terça-feira, 27 de maio de 2014

PRENDAS OFERECIDAS A MÉDICOS, FARMACÊUTICOS, ENFERMEIROS E TÉCNICOS, EM GERAL, FUNCIONÁRIOS DO SNS.

O novo Código de Ética que está a ser preparado pelo Ministério da Saúde prevê que todos os funcionários que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) tenham que começar a encaminhar qualquer presente que recebam para a Secretaria-Geral do Ministério da Saúde. As ofertas serão, posteriormente, doadas.
(…) 
Agora a ideia é ir mais longe e vedar a possibilidade de qualquer funcionário ficar com um presente, “independentemente do vínculo ou posição hierárquica” que ocupe. “Os colaboradores não podem solicitar ou aceitar, direta ou indiretamente, dádivas e gratificações, em virtude do exercício das suas funções, nos termos legalmente previstos”, lê-se no projeto, que acrescenta que “todas as ofertas de bens recebidas em virtude das funções desempenhadas devem ser registadas e entregues à Secretaria-Geral do Ministério da Saúde”.
Velar pela moralidade nos mais diversos setores da vida nacional e, começando, ou continuando, porque não, pela área da Saúde, esta é uma medida a aplaudir, se não fosse tão discricionária e setorial e, sob alguns aspetos, atrevemo-nos a classificar, tão ridícula e insensata. É que cai tudo no mesmo saco: desde a esferográfica, ao bloco de papel, ao cheque para compras de equipamentos, à viagem de férias, etc.
Ao evitar favorecimentos, bem como quaisquer outros processos que envolvam conluios, compromissos ou atos potencialmente fraudulentos, e ao limitar corrupção ou quaisquer outros atos ético-deontologicamente reprováveis, socorrendo-se de legislação e mecanismos policiais e judiciais capazes de os prevenir, o Senhor Ministro da Saúde pretende pôr cobro a mais alguns vícios e ilicitudes instalados na Saúde em Portugal, no fundo, aplicando mais uns “remédios santos” numa área que, na sua opinião, vem de há muito a sofrer de algumas mazelas crónicas, não destoando, de algum modo, do resto do país. A imoralidade abunda, ainda que muitos a não queiram ver e, muito menos, pretendam pôr-lhe termo. 
Visando preservar a moralidade e a ética, tal procedimento ministerial é lícito, lógico e inteligente e é um exemplo a seguir noutras áreas da Governação. Mas se a medida é, em si mesma, positiva e útil, visando assegurar transparência e honestidade na praxis médico-assistencial, corre-se o risco de, em alguns casos, tocar as raias do exagero e, voltamos a dizê-lo, do ridículo. 
O médico observa e trata os seus doentes e, nos tempos que vão correndo, na alienação, na pressa e pressão com que, constantemente, lhe espartilham o tempo disponível para uma razoável anamnese e para um criterioso exame clínico, no cumprimento de objetivos que nem sempre se identificam com um exercício assistencial humanizado, faz das tripas coração e dá de si muito mais do que o que se espera, indo muito para além do mero ato técnico-sanitário. O paciente sabe reconhecer esses valores, esses afetos, e resolve ter uma gentileza, oferecendo por cortesia ao “senhor doutor” o que para si vale ouro e se for recusado é uma ofensa imperdoável: uma galinha, um pato, um peru, em alguns casos, um caixote de batatas ou de laranjas, um bolo de mel, uma garrafa de vinho tinto ou de aguardente da sua lavra…
Mas, pelos vistos, o senhor Ministro da Saúde, cifrónica e friamente apostado em converter atos médicos em simples relações económicas, edm prestações de serviços automatizados e céleres, não parece ter dado por estes aspetos excecionais. Ou deu? 
