quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ALERTA AO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE

“A Propósito dos Broncodilatadores e das Associações Farmacológicas”

Em Pediatria, em particular, mas também em idosos já com grandes limitações inspiratórias, nomeadamente por falta de elasticidade torácica, quando se trata de inspirar profundamente qualquer fármaco, seja ele um broncodilatador ou um corticóide, há necessidade de utilizar a Câmara Expansora (Aero-chamber), uma vez que o fármaco penetra mais fácil e espalha-se mais eficazmente a nível das vias respiratórias inferiores, gerando também o efeito que se pretende mais rapidamente. Assim, neste tipo de doentes, a Câmara Expansora é preferível aos Aerossóis. Esta utilização é, de resto, bastante frequente em unidades de urgência pediátrica, pela sua fácil aplicação e pelos efeitos imediatos que se pretendem. Anedoticamente, porém, quando o médico, fora do contexto hospitalar, prescreve o Brometo de Ipratrópio (nome comercial - Atrovent) assistimos a este paradoxo:
―  Sob a forma de ampolas, para uso em aerossóis, o produto é comparticipado.
― Tratando-se, exatamente, do mesmo produto, sob a forma inalatória (...e atrevemo-nos, de novo, a citar o nome comercial - Atrovent PA inalador), recomendado de uso direto, bucal, para quem consegue inspirar com eficácia, ou recorrendo a Câmara Expansora, como é o caso das crianças pequenas, o fármaco não tem direito a comparticipação.
Esclareça-se, para quem não saiba, que o Brometo de Ipratrópio não se trata de nenhuma “associação”, não é um composto farmacológico.
A título de explicação mais inteligível para quem, por falta de conhecimentos técnicos, não perceber muito bem o que aqui escrevi, imaginem o seguinte:
Utopicamente, um Ministério qualquer, que poderia ser o da Indústria, em acordo com o da Saúde, resolvia assegurar comparticipações na compra de Açúcar amarelo, mas apenas se o açúcar fosse embalado em sacos de papel. Se o mesmo Açúcar amarelo aparecesse à venda no mercado, mas embalado em sacos de plástico, não tinha direito a comparticipação. Era ou não era uma brilhante e inteligente decisão governamental?!
Se alguém quisesse ser irónico, diria que até poderia haver alguma razão de fundo, por exemplo, alguma intenção ambiental, defendendo o uso de papel reciclado. Mas, neste caso do Brometo de Ipratrópio (Atrovent PA, sob a forma de inalador ou de ampolas), não acreditamos que haja ou tenha havido qualquer negociação desta natureza. E a diferença de classificação deste fármaco, em termos de comparticipação, existe sem qualquer justificação plausível.  
Sabendo nós que o Senhor Ministro não tem obrigação de conhecer estes fármacos, só poderemos pensar que os seus Conselheiros na área da Saúde, desde Secretários de Estado aos seus contactos mais “avisados” na Infarmed, só podem mesmo andar a dormir. Poupar, sim, mas ter algum bom senso nas decisões e medidas de contenção económica. Se acaso acharem que o broncodilatador em causa (Brometo de Ipratrópio - Atrovent) não deve ser comparticipado, bem, então cortem a comparticipação definitiva a todas as "formas de apresentação" do referido produto, já que acabarão por poupar muito mais, retirando mais um da lista de comparticipados. Agora, atribuindo comparticipação a uma das formas (Ampolas) e deixando o Inalador de fora (Atrovent PA), tão útil em Pediatria e nos doentes mais idosos, é que nos parece uma total falta de senso e coerência.
Aqui fica a minha opinião...se é que adianta alguma coisa. 

João Frada

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Rumo Das Nossas Vidas

O rumo das nossas vidas
meio excêntricas e loucas
baloiçando num vaivém
é como o vento que sopra
e não nos diz de onde vem

O rumo das nossas vidas
fez-nos partir e voltar
como qualquer passarinho
que sem destino nem rotas
poise lá onde poisar
nunca se esquece do ninho

João Frada

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

PORTUGAL TEM ESPERANÇA!?

