sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Importância da Humanização na Formação Médica

Ao longo dos tempos, talvez mesmo antes de Hipócrates, entre os Egípcios faraónicos, a relação médico-doente que privilegia, acima de tudo, a alta individualidade de cada “pessoa humana”, surge-nos como um binómio quase sacralizado, no qual o “físico”, dotado das suas competências, espírito protoracionalista lógico, dedutivo e indutivo, exercita a sua “arte” de diagnóstico e terapêutica. 
Hipócrates morreria no IV século a.C., mas a sua mensagem, essa, continuaria a ecoar pelos séculos fora. Com a Idade Média, o sentido ético e moral, recebido do Mestre, aliado ao espírito filantrópico e à caridade que emanam da atitude do físico, seja ele laico ou monástico-religioso, viria a constituir a marca cristã do Humanismo médico. 
Em qualquer época, porém, a compreensão dos males do corpo ou do espírito passa pelo diálogo, pela confissão franca e objetiva das queixas que perturbam o indivíduo e o fazem sofrer. E a doença, de um modo geral, entre todos os povos e sociedades, é algo que desperta sempre a consciência e a emoção do terapeuta, o qual, por solidariedade, devoção e dever profissional, raramente é insensível ao sofrimento do seu semelhante. Curar é, acima de tudo, ouvir e amar.   
Não obstante as diferenças determinadas pelos sistemas de valores culturais e civilizacionais, pelas crenças, pelos usos e costumes, pela subjetividade comportamental, étnica, intelectual ou afetiva, o Humanismo médico, tal como o concebemos, é, de facto, ecuménico e universal. 
Um médico humanista, diz-nos Maragnon, é aquele que compreende o Ser humano. E “compreender não é só conhecer, mas amar”.                                               
Mas se o espírito da mensagem hipocrática, como elemento fundamental da formação médica, se manteve indelével entre os seus cultores de todos os tempos, na praxis diária acabaria, também, por ser suscetível às transformações e mudanças determinadas pelos ritmos da História. E, a par do progresso tecnológico e científico que, dia a dia, vai ultrapassando as “barreiras do imprevisível”, sobretudo, a partir de 1900, com o desenvolvimento da microbiologia, do laboratório, das técnicas de radiodiagnóstico, da farmacologia clínica, da cibernética e da robótica, da engenharia genética e biomolecular, da telemedicina, de epidemiologia e da bioestatística, a relação médico-doente nunca mais seria a mesma. 
Com o raiar da 2.ª metade do século XX, o Homem, enquanto ser doente, objeto de estudo personalizado da medicina, dá lugar ao número. Outrora com direito a tratamento individual e humanizado, é agora um alvo anónimo, sujeito a frios protocolos determinados pela bioestatística.
Foi, exatamente, neste contexto cultural, modelado pela estatística e pelo tecnicismo, que se formaram as novas gerações de médicos, em exercício no século XXI. 
Outras razões, porém, parecem justificar o fenómeno da desumanização médica: - com a especialização, cada vez maior, observada na formação, sobretudo, hospitalar, os “eventuais” aspetos psicossomáticos da doença são, natural e frequentemente, remetidos para o foro da psiquiatria ou da psicologia clínica; - os serviços de consulta e de urgência hospitalares vivem e funcionam no limiar de rutura permanente; - o Sistema de Saúde mal responde às solicitações de uma sociedade cada vez mais inquieta, exigente e agressiva, mas, ao mesmo tempo, carente e dependente das respostas da Saúde e dos seus técnicos que, paradoxalmente, mitifica e desmitifica, idolatra e crucifica. 
A empatia mágica, o tratamento personalizado e íntimo que o ato médico exige e determina não se desenvolve neste terreno agreste, nesta relação distante, apressada e vaga.
Cumprem-se protocolos, requisitam-se os exames complementares de diagnóstico mais sofisticados, procura-se compreender e tratar a doença. Os critérios científicos são rigorosamente seguidos. Mas o doente, esse, é uma realidade bem mais longínqua e difícil de atingir. 
Humanizar o ato médico passa pela formação humanizada do futuro clínico. Essa formação terá que ser impregnada na base da sua educação escolar. O início dessa sensibilização deverá começar, senão antes, na seleção do candidato a Medicina, na própria orientação estrutural e funcional do ensino médico. O discente deverá confrontar-se, ao longo do curso, com uma ou mais disciplinas onde os seus dotes discursivos tenham que ser postos à prova. Adestrar o diálogo e retirar o essencial de qualquer informação, seja ela oral ou escrita, é uma arte e um saber imprescindível ao médico que ouve o doente, que reflete e intelectualiza as suas queixas, que incorpora o seu sofrimento e é capaz de lhe lançar, nas suas palavras concisas e objetivas, o bálsamo do alívio ou da cura.
Com pouca capacidade de síntese, com insuficiente adestramento na área do trabalho conceptual, muito virados à memorização exaustiva do que leem, os nossos alunos poupam-se ao diálogo. Pouco afeitos a leituras que exijam grandes esforços de sistematização, optam facilmente por exercícios de colagem ou, mesmo, de plágio, atitude que, para além de grave falta metodológica, nada contribui para melhorar o seu vocabulário e a sua capacidade de exposição escrita e, consequentemente, oral. Há, pois, que modificar, desde o início, o sistema de ensino e de preparação médica, integrando e assegurando, no currículo, áreas disciplinares orientadas para a formação linguística (língua-materna) e humanística, e para o adestramento do discurso. Exercitando e apurando, sob a orientação de especialistas, as suas capacidades de retórica e dialética, o estudante de Medicina, amanhã futuro médico, conhecerá mais facilmente o seu doente através do diálogo, do qual não mais prescindirá. Dispondo-se a falar e a ouvir o paciente, o médico, compreenderá melhor o seu sofrimento, as suas angústias, os seus medos, e é, exatamente, nesse “diálogo singular”, cujo efeito balsâmico fica, tantas vezes, muito para além da eficácia dos melhores fármacos, que ele irá descobrir a sua verdadeira vocação humanizada, curando os males do corpo e aliviando os males do espírito. 