O que nos perguntamos, ainda, é se, para além destas prendas de cariz caseiro, a esferográfica, o bloco de papel, a caixa de Viagra ou Cialis, os preservativos ou o livro com interesse técnico-científico ou literário, oferecidos pelo laboratório, devam ser também enquadrados no mesmo escalão dos cheques-oferta para viagens de férias, compra de equipamento ou, simplesmente, para compensação pecuniária por colaboração de prescrição ativa de medicamentos, fraudulenta ou não? E todos eles são puníveis por lei? E a triagem destas “prendas” será então feita a nível central, sob autoridade do Ministério da Saúde, e, preferencialmente, deverão ser doadas a instituições de beneficência? Supomos que nestas doações se incluirão também, a par dos chouriços e dos bolos caseiros, as embalagens da Viagra, de Cialis ou os preservativos... Será assim?    
A ideia geral do senhor Ministro Paulo Macedo, se forem consideradas algumas exceções, retirando do pacote de prendas alguns artigos, até é capaz de ser um ótima estratégia em termos de moralização da sociedade portuguesa e, em particular, da Saúde. Devia, era, também estender-se, e já, à classe política, toda ela, supomos, bem consciente do apreço que a maior parte do país lhe devota, tendo em conta a percentagem de abstenção nas últimas eleições. E como alterar esse status quo, podemos perguntar? Criando as condições fundamentais para prevenir o tráfico de influências e de favores, para reduzir a promiscuidade entre o setor público e o privado, limitando o risco de fraude e de recebimento de compensações pecuniárias ou de qualquer outro tipo, durante ou após o exercício de funções na vida pública, através de uma legislação que obrigue os deputados a cumprirem os seus mandatos parlamentares em regime obrigatório de exclusividade e a sujeitarem-se, depois desse exercício, a um período de nojo de cinco anos. Simples, esta medida de saneamento na vida política. Tão simples como acabar com as prendas oferecidas ao pessoal da Saúde.
Mas, curiosamente, a maioria governativa, PSD-CDS, apoiada pelo PS, chumbou no passado mês de abril os diplomas propostos pelo BE e PCP que visavam, exatamente, moralizar definitivamente parte da sociedade portuguesa: os nossos parlamentares. Começando por cima, pela classe política, a qual deveria ser a primeira a dar o exemplo, estas medidas serviriam seguramente para pôr termo às dúvidas que persistem nas mentes de tantos portugueses, crentes de que os seus políticos, em particular, os deputados da nação são suscetíveis a múltiplas “prendas” traduzidas em favorecimentos e em lucros ou compensações pelos negócios entre o Estado, que representam, e as empresas a que estão, estiveram ou virão a estar ligados. O senhor Ministro da Saúde, apostaríamos, tão preocupado com estas coisas da moral na sua área, deve ter ficado bem frustrado por ver os seus colegas de Partido darem um exemplo tão péssimo como este, do chumbo de tais diplomas tão moralizantes e construtivos, ainda que propostos por Partidos de Esquerda, identificados por linhas ideológico-políticas bem longe das suas convicções.   
Apesar desta triste realidade, alimentada pelo seu próprio Partido, o senhor Ministro Paulo Macedo, qual paladino da ética, da transparência e da moral da praxis médico-assistencial, entende que as prendas dadas por particulares ou pela indústria farmacêutica a funcionários do Serviço Nacional de Saúde devam ser objeto de apreciação prévia do seu Ministério. 
Pena é que haja dois pesos e duas medidas… sina a que, em termos de política, já estamos de certo modo habituados. 
É caso para dizer que, se uns podem ser prendados e outros não, então é motivo para lembrarmos a velha máxima: "Ou há moralidade ou comem todos".  

