segunda-feira, 8 de junho de 2015

UM REINO COM FUTURO, SEM SOBRESSALTOS E INCERTEZAS

Um Reino com Futuro, sem Sobressaltos e Incertezas

Feliz o reino que, em vez de um, tem dois príncipes, um Primeiro e um Segundo, a governá-lo com tanto empenho e dedicação, os quais, aparentemente, diferentes em termos de personalidade e de feitio, se têm esforçado para, em nome de uma suposta sintonia ideológico-política, poderem governar, sorte a deles, um bando de súbditos, na sua maioria, pacíficos, amorfos e incapazes de fazerem ondas.  
Um deles, mais conhecido como “Príncipe das Feiras”, depois do outro alertar que a Segurança Social do reino está em risco e de perspectivar que, uma vez mais, irão ser os pensionistas e reformados a terem de contribuir com novos cortes nas suas reformas e pensões para o equilíbrio e continuidade deste organismo, cada vez mais “inseguro” (dever-se-ia ponderar se não seria melhor designá-lo de Insegurança Social), aparece-nos a afirmar, com a maior convicção, que o “futuro” do reino, nas mãos da coligação, vai ser um mar de rosas, “sem sobressaltos e incertezas”.
O “Primeiro” não consegue perceber que nenhuma Segurança Social se equilibra sem gente a trabalhar e a descontar para o seu garante no presente e no futuro. Os empregos que diz terem sido criados, na sua maior parte, não passam de pseudo-empregos ou de subempregos de curta duração, incluindo cursos de formação e outras artimanhas para ocuparem, com “meia dúzia de horas semanais”, quem não tem trabalho, mesmo em organismos do Estado, e, comicamente, embora mal possibilitem a sobrevivência dos ditos “empregados”, são considerados, em termos estatísticos, como uma amostra evidente de “descida da taxa de desemprego” no país. É óbvio que a descida desta taxa, na opinião do Primeiro príncipe, o que se julga mais inteligente dos dois, não resulta jamais da quebra de procura de emprego nos Centros de Emprego e Formação Profissional. Não. Baixou porque tinha de baixar com a sua, mais do que eficaz, orientação governativa. Nunca se criou tanta oportunidade de trabalho neste reino… de fantasia…, diz ele, comparativamente a outros reinados. Mas, os que têm ou teriam hipótese de serem aceites como empregados, entre os 20 e os 40, na sua maioria, emigraram, ou seja, deixaram de aparecer nos ditos Centros de Emprego; partiram para outras “freguesias” mais certas, mais fiáveis e rentáveis, noutros países. Os que por cá ficaram, com idades que oscilam entre os 40 e os 65 anos, esses, no desemprego e postos a andar quer de empresas quer do próprio Estado, porque são “velhos”, tantas vezes foram bater à porta dos ditos Centros de Emprego e em busca de novas ocupações, que se cansaram e voltaram as costas. Desistiram de visitas a estes “Centros”, Vivem de biscates, de expedientes e desenrascas, pendurados nos pais, também estes, velhos, sem posses e sobrevivendo com míseras reformas, e assim irão continuando na condição de “desempregados crónicos”. Todavia, este pequeno problema não é problema porque está em vias de deixar de existir, assegura o inteligente príncipe: a taxa de desemprego está cada dia mais baixa. Que maravilha! Nunca este reino proporcionou tanto trabalho aos seus súbditos, e os dois príncipes que governam o reino nunca andaram tão felizes. E, ambos, expressam com vigor a sua satisfação: o Primeiro fez questão de apregoar, recentemente, aos sete ventos que este oásis que governam deve ser considerado, por todos, como um reino “rico” e a caminho da prosperidade…só temos, é, de encontrar esse caminho*…,não obstante a contínua sangria de pensões e reformas, não das gorduras de Estado ou das chorudas subvenções de todo o séquito governativo e dos altos cargos do reino, mas da plebe, imprescindível para equilibrar as finanças públicas e, em particular, a dita Insegurança Social.
O Segundo, para não ficar atrás, cuidou também de escolher um slogan compatível com as suas crenças e certezas e afirma, peremptoriamente, que todo o reino deve acreditar na união governativa, da qual faz parte, porque apostar nesse casamento é apostar num “futuro” risonho, feliz, abundante de empregos e bem remunerados, “sem sobressaltos e incertezas”. Que Belos príncipes que nos têm governado até agora e que, nunca se sabe, poderão continuar, nesta quase perfeita união, a defender, com unhas e dentes, tamanha felicidade entre os seus súbditos, traduzida pelo acesso ao bem-estar, ao pleno emprego, à educação, à saúde, à corrida à natalidade, altamente apoiada por toda a nobreza do reino e, finalmente, à merecida e justa reforma, depois de uma vida de descontos. A Segurança Social, com tantos contribuintes e tanto emprego, jamais virá a ficar em risco. Deixará de ser, a atual insegurança social, a única pequena mazela deste reino. Alguém é capaz de afirmar o contrário?! Acredito que não.
O nosso reino, nas mãos destes dois príncipes, só pode mesmo esperar um “futuro” promissor “sem sobressaltos ou incertezas”.   

*”Passos diz que Portugal é considerado um país rico no mundo”

João Frada
Professor Universitário (Ph.D)

Calendas Semânticas, 2000

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