensíveis e delicadas de bebés), os medicamentos habitualmente prescritos e aconselhados em Pediatria, como sejam: vitaminas; xaropes mucolíticos e anti-histamínicos; broncodilatadores, como é o caso do Brometo de Ipratrópio (Atrovent PA inalador), usado em Aero-Chamber (câmara expansora); vacinais orais - a Rotavírus e lisados bacterianos; vacinas injectáveis (anti-meningite B), etc, etc., etc, nada tem comparticipação. O rol é imenso, citámos apenas alguns…
Sem qualquer comparticipação ou apoio para a aquisição de toda esta panóplia de produtos, qualquer jovem casal que aqui decidiu residir, pelo menos, até agora, apenas pode contar consigo próprio e com a família mais chegada para fazer face aos elevados encargos de mais um ser para cuidar, vestir e alimentar.          
Os encargos decorrentes das necessidades diárias de uma criança, sobretudo, ao longo dos seus primeiros anos de vida, são muito pesados para qualquer bolsa e, muito mais, para quem vive numa permanente instabilidade de emprego e com baixos rendimentos mensais, seja ou não qualificado em termos técnico-profissionais…com exceção, naturalmente, da classe política, em particular, dos “Jotinhas” inscritos nos vários “clubes”, onde não há desemprego e os salários, sobretudo, enquanto futuros candidatos aos “jobs for de boys”, são sempre chorudos. Esses, até podem contribuir para o aumento da natalidade! Como uma agravante, porém: Jotinhas a gerarem Jotinhas, irão ser, amanhã, mais umas sanguessugas dispostas a chupar o nosso magro erário público e, nessa medida, a crise global de natalidade em Portugal, por carência de apoios estatais, irá persistir eternamente. Oxalá eu me engane e tenha de reconhecer que afinal o Estado e os nossos governantes decidiram, de uma vez, tratar todos os casais portugueses por igual, concedendo apoios e subsídios suficientemente estimulantes da natalidade, com vista a uma rápida renovação geracional capaz de alterar, definitivamente, o nosso grande défice demográfico. 
     
  
Calendas Semânticas 2000
João Frada
Médico e Professor Universitário (Ph.D.) da FML




segunda-feira, 17 de agosto de 2015

DILMA ROUSSEFF: Vícios e Sismos da Política Brasileira

Dilma Rousseff: vícios e sismos da política brasileira   


Na sequência da última crónica sobre Dilma Rousseff e os 107.000 comissionados, uma das múltiplas gotas a fazer transbordar o copo de água da sociedade brasileira, centramo-nos agora sobre os gigantescos e constantes protestos de contestação à sua gestão presidencial, por todo o Brasil, manifestações estas cada vez mais difíceis de aquietar.
Já antes e durante a preparação e realização da COPA do Mundo, pudemos assistir a uma onda imensa de protestos, alguns deles marcados pela fúria e violência da população que, apesar da acção policial dura e enérgica, destruiu e vandalizou lojas e bens e pôs em risco a segurança das ruas em múltiplas cidades do Brasil. Dilma Rousseff, bem como grande parte dos que constituem o seu governo, de marca trabalhista, sentindo-se insegura e, certamente, de consciência pouco tranquila, deverão ter reflectido sobre a gravidade desta maré viva social tão agressiva, e não tardaram as promessas anestésicas, para acalmar os ânimos. Nada que qualquer político “escovado” e astuto não domine: técnicas eficazes de hipno-acalmia, ainda que temporária, dos ânimos dos seus concidadãos mais descontentes. Com os Jogos Olímpicos, agora à porta, agendados para agosto de 2016, o povo vai assistindo a investimentos vultuosos para a sua preparação logística e, como é óbvio, a outras tantas sangrias do erário público, como aconteceu com a COPA, altamente desgastantes dos recursos de Estado, os quais deveriam, isso sim, ser aplicados e bem geridos no desenvolvimento social e económico do país, na criação de emprego para todos, no acesso à educação e no direito a uma saúde pública de qualidade.
Os casos de alegadas práticas de fraude, corrupção, desvio e lavagem de dinheiro da Petrobras, envolvendo altos dirigentes de obras desta empresa, e de outros órgãos públicos, investigados pela policial “Operação Lava Jato”, ao que parece, sob a sua anuência e inércia governamental, bem como outros negócios ruinosos realizados por elementos do seu governo, constituíram e constituem, nesta altura, pedras muito incómodas colocadas, por Dilma Rousseff, dentro dos sapatos, sandálias e alpercatas de grande parte da população brasileira. E não são apenas os “comissionados” (jobs for the boys) que, integrados em regime temporário nos serviços de apoio logístico e organizativo destes grandiosos, mas, também onerosos eventos, vieram pra ficar efetivos, para sempre, na função pública, obrigando o Estado a suportar encargos bem pesados e depauperantes da Fazenda Pública. É o somatório de uma multitude de acções governativas insensatas e pouco rigorosas que fazem estremecer a economia do Brasil e, pelos vistos, quais abalos sísmicos, vão também fazendo oscilar a presença de Dilma Rousseff e do seu séquito governamental mais privilegiado no cimo da altíssima pirâmide demográfica de cerca de 202 milhões de habitantes, grande parte deles, vivendo em condições económicas e sociais muito complicadas. A economia neoliberal facilitada por Dilma Roussseff e pelo seu governo não tem beneficiado, minimamente, as condições de vida dos trabalhadores brasileiros, os quais, perante os salários baixos que recebem, a tendencial elevação do custo de vida e as constantes sobrecargas tributárias, sentem-se ameaçados e unem-se, agora, por todo o país, gerando uma onda tsunami de protestos, greves e exigências de “Dilma impecheament” que, pelo andar da maré, não sabemos onde, nem como vai acabar.