João Frada

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eleições Europeias em Análise

Politicamente “burro”, o povo e, sobretudo, o crente, filiado ou não nos demais partidos, comporta-se como os adeptos do clube de futebol: quer o plantel jogue bem ou jogue mal, desiludindo-o ou não, cumprindo ou falhando os supremos objetivos e promessas da temporada, quer o tenha de insultar, apupar ou assobiar quando o “jogo” não corre favorável, o clube está-lhe entranhado na alma e é nele que se revê e fixa as suas esperanças, perdoando-lhe todas as faltas e deslizes. Há, pois, sempre quem aposte nos mesmos clubes, nos mesmos “cavalos”, mesmo quando estes passam o tempo a dar coices, a manquejar, a não cumprir as tarefas que deles se esperam. A memória do povo é curta, dizem os politólogos, e por isso há sempre quem acredite.
Assim, era de esperar que, nestas ou noutras eleições quaisquer, os demais Partidos tenham sempre eleitores apostados em manter o seu clube no estrelato, na ribalta. Ainda que não ganhem o campeonato, nunca deixam de acreditar que jogaram bem. E, quando perdem, nunca é por incompetência, incapacidade ou insensatez, mas por falta de sorte. Nunca ou muito poucas vezes se interrogam, se autoavaliam, tentando apurar o que falhou.
Estas últimas eleições são, uma vez mais, a prova disso. As forças partidárias que perderam, culpam os fatores externos desfavoráveis, as agências de rating, as imposições da troika, e não conseguem discernir que, em vez de retirar privilégios e reduzir lucros a umas centenas, flagelaram a vida a milhões de eleitores, não só àqueles que sempre foram seus adeptos convictos, agora desiludidos e sem paciência para alimentarem estes futebóis, como a todos os outros que, sem grandes convicções, oscilam ao sabor dos rumos e marés, favoráveis ou não, decorrentes das respetivas políticas partidárias e da governação. Os Partidos que ganharam, esquecidos que foram e são parte do problema, mais enquanto causa do que consequência, beneficiaram do descontentamento natural do eleitorado, o qual, apesar de tudo, foi às urnas e por curta margem de votos lhe deu alguma vantagem. Também estes, agora ganhadores, não conseguem enxergar que ou mudam de políticas ou na próxima oportunidade se irão colocar o mesmo lugar de perdedores. Curiosamente, tem sido assim em quase todos os momentos eleitorais, nos quais se digladiam sempre as mesmas forças partidárias: o PSD, o CDS e o PS. E, nessa certeza, sabedores que de quatro em quatro anos se substituem rotativa e irreversivelmente, não se esforçam por mudar, por corrigir os seus erros e vícios. 
Desta vez, porém, depois de tantos anos de inércia e quase amorfismo em relação aos rumos da política, uma parte considerável do povo, considerado por alguns politólogos como politicamente burro, acordou e resolveu dar dois murros na mesa: 
O primeiro consistiu na completa negação do seu voto, não indo às urnas, pura e simplesmente, dando um sinal evidente de alheamento e rejeição em relação à política nacional. A elevadíssima taxa de abstenção é a prova disso. O segundo é bem mais significativo, para quem quiser tirar ilações dos resultados eleitorais. Cansado de demagogias, mentiras, pantominices, uma outra boa parte desse povo votou não num político profissional, mas num homem que ousa e ousou pôr a nu as mazelas da governação, as incongruências dos governantes e a falta de caráter de alguns políticos, prometendo “redignificar a democracia e o regime, que está [na sua opinião] pelas horas da amargura”. Votou em Marinho Pinto, candidato do MPT,  e elegeu-o para o Parlamento Europeu.  
A mudança parece ter-se, finalmente, iniciado. Os eternos e clássicos profissionais da política que se acautelem. A procissão ainda só agora vai no adro. O povo, seguramente, começa a manifestar alguma intolerância a albardas de marca socialista e social-democrata.   

João Frada

quarta-feira, 14 de maio de 2014

“É preciso tempo para que a sociedade e o Estado acabem com a imoralidade”

