O senhor Ministro da Economia, Pires de Lima, o único caso até agora que se conheça, dentre as excelsas figuras que nos governam crentes que “jamais se enganam e raramente têm dúvidas”, retratou-se em público por ter embandeirado em arco e feito declarações que, ele próprio, considerou demasiado exageradas e otimistas sobre a situação económica do país. E recuou da sua pomposa afirmação, admitindo ter tido um excesso de linguagem quando falou de “Milagre Económico”. As empresas, essas sim, merecem rasgados elogios por serem grandes obreiras da recuperação económica, ao lado da dupla parceria Estado-Governo, dizia Pires de Lima.
Na verdade, no que toca a exportações, somos um dos países da zona euro que mais temos dinamizado este setor e, através desse esforço, tem sido possível equilibrar não só a balança externa, reduzindo a dívida pública e o défice brutal em que estávamos mergulhados, como dando sinais indicadores aos credores internacionais da enorme capacidade de revitalização do mercado produtivo e, bem entendido, da vontade firme de sair da crise.
Os senhores Primeiro-Ministro e Vice-Primeiro Ministro, entre outros, deveriam copiar esta atitude de humildade, ainda que forçada ou não convicta, tendo em conta a capacidade que ambos possuem, enquanto políticos natos, de dizerem o que não sentem, de sentirem o que não pensam, de chorarem de felicidade e de rirem da tristeza, como dá para ver quando os observamos sorridentes, bem-dispostos e gargalhantes enquanto debatem, discutem e analisam quais as formas mais sofisticadas de contornar a barreira do Tribunal Constitucional para mais uma taxa, um imposto ou um contributo a acrescentar à enorme carga tributária infligida aos portugueses.
Na verdade, o senhor Ministro da Economia, num rasgo que acreditamos ter sido de total sinceridade, sem deixar de elogiar o aumento considerável das exportações, enquanto marca positiva da atual governação e catapulta da economia, reconheceu implicitamente que o país não pode esperar sair da crise apenas apoiado neste setor.
As exportações contribuem para minimizar os danos de imagem económica e financeira do país, favorecendo as relações de Portugal no domínio macroeconómico e, ao mesmo tempo, asseguram às empresas e aos recursos humanos envolvidos capital, segurança e continuidade laboral. Porém, nenhuma nação vive apenas de exportações e a grande maioria da população em nada beneficia dos bons resultados obtidos com o desenvolvimento deste setor. Um corpo sem braços, sem pernas, sem coração, sem alma, dificilmente se levanta. Não queiramos acreditar, como o senhor Ministro da Economia também não quis, que só dispondo de um bom braço a funcionar, neste caso, o setor das exportações, vamos entrar na felicidade suprema e sair da tremenda crise em que vivemos.
Produz-se para o exterior em grande escala, é certo, mas cá dentro a economia estagnou porque o desemprego, os baixos salários, congelados e completamente desfasados da crescente inflação anual, e as magras reformas e pensões, continuamente sangradas e reduzidas em nome de uma salvação nacional, para a qual os mais ricos pouco contribuem, não geram uma dinâmica económica digna de registo.
Segundo as projeções do Banco de Portugal (para o período 2013-15), o elevado endividamento dos vários setores institucionais, o nível ainda relativamente baixo das qualificações da população ativa e a forte segmentação do mercado de trabalho, que promove uma longa duração do desemprego e uma elevada rotação de alguns grupos de trabalhadores, no seu conjunto, constituem sérios entraves a essa recuperação interna. Esperar que as famílias possam propiciar aos seus filhos melhores qualificações, ao olharmos o que se passa a nível das universidades, quando milhares de estudantes desistem dos seus cursos por incapacidade de pagamento de propinas, por diminuição drástica de bolsas de estudo e de apoios de toda a espécie, incluindo os destinados à investigação, parece-nos uma autêntica utopia. Mas o Banco de Portugal, ao falar de qualificações, ter-se-á esquecido de que aqueles que emigram e emigraram têm qualificações a mais, reconhecidas e bem-vindas pelos demais países com porta aberta a tanta juventude qualificada. Pelos vistos, o desemprego deste enorme contingente não se fica a dever a falta de qualificação. Ou fica?