Estando o país melhor e não pior, como defendeu o Primeiro-Ministro, não obstante os diversos alertas ouvidos durante este Congresso, apontando algumas mazelas crónicas que, certamente, ainda irão flagelar a maior parte da sociedade portuguesa durante mais uns largos anos, esta frase slogânica (Portugal Tem Esperança), a ser tomada como uma afirmação, convicta e inquestionável, traduzindo exatamente aquilo que o PSD pretende, isto é, a mensagem entusiasmante de que há que ter esperança, nem que seja num futuro longínquo, não só carece da devida acentuação através do necessário ponto de exclamação, como traduz de uma forma implícita que nem tudo vai bem. Recomenda-se esperança a quem não a tem ou a quem, mergulhado na dor, no sofrimento, na miséria, na doença, nas dificuldades, no desemprego, na frustração de ver os seus a passarem fome, utopicamente, acredita que algum dia o paraíso de poucos se abrirá também para si. É este o ópio que a democracia podre tem para oferecer aos seus consumidores, o "povo burro e politicamente analfabeto”, sempre esperançados de que o seu dia, luminoso e feliz, há de chegar. Confiem, tenham esperança, não desesperem, esperem, que não tarda…
A mesma frase, seguida de um ponto de interrogação, dadas as tantas interrogações que se colocam, vindas de dentro e de fora do PSD e do Governo, sobre o futuro incerto que se avizinha depois de 18 de maio próximo, determinado pela incerteza do comportamento dos mercados e das agências de rating, pela flutuação do dólar e da economia americana, pela eventual subida do preço do petróleo, pelas decisões emanadas do BCE e do FMI, se entre a minoria que governa não gera pruridos de pontuação, uma vez que a mesma minoria está sempre mais do que escudada em relação ao “rigor gramatical” dos textos que executa, tirando um ou outro erro corrigido pelo Tribunal Constitucional, sempre compensados pelos planos B, seria, quanto a nós, mais coerente. 
Os que vivem bem e nunca sentiram, nem hão de sentir dificuldades, esses, não se incomodarão, minimamente, de colocar tal ponto de interrogação, porque sabem que o futuro nunca deixará de lhes sorrir e, para eles, enquanto minorias privilegiadas, sempre houve e continuará a haver esperança de mais proventos, neste Portugal ao seu serviço.
Para aqueles que perderam a esperança de ver um país melhor, a grande maioria, aguardando que num futuro qualquer, mais ou menos longínquo, a crise e a austeridade terminem ou aliviem e, finalmente, a felicidade e o bem-estar, como um simples raio de sol, venham iluminar as suas vidas, crentes na boa vontade, na honestidade, no desvelo, na retidão e no esforço de governação da minoria em que quer acreditar, ainda que com tantas reticências, o ponto de interrogação, à frente do “Portugal Tem Esperança”, seria certamente a pontuação mais coerente.

João Frada

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O BALANÇO DO CONGRESSO DO PSD