João Frada
Professor Universitário 

sábado, 23 de novembro de 2013

Boas Notícias - Português é um dos 'idiomas do futuro' no Reino Unido

http://boasnoticias.sapo.pt/noticias_Portugu%C3%AAs-%C3%A9-um-dos-idiomas-do-futuro-no-Reino-Unido_17921.html?page=0

A língua portuguesa foi considerada um dos dez idiomas estrangeiros mais importantes para os próximos vinte anos no Reino Unido. Quem o diz é um estudo do instituto British Council divulgado esta quinta-feira pelo Instituto…
Aguardemos, pois, pelo fim da vaga emigratória, já que quando ela chegar ao fim, seguramente, a capital do nosso país passará a ser num local qualquer do Reino Unido. Teremos assistido à diáspora ou fuga total da população. Os mais novos arrastam os mais velhos e aqui apenas ficarão os escroques dos nossos governantes, contentes por terem incentivado e conseguido desertificar completamente o nosso país. Nesse dia, acabou-se a identidade nacional. Nesta santa “terrinha à beira-mar prantada”, que faz dó só de ver como ela anda,  praticamente sem gente, a não ser meia dúzia de parasitas que deixam de poder parasitar os hospedeiros que somos todos nós, ou seja, só ficam as moscas e a trampa que fizeram todo o tempo e lhes serve de alimento. Sem vozes lusófonas, já que, pelos vistos se distanciam cada vez mais portugas para o Reino Unido, Portugal passará a ser uma província inglesa e a Grã Bretanha o país europeu onde a segunda língua mais falada vai ser o português. É essa a minha conclusão confuciana. 
E a propósito, para que não se criem traumas aos portugas que ali se vão instalando aos magotes, seria de bom tom que os “bifes” não adotem o Novo Acordo Ortográfico, caso contrário, ainda ferem a suscetibilidade dos mais puristas.

João Frada
Professor Universitário

ALERTA AO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE


Ministério da Saúde controla uso dos antibióticos
Paula Rebelo/ David Araújo/ Virgílio Matos 28 Set, 2013, 14:48 

“Os médicos que abusarem da prescrição de antibióticos vão ser penalizados. O Ministro da Saúde confirmou a criação de equipas de vigilância nos hospitais para controlar o uso abusivo desses medicamentos. No Porto, Paulo Macedo anunciou um milhão de vacinas contra a gripe gratuitas para grupos de risco”.
Esta medida, na sua essência é correta. Todavia, o problema do uso indiscriminado ou abusivo a que se referem os responsáveis da saúde em Portugal, não é tão simples assim de “desmontar”. Muitos médicos, como se provam pelos dados recolhidos a partir da análise do receituário, na opinião dos avisados governantes, prescrevem antibióticos por “dá cá aquela palha”. As razões subjacentes a tal fenómeno são múltiplas, mas atrevemo-nos a apontar as principais e, ao mesmo tempo, a chamar a atenção ao Senhor Ministro da Saúde, bem como aos seus avisados conselheiros, quer para a complexidade quer para as incongruências do próprio Sistema de Saúde, na nossa opinião, determinantes do dito uso abusivo de antibióticos.
- Começaríamos por apontar a maior falha do Sistema Nacional de Saúde, tal como ele está atualmente: Para evitar antibióticos, seria melhor apostar-se em vacinoterapia, seja ela específica ou inespecífica. Ora, algumas das importantes vacinas que poderão fazer a diferença na reconversão do processo de prescrição, considerado como abusivo, de antibióticos, não estão ao alcance da maior parte das famílias portuguesas, porque são caríssimas e não são minimamente comparticipadas pelo Estado. A título de exemplo, citamos a vacina antipneumocócica, disponível no mercado quer na sua forma infantil quer na de adulto, com custos atuais entre os 60 e os 65 euros cada embalagem.
Para a população pediátrica, por exemplo, considerada a faixa etária mais frágil e suscetível quando exposta a esta bactéria virulenta, especialmente responsável pela habitual morbilidade pós-gripal (meningites, pneumonias, amigdalites, faringites e otites), a vacina antipneumocócica 13-valente confere proteção contra os 13 serotipos mais agressivos deste microrganismo. Ninguém da classe médica tem dúvidas disto. Mas o Ministério tarda em a conceder grátis ou em beneficiar os seus utentes com alguma comparticipação minimizadora dos encargos familiares. Mais irónico, senão mesmo cínico, é o facto de nos