Crise hídrica, eléctrica, aumentos de tarifas escorchantes [cargas tributárias exorbitantes], elevação de juros, desaceleração económica e desemprego que já bate à porta. Escândalos de uma corrupção monumental em torno à mais simbólica das empresas públicas brasileiras. Governo de joelhos, frente a um Congresso envolvido nas denúncias de corrupção, comandado pelo histórico partido do toma-lá-dá-cá, o PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], e frente a uma agenda económica conservadora. População dividida entre postulações maniqueístas, conduzidas, em um dos polos, pelo que há de mais conservador, retrógrado, tendenciosa e fascista em nossa direita e mídia corporativa; e no polo oposto, por um governismo ingénuo, envergonhado ou simplesmente hipócrita.
[Valéria Nader e Gabriel Brito – Falência do PT gera instabilidade política. Correio da Cidadania. 16 de março de 2015 – (http:/www.correiocidadania.com.br/índex.php?option=com_content&view=article&id=10596:manchete160315&catid=25:politica&Itemid=47)]

Os Olímpicos, tal como a COPA, promovidos no Brasil, foram e são apenas um pretexto para expressar esse descontentamento, todavia, os gastos com estas realizações não são de somenos importância para os cofres de Estado de nenhum país. Projeta a imagem de um povo e da sua cultura, movimenta e pode gerar riqueza entre privados, mas quanto a ser uma aposta lucrativa para o Estado, essa é sempre a grande dúvida. Movem-se muitos interesses, a corrupção anda de mãos dadas com os mega-investimentos de qualquer governo, seja na construção de uma qualquer obra faraónica, ponte ou auto-estrada, compra de submarinos ou organização de grandes eventos desportivos. Resta, pois, saber se os elevadíssimos investimentos públicos nestas tão grandiosas manifestações desportivas geram ou gerarão dividendos e resultados de retorno que compensem e justifiquem a sua realização!
Se compararmos com o que sucedeu entre nós, com os resultados da Expo 98, talvez compreendamos melhor esta realidade.
A holding criada pelo Estado português, em 1993, para assegurar a construção e realização da Expo 98 e para continuar a proceder à reconversão do Parque das Nações, onde se realizou aquele evento, devia aos bancos, segundo notícia de agosto de 2011, qualquer coisa como 224 milhões de euros, o que representava um encargo de juros anuais a pagar pelo Estado, ou seja, por todos os portugueses, da ordem dos 5 milhões de euros. Segundo o relatório de contas de 2010, esta holding apresentava um saldo negativo rondando os 40 milhões de euros.
Desvios, fraudes, derrapagens de obras com orçamentos, viciosa e propositadamente, mal elaborados, alguns, provavelmente, com vista a beneficiar terceiros, a par de estudos económicos deficientemente estabelecidos, ainda que bem pagos aos seus executores, quais as causas de tanto prejuízo?
O  ministério atual de Assunção Cristas, atento a tal descalabro, através de uma cuidadosa gestão deste dossier, herança ruinosa de governos anteriores, espera poder abater esta tremenda dívida acumulada e tem procedido a medidas eficazes nesse sentido.    

Mas se restassem dúvidas em relação ao impacto negativo deste último evento nas nossas contas, o EURO 2004 em Portugal foi mais uma tremenda machadada nas finanças públicas, já de si tão magras. Ter-se-á gasto, à conta do Estado, em reformas dos estádios existentes e na construção de outros (em Leiria, Aveiro, Faro, Coimbra, Braga e Guimarães), cerca de 1,1 mil milhões de euros. Os custos de manutenção posterior destas megaconstruções, constatados ainda nos nossos dias, custam aos respectivos municípios milhões de euros anuais. Augusto Mateus, ex-ministro da Economia, em julho de 2010, chegou mesmo a sugerir a demolição de alguns deles, em particular, o de Aveiro, como forma de saneamento de despesas públicas.

A ter em conta os lucros que o Estado português auferiu com a realização da EXPO 98 e com o EURO 2004, acreditamos que o Brasil, no meio de tanta mazela governativa, e a uma outra escala, bem entendido, não tenha assistido, nem venha a assistir, a “milagres de transformação de milhões em biliões de reais”, durante a COPA e não vá, de novo, observar esse milagre durante os Olímpicos daqui a um ano, em agosto de 2016.
E Dilma Rousseff, no meio de tantos abalos sísmico-sociais, que se cuide.

Calendas Semânticas 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D.) da FML



sexta-feira, 31 de julho de 2015

JOBS FOR THE BOYS

Jobs for the Boys


O Governo de Dilma Rousseff arrocha (oprime) brasileiros, mas mantém 107 mil cargos comissionados (“jobs for the boys”) integrados no governo não por concurso público, realização de provas curriculares ou entrega de reconhecidos títulos académico ou profissionais, comprovativos de conhecimento e habilidade específica para o exercício destes  cargos, mas por livre decisão e nomeação político-partidária.
Este enorme “exército” de gente não chegou ao Governo do Brasil, apenas, pela mão do Partido Trabalhista PT), ao qual Dilma Rousseff e Lula da Silva, seu antecessor na Presidência da República, pertencem. Não. Apesar da maior expressividade e responsabilidade do PT neste contexto, o contingente estes 107 mil “jobs for the boys” são o resultado das nomeações realizadas por todos os outros partidos que, sucessivamente, têm passado pela governação deste país.
Com remunerações que oscilam entre 1 e 40 salários mínimos nacionais, esta lista de “cargos comissionados” constitui uma tremenda sobrecarga para os cofres de Estado. Para apoiar a Copa do Mundo e as Olimpíadas realizadas no Brasil, muitas das comissões então criadas com objectivos temporários, após os eventos, numa grande maioria, nunca viriam a extinguir-se, passando a permanentes. Atualmente com outras funções, principescamente pagas (recebendo salários que chegam  a atingir os 22 mil reais), tendo em conta a média de vencimentos recebidos pela normal função pública brasileira e o baixíssimo ordenado mínimo nacional (788 reais, correspondendo a cerca de 214 euros), há comissionados espalhados por todos os setores da administração pública, verdadeiras peças de xadrez ao serviço de interesses, eminentemente, político-partidários.
As remunerações dos “jobs” de comissionados que ocupam cargos de direcção e assessoramento superior, ministerial ou outro, chegam a atingir os 14,3 mil reais mensais, sem ter em conta outros benefícios e subvenções.         

Notícia de 05 de março de 2015

Por cá, pior ainda. Segundo um estudo efectuado por Patrícia Silva, investigadora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, o qual viria a constituir o material da sua tese de doutoramento, defendida na mesma instituição, das “11 mil nomeações celebradas em 15 anos pelos sucessivos e diferentes partidos” que passaram pela governação portuguesa, entre 1995 e 2009, abrangendo os executivos de Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, a maioria serviu apenas para “recompensar lealdades partidárias”.
Estas conclusões foram confirmadas por entrevistas realizadas, por esta investigadora, a “51 dirigentes políticos, ministros e observadores privilegiados da política portuguesa". (…) "Há um alinhamento [notório de índole político], " entre os partidos que estão no governo e as pessoas à frente" da administração pública do país.