Todos, ou quase todos, fizeram questão de lá estar, incluindo aquelas ovelhas negras da família que, estes últimos tempos têm balido fora do rebanho ou que, pelas suas cabriolices foram convidadas a experimentar outros pastos e “Relvas”. Mas, porque era uma reunião de família e porque esta tem obrigação de acarinhar os filhos pródigos e de compreendê-los em todas as suas vicissitudes e deslizes, e perdoar-lhes todas as venialidades, todos acabariam por sorrir, bater palmas, dar palmadinhas nas costas uns dos outros, achar piada às piadas e palhaçadas deste e daquele, ainda que nem sempre com grande convicção. Porém, o que conta é a impressão global, a fotografia, sobretudo aquela que se pretende dar para o exterior, para a oposição, para os media, e, com a televisão em cima, havia que dar um ar democrático e plural ao comportamento e ao figurino geral deste congresso. A imagem que passa é que fica. Há que preservar a identidade da família. E foi isso que aconteceu. Até se enviaram abraços para a última ovelha expulsa do rebanho, não por sofrer de qualquer zoonose grave, mas porque balia demais e algo desafinada.
Entre os oradores, uns foram premiados com palmas, porque usaram de humor e de ironia para exporem as suas ideias e convicções e justificarem que a sua presença, ali, apesar de decidida em cima da hora, não encerrava nenhum pragmatismo, nenhuma intenção pessoal, nenhum objetivo que se pudesse confundir “com fazer-se ao piso” motivado por qualquer conveniência pessoal, e apenas motivos de paixão justificaram tal decisão. Outros receberam sentidos aplausos, porque conseguiram através da emoção coletiva apelar ao sentimento e ao espírito de solidariedade social, chamando a atenção para as graves situações de miséria e fome geradas pela crise, nas quais se encontra, indubitavelmente, uma grande maioria da população. E deram graças a Deus pela possibilidade que tiveram e têm, enquanto dirigentes de instituições ao serviço da população mais carenciada, de reconhecerem as situações dramáticas que se vivem e avolumam diariamente e, para as quais, o seu Partido (PSD) e o Governo parecem não ter soluções imediatas.    
Todos acabariam por pôr, com maior ou menor capacidade diplomática, para não ferir o grande Líder, o dedo nas principais feridas da nação.
E à pergunta: “O país está melhor ou está pior?”, ninguém se atreveu a responder com convicção absoluta e de maneira inconfundível. Rodearam, como puderam, a questão, dando uma no cravo, outra na ferradura e deixaram certezas e incertezas guardadas no mesmo saco.
Nas entrelinhas, porém, percebeu-se bem qual a resposta a esta pergunta crucial:
 Os mais jovens não veem os seus ideais realizados, porque vegetam no desemprego, têm de emigrar ou, teimando em se manterem no país, auferem magros vencimentos que mal lhes dá para sobreviverem. Os mais velhos, que sonharam vir a realizar os ideais que o 25 de abril lhes trouxe, não só não veem realizados nenhum dos seus sonhos, como observam, também, a destruição das suas certezas.
Desemprego e subsequentes precaridade, miséria e fome são o retrato que mais se vai “flashando” por todo o país. É preciso atalhar rapidamente esta calamidade que ameaça flagelar cerca de 86% por cento da população, mas o maior Partido do Governo, não parece ter possibilidades de encontrar soluções rápidas para estes males.
Um dos oradores, classificando a saúde como um bem supremo a preservar, considerou inconcebível que um familiar seu, vivendo a alguns quilómetros de Lisboa, sentindo-se doente, tenha esperado mais de uma hora por um serviço de transportes de emergência. Apontava este caso como uma falha do Sistema Nacional de Saúde. Por fim, diria mesmo que o referido doente tinha sido seu pai. E afirmaria: “Isto não pode acontecer”.
(…)
É deprimente “só de imaginar as pessoas que vivem no chamado interior, longe de onde há equipamentos de saúde e meios de transporte (…)”, e de pensar na aflição que não deverão sentir, quando precisam de apoios desta natureza e passam por uma situação idêntica.