Santana Lopes – Correio da Manhã

Imoralidade, onde? 
Na Ucrânia, na Nigéria, na Síria? 
A que Estado se referia Santana Lopes? Ao nosso país?!
Aceitar esta realidade, de que em Portugal há imoralidade, supostamente, contagiando todos os níveis da sociedade, parece-nos surreal. Liminarmente, não acreditamos que haja imoralidade ou que, havendo, ela seja tão lesiva e preocupante que a sociedade portuguesa, e muito menos o Estado, sob a administração de gente íntegra, séria, honesta, isenta, incorruptível, humanista, altruísta, justa, trabalhadora e insuscetível a vícios e venalidades, precise de se agastar ou incomodar, minimamente, com um problema que não passa de um “não-assunto”. 
As imoralidades podem assumir muitas facetas e a corrupção é apenas uma delas. Mas se esta forma de imoralidade, em 2009, constituía, por exemplo, para Cândida Almeida uma séria possibilidade a não descurar e a investigar, já que, na sua opinião, “onde há poder, há corrupção”    http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1182233, a mesma Procuradora-geral Adjunta, três anos depois, chega, graças a Deus, a uma brilhante conclusão: "Portugal não é um país corrupto" e (…) existe uma "perceção" exagerada da dimensão deste crime (…), sublinhando, ainda, que o nosso país “é dos poucos Estados europeus onde se investigam "grandes negócios do Estado". (…) Afirma ainda que "Os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos”. http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2747488    
Fiquemos todos descansados. Podem abundar imoralidades, mas esta, a corrupção, caros concidadãos, não constitui qualquer risco para as nossas vidas. 
Agora, é Santana Lopes que está preocupado com “imoralidades”. Não sabemos quais, mas, pelas suas palavras, parece-nos estar seriamente virado e solidário para o combate da imoralidade. 
Durante o seu reinado de curta duração, enquanto Primeiro-Ministro, velando atentamente pela salvaguarda da justiça e da moral, a sua atuação política foi praticamente exemplar, se excetuarmos, apenas, aquele seu deslize de gestão do famigerado Parque da Feira Popular de Lisboa. Extinguindo-a, como extinguiu, desativando à volta de duzentos estabelecimentos que ali operavam, lançou na miséria e no desemprego cerca de mil pessoas, 90% das quais, jamais viriam a conseguir refazer as suas vidas. Quanto a indemnizações compensatórias, elas não atingiriam nem metade do montante calculado e exigido pelos comerciantes que ali trabalharam, alguns durante quatro décadas, entre 1961 e 2003. 
Excetuando, pois, este insignificante momento de distração na luta contra imoralidades, Santana Lopes deve ser considerado um paladino da moralidade, e aí o temos em força, talvez por lhe pesar a consciência aquele facto ou por estar, nesta altura mais sensível aos dramas humanos, dadas as suas atuais funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia, focado no problema da “imoralidade”, mazela que, na sua ótica, leva tempo a sarar mas que terá de ser atalhada pela sociedade e pelo Estado. 
Mas, já agora, onde vê ou em quem vê ele tanta imoralidade? A quem é que aponta o dedo? 
É que, à falta de uma melhor explicação, identificação ou localização desta péssima qualidade, que refere, critica e, implicitamente, reconhece como algo a banir, Santana Lopes corre o risco de lhe perguntarem se foi frente ao espelho que emitiu tal opinião: 
“É preciso tempo para que a sociedade e o Estado acabem com a imoralidade”.

João Frada

segunda-feira, 12 de maio de 2014

QUERO DIZER-TE

QUERO DIZER-TE:
Uma frase simples,
que faz parte dos nossos rituais
dos ditos repetidos e diários,
que já sabes de cor, que digo acordado e a sonhar,
que tantas vezes me sufoca, presa na garganta,
quando a saudade em meu peito se agiganta
e em sonhos cruzo o tempo, o céu e o mar,
na esperança de te ver e de abraçar,
um som que marca o ritmo dos teus dias,
que te alegra incertezas e ilusões,
que festeja aniversários,
que balsamiza tristezas e agonias,
que faz pulsar e sorrir os nossos corações,
AMO-TE.