Houve já quem tivesse tido um rasgo de sensatez e de moralidade ético-política, pondo a hipótese de acabar com tantos “jobs for the boys”: António Guterres. Tendo acabado de tomar posse como primeiro-ministro, em 1995, manifestou nessa altura esta saudável e bem-vinda decisão político-administrativa. Não passaria, porém, de uma boa intenção. Vinte anos depois, como nos afirma e prova a ilustre investigadora da Universidade de Aveiro, as nomeações para cargos públicos quer de direcção, quer de quadros técnicos, continuam a verificar-se e a serem influenciadas pelos interesses, não do país, mas dos partidos políticos…todos eles.
No seu estudo, a autora, depois de analisar e comparar esta realidade a nível de diversos países, constatou que esta estratégia viciosa de gestão político-administrativa, com sérias repercussões sobre o erário público, face aos elevados salários ou remunerações pagos a tantos assessores, jovens especialistas técnicos disto e daquilo, alguns deles acabados de sair dos bancos das universidades, "não é exclusiva de Portugal". "Nos casos de uma administração pública permanente, como no Reino Unido, os ministros sentem-se desconfortáveis em trabalhar com essas administrações, nomeiam “special advisors” e contornam estas limitações", diz-nos Patrícia Silva.

Paulo Morais, vice-presidente da Transparência e Integridade, Associação Cívica, sobre o mesmo assunto, afirma-nos que esta realidade tem um "Impacto económico tremendo", nas contas do país.
"Só por milagre um boy de uma juventude partidária, habituado a organizar jantares e comícios, consegue fazer um bom trabalho num organismo público", critica Morais. O investigador reconhece que "há milagres, mas a regra é que [os nomeados] tomem decisões incompetentes e erradas".
O dirigente da TIAC admite que, no "círculo mais restrito da execução de políticas, se recrutem pessoas de confiança [dos governos], mas sempre com competência", sublinhando que "esse critério da confiança faz sentido num universo de cem pessoas, não de cem mil".
O governo atual, PSD/CDS, em 2012, através da criação da Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (Cresap), reaproveitando a ideia de Guterres, parece ter dado um passo em frente, ainda que curto e inseguro, para a moralização definitiva deste problema, de modo a que o recrutamento para cargos públicos possa vir a efectuar-se, não por cunhas, simpatias ou influências político-partidárias, mas por mérito e competências profissionais e curriculares. João Bilhim, presidente da Cresap, acredita que esta mazela político-legislativa tem os dias contados. Mas, nem todos os analistas compartilham desta visão optimista. Paulo de Morais afirma que ainda é cedo para se fazer uma avaliação do novo paradigma, lembrando, todavia, que "em teoria, é melhor que o anterior". "A questão é saber se vem romper com o modelo anterior ou se o vai branquear."

Como última achega a esta análise, resolvemos comparar os números de “jobs for the boys” que se apontam, quer para o Brasil, país com 202,7 milhões de habitantes (dados demográficos de 2014), quer para Portugal, com cerca de 10,6 milhões de habitantes (2014).
Tendo em conta que no país irmão, como uma população vinte vezes superior à nossa (isto é, mais de 200 milhões de habitantes), se contabilizam 107.000 “nomeações políticas”, por cada 10 milhões de habitantes brasileiros há cerca de 5 a 6.000 cargos públicos comissionados. Portugal, com uma população de 10, 6 milhões de habitantes e 11.000 “cargos” de nomeação política, apresenta uma taxa de “jobs for the boys” duas vezes superior à do Brasil.  
É perdularismo, governação insensata, grande complexidade de gestão e administração pública dos recursos do país, mania das grandezas?!
Quais serão as razões que levam o Estado português e os governos sucessivos a não alterarem este paradigma do desperdício e do esbanjamento, continuando a legislar, a proteger e a perpetuar situações tão aberrantes como esta, dos largos milhares de “jobs for the boys”, realidades profundamente gravosas para os cofres públicos e para a economia nacional?!  
Perguntamos, porque é nosso dever interpelar quem nos governa, mas todos nós sabemos a resposta.
Como diria Eça de Queiroz, “mudam-se as moscas e a… [história] continua a ser a mesma…”.

Calendas Semânticas
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.) da FML

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O EUROGRUPO E OS EUROESCRÚPULOS

O Eurogrupo e os Euroescrúpulos


“O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, acaba de retira do currículo um mestrado em Economia Empresarial, pela University College Cork (UCC), que nunca existiu naquela instituição.”
(http: // www.publico.pt/economia/noticia/presidente-do-eurogrupo-corrige-curriculo-retirando-mestrado-que-nao-tinha-feito-1591368)

Curioso o perfil deste ilustre “intocável”, que preside ao Eurogrupo, não acham?! Pretendendo engrossar o currículo, abrilhantando o seu perfil académico e científico, na área da economia,  selecionou um Mestrado que nunca existiu na University College Cork (Irlanda) e acrescentou-o à sua informação biográfico-curricular. Obviamente, o status científico e pessoal que este grau lhe poderia conferir, pensava ele, garantir-lhe-ia, junto da maior parte dos seus bacocos colegas do Eurogrupo, um maior grau de supremacia, respeito e admiração. Tinha razão. Na verdade, só viria, mesmo, reforçar um pouco mais a solidez da sua ação político-presidencial, enquanto alto dirigente do Eurogrupo, como se viu.
Descoberta a fraude, enquanto o Miguel Relvas sentiu na pele a fogueira política (pelo menos, durante uns tempos, já que a memória do povo é curta) e se obrigou a sair da vida pública, apenas não retirando do currículo o título de “Dr.” que a sua esforçada licenciatura lhe outorgou, Jeroen Dijsselbloem apressou-se a corrigir o “scripto lapse” (lapso de escrita) na sua informação curricular, a qual, pelos vistos, entre os seus pares, poucos lêem ou valorizam. Como vimos, esta faceta do ilustre presidente do Eurogrupo, não obstante traduzir, claramente, um perfil pessoal e político revelador de desonestidade e de falta de escrúpulos, não poria em causa a sua continuidade de funções no alto cargo europeu que desempenha.
Impávido e sereno, continua a sua missão, ali alicerçado de “pedra e cal”.
Os seus colegas do Eurogrupo, porventura, familiarizados com estas e outras manhas que constituem a “praxis” diária da sua actividade, enquanto “pastores” de todo o “rebanho” europeu,… com alguns carneiros mais rebeldes do que outros…, terão feito letra morta, ou vista grossa, sobre este insignificante incidente. O que pensaram, comentaram ou criticaram nos bastidores sobre o comportamento do seu “presidente” com aspiração a Mestre, não sabemos. Mas que decidiram mantê-lo, manifestando-lhe deste modo a sua confiança, pelo seu exercício, pessoal e profissional, isento, escorreito e criativo, isso, não há dúvida.
Resta-nos, no entanto, uma última reflexão, perante a qual atrevemos-nos a afirmar que, independentemente do currículo que Jeroen tem ou venha a ter, nós, europeus, temos um presidente à frente do Eurogrupo que, se não é burro, disfarça muito mal. Num rasgo genial de inteligência saloia, resolveu auto distender as suas competências curriculares, acrescentando-lhe um pomposo Mestrado em Economia Empresarial que não existia na referida Universidade, e, para que tal grau viesse a ser considerado fraudulento, nem precisou de datar a sua conclusão a um domingo. Pura e simplesmente, tal área académica e científica não se processa(va) nesta instituição universitária irlandesa. Não pôde comprovar tamanho dislate, e, encolhendo o status, retirou-o do currículo. Mas, apesar desta atitude bem demonstrativa do seu carácter pretensioso, insensato e descuidado, continua a passear-se no seio do Eurogrupo, como um bom “menino de coro”. E todos o ouvem. E o eco da sua voz, nas decisões que a todos nos tocam, continua a fazer-se ouvir, apesar de tanta distorção.
É esta a sorte que, certamente, merecemos.