(…)
 "A saúde não pode ser encarada da mesma maneira. Sempre que é preciso que algum cuidado de saúde para garantir uma vida esteja próximo, ele tem de estar próximo e tem de estar disponível, não pode ser apanharmos a camioneta para irmos centenas de quilómetros como passamos a ir para um tribunal nos termos da organização judiciária que está a ser feita. O primeiro dos bens é o da saúde, o primeiro e o mais importante, como sabemos".
Este orador analisou o estado da Saúde, como é óbvio, durante o seu Governo. Será que esta nota contribui para que o país esteja, efetivamente, melhor?
Nem tudo está bem, ouviu-se também dizer. Mas, há sinais positivos: diminuiu o défice, a balança comercial e de pagamentos estão mais equilibradas, há uma melhor cobertura do Estado em muitas coisas … lembrava um dos oradores.
Porém, … diria o mesmo orador… os sinais de melhoria não vão surgir, à mesma velocidade, para todos os portugueses. E ainda vão demorar muito tempo a chegar.
Esta certeza de diferentes velocidades, apontada por um dos oradores, nem precisaria de ser lembrada, já que nem melhorias nem piorias tocam os bolsos dos portugueses à mesma velocidade. Pondere-se na Reforma Estrutural do Estado, que está por fazer, poupando aqueles que mais desbaratam o erário público e que mais ganham, pesando à Fazenda Pública, e na sangria tão célere que os Governos sucessivos, o atual e os anteriores, se apressaram a impor aos que menos têm. A velocidade e a ganância com que se tem ido e continuará a ir ao bolso dos portugueses não é nem irá ser, seguramente, a mesma. Nisso, este orador tem toda a razão.
Como conclusão destas interessantes intervenções, pareceu-nos que todos estiveram de acordo: O país não está nem bem nem mal de todo. Quem está bem, é capaz de não ficar pior. Quem está mal, não verá melhoras tão depressa.
Será que a visão pessimista da maioria dos portugueses, perante a crise e a austeridade que teimam em persistir, senão mesmo a tornarem-se mais graves, resulta da nossa tendência mórbida e destituída de qualquer sentido humorístico-irónico, determinada, porventura, pela falta de uma consciencialização política de cariz anglo-saxónico ― como lembrava um dos oradores ― , ou somos um país incapaz  de encarar com otimismo os sinais indicadores de que estamos a caminho do “Milagre Económico”?  O dia 17 de maio próximo, ou 18 de maio, para os de reação mais tardia, atendendo às tais diferenças sensoriais em relação a melhorias, a Troika estará de partida. Então isto não é um sinal positivo?
O país está melhor ou estará pior nesse dia?
Pois comemore-se com champanhe esta data, como faz questão de afirmar o Governo, porque é uma data a assinalar, ainda que António José Seguro, pessimista, meio perdido e sem rumo certo ― como dizia um dos oradores ― ache o contrário. E os que não puderem comemorar com esta bebida fina, de preferência de marca nacional, pois que bebam cerveja, vinho tinto, nem que seja fabricado a martelo, ou água, que as barragens estão cheias e temos fartura. Mas festejem, porque estamos melhor. Obviamente, que “essa melhoria, essa saída da crise não vai ser igual para toda a gente”, como dizia um dos brilhantes oradores. Mais uns cortes aqui e acolá, mais uns decréscimos, coisa pouca, nos vencimentos, nas reformas e pensões, e quando a dita saída da crise vier, daqui a uns anos, logo se vê.
Até lá, não caiamos no martírio da triste sina depressiva e pessimista que nos caracteriza … a não ser, claro, quando se trata de cantar o nosso fado, triste e magoado, mas indelével símbolo da nossa imaterialidade musical, anímica e sentimental.
Sendo mais britânico e, seguindo o conselho de um dos oradores do Congresso, que considera o célebre humor anglo-saxónico quase terapêutico, atrevemo-nos a comentar, à laia de conclusão:
A vida é bela, a política é que dá cabo dela.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

