(Carta Aberta ao Senhor Ministro da Saúde)
Senhor Dr. Paulo Macedo
Digníssimo Ministro da Saúde
Tiro-lhe o meu chapéu, nem que seja por segundos…melhor dizendo, a boina basca que uso durante o inverno a fim de “preservar a moleirinha” de mudanças de temperatura e fugir às gripes…e atrevo-me a dizer-lhe que a sua decidida prescrição e aplicação do “Remédio Santo” lhe confere a minha admiração. O senhor, mau grado algumas falhas verificadas nas estratégias vacinais do inverno 2013-2014, revela-se um bom Ministro. Digo-o sem ironia, com convicção, mas, acredite, poderia ser ainda muito melhor! Sei que a minha opinião nem adianta nem atrasa nas suas decisões e, seguramente, também não o irá deprimir, minimamente, pelo sentido crítico que ela possa encerrar. Todavia, enquanto cidadão, entendi expressar-lhe publicamente a minha franca opinião.
Aplaudo o seu trabalho de “saneamento” na Saúde.
Pondo termo a negócios fraudulentos, desperdícios e maus gastos, suprimindo vícios instalados, punindo severamente, e sem qualquer negociação ou contemplação, os mafiosos que lesam o Estado, ou seja, quem rouba e prejudica todos os outros concidadãos honestos e cumpridores, o senhor Ministro presta um bom serviço ao Governo e ao país.
Porém, Vossa Excelência, após este esforço de gestão ministerial dedicado, cuidadoso e tão profícuo a que se propôs, através das medidas de redução de despesa, retenção e poupança resultantes da correção de mazelas crónicas e depauperantes em todos ou quase todos os serviços de saúde do país e da liquidação de mecanismos viciosos e fraudes que não só não dignificam o exercício da medicina, enquanto prática assistencial, como lhe limitam ou esvaziam mesmo os recursos destinados a quem dela necessita, na real condição de doente, bem poderia ponderar em canalizar algumas migalhinhas, do muito arrecadado, para apoio às faixas etárias mais jovens, isto é, para a Pediatria.
Sabendo Vossa Excelência que a demografia do país está em grave queda, será que o senhor Ministro não gostaria mesmo de ficar lembrado, orgulhosamente, não só como o “Saneador” da Saúde ou o “Salvador” do Serviço Nacional de Saúde, mas também como o “Pai” da natalidade em Portugal, possibilitando definitivamente a comparticipação alargada à alimentação láctea, de leites e papas, aos artigos de higiene infantil, aos fármacos mais usuais, xaropes, vitaminas, vacinas orais e injetáveis, ainda não integradas como noutros países europeus e americanos no programa nacional de vacinas, algumas delas bem caras, por sinal?!
Os pais, jovens com empregos precários ou mesmo sem emprego, quantas vezes “pendurados”, tal como os seus filhos, nas magras reformas e limitadas ajudas familiares concedidas, sobretudo, pelos avós, veem-se gregos para sobreviverem, senhor Ministro da Saúde, quanto mais para comprarem, sem o mínimo de comparticipação, a maior parte dos medicamentos e produtos diariamente consumidos pelos filhos!
Paradoxalmente, senhor Ministro, muitos dos mesmos medicamentos a que nos referimos, quando se trata de formas de apresentação e concentração destinadas a adultos, têm direito a comparticipação e a subsequente redução de custo, beneficiando o utente; quando se destina a uso pediátrico, habitualmente, sob a forma de xaropes, gotas ou solutos, não têm o mínimo de apoio ou comparticipação. É esta a estratégia da Saúde e do seu Governo para o apoio das jovens famílias portuguesas, já de si tão desmotivadas a terem filhos, face à atual crise económica e à falta de estímulos a todos os níveis, vencimentos baixos, empregos precários e perspetivas de vida pessoal e profissional sem grandes horizontes?
Vemos Vossa Excelência preocupado com os idosos, sobretudo, com as condições de higiene e assistência clínica prestada por médicos e enfermeiros, nos lares em que residem, e essa nota governativa merece, como é óbvio, um grande aplauso. Mas, a sociedade portuguesa não se deva confundir apenas com as realidades geriátricas, embora, pelo andar da carruagem, se ninguém vier a reverter essa fisiologia populacional, o nosso destino para lá caminhe a passos largos. O mundo das crianças merece também algum incentivo. E, senhor Ministro da Saúde, a meu ver, Vossa Excelência e o seu Governo parecem andar arredados desse mundo. .
A par de Albino Aroso, saudoso colega com quem pude privar algumas vezes, considerado o “Pai” do Planeamento Familiar, e de António Arnaut, prestigiada figura política, considerado como “Fundador” do Sistema Nacional de Saúde, o senhor Dr. Paulo Macedo, digníssimo Ministro da Saúde, poderia, se quisesse, vir a ter um papel preponderante na criação e implementação de uma das estratégias mais urgentes e fundamentais no domínio da saúde em Portugal: estímulo à natalidade e apoio à infância. As comparticipações e os eventuais apoios concedidos, quer em termos de aquisição de alimentos e artigos de higiene quer na compra de medicamentos, seriam o melhor “Remédio Santo” que, alguma vez, algum ministro da Saúde poderia disponibilizar a todas as jovens famílias portuguesas.
Os pais agradecer-lhe-iam, as crianças também, e os portugueses não lhe tirariam apenas o chapéu ou a boina, como eu. Contrariamente aos apupos e vaias que muitos dos seus excelsos colegas vão recebendo diariamente, em todo o lado, a si, se viesse a ter essa ousadia, de ser o arauto do rejuvenescimento demográfico, no papel de “Protetor” da natalidade e da infância, aplaudi-lo-iam de pé, nem duvide, Senhor Ministro.
Convidamo-lo a refletir sobre este tema.
João Frada
João Frada
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