João Frada
Professor Universitário (Ph.D.)
Calendas Semânticas, 2000


quinta-feira, 2 de julho de 2015

O estado da Nação e os "Sete Pecados Capitais" de António Costa

O estado da Nação e os “Sete Pecados Capitais” de António Costa

António Costa, ilustre candidato do PS às próximas legislativas, depois de uma severa triagem e análise política, ou não tenha sido ele um analista consagrado da “Quadratura do Círculo” considera que as causas da ruína do país, nestes últimos quatro anos de governação PSD/CDS, se resumem a “sete pecados capitais”. Nem precisaria de os apontar, sabemos bem quais são. Duvidamos é que sejam ou tenham sido só sete.
Mas, eis a sua tese em sete pontos:
1.º - "A mentira eleitoral ao ter prometido não subir os impostos que subiu e não cortar pensões e salários como cortou"; 2.º - "O desemprego, precariedade e emigração que afastaram do mercado de trabalho 700 mil desempregados, mais de 200 mil desencorajados e que colocaram 90% dos novos contratos celebrados em contrato a prazo", além de terem feito "o país regressar aos anos 60 em termos de emigração"; 3.º - A "asfixia da classe média"; 4.º - O problema "da pobreza e das desigualdades que atingem 25% da população portuguesa", em especial a pobreza infantil, que "atinge 470 mil crianças"; 5.º - O "abandono da prioridade ao conhecimento", especialmente devido ao "desinvestimento" nas áreas da ciência, educação e cultura; 6.º - O "do ataque aos serviços públicos, em particular na área da saúde e justiça, e a incompetência na sua gestão, de que foram bem exemplo o caos no início do último ano lectivo" ou na questão dos tribunais; 7.º - A "quebra de mais de 25% no investimento, quer público, quer privado".

(http://www.noticiasaominuto.com/politica/414445/os-sete-pecados-capitais-do-governo-segundo-antonio-costa)