“REMÉDIO SANTO”

(Carta Aberta ao Senhor Ministro da Saúde)

Senhor Dr. Paulo Macedo
Digníssimo Ministro da Saúde 

Tiro-lhe o meu chapéu, nem que seja por segundos…melhor dizendo, a boina basca que uso durante o inverno a fim de “preservar a moleirinha” de mudanças de temperatura e fugir às gripes…e atrevo-me a dizer-lhe que a sua decidida prescrição e aplicação do “Remédio Santo” lhe confere a minha admiração. O senhor, mau grado algumas falhas verificadas nas estratégias vacinais do inverno 2013-2014, revela-se um bom Ministro. Digo-o sem ironia, com convicção, mas, acredite, poderia ser ainda muito melhor! Sei que a minha opinião nem adianta nem atrasa nas suas decisões e, seguramente, também não o irá deprimir, minimamente, pelo sentido crítico que ela possa encerrar. Todavia, enquanto cidadão, entendi expressar-lhe publicamente a minha franca opinião.
Aplaudo o seu trabalho de “saneamento” na Saúde.
Pondo termo a negócios fraudulentos, desperdícios e maus gastos, suprimindo vícios instalados, punindo severamente, e sem qualquer negociação ou contemplação, os mafiosos que lesam o Estado, ou seja, quem rouba e prejudica todos os outros concidadãos honestos e cumpridores, o senhor Ministro presta um bom serviço ao Governo e ao país.
Porém, Vossa Excelência, após este esforço de gestão ministerial dedicado, cuidadoso e tão profícuo a que se propôs, através das medidas de redução de despesa, retenção e poupança resultantes da correção de mazelas crónicas e depauperantes em todos ou quase todos os serviços de saúde do país e da liquidação de mecanismos viciosos e fraudes que não só não dignificam o exercício da medicina, enquanto prática assistencial, como lhe limitam ou esvaziam mesmo os recursos destinados a quem dela necessita, na real condição de doente, bem poderia ponderar em canalizar algumas migalhinhas, do muito arrecadado, para apoio às faixas etárias mais jovens, isto é, para a Pediatria. 
Sabendo Vossa Excelência que a demografia do país está em grave queda, será que o senhor Ministro não gostaria mesmo de ficar lembrado, orgulhosamente, não só como o “Saneador” da Saúde ou o “Salvador” do Serviço Nacional de Saúde, mas também como o “Pai” da natalidade em Portugal, possibilitando definitivamente a comparticipação alargada à alimentação láctea, de leites e papas, aos artigos de higiene infantil, aos fármacos mais usuais, xaropes, vitaminas, vacinas orais e injetáveis, ainda não integradas como noutros países europeus e americanos no programa nacional de vacinas, algumas delas bem caras, por sinal?! 
Os pais, jovens com empregos precários ou mesmo sem emprego, quantas vezes “pendurados”, tal como os seus filhos, nas magras reformas e limitadas ajudas familiares concedidas, sobretudo, pelos avós, veem-se gregos para sobreviverem, senhor Ministro da Saúde, quanto mais para comprarem, sem o mínimo de comparticipação, a maior parte dos medicamentos e produtos diariamente consumidos pelos filhos!
Paradoxalmente, senhor Ministro, muitos dos mesmos medicamentos a que nos referimos, quando se trata de formas de apresentação e concentração destinadas a adultos, têm direito a comparticipação e a subsequente redução de custo, beneficiando o utente; quando se destina a uso pediátrico, habitualmente, sob a forma de xaropes, gotas ou solutos, não têm o mínimo de apoio ou comparticipação. É esta a estratégia da Saúde e do seu Governo para o apoio das jovens famílias portuguesas, já de si tão desmotivadas a terem filhos, face à atual crise económica e à falta de estímulos a todos os níveis, vencimentos baixos, empregos precários e perspetivas de vida pessoal e profissional sem grandes horizontes? 
Vemos Vossa Excelência preocupado com os idosos, sobretudo, com as condições de higiene e assistência clínica prestada por médicos e enfermeiros, nos lares em que residem, e essa nota governativa merece, como é óbvio, um grande aplauso. Mas, a sociedade portuguesa não se deva confundir apenas com as realidades geriátricas, embora, pelo andar da carruagem, se ninguém vier a reverter essa fisiologia populacional, o nosso destino para lá caminhe a passos largos. O mundo das crianças merece também algum incentivo. E, senhor Ministro da Saúde, a meu ver, Vossa Excelência e o seu Governo parecem andar arredados desse mundo.    .  
A par de Albino Aroso, saudoso colega com quem pude privar algumas vezes, considerado o “Pai” do Planeamento Familiar, e de António Arnaut, prestigiada figura política, considerado como “Fundador” do Sistema Nacional de Saúde, o senhor Dr. Paulo Macedo, digníssimo Ministro da Saúde, poderia, se quisesse, vir a ter um papel preponderante na criação e implementação de uma das estratégias mais urgentes e fundamentais no domínio da saúde em Portugal: estímulo à natalidade e apoio à infância. As comparticipações e os eventuais apoios concedidos, quer em termos de aquisição de alimentos e artigos de higiene quer na compra de medicamentos, seriam o melhor “Remédio Santo” que, alguma vez, algum ministro da Saúde poderia disponibilizar a todas as jovens famílias portuguesas. 
Os pais agradecer-lhe-iam, as crianças também, e os portugueses não lhe tirariam apenas o chapéu ou a boina, como eu. Contrariamente aos apupos e vaias que muitos dos seus excelsos colegas vão recebendo diariamente, em todo o lado, a si, se viesse a ter essa ousadia, de ser o arauto do rejuvenescimento demográfico, no papel de “Protetor” da natalidade e da infância, aplaudi-lo-iam de pé, nem duvide, Senhor Ministro.
Convidamo-lo a refletir sobre este tema.