Aqueles que não emigraram, e que apostaram uma vida inteira na qualificação profissional, com exceção dos adjuntos e assessores dos nossos Ministros, ganham miseravelmente e, muitos deles nem disso se podem queixar, porque estão no desemprego. Paradoxalmente, como ouvimos ainda ontem dizer num programa televisivo, em alto e bom som, a António Arnaut, é uma perfeita anedota constatarmos que qualquer jovem licenciado adjunto ou assessor do Primeiro Ministro aufere melhor vencimento do que qualquer profissional de saúde, académica e cientificamente, altamente qualificado. É esta a noção apurada que Passos Coelho terá de justiça, disciplina orçamental, equidade e prémios de competência, não duvidamos.
Com qualificações ou sem elas, o desemprego persiste, porque a cartilha política do atual governo tem sido e parece que continuará a ser a de apostar nas exportações. Se estas servissem para minorar a carga tributária, descida de IVA e IRS, não apenas temporariamente em 2015, com objetivos estritamente eleitoralistas, como dá para adivinhar pela conversa demagógica de Paulo Portas, mas definitivamente, então acreditaríamos que o Milagre Económico de Pires de Lima viria mesmo para ficar. Mas até agora somente observamos austeridade, disciplina orçamental e sangria tributária flagelando, impiedosamente, sempre os mesmos.
Enquanto o país apenas se apresentar como um gentleman bem-falante, bem aceite e bem vestido por fora, mas doente, fragilizado e canceroso por dentro, não devemos ter grande orgulho nem manifestarmos tanto otimismo perante os rumos favoráveis “da nossa trajetória”, parafraseando o senhor Primeiro-Ministro.
É melhor acautelarmo-nos, porque o país está coxo, maneta, sem ânimo, com graves arritmias sociais e funcionais. E pode colapsar.
Ninguém vos pede que aparenteis desolação ou luto, perante a miséria que grassa à vossa frente, mas seria melhor, senhores ministros, dosearem o vosso otimismo, sempre tão exuberante, e serem mais sóbrios nas vossas atitudes, sobretudo, mais realistas…como deu mostras, ainda que incipientemente, o senhor Ministro da Economia.
João Frada
Os senhores Primeiro-Ministro e Vice-Primeiro Ministro, entre outros, deveriam copiar esta atitude de humildade, ainda que forçada ou não convicta, tendo em conta a capacidade que ambos possuem, enquanto políticos natos, de dizerem o que não sentem, de sentirem o que não pensam, de chorarem de felicidade e de rirem da tristeza, como dá para ver quando os observamos sorridentes, bem-dispostos e gargalhantes enquanto debatem, discutem e analisam quais as formas mais sofisticadas de contornar a barreira do Tribunal Constitucional para mais uma taxa, um imposto ou um contributo a acrescentar à enorme carga tributária infligida aos portugueses.
Na verdade, o senhor Ministro da Economia, num rasgo que acreditamos ter sido de total sinceridade, sem deixar de elogiar o aumento considerável das exportações, enquanto marca positiva da atual governação e catapulta da economia, reconheceu implicitamente que o país não pode esperar sair da crise apenas apoiado neste setor.
As exportações contribuem para minimizar os danos de imagem económica e financeira do país, favorecendo as relações de Portugal no domínio macroeconómico e, ao mesmo tempo, asseguram às empresas e aos recursos humanos envolvidos capital, segurança e continuidade laboral. Porém, nenhuma nação vive apenas de exportações e a grande maioria da população em nada beneficia dos bons resultados obtidos com o desenvolvimento deste setor. Um corpo sem braços, sem pernas, sem coração, sem alma, dificilmente se levanta. Não queiramos acreditar, como o senhor Ministro da Economia também não quis, que só dispondo de um bom braço a funcionar, neste caso, o setor das exportações, vamos entrar na felicidade suprema e sair da tremenda crise em que vivemos.
