quinta-feira, 20 de agosto de 2015

AVALIAÇÃO DE MÉDICOS: NOVOS CERTIFICADOS PROFISSIONAIS

Avaliação de Médicos: novos certificados profissionais

 “Médicos vão ter de fazer exames regulares para avaliar conhecimentos”

Os médicos, no setor público e privado, poderão vir a ser avaliados sobre os seus conhecimentos e capacidades técnico-profissionais, de cinco em cinco anos, por um júri constituído e designado pelo Ministério da Saúde, pela Ordem dos Médicos e por representantes das várias Faculdades de Medicina do país. A certificação das suas competências, a cargo dos respectivos arguentes avaliadores, constituirá, na opinião de José Manuel Silva, atual Bastonário da Ordem dos Médicos e de Paulo Macedo, Ministro da Saúde, a forma mais adequada de garantir à população uma saúde segura e de qualidade, prestada por técnicos dotados, responsáveis e eficientes. Inicialmente, segundo a ideia defendida pelo mesmo Bastonário e apoiada, naturalmente, pelo Ministério da Saúde, a sujeição a esta prova terá apenas um carácter voluntário. Assim, ficará ao critério de cada um tal decisão: o profissional de saúde, público ou privado, sujeitar-se-á ou não a este exame. Posteriormente, em data sine die, quando politicamente for achado conveniente, a exigência passará a ser obrigatória.
Se esta medida, claramente, discricionária, apenas dirigida a uma classe profissional, vier a ser implementada, antevemos um ambiente de guerra terrível que virá a eclodir no seio da corporação médica, o qual não favorecerá, de todo, uma melhor prestação dos cuidados de saúde médico-assistencial em Portugal. Mas, a ver vamos.
Os médicos certificados voluntariamente ou não, através de uma qualquer prova teórica ou teórico-prática, se para tal existirem estruturas e júris, com fartura, capazes de assegurarem tal avaliação, esses, podem exercer medicina. E os outros, os que porventura tropeçarem nessa prova?! Serão reenviados para reciclagem nas Faculdades de Medicina ou terão de ficar de quarentena profissional, sob a tutela do Ministério da Saúde, exercendo, porventura e apenas, funções administrativas ou de fiéis de armazém, procedendo à triagem das prendas ofertadas aos seus colegas “creditados” e, por isso mesmo, em exercício?! Para onde irão? Irão ser convidados a emigrar?
Como será, Senhor Bastonário e Senhor Ministro?!
Poderemos tentar adivinhar, desde já, quantos médicos Especialistas ou não, Assistentes Graduados hospitalares, com Mestrado, Doutoramento e Pós-Doutoramento em Medicina e Cirurgia, que hoje exercem clínica médica e cirúrgica, pública e ou privada, alguns com trinta ou quarenta anos de prática assistencial, virão a sujeitar-se a um exame desta natureza, tipo “Prova de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica exigida pelo Ministério da Educação”!
Mas, se a medida é, em si mesmo, uma exigência discutível, ela tem por objectivo conceder à população cuidados de saúde de boa qualidade, pelo menos no que diz respeito aos praticantes da arte médica. Obviamente, no que toca ao Ministério da Saúde, se ele cuidar também de garantir melhor e maior acesso aos medicamentos e não restringir tanto a lista de fármacos e produtos comparticipados, em particular os de Pediatria, como tem sido seu apanágio, então o exercício médico-assistencial poderá, efectivamente, ganhar uma outra qualidade e dimensão. Isto porque, a prática clínica não se exerce apenas com técnicos diferenciados e “certificados”,  capazes de propiciar saúde e bem-estar ao seus utentes apenas com gestos de mágica ou hipnose. Não. Os fármacos, conscientemente prescritos, a par dos sábios conselhos emitidos, são indispensáveis e o acesso a estas “armas terapêuticas” constitui um direito inalienável de todo o cidadão. O Senhor Bastonário, já agora, poderia também ter uma palavra a dizer sobre esta matéria. Melhorava, substancialmente, a possibilidade de garantir uma saúde mais segura e eficaz aos nossos pacientes, sobretudo, aos mais carenciados.
O bem-estar da população não depende, porém, apenas de praticantes de saúde. Os políticos, deputados e governantes, não são avaliados por ninguém, nem sofrem grandes repercussões pelas suas incompetências, aselhices ou erros crassos de governação, com repercussões altamente lesivas da saúde financeira, psicológica e física da população, caída no desespero e na miséria.
Os magistrados, segundo Marinho Pinto, bem conhecedor da arte jurídica, detêm “privilégios escandalosos à luz da realidade económica do país” e sofrem de um megacomplexo de superioridade profissional, não se inibindo de fazerem “uma espécie de chantagem política permanente”, nem de exercerem as suas funções com artimanhas que lhes permitam atingir os seus objectivos pessoais e corporativos: "Estão permanentemente a pôr processos, a inventar processos, a prolongar artificialmente a duração de processos para terem os políticos reféns das suas reivindicações, das suas exigências.” O ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, destaca ainda que apesar das “suas cabeças brilhantes, os magistrados portugueses, na sua maioria, não só sofrem de “falta de humildade”, como são “imaturos” e desconhecem a realidade da vida, aspetos fundamentais ao exercício da sua profissão, que deverá ou deveria pautar-se pela equidade, rigor e isenção, o que nem sempre acontece.

A par dos médicos, professores (apenas alguns, por enquanto), políticos e magistrados, alguém acha que outros profissionais, das mais diversas áreas técnico-profissionais, funcionários públicos ou não, polícias, militares, etc., não deveriam também ser sujeitos a avaliações periódicas e a certificações das suas capacidades e competências, muitas delas, que, de igual modo, põem em causa a harmonia, a segurança, o bem-estar, a condição vivencial, financeira, económica, física e psicológica das populações?!
O que acharão Vossas Excelências, Senhor Bastonário da OM, José Manuel Silva, e Senhor Ministro Paulo Macedo, disto tudo? A par dos exames que propõem aos profissionais de saúde, justifica-se também, ou não, uma avaliação geral de todos os outros profissionais, em Portugal? E quanto à avaliação do desempenho, por exemplo, dos Ministros, será que somente as eleições devam constituir bitola de aviso às falhas de competência ou de navegação governativa? Ou, se bem se recorda, Senhor Dr. Paulo Macedo, será preciso ouvirem-se protestos ou ameaças veladas dentro do Parlamento, a fim de se corrigirem algumas trajectórias governativas, em favor da saúde dos utentes do SNS, como já aconteceu?!
Gostávamos de saber.

Calendas Semânticas
João Frada

Professor Universitário (Ph.D.) da FML

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