João Frada

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Milagre Económico” do Senhor Ministro da Economia

O senhor Ministro da Economia, Pires de Lima, o único caso até agora que se conheça, dentre as excelsas figuras que nos governam crentes que “jamais se enganam e raramente têm dúvidas”, retratou-se em público por ter embandeirado em arco e feito declarações que, ele próprio, considerou demasiado exageradas e otimistas sobre a situação económica do país. E recuou da sua pomposa afirmação, admitindo ter tido um excesso de linguagem quando falou de “Milagre Económico”. As empresas, essas sim, merecem rasgados elogios por serem grandes obreiras da recuperação económica, ao lado da dupla parceria Estado-Governo, dizia Pires de Lima. 
Na verdade, no que toca a exportações, somos um dos países da zona euro que mais temos dinamizado este setor e, através desse esforço, tem sido possível equilibrar não só a balança externa, reduzindo a dívida pública e o défice brutal em que estávamos mergulhados, como dando sinais indicadores aos credores internacionais da enorme capacidade de revitalização do mercado produtivo e, bem entendido, da vontade firme de sair da crise. 
Os senhores Primeiro-Ministro e Vice-Primeiro Ministro, entre outros, deveriam copiar esta atitude de humildade, ainda que forçada ou não convicta, tendo em conta a capacidade que ambos possuem, enquanto políticos natos, de dizerem o que não sentem, de sentirem o que não pensam, de chorarem de felicidade e de rirem da tristeza, como dá para ver quando os observamos sorridentes, bem-dispostos e gargalhantes enquanto debatem, discutem e analisam quais as formas mais sofisticadas de contornar a barreira do Tribunal Constitucional para mais uma taxa, um imposto ou um contributo a acrescentar à enorme carga tributária infligida aos portugueses.
Na verdade, o senhor Ministro da Economia, num rasgo que acreditamos ter sido de total sinceridade, sem deixar de elogiar o aumento considerável das exportações, enquanto marca positiva da atual governação e catapulta da economia, reconheceu implicitamente que o país não pode esperar sair da crise apenas apoiado neste setor. 
As exportações contribuem para minimizar os danos de imagem económica e financeira do país, favorecendo as relações de Portugal no domínio macroeconómico e, ao mesmo tempo, asseguram às empresas e aos recursos humanos envolvidos capital, segurança e continuidade laboral. Porém, nenhuma nação vive apenas de exportações e a grande maioria da população em nada beneficia dos bons resultados obtidos com o desenvolvimento deste setor. Um corpo sem braços, sem pernas, sem coração, sem alma, dificilmente se levanta. Não queiramos acreditar, como o senhor Ministro da Economia também não quis, que só dispondo de um bom braço a funcionar, neste caso, o setor das exportações, vamos entrar na felicidade suprema e sair da tremenda crise em que vivemos.  
Produz-se para o exterior em grande escala, é certo, mas cá dentro a economia estagnou porque o desemprego, os baixos salários, congelados e completamente desfasados da crescente inflação anual, e as magras reformas e pensões, continuamente sangradas e reduzidas em nome de uma salvação nacional, para a qual os mais ricos pouco contribuem, não geram uma dinâmica económica digna de registo. 
Segundo as projeções do Banco de Portugal (para o período 2013-15), o elevado endividamento dos vários setores institucionais, o nível ainda relativamente baixo das qualificações da população ativa e a forte segmentação do mercado de trabalho, que promove uma longa duração do desemprego e uma elevada rotação de alguns grupos de trabalhadores, no seu conjunto, constituem sérios entraves a essa recuperação interna. Esperar que as famílias possam propiciar aos seus filhos melhores qualificações, ao olharmos o que se passa a nível das universidades, quando milhares de estudantes desistem dos seus cursos por incapacidade de pagamento de propinas, por diminuição drástica de bolsas de estudo e de apoios de toda a espécie, incluindo os destinados à investigação, parece-nos uma autêntica utopia. Mas o Banco de Portugal, ao falar de qualificações, ter-se-á esquecido de que aqueles que emigram e emigraram têm qualificações a mais, reconhecidas e bem-vindas pelos demais países com porta aberta a tanta juventude qualificada. Pelos vistos, o desemprego deste enorme contingente não se fica a dever a falta de qualificação. Ou fica? 
Aqueles que não emigraram, e que apostaram uma vida inteira na qualificação profissional, com exceção dos adjuntos e assessores dos nossos Ministros, ganham miseravelmente e, muitos deles nem disso se podem queixar, porque estão no desemprego. Paradoxalmente, como ouvimos ainda ontem dizer num programa televisivo, em alto e bom som, a António Arnaut, é uma perfeita anedota constatarmos que qualquer jovem licenciado adjunto ou assessor do Primeiro Ministro aufere melhor vencimento do que qualquer profissional de saúde, académica e cientificamente, altamente qualificado. É esta a noção apurada que Passos Coelho terá de justiça, disciplina orçamental, equidade e prémios de competência, não duvidamos.  
Com qualificações ou sem elas, o desemprego persiste, porque a cartilha política do atual governo tem sido e parece que continuará a ser a de apostar nas exportações. Se estas servissem para minorar a carga tributária, descida de IVA e IRS, não apenas temporariamente em 2015, com objetivos estritamente eleitoralistas, como dá para adivinhar pela conversa demagógica de Paulo Portas, mas definitivamente, então acreditaríamos que o Milagre Económico de Pires de Lima viria mesmo para ficar. Mas até agora somente observamos austeridade, disciplina orçamental e sangria tributária flagelando, impiedosamente, sempre os mesmos.     
Enquanto o país apenas se apresentar como um gentleman bem-falante, bem aceite e bem vestido por fora, mas doente, fragilizado e canceroso por dentro, não devemos ter grande orgulho nem manifestarmos tanto otimismo perante os rumos favoráveis “da nossa trajetória”, parafraseando o senhor Primeiro-Ministro. 
É melhor acautelarmo-nos, porque o país está coxo, maneta, sem ânimo, com graves arritmias sociais e funcionais. E pode colapsar. 
Ninguém vos pede que aparenteis desolação ou luto, perante a miséria que grassa à vossa frente, mas seria melhor, senhores ministros, dosearem o vosso otimismo, sempre tão exuberante, e serem mais sóbrios nas vossas atitudes, sobretudo, mais realistas…como deu mostras, ainda que incipientemente, o senhor Ministro da Economia. 

João Frada

          

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Reflexão I: “PENSO, LOGO EXISTO”

