Politicamente “burro”, o povo e, sobretudo, o crente, filiado ou não nos demais partidos, comporta-se como os adeptos do clube de futebol: quer o plantel jogue bem ou jogue mal, desiludindo-o ou não, cumprindo ou falhando os supremos objetivos e promessas da temporada, quer o tenha de insultar, apupar ou assobiar quando o “jogo” não corre favorável, o clube está-lhe entranhado na alma e é nele que se revê e fixa as suas esperanças, perdoando-lhe todas as faltas e deslizes. Há, pois, sempre quem aposte nos mesmos clubes, nos mesmos “cavalos”, mesmo quando estes passam o tempo a dar coices, a manquejar, a não cumprir as tarefas que deles se esperam. A memória do povo é curta, dizem os politólogos, e por isso há sempre quem acredite.
Assim, era de esperar que, nestas ou noutras eleições quaisquer, os demais Partidos tenham sempre eleitores apostados em manter o seu clube no estrelato, na ribalta. Ainda que não ganhem o campeonato, nunca deixam de acreditar que jogaram bem. E, quando perdem, nunca é por incompetência, incapacidade ou insensatez, mas por falta de sorte. Nunca ou muito poucas vezes se interrogam, se autoavaliam, tentando apurar o que falhou.
Estas últimas eleições são, uma vez mais, a prova disso. As forças partidárias que perderam, culpam os fatores externos desfavoráveis, as agências de rating, as imposições da troika, e não conseguem discernir que, em vez de retirar privilégios e reduzir lucros a umas centenas, flagelaram a vida a milhões de eleitores, não só àqueles que sempre foram seus adeptos convictos, agora desiludidos e sem paciência para alimentarem estes futebóis, como a todos os outros que, sem grandes convicções, oscilam ao sabor dos rumos e marés, favoráveis ou não, decorrentes das respetivas políticas partidárias e da governação. Os Partidos que ganharam, esquecidos que foram e são parte do problema, mais enquanto causa do que consequência, beneficiaram do descontentamento natural do eleitorado, o qual, apesar de tudo, foi às urnas e por curta margem de votos lhe deu alguma vantagem. Também estes, agora ganhadores, não conseguem enxergar que ou mudam de políticas ou na próxima oportunidade se irão colocar o mesmo lugar de perdedores. Curiosamente, tem sido assim em quase todos os momentos eleitorais, nos quais se digladiam sempre as mesmas forças partidárias: o PSD, o CDS e o PS. E, nessa certeza, sabedores que de quatro em quatro anos se substituem rotativa e irreversivelmente, não se esforçam por mudar, por corrigir os seus erros e vícios.
Desta vez, porém, depois de tantos anos de inércia e quase amorfismo em relação aos rumos da política, uma parte considerável do povo, considerado por alguns politólogos como politicamente burro, acordou e resolveu dar dois murros na mesa:
O primeiro consistiu na completa negação do seu voto, não indo às urnas, pura e simplesmente, dando um sinal evidente de alheamento e rejeição em relação à política nacional. A elevadíssima taxa de abstenção é a prova disso. O segundo é bem mais significativo, para quem quiser tirar ilações dos resultados eleitorais. Cansado de demagogias, mentiras, pantominices, uma outra boa parte desse povo votou não num político profissional, mas num homem que ousa e ousou pôr a nu as mazelas da governação, as incongruências dos governantes e a falta de caráter de alguns políticos, prometendo “redignificar a democracia e o regime, que está [na sua opinião] pelas horas da amargura”. Votou em Marinho Pinto, candidato do MPT, e elegeu-o para o Parlamento Europeu.
A mudança parece ter-se, finalmente, iniciado. Os eternos e clássicos profissionais da política que se acautelem. A procissão ainda só agora vai no adro. O povo, seguramente, começa a manifestar alguma intolerância a albardas de marca socialista e social-democrata.
João Frada
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