João Frada
Lisboa 11.5.2014

sexta-feira, 9 de maio de 2014

“PASSOS AVISA: impostos podem continuar a subir”

Finalmente, Passos Coelho, mais realista, consegue perspetivar com antecipação o que até agora tem negado o tempo todo e até escamoteado, provavelmente eufórico pela Saída Limpa da Troika e, porventura, sob efeito da obnubilação causada pelas estratégias de limpeza utilizadas pela mesma, senão mesmo também alucinado pelo carnaval pré-eleitoral que o seu Partido vai preparando com tanta convicção. Dizia ele: baixa-se hoje a carga fiscal, não se aumentam impostos, o país está numa retoma formidável. No dia seguinte, caído na real, dando o dito pelo não dito, afirma com a convicção que lhe é peculiar: sobem-se a TSU e o IVA, é claro, coisa pouca,… afinal, trata-se apenas de uma pequena calibração, um ligeiro ajustamento, uma insignificante doação sanguíneo-tributária…, mas, se o Tribunal Constitucional se continuar a intrometer na trajetória das suas decisões de política fiscal, como vai sendo habitual, porque há que reduzir o défice e a dívida pública e equilibrar, rapidamente, a balança económico-financeira do país, Passos Coelho, não de orelhas caídas, mas de paciência esgotada, não vê, como não tem visto agora, outros cofres disponíveis para atingir os seus supremos objetivos de Governação. A sangria terá de continuar e, obviamente, não poupará os causadores da crise: o povo, o eterno gastador e perdulário.
Rever subvenções e privilégios fiscais de observatórios, fundações, institutos e quejandos, corrigir e controlar contratos com empresas, gabinetes e grandes escritórios de advogados, que sugam anualmente o erário público, cobrando milhões de euros, por um interminável trabalho de aconselhamento, de feitura de leis e pareceres jurídicos, rever condições de recapitalização da Banca, reanalisar contratos SWAP e PPP, mergulhar até ao fundo da cratera do BPN, apurando factos e responsabilidades e encontrar as pegadas dos milhares de milhões que se volatilizaram e repousam, algures, em contas de offshores de uma data de figurões que por aí se passeiam impávidos, incólumes e serenos, ah, isso não, não é ideia que lhe passe pela sua distinta cabeça pensante. 
O Tribunal Constitucional ou funciona segundo as suas regras, ou não. Como, lamentavelmente, este órgão não lhe favorece as intenções e decisões governativas, só lhe resta uma hipótese: meter a unha na mesma gaveta de sempre, a do povo trabalhador. Porque as outras, aquelas que se alimentam e, continuamente, são recheadas a coberto da Governação e dos grandes interesses da Política e da Finança, essas, são intocáveis. Há que as manter, hoje e sempre, gordas e opadas, porque elas são os cofres de muita gente no futuro.
João Frada

quarta-feira, 7 de maio de 2014

PORTUGAL,TROIKA E SAÍDA LIMPA

Saída Limpa, para quem?