“Penso, logo existo”, afirmou o filósofo René Descartes.
Nesta ótica filosófica, a possibilidade de pensar, para qualquer cidadão, define-lhe e garante-lhe a existência. Todavia, não pensar também não lha nega nem lha anula.  O ato cerebral de pensar, em si mesmo, como dom humano, só  é possível quando alguém existe fisicamente. Se reconhecermos, porém, que pode não haver pensamento, enquanto realidade neuropsicofisiológica, pura e simples, mas há a consciência de que não se pensa ou não se quer pensar sobre qualquer coisa, apenas pela negação de sujeitar a mente a qualquer tipo de raciocínio ou exercício de reflexão ou análise, ou não se detém, em última instância, tal capacidade, concluiremos, de igual modo, que até aquele que não pensa existe. 
Pensar ou não pensar decorre da prerrogativa existencial e pessoal que designaríamos de livre arbítrio. Mas, em determinados estados de consciência, de êxtase e meditação transcendental levada ao extremo ou de impossibilidade total de cerebração, por degeneração neuronial acentuada, por exemplo, em patologias senis ou demenciais profundas, o ato de pensar pode ficar simplesmente suspenso, desativado ou definitivamente extinto. E, nestas circunstâncias, porque não se pensa, não se existe? Ou, aqui, o indivíduo deixa de ter, apenas, temporária ou perenemente, a consciência da sua própria existência? 
A tese cartesiana do “Penso, logo existo”, quanto a nós não pode nem deve ser tomada como uma verdade absoluta. A sua antítese, “Não penso, logo não existo”, também não. 
Resta-nos acrescentar que, tal como os seres humanos, também alguns animais parecem ter formas de consciência elementares, consideradas manifestações decorrentes da inteligência animal que a ciência etobiológica lhes reconhece. Entre os antropoides, por exemplo, há macacos que não só manufaturam instrumentos rudimentares que utilizam e reutilizam nas suas atividades vivenciais diárias, em particular, na captura de alimentos, como revelam sinais indesmentíveis de uma capacidade de reflexão que se situa bem para além dos meros instintos de sobrevivência comuns a todas as espécies de animais, incluindo seres humanos. Poder-se-ão considerar estas manifestações esboços de uma consciência reflexiva, também assente numa certeza protocultural adquirida e comprovada através da relação causa-efeito? Parece que sim. Estes animais conhecem e exploram bem tal relação. Todavia, não terão consciência da sua existência nem enquanto símios nem enquanto seres vivos. Então, numa análise subliminar e quase paradoxal, senão mesmo aberrante para alguns analistas deste paradigma, muitos seres humanos, patologicamente desprovidos da sua capacidade de cerebração, apenas conservando ativos os instintos, porque não pensam, nem têm consciência de si próprios nem de que estão vivos, não existem. Filosoficamente, não detêm essa capacidade de introspeção. Não discorrerão sobre o seu ego ou sobre a sua identidade anímica, física e pensante. Mas existem. 
“Penso, logo existo”, não passa, pois, de uma verdade muito subjetiva e relativa. 
Analisada na sua enorme abrangência mensagística, esta frase leva-nos muito para além da existência e da consciência que o pensamento, enquanto ato cerebral, pode ou não permitir.             

João Frada

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

VERDADE É AMOR?

Verdade é Amor?
Que tipo de amor? Amor à verdade? Amor à causa? Amor eterno ou passageiro? Amor à mãe?
Amor ao pai? Amor ao dinheiro? Amor a Cristo?
E que tipo de verdade? Verdade relativa ou absoluta? Em qualquer dos casos deve ser sempre considerada como amor? 
Se assim for, se uma verdade relativa ou absoluta é sempre um ato de amor, então uma verdade parcial, relativa, incompleta, sentida como verdadeira ainda que o não seja, é sempre um ato de amor, em tudo idêntico à relação da verdade e do amor, considerados numa escala absoluta. Não parece haver aqui uma contradição ou uma discrepância flagrante em termos de qualificação de valores? A realidade, o imaginário e a ficção, enquanto questões antropológicas, artísticas, filosóficas e conceitos psicofisiológicos, podem ser encarados sob diferentes perspetivas e determinar, por isso mesmo, diversos níveis de inter-relação entre a Verdade e o Amor.   
A verdade consiste em quê, para além do conceito etimológico que encerra?
Dizer o que se deve e o que se não deve, o conveniente e o inconveniente? E quem e como se estabelece o que é verdade e o que não é? Verdade para uns pode ser a inverdade de outros. Que verdade ou poder conferido pela verdade, e que verdade, detém aquele que define ou pretende definir o que é verdade, conotando-a, sem quaisquer restrições ou reticências, com o amor? 
Tudo pode ser dito em nome da verdade, aquela que, subjetiva e caracterizadora do conceito pessoal de cada indivíduo, crente nos seus dogmas e valores humanistas, éticos e morais, é considerada como verdade indiscutível. 
A verdade de uma maioria pode não representar a verdade de uma minoria e vice-versa. A verdade de uma civilização pode não ser a verdade de outra. Compare-se a verdade Islâmica e a verdade não Islâmica. Será que a verdade não Islâmica é amor para os Islâmicos? E a verdade Islâmica é amor para os não Islâmicos? Duvidamos que, na sua plenitude visível e palpável, tais verdades sejam algum dia sobreponíveis, almas gémeas de um único amor inquestionável. 
“Amor a Cristo é a Verdade”. Para os cristãos, assim é. E para os não cristãos? Deixa de ser verdade, passa a ser mentira ou menos verdade ou torna-se apenas num amor que deve ser condenado à rejeição?   
E aquela verdade que se espera ouvir e não se ouve? Não a emitir pode ser um ato de amor, emiti-la, considerando os seus reflexos e consequências negativos, também. Em qualquer das situações pode ser um ato de amor, mas a verdade assim dita deixa de ser uma verdade total e confunde-se com uma meia-verdade ou uma omissão.   
Emitir a verdade, clara, total, transparente, em total consonância com a realidade, pode resultar apenas de uma necessidade de vingança. Será isso amor? 
A verdade, quando é nua e crua, mostra-se tal ela é, desnudada de artifícios, de engenharia cosmética, completamente desligada do impacto ou mensagem agradável ou desagradável que encerra ou possa revelar. Estas duas características, “nua e crua”, nem sempre equivalem a um  sentimento de amor, ainda que contenham em si mesmo amor à verdade, mas podem significar desamor, raiva, indiferença, insensibilidade, frieza, ódio, tristeza, angústia, desencanto, agonia. Será esta verdade um ato de amor, puro e simplesmente? 
A verdade magoa, a verdade dói, a verdade mata, a verdade castiga, a verdade desencanta, a verdade não constrói apenas a felicidade mas também a quebra e destrói…
Será que a Verdade é sempre Amor? 