Sobre esta matéria, porém, assiste-nos uma dúvida: será que António Costa se esqueceu de que na “Era” anterior, socialista, os pecados da governação, os que se conhecem e os que ficaram por conhecer se somaram às dezenas e atingiram o país e milhões de portugueses, não de uma forma venial e aligeirada, mas de uma forma altamente ruinosa e mortífera, degradando a vida a milhões de famílias, agora endividadas por gerações? Por tais “pecados”, e não apenas pela subida do preço do barril de crude ou a crise financeira e imobiliária americana, perturbadoras da conjuntura macroeconómica internacional, suportámos três PEC e não chegámos ao quarto por um triz. E os sacrifícios já pedidos, nessa altura, à população não foram, propriamente, leves penitências! Sempre se gastou “à tripa forra” e pouco se cuidou em poupar para emergências, gerindo com rigor e sensatez os dinheiros públicos. Os altos responsáveis do governo socialista, durante o período socrático, visivelmente, desatentos em relação a uma série de irregularidades originadas sob a sua administração, altamente lesivas do erário público, pondo em causa o equilíbrio das finanças do país e a nossa credibilidade junto dos credores internacionais, não se esforçaram em pôr termo a tais mazelas políticas. Perante isto, ainda há quem creia que tal governação constituiu ou constitui um exemplo para ser seguido por alguém ou, pelo contrário, merece também o nosso repúdio pela insensatez e incompetência como administrou o país?
Não somos, nem quereríamos ser advogado de defesa do atual governo e ainda que o pretendêssemos ser, oficiosamente e “pro bono”, não teríamos competências para tal. Mas, custa-nos a compreender como é que António Costa, tão arguto, como parece, ainda que algo distraído como andou nos últimos anos, enquanto gestor autárquico…a cidade de Lisboa, com exceção da “cara” (a Baixa de Lisboa), pra turista ver, sofre de sujidade e de estradas e ruas com lombas e buracos, “pecados” cometidos pela sua gestão camarária, herdados e continuados pelo seu sucessor…, apenas tenha concluído que a situação económica e financeira complicada em que nos encontramos se pode resumir a “sete pecados capitais” cometidos pelo atual governo de Passos Coelho.
A Europa, a Alemanha, o BE, o FMI e, de um modo geral, os grandes credores internacionais que, para sempre, detêm as chaves da nossa soberania na mão, e, pior do que isso, do nosso presente e do nosso futuro, controlam, não há dúvida, todos os setores estratégicos nacionais, impondo-nos as condições que lhes aprouveram e preparando-se para inventar mais algumas que, por aí, ainda hão de vir. Com tais medidas gravosas, impostos, cortes e reduções de salários, reformas e pensões, a austeridade veio para ficar por várias décadas.
Como é óbvio, a dívida e o défice tremendos herdados por Passos Coelho e pelo seu governo, na sequência da governação socrática que reinou, como quis e lhe apeteceu, durante uma dúzia de anos, parece-nos justificar também uma revisão histórica cuidadosa. Atrevemo-nos, então, a elencar alguns outros “pecados capitais” de marca socialista: SWAP (1); PPP (2); negócios ruinosos como o do BPN,  a que o governo e o governador do BP não estiveram atentos (3); gastos brutais com obras de auto-estradas, túneis e troços que nunca mais seriam concluídos e para os quais não havia disponibilidade financeira, entre os quais, a vergonhosa A26, entre o nó da A1-Ferreira-Beja (4); prejuízos públicos gerados por pareceres, principescamente pagos, que a nada conduziram, derrapagens brutais em obras públicas e negociatas de milhões, envolvendo terrenos públicos e privados destinados à construção de um novo aeroporto de Lisboa e de uma linha TGV, atravessando, segundo o ex-ministro Mário Lino, todo o “deserto” da margem Sul do Tejo, obras que nunca chegariam a arrancar (5); destruição de áreas protegidas à beira do Tejo (6); destruição de centenas de sobreiros no Vale da Rosa,…e poderiam ter sido milhares, se a Quercus e o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa não tivessem agido a tempo…para criação projectos urbanísticos (7); etc., etc…e isto, só para citarmos sete dos muitos outros pecados capitais do governo de Sócrates.  
Será que as demais aberrações governativas, as citadas e outras tantas que nem vale a pena enunciarmos, trouxeram ou propiciaram alguma saúde às Finanças do país ou viriam também a contribuir, fortemente, para o clima de austeridade em que a grande maioria da população portuguesa acabaria por cair?
Na ótica de muitos analistas, Passos Coelho, insensível ao drama social e às dificuldades sentidas pelos mais frágeis, não mexe ou mal mexe nas gorduras do Estado, mas cumpre, religiosamente, o que lhe ditam em Bruxelas e o que as “corporações financeiras”, internas e externas, lhe aconselham: apertar o cinto, se preciso, até aos ossos. Tem sido esta a sua linha de conduta para equilibrar o défice e a dívida tremendos da nação e, sem rebuço, vai dizendo que tem os “cofres cheios” para o que der e vier. Demagogo e lírico! Pagasse ele as dívidas que temos e logo veríamos o que restaria. Mais “troikista” do que a própria Troika, protegendo os seus aliados como ninguém, Passos Coelho levou e continua a levar o país, ou melhor, os mais débeis, ao limite das suas possibilidades, porque os mais “encorpados”, esses, sempre privilegiados a todos os níveis, sem problemas de emprego ou de contas bancárias, resistem bem a todos os apertos de cinto e a todos os impactos da crise e da austeridade, fazendo uso das almofadas especiais (subvenções de todo o tipo) a que têm direito.   
Os inúmeros pecados capitais, que afunda(ra)m a nação, são também, em grande parte, uma triste herança do passado e os respectivos pecadores nunca se chegarão a redimir, nem a cumprir pena ou penitência.
A situação que atravessamos deve-se, sem dúvida, a diversos factores, uns de ordem exógena e outros de natureza endógena. Quer pela ação usurária, cifrónica, fria e calculista  dos vários agentes e instituições internacionais, que constituem, cada vez mais, o verdadeiro patronato do país, quer pelas consequências trágicas de gestão incompetente e ruinosa dos sucessivos governos, todos os bens que constituíam o património da nação, incluindo os melhores setores estratégicos, têm vindo a ser delapidados e vendidos (privatizados) a preço da uva-mijona, ainda que, reconhecidamente, considerados lucrativos, quando explorados por privados. Até o setor demográfico não escapou a esta alienação desenfreada. Não apoiando a natalidade e fomentando a emigração, através de erros grosseiros, falta de prospectiva e de cometimento de graves “pecados capitais”, dificilmente redimidos ou reparados, o Estado português, na mão de sucessivos governos, perdeu também o que tinha de melhor e único: a sua juventude, qualificada e ávida pelo trabalho.       
Como corolário, lembraríamos a António Costa a velha máxima:
“Quem tem telhados de vidro, deveria ter cautela com as pedras que arremessa aos telhados alheios”.

Calendas Semânticas, 2000
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.)

terça-feira, 23 de junho de 2015

SUPERVISÃO BANCÁRIA: A QUEM DEVE SER ATRIBUÍDA?

Supervisão Bancária: a quem deve ser atribuída?

Uns defendem a continuidade de Carlos Costa, à frente do Banco de Portugal, como é o caso de Passos Coelho e do seu governo, que reiteram a sua confiança neste administrador, outros, praticamente toda a oposição, querem-no na rua e, perante a ineficácia comprovada de supervisão bancária do BES, acusam-no de incompetente e responsável pela tardia suspensão das actividades de gestão, alegadamente, danosa de Ricardo Salgado, ou irresponsável, depende da perspectiva, perante a alegada falcatrua financeira que, sob as suas barbas, ocorreu, acabando por arrastar o país para uma cratera, cuja profundidade ainda permanece difícil de calcular.
Entretanto, Carlos Costa, ele próprio, na sequência desta terrível distração, com desastrosas consequências para o país, grande parte das quais nunca serão apuradas nem, muito menos, hão de vir a público, face aos compromissos de altas castas, alegadamente, envolvidas neste imbróglio de milhares de milhões, resolveu avançar com uma proposta inédita em termos de supervisão bancária. Ora leiam:  

“O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa defendeu hoje a criação de um Fundo Monetário Europeu, defendendo «a necessidade de converter o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) numa instituição mais forte», para criar um «órgão especializado em atacar os desequilíbrios de um Estado-membro», e combater os «desequilíbrios da União Europeia”.

