quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

VERDADE É AMOR?

Verdade é Amor?
Que tipo de amor? Amor à verdade? Amor à causa? Amor eterno ou passageiro? Amor à mãe?
Amor ao pai? Amor ao dinheiro? Amor a Cristo?
E que tipo de verdade? Verdade relativa ou absoluta? Em qualquer dos casos deve ser sempre considerada como amor? 
Se assim for, se uma verdade relativa ou absoluta é sempre um ato de amor, então uma verdade parcial, relativa, incompleta, sentida como verdadeira ainda que o não seja, é sempre um ato de amor, em tudo idêntico à relação da verdade e do amor, considerados numa escala absoluta. Não parece haver aqui uma contradição ou uma discrepância flagrante em termos de qualificação de valores? A realidade, o imaginário e a ficção, enquanto questões antropológicas, artísticas, filosóficas e conceitos psicofisiológicos, podem ser encarados sob diferentes perspetivas e determinar, por isso mesmo, diversos níveis de inter-relação entre a Verdade e o Amor.   
A verdade consiste em quê, para além do conceito etimológico que encerra?
Dizer o que se deve e o que se não deve, o conveniente e o inconveniente? E quem e como se estabelece o que é verdade e o que não é? Verdade para uns pode ser a inverdade de outros. Que verdade ou poder conferido pela verdade, e que verdade, detém aquele que define ou pretende definir o que é verdade, conotando-a, sem quaisquer restrições ou reticências, com o amor? 
Tudo pode ser dito em nome da verdade, aquela que, subjetiva e caracterizadora do conceito pessoal de cada indivíduo, crente nos seus dogmas e valores humanistas, éticos e morais, é considerada como verdade indiscutível. 
A verdade de uma maioria pode não representar a verdade de uma minoria e vice-versa. A verdade de uma civilização pode não ser a verdade de outra. Compare-se a verdade Islâmica e a verdade não Islâmica. Será que a verdade não Islâmica é amor para os Islâmicos? E a verdade Islâmica é amor para os não Islâmicos? Duvidamos que, na sua plenitude visível e palpável, tais verdades sejam algum dia sobreponíveis, almas gémeas de um único amor inquestionável. 
“Amor a Cristo é a Verdade”. Para os cristãos, assim é. E para os não cristãos? Deixa de ser verdade, passa a ser mentira ou menos verdade ou torna-se apenas num amor que deve ser condenado à rejeição?   
E aquela verdade que se espera ouvir e não se ouve? Não a emitir pode ser um ato de amor, emiti-la, considerando os seus reflexos e consequências negativos, também. Em qualquer das situações pode ser um ato de amor, mas a verdade assim dita deixa de ser uma verdade total e confunde-se com uma meia-verdade ou uma omissão.   
Emitir a verdade, clara, total, transparente, em total consonância com a realidade, pode resultar apenas de uma necessidade de vingança. Será isso amor? 
A verdade, quando é nua e crua, mostra-se tal ela é, desnudada de artifícios, de engenharia cosmética, completamente desligada do impacto ou mensagem agradável ou desagradável que encerra ou possa revelar. Estas duas características, “nua e crua”, nem sempre equivalem a um  sentimento de amor, ainda que contenham em si mesmo amor à verdade, mas podem significar desamor, raiva, indiferença, insensibilidade, frieza, ódio, tristeza, angústia, desencanto, agonia. Será esta verdade um ato de amor, puro e simplesmente? 
A verdade magoa, a verdade dói, a verdade mata, a verdade castiga, a verdade desencanta, a verdade não constrói apenas a felicidade mas também a quebra e destrói…
Será que a Verdade é sempre Amor? 

João Frada

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