João Frada

domingo, 2 de fevereiro de 2014

CREPÚSCULO


Quem dera que eu não visse esse crepúsculo
e a hora da partida não chegasse
e não fosse tão longe o nosso adeus
que te leva, meu amor, de volta à praia…
E tu, meu sol, eternamente pelos céus,
não mais me deixarias na penumbra…

Quem dera que o crepúsculo não chegasse
e tu me iluminasses todo o dia
e fosses meu tronco e minha sombra…
Libertava-me, de vez, desta agonia,
sem que o resto do mundo me importasse.

Quem dera, meu amor, que a tua ausência
não passe de uma onda que desmaia
ou de um barco, sem leme e marinheiro,
que não parte nem pode navegar.
Regressa, meu amor, assim ligeiro,
vem antes do crepúsculo me cegar.

Quem dera que não visse outro crepúsculo
para te ter mais tempo junto a mim.
Sonhando que sou hera, que sou flor
e tu um simples cravo ou um arbúsculo,
duas flores de mãos dadas num jardim.

João Frada

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Instante que Passa

O instante que passa, quando o procuras gravar nos teus sentidos, já passou…
Mas ficou, fica sempre algo impercetível, coisa pouca que se aninha dentro de ti algures no peito, nas retinas dos teus olhos, nos ouvidos, na alma, até, se ela for capaz de o pressentir, de estremecer com esse instante que quase não tem rasto, de agonizar quando uma paixão veloz cruza o céu e morre como estrela cadente, no seio da tua noite, amargurada. Não mais se repete esse célere momento que passou num ápice e dele só te há de ficar uma lembrança doce ou amarga, pesada ou leve, duradoura e fugaz, mas sempre um instante. 
Os teus instantes hão de fluir, assim, junto de ti, soltos, imprevistos, excêntricos, cândidos, misteriosos, infernais, como ventos indomáveis de invernia. Não tentes desviá-los do seu rumo, não procures acorrentá-los numa clausura forçada, não lhes traces o percurso de um destino, deixa-os passar livremente por dentro de ti, procura apenas respirá-los como se eles fossem o teu fôlego vital, e cada instante assim absorvido, na tua mente e no teu espírito, constituirá a certeza de que viveste a infinitesimalidade possível de cada um deles, momentos únicos que nunca mais se virão a repetir.    

João Frada

BREJEIRICE “ARY-BOCAGIANA”: LIXADOS COM “F”

Com tanta taxa e imposto
há quem viva num delírio
carpindo-se sem cessar
entre suspiros e ais.

Há quem carregue no rosto
o peso deste martírio
e não se deixe abalar
gritando: “Fora o Governo
está na hora de mudar
já nos roubaram demais!”

Um regabofe de gente
pendurada no povinho,
vivendo à grande e à francesa
bandidos de colarinho
branco ou preto, tanto faz,
trafulhas com ar decente,
todos roubam com largueza,
saca mais quem é audaz.

Do proxeneta ao ladrão,
do corrupto ao mentiroso,
do falsário ao magarefe…
todos vão metendo a mão.
Mas se não se acautelar
esta trupe mequetrefe,
do jeito que as coisas estão,
quando mal se precatar
será lixada com “f”.

João Frada