(“Carlos Costa defende a criação de um Fundo Monetário Europeu” – [10.04.2015]
http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=542004)

Lendo esta proposta, apetece-nos comentar: os que deveriam ser responsáveis dentro de cada Estado-membro pelo controlo e vigilância dos malfadados desequilíbrios, enquanto altos funcionários de instituições com essas competências, auferindo “pipas de massa” nos lugares que detêm, pelos vistos, concluem que, embora até aqui, teoricamente, tenham assumido tais cargos, não querem continuar a ter qualquer preocupação com estes problemas tão aborrecidos e complicados e pretendem que se crie mais um organismo supranacional, o FME, para os cidadãos europeus sustentarem. Onerando, um pouco mais a despesa pública de todos os Estados da União Europeia, alivia-se o trabalho dos governadores dos bancos centrais, que continuam a não governar coisa nenhuma, como se tem visto, e ajuda-se a criar mais uma “quinta” para meia dúzia de experts cultivarem e encherem os bolsos de euros. Tal como aconteceu  com a Troika, que veio cá demonstrar as suas excelsas capacidades e virtudes, em troca de milhões, ensinando os nossos políticos a esmifrar, com todo o requinte e malvadez, quem trabalha “que nem besta”, para sustentar os inteligentes administradores e gestores disto e daquilo (incapazes de cumprirem o seu trabalho de vigilância, controlo, prevenção e punição dos “desequilíbrios”), não tarda, aí estará mais outra entidade supervisora para supervisionar aquilo que os nossos supervisores não supervisionam, nem sabem como supervisionar, não obstante serem bem pagos para tal.   
Como é óbvio, podemos concluir o seguinte: o senhor doutor Carlos Costa assume em Bruxelas, através desta proposta pessoal, airosa e diplomática, que as suas competências de supervisão não são, não foram, nem irão ser suficientes para prevenir um problema como o do BES, em tudo idêntico ao que ocorreu durante a administração do Banco de Portugal pelo senhor doutor Vitor Constâncio, também ele um irrepreensível vigilante do BPN, como é sabido, e principescamente remunerado, …com um vencimento alegadamente superior ao do Vice-Presidente do Banco Federal dos EUA.
O doutor Carlos Costa não se apercebeu, atempadamente, do desequilíbrio, da derrapagem em que o BES entrara, acreditamos nisso, senão teria atuado a tempo. Esta supervisão de bancos é missão muito ingrata que, na sua opinião, exige outros mecanismos de vigilância e prevenção, francamente mais ajustados a uma entidade como o MEE, do FME. Perguntamos, então, que competências têm tido os sucessivos governadores do Banco Portugal, neste domínio ou quais as que não se lhes devem exigir em relação ao mesmo setor: a banca? Problemas como este, o do BES, alegadamente, resultante da má gestão de Ricardo Salgado, são desequilíbrios altamente emergentes e prováveis em diversos países da zona Euro, sobretudo naqueles em que os índices de corrupção são mais elevados. Embora constitua mais um “burro a alimentar”, e a pão-de-ló, seguramente, o Fundo Monetário Europeu terá mesmo de ponderar na criação de um órgão constituído por experts bem qualificados, designados pela União Europeia, por forma a proceder-se à detecção e prevenção deste tipo de fraudes e “buracos” financeiros como os que têm ocorrido estes últimos anos, sucessivamente, em Portugal.
Agora, “quem perdeu, perdeu, quem achou é seu”. “Cavalo morto, cevada ao rabo”. Missões destas não são para um homem só, chame-se, ele, Costa ou Constâncio. A Europa que pense nisto.        

Calendas Semânticas, 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D)


quinta-feira, 18 de junho de 2015

DIÁLOGO SOBRE FILOSOFIA BARATA

Diálogo sobre Filosofia Barata

- O que dizer sobre o que nada contém para dizer?! – pergunto… e tu respondes:
- Há sempre qualquer coisa para dizer, ainda que seja, apenas, que nada há para dizer.
Há sempre, então, um “quase nada”, mas não um “absolutamente nada”, para dizer.
- Filosofias! És fértil até em ideias que nada contêm de ideias. E sei que nada dizes, embora apregoando que dizes realmente muita coisa. É uma forma subtil de nada dizeres, a quem te esteja a ouvir.
- Tens razão. Falando, ainda que nada digas, agradas a quem te ouvir e o teu ouvinte, pelo menos, enquanto se ocupa a decifrar o que nada existe na informação vazia que emitiste, julga ter ouvido alguma coisa e ocupa a mente, convicto de que, se nada entende ou compreende, não é porque nada disseste, mas porque não soube escolher ou aplicar o método  hermenêutico e neuronial adequado à inteligibilidade do que ouviu.  
- Há muitos que nada dizem quando dizem alguma coisa e ainda que, uma ou outra vez, possam deixar escapar algo palpável e real quando se fazem ouvir, são capazes de se desdizer no momento seguinte, não sustentando nenhuma afirmação e reduzindo a zero tudo quanto acabaram de dizer.
- É o que mais se ouve, por aí. Quem diga e desdiga tudo quanto diz. Grandes mestres na arte de nada dizer, dizendo tudo sem dizer nada. E o mais grave disto tudo, é que muitos acreditam no que ouvem e julgam ter ouvido, tomando como realidade o que não passa de ficção, não conseguindo discernir que nada do que foi dito significa verdade ou inverdade e não passa de um mero eco de coisa nenhuma.
- Não há só quem nada diga, afirmando dizer tudo, também os há que nada dizem por nada saberem dizer, mas encostam-se a quem diga por eles e passam, assim, despercebidos no meio da manada que nada diz, nada tem para dizer, nunca disse nada e, quando descobre que pode dizer alguma coisa, fica calada, em estado de total mutismo e de bovina solidariedade clânica.
- Finalmente, depois de me ouvires, dizendo tudo sem nada dizer, ainda achas que me ouviste dizer alguma coisa?!
- Oh, se ouvi! Disseste muita coisa nas entrelinhas desta conversa silenciosa.    
- Ainda bem, então, que entendeste o meu recado. Julguei ter falado, sem nada ter dito, mas, afinal, sempre sobrou alguma coisa deste diálogo, singularmente, surreal: a convicção de que se pode dizer tudo sem dizer nada. 

Moral da história:  
“Sortudos, aqueles que, mesmo calados, encontram sempre alguém que os saiba ouvir.”
    