Produz-se para o exterior em grande escala, é certo, mas cá dentro a economia estagnou porque o desemprego, os baixos salários, congelados e completamente desfasados da crescente inflação anual, e as magras reformas e pensões, continuamente sangradas e reduzidas em nome de uma salvação nacional, para a qual os mais ricos pouco contribuem, não geram uma dinâmica económica digna de registo.
Segundo as projeções do Banco de Portugal (para o período 2013-15), o elevado endividamento dos vários setores institucionais, o nível ainda relativamente baixo das qualificações da população ativa e a forte segmentação do mercado de trabalho, que promove uma longa duração do desemprego e uma elevada rotação de alguns grupos de trabalhadores, no seu conjunto, constituem sérios entraves a essa recuperação interna. Esperar que as famílias possam propiciar aos seus filhos melhores qualificações, ao olharmos o que se passa a nível das universidades, quando milhares de estudantes desistem dos seus cursos por incapacidade de pagamento de propinas, por diminuição drástica de bolsas de estudo e de apoios de toda a espécie, incluindo os destinados à investigação, parece-nos uma autêntica utopia. Mas o Banco de Portugal, ao falar de qualificações, ter-se-á esquecido de que aqueles que emigram e emigraram têm qualificações a mais, reconhecidas e bem-vindas pelos demais países com porta aberta a tanta juventude qualificada. Pelos vistos, o desemprego deste enorme contingente não se fica a dever a falta de qualificação. Ou fica?
Aqueles que não emigraram, e que apostaram uma vida inteira na qualificação profissional, com exceção dos adjuntos e assessores dos nossos Ministros, ganham miseravelmente e, muitos deles nem disso se podem queixar, porque estão no desemprego. Paradoxalmente, como ouvimos ainda ontem dizer num programa televisivo, em alto e bom som, a António Arnaut, é uma perfeita anedota constatarmos que qualquer jovem licenciado adjunto ou assessor do Primeiro Ministro aufere melhor vencimento do que qualquer profissional de saúde, académica e cientificamente, altamente qualificado. É esta a noção apurada que Passos Coelho terá de justiça, disciplina orçamental, equidade e prémios de competência, não duvidamos.
Com qualificações ou sem elas, o desemprego persiste, porque a cartilha política do atual governo tem sido e parece que continuará a ser a de apostar nas exportações. Se estas servissem para minorar a carga tributária, descida de IVA e IRS, não apenas temporariamente em 2015, com objetivos estritamente eleitoralistas, como dá para adivinhar pela conversa demagógica de Paulo Portas, mas definitivamente, então acreditaríamos que o Milagre Económico de Pires de Lima viria mesmo para ficar. Mas até agora somente observamos austeridade, disciplina orçamental e sangria tributária flagelando, impiedosamente, sempre os mesmos.
Enquanto o país apenas se apresentar como um gentleman bem-falante, bem aceite e bem vestido por fora, mas doente, fragilizado e canceroso por dentro, não devemos ter grande orgulho nem manifestarmos tanto otimismo perante os rumos favoráveis “da nossa trajetória”, parafraseando o senhor Primeiro-Ministro.
É melhor acautelarmo-nos, porque o país está coxo, maneta, sem ânimo, com graves arritmias sociais e funcionais. E pode colapsar.
Ninguém vos pede que aparenteis desolação ou luto, perante a miséria que grassa à vossa frente, mas seria melhor, senhores ministros, dosearem o vosso otimismo, sempre tão exuberante, e serem mais sóbrios nas vossas atitudes, sobretudo, mais realistas…como deu mostras, ainda que incipientemente, o senhor Ministro da Economia.
João Frada
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