Para a Troika, que “limpou”, pelo seu “magnífico” trabalho de reorganização dos nossos recursos humanos e económico-financeiros e pelas sábias lições também concedidas aos nossos políticos e, em especial, aos governantes, cerca de metade dos milhares de milhões que nos emprestou, em juros e comissões, com vista a salvar-nos da bancarrota e a reabilitar Portugal aos olhos dos credores internacionais e das agências de rating, autênticas máquinas mafiosas seguramente ao serviço do grande capital, deixando-nos, depois de toda a austeridade que nos foi e continua a ser imposta, no limiar do descrédito, praticamente no “lixo”, porque é este o nosso estatuto, enquanto país devedor, ou para os parasitas sarnentos que, gerindo-nos os desígnios, depois de tanta limpeza aplicada sobre os bolsos e a pele de milhões de portugueses nunca largaram, nem largarão tão depressa os seus hospedeiros, milhões de portugueses que continuam a servir-lhes de repasto? 
A cantilena tocada a toda a hora, nestes últimos dias, de uma Saída Limpa, “porque não precisamos mais de ajuda externa”, tendo em conta uma austeridade que não vê melhoras, não deixa de ser uma manobra de demagogia barata e, seguramente, pré-eleitoral. A imagem externa pode beneficiar, mas o dia-a-dia dos portugueses não verá grandes alegrias. A carga fiscal, agora mais pesada face às últimas medidas impostas: aumento da TSU, claro está, aplicada apenas sobre trabalhadores, e pelo IVA, o tal imposto que constituía a suprema bandeira do lírico Ministro Pires de Lima… ia baixá-lo, só ainda não sabe quando…, é a prova disso. Porém, para o senhor Primeiro Ministro e todo o seu séquito governativo, a Saída Limpa constitui, podemos dizê-lo, o slogan governamental mais ouvido e aplaudido, porventura também o hino mais convincentemente utilizado em termos de mentalização política. Mas, a Saída aparente da Troika, o fim da dita ajuda externa, com visitas periódicas, supomos, não tão principescamente pagas como as que se verificaram durante este últimos três anos, apenas não passa de uma Saída para uma outra Entrada: uma continuada ação de “Limpeza” monetária à população que, qual procissão flagelatória, ainda só agora vai no adro. 
As elevadas taxas de desemprego teimam em persistir; a austeridade está para durar; o poder de compra não aumentou para a grande maioria do povo, porque os seus salários, mesmo com aumentos, continuam de miséria; as falências entre 2011 e 2014 multiplicaram-se, engolindo múltiplas empresas que sobreviviam do mercado interno e não suportaram a retração do consumo e a carga fiscal, etiquetada como calibração necessária, acabou de subir através da TSU e do IVA. 
Percebemos perfeitamente o que o Governo entende por Saída Limpa, tendo em conta a situação em que nos encontrávamos junto dos mercados e dos credores internacionais, mas, apesar desta saída do programa de ajuda externa, prevista para 17 de maio próximo, determinada pela favorável trajetória de redução do défice orçamental e da dívida pública, o Estado, ao contrário do que afirmou o senhor Primeiro Ministro, durante as comemorações dos 40 anos do seu Partido, não vai tão depressa deixar de complicar a vida às pessoas.   
Apesar de tanta limpeza e saneamento, não se fez ainda, nem sabemos se o Governo terá algum dia coragem para a fazer, a tão esperada reforma estrutural do Estado, esta sim, que poderia cortar milhares de milhões na despesa pública, através da revisão de contratos SWAP e PPP, reduzindo ou cerceando fundos de capitalização à Banca, atribuindo com o maior rigor e transparência, ou abolindo mesmo, subvenções a tudo quanto é fundação, observatório, repartição, instituto, comissão, gabinete que pouco ou nada produzem em prol da sociedade e do país. E que fez a Troika nestes domínios? Nada ou quase nada. Supostamente, não lhe interessou tocar nos grandes poderes e negócios instalados. Pura e simplesmente, a Troika pode vangloriar-se de ter feito uma Saída Limpa, ou seja, não esteve para se sujar, mexendo nesta fossa.
Pois foi, não quis arriscar-se a mexer nos setores mais sujos, autênticos canos de esgoto por onde se têm escoado e continuam a escoar os dinheiros públicos, arriscando-se a fazer uma Saída incómoda e mal cheirosa.    
Se para a Troika e para todos os grandes comedores da riqueza nacional e do erário público, gente que vive e sempre viveu, direta ou indiretamente, à conta do Estado,… e tem sido tanta…, a Saída foi e é Limpa, porque neste arrastão se limpou muito mais do que se devia dos bolsos da grande maioria dos portugueses, os mais pobres e mais vulneráveis, para estes, que trabalham e se esfolam vivos para sobreviverem, a Saída não foi nem é Limpa, mas Porca, tremendamente Porca.
 João Frada