Calendas Filosóficas, 2000
João Frada


segunda-feira, 8 de junho de 2015

UM REINO COM FUTURO, SEM SOBRESSALTOS E INCERTEZAS

Um Reino com Futuro, sem Sobressaltos e Incertezas

Feliz o reino que, em vez de um, tem dois príncipes, um Primeiro e um Segundo, a governá-lo com tanto empenho e dedicação, os quais, aparentemente, diferentes em termos de personalidade e de feitio, se têm esforçado para, em nome de uma suposta sintonia ideológico-política, poderem governar, sorte a deles, um bando de súbditos, na sua maioria, pacíficos, amorfos e incapazes de fazerem ondas.  
Um deles, mais conhecido como “Príncipe das Feiras”, depois do outro alertar que a Segurança Social do reino está em risco e de perspectivar que, uma vez mais, irão ser os pensionistas e reformados a terem de contribuir com novos cortes nas suas reformas e pensões para o equilíbrio e continuidade deste organismo, cada vez mais “inseguro” (dever-se-ia ponderar se não seria melhor designá-lo de Insegurança Social), aparece-nos a afirmar, com a maior convicção, que o “futuro” do reino, nas mãos da coligação, vai ser um mar de rosas, “sem sobressaltos e incertezas”.
O “Primeiro” não consegue perceber que nenhuma Segurança Social se equilibra sem gente a trabalhar e a descontar para o seu garante no presente e no futuro. Os empregos que diz terem sido criados, na sua maior parte, não passam de pseudo-empregos ou de subempregos de curta duração, incluindo cursos de formação e outras artimanhas para ocuparem, com “meia dúzia de horas semanais”, quem não tem trabalho, mesmo em organismos do Estado, e, comicamente, embora mal possibilitem a sobrevivência dos ditos “empregados”, são considerados, em termos estatísticos, como uma amostra evidente de “descida da taxa de desemprego” no país. É óbvio que a descida desta taxa, na opinião do Primeiro príncipe, o que se julga mais inteligente dos dois, não resulta jamais da quebra de procura de emprego nos Centros de Emprego e Formação Profissional. Não. Baixou porque tinha de baixar com a sua, mais do que eficaz, orientação governativa. Nunca se criou tanta oportunidade de trabalho neste reino… de fantasia…, diz ele, comparativamente a outros reinados. Mas, os que têm ou teriam hipótese de serem aceites como empregados, entre os 20 e os 40, na sua maioria, emigraram, ou seja, deixaram de aparecer nos ditos Centros de Emprego; partiram para outras “freguesias” mais certas, mais fiáveis e rentáveis, noutros países. Os que por cá ficaram, com idades que oscilam entre os 40 e os 65 anos, esses, no desemprego e postos a andar quer de empresas quer do próprio Estado, porque são “velhos”, tantas vezes foram bater à porta dos ditos Centros de Emprego e em busca de novas ocupações, que se cansaram e voltaram as costas. Desistiram de visitas a estes “Centros”, Vivem de biscates, de expedientes e desenrascas, pendurados nos pais, também estes, velhos, sem posses e sobrevivendo com míseras reformas, e assim irão continuando na condição de “desempregados crónicos”. Todavia, este pequeno problema não é problema porque está em vias de deixar de existir, assegura o inteligente príncipe: a taxa de desemprego está cada dia mais baixa. Que maravilha! Nunca este reino proporcionou tanto trabalho aos seus súbditos, e os dois príncipes que governam o reino nunca andaram tão felizes. E, ambos, expressam com vigor a sua satisfação: o Primeiro fez questão de apregoar, recentemente, aos sete ventos que este oásis que governam deve ser considerado, por todos, como um reino “rico” e a caminho da prosperidade…só temos, é, de encontrar esse caminho*…,não obstante a contínua sangria de pensões e reformas, não das gorduras de Estado ou das chorudas subvenções de todo o séquito governativo e dos altos cargos do reino, mas da plebe, imprescindível para equilibrar as finanças públicas e, em particular, a dita Insegurança Social.
O Segundo, para não ficar atrás, cuidou também de escolher um slogan compatível com as suas crenças e certezas e afirma, peremptoriamente, que todo o reino deve acreditar na união governativa, da qual faz parte, porque apostar nesse casamento é apostar num “futuro” risonho, feliz, abundante de empregos e bem remunerados, “sem sobressaltos e incertezas”. Que Belos príncipes que nos têm governado até agora e que, nunca se sabe, poderão continuar, nesta quase perfeita união, a defender, com unhas e dentes, tamanha felicidade entre os seus súbditos, traduzida pelo acesso ao bem-estar, ao pleno emprego, à educação, à saúde, à corrida à natalidade, altamente apoiada por toda a nobreza do reino e, finalmente, à merecida e justa reforma, depois de uma vida de descontos. A Segurança Social, com tantos contribuintes e tanto emprego, jamais virá a ficar em risco. Deixará de ser, a atual insegurança social, a única pequena mazela deste reino. Alguém é capaz de afirmar o contrário?! Acredito que não.
O nosso reino, nas mãos destes dois príncipes, só pode mesmo esperar um “futuro” promissor “sem sobressaltos ou incertezas”.   

*”Passos diz que Portugal é considerado um país rico no mundo”

João Frada
Professor Universitário (Ph.D)

Calendas Semânticas, 2000

segunda-feira, 1 de junho de 2015

HINO À LUA CHEIA

Hino à Lua Cheia

A lua, no céu estrelado,
Musa dos meus e teus versos,
Rimas de sonhos perdidos,
Tem dentro dois universos,
Nossos corações unidos.

O céu lindo, enluarado,
Anda cheio até acima
Do nosso amor, não se cansa
De abençoar tanta estima
Com seu manto de esperança.

Calendas Poéticas, 2000

João Frada

sábado, 30 de maio de 2015

LIVRO BRANCO

Livro branco

Se a total ausência de palavras em que encontro algum alívio e paz de espírito, nesta peregrinação calada, pudesse ser gravada nas páginas de um livro branco, só tu, meu amor, irias saber ler esse silêncio e entender o que me vai na alma.

Calendas Poéticas 2000

João Frada   

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O SILÊNCIO

O Silêncio

«O silêncio não é a ausência da fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra.»
Mia Couto

Réplica:

O silêncio pode não significar nem “a ausência de fala”, nem o não querer falar, mas o não saber como falar ou o que dizer, quando não existem palavras para expressar o que vai dentro de nós, no íntimo das nossas ideias e das nossas emoções...e há tantas que não se conseguem traduzir com nenhumas palavras, tão simplesmente, porque elas não existem...ainda não foram inventadas. 

João Frada

quinta-feira, 21 de maio de 2015

AS CERTEZAS E DÚVIDAS CRUÉIS DO PR

As Certezas e Dúvidas Cruéis do PR  

     “Errare humanum est” (Santo Agostinho)

     “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas.”
     (http://pt.wikiquote.org/wiki/An%C3%ADbal_Cavaco_Silva)
   
     Será que não?!
     Duvidava, e vá lá saber-se se não sofre ainda dessa cruel dúvida, da sua capacidade de sobreviver à crise e à austeridade, dispondo apenas de uma miserável receita mensal de 10 a 12 mil euros, independentemente das gordas verbas disponíveis para gastos em despesas de representação e outras mordomias a que Sua Excelência, justamente, tem direito…
     Duvidou, e sabe-se lá se tinha ou não razão, quando pressentiu que lhe teriam instalado escutas no gabinete e, eventualmente, noutros cantos da sua residência…
     Duvidou, até há bem pouco tempo, de que a agricultura, o mar e as pescas poderiam vir a ser áreas estratégicas e verdadeiros motores do emprego e da economia, se explorados com inteligência e racionalidade…medidas fundamentais ao reequilíbrio financeiro do país…e, finalmente, depois de se ter empenhado em aniquilar e destruir estes sectores, cumprindo como bom aluno o que Bruxelas lhe determinava, defende e exalta agora, exactamente, o contrário, pelos vistos duvidando novamente das suas canónicas certezas de outrora…  
     Duvidou ou alguém, atempadamente, lhe fez duvidar de que, se não vendesse as “ações” do BPN na hora certa e a bom preço, ia perder a grande oportunidade financeira de arrecadar uns bons milhares…como aconteceu a outros crentes…
     Arguto e competente na área da economia e das finanças, nunca se enganando e raramente tendo dúvidas, manteve encontros com Ricardo Salgado, durante os quais, seguramente, se terá apercebido de que algo não corria bem no BES e, quando esta instituição se encontrava já em colapso total, confiante nas suas imaculadas certezas, veio à liça impingir ou defender o impensável, diremos mesmo o “impinjável”!
     Aparentemente, sem o mínimo de dúvidas em relação à saúde bancária desta instituição, conforme foi bem noticiado pela comunicação social, “Cerca de duas semanas antes do anúncio da entrada do Estado no banco, (…) [Cavaco Silva] frisou que os portugueses podiam confiar no BES”, levando muitos depositantes e accionistas a crerem nas suas axiomáticas certezas e a não tomarem, atempadamente, as devidas providências, perdendo poupanças de uma vida inteira.(http://www.esquerda.net/artigo/bes-cavaco-silva-sabia-mais-do-que-os-cidadaos-em-geral/34015)
             
     Cavaco Silva encontrava-se de visita à Coreia do Sul, quando declarou, sem qualquer hesitação, que “Os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo”, e fê-lo, porque o Banco de Portugal, sob a administração de Carlos Costa, governador desta instituição, também este, visivelmente, algo desatento ao que se passava sob a sua alçada e supervisão, como se viu, lhe tinha garantido que o BES irradiava uma saúde financeira de ferro. 
     “Portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo…-TSF”        (www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=4038266)

     Posteriormente, algo amnésico em relação ao que havia dito, quando interpelado sobre a situação do BES, afirmaria peremptoriamente que jamais se tinha referido a esta instituição bancária, durante a sua visita àquele país asiático. O seu lema proverbial, “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, falhou novamente.

  Duvidou, uma vez mais, daquilo que todo o país tem conhecimento. Em casa, na rua, nos cafés, nos transportes, em todos os meios de comunicação social, não há ninguém que não saiba que a grande maioria dos jovens portugueses, académica e profissionalmente qualificados, depois de concluir os seus cursos e formações, desacreditada da política e descrente dos políticos, tem como único objectivo a emigração. Sem esperança de empregabilidade e, muito menos, de uma justa remuneração pelo seu trabalho que lhes permita ter em Portugal uma vida digna e sem grandes sobressaltos, embora sentindo a mágoa e a revolta pela bastardia forçada a que se sentem devotados no seu país, milhares de jovens qualificados procuram e continuarão a procurar no estrangeiro o seu futuro.
      Não fora o estudo “Transforma Talento Portugal”, realizado pela COTEC e pela Fundação Gulbenkian, apontando para a insuficiente valorização do talento em Portugal ” e os portugueses, incluindo o PR, o homem que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”, jamais “desconfiariam” que 70% dos jovens, […senão mais, dizemos nós…], entre os 20 e 24 anos, não só se estão “borrifando” para os rumos da política e, sobretudo, para os políticos, que consideram, na sua maioria, corruptos e incompetentes, como veem, efectivamente, na emigração o grande objectivo das suas vidas, a única solução para organizarem carreiras profissionais e poderem constituir família.
   Com o descalabro a que o país chegou, em termos de desemprego, salários e remunerações miseráveis, salvaguardando, naturalmente, as imprescindíveis e insubstituíveis classes privilegiadas da governação e da administração pública, onde os empregos abundam… e quando não existem criam-se (boy jobs)… e os respectivos vencimentos são chorudos, apetitosos e, devidamente, acompanhados de subvenções e mordomias, e ainda há quem só acredite e se pronuncie sobre este drama pátrio ― “a fuga de talentos” e de braços ― apenas depois de se ter concluído um estudo especificamente centrado neste problema, estudo este, por sinal, prefaciado por Sua Excelência, o Senhor Presidente da República!
    Santo Deus! Que dúvida cruel, esta, que apenas se desfez perante os resultados estatísticos de um estudo tão brilhante e oportuno! Há que reconhecer que, não se tratando da descoberta da pólvora, foi efectivamente um feito “Nobel”, um trabalho notável de “inteligência colectiva” levado a cabo por cerca de 48 personalidades, todas elas, aparentemente conhecedoras da realidade mas, só agora, conscientes em definitivo da dura realidade: “fuga de talentos” e, com eles, queda demográfica, quebra de rendimentos, definhamento da Segurança Social e empobrecimento global do país.                  
     Mas o PR, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, finalmente, elucidado pela claridade da estatística, adianta a “chave do busílis”:
     “Temos, isso sim, de criar condições de atração para todos, para os que desejam ficar e para os que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar ou a vir viver para Portugal", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.”
    
     Temos?! Quem? O Governo, na pessoa do PM? A Presidência da República, na figura do atual PR, ou do próximo? O povo? A Troika que, só a sua conta, destruiu 471 000 empregos entre 2010 e 2015 ?!
     emprego.pdf) 
   
     Temos, quando?! Quando todos tiverem emigrado? Ou o projecto do “temos” visa não esta, mas a próxima geração, daqui a dez ou vinte anos?!

     “Temos”, é mais uma das suas certezas indubitáveis, ou continua a ser uma das suas raras dúvidas cruéis?! Será que alguma delas lhe tira o sono, lhe causa infelicidade ou preocupação, solidário como diz ser com a população e com a situação que o país atravessa, devassado por tantas e tão graves mazelas políticas, económicas e sociais? 
(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=376956)

Calendas Semânticas 2000
João Frada
Professor Universitário (Ph.D.)