quinta-feira, 1 de maio de 2014

NO RESCALDO DAS COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL

“O PROBLEMA É DELES”…e foi e será sempre deles.
Mas, se o problema não fosse DELES, Ela e Eles e todos os outros que, à pala DELES, se instalaram no poder e, desde há quarenta anos, têm vindo sucessivamente a viver à conta disso, mamando nas tetas do Estado…que já foram úberes mais fartos e sem qualquer restrição de acesso…, não seriam quem são, não fariam o que fazem, não estariam onde estão, não gozariam o que gozam, não opinariam o que opinam, não teriam acesso a empregos em part time tão bem pagos, não teriam oportunidade de dar azo a tanta arrogância e sobranceria, não mal governariam como governam, não diriam as asneiras que dizem nem emitiriam considerações toscas e broncas como aquela de “O PROBLEMA É DELES”. Mas, vindo de quem veio, esta última boca foleira, não passou de mais um reflexo do “inconseguimento (…) [sentido por esta eminente figura, desajustada do] centro de decisão fundamental (…) [eventualmente correspondente] a uma espécie de nível social frustracional derivado da crise”.
Se não fosse a intervenção dos Capitães, o derrube do regime, em 1974, ainda que inicialmente não tivesse sido concebida senão para lhes garantir privilégios e melhores condições de vida, aos ditos “Capitães”, bem como para os libertar da tão cansativa e desgastante “guerra do Ultramar”, nem ELES nem ELAS, sobretudo os pertencentes a castas especiais, teriam direito a reformas após 16, 12 e mesmo 10 anos de Função Pública, como é e tem sido o caso dos imprescindíveis e insubstituíveis magistrados do Tribunal Constitucional. Curiosamente, foi exatamente desta instituição, que se acabou de aposentar uma jovem figura, chorudamente prendada com uma reforma que, a maioria dos portugueses, incluindo os “Capitães de Abril”, jamais poderão sonhar. E ainda ousa dizer que “O PROBLEMA É DELES!”
A extinção da ditadura que caracterizou o Estado Novo, durante quatro décadas, não passou, para muitos socio-politólogos, de um feliz acidente de percurso. Apesar da considerável imaturidade política dos responsáveis pelo golpe militar, as Forças Armadas envolvidas nesta ação agiram adequadamente e puderam depor, praticamente, sem derramamento de sangue, o Governo Marcelista. O regime caiu, e tudo o que lhe estava ligado, como um baralho de cartas.     
O regime deposto, para além de estar assente em “pés de barro”, fora apanhado desprevenido. 
ELES, os “Capitães de Abril”, pretenderam resolver os seus problemas mais imediatos, em particular, os relacionados com a guerra colonial e com a continuidade da presença portuguesa em terras de África. Na pressa e no desprendimento, os capitães revoltosos não só fizeram aflorar das suas armas cravos em vez de balas, num gesto magnânimo de pacificação da sociedade portuguesa, como não cobiçaram o poder político, como tantas vezes tem acontecido noutras partes do Mundo, em especial, em África e na América Latina. Os civis tomaram conta do poder e, ao longo de décadas, ardilosa e inteligentemente, foram criando leis, privilégios e mordomias constitucionalmente alicerçados, como convém em Democracia, à medida dos seus supremos interesses e objetivos pessoais e profissionais. Se não tivesse sido essa a decisão dos “Capitães de Abril”, que lhes pareceu na altura a mais sensata e cívica, de colocar nos ombros dos civis, homens da política, a governação do país, muitos dos “vampiros” contemporâneos ao 25 de Abril de 74, convictos “Salazaristo-Marcelistas”, alguns, pidescos e olheiros do regime, que por aí ainda circulam e continuam à sombra do poder, engordando à conta do Regime, agora democrático, não teriam tido tanta sorte. E “o problema deles e delas” poderia ter sido bem mais complicado ou nem sequer existir…dependendo da solução radical e definitiva assumida nessa época. 
Os problemas e interrogações do país, decorrentes do reconhecido “nível social frustracional derivado da crise”, têm-se avolumado e, tal como referia, recentemente, um velho dinossauro da política, os protestos agora foram assim, mas na próxima poderão ser piores… e oxalá que sejam, rematou o mesmo.
Por isso, ainda há alguém que pense que “O Problema é[ apenas] DELES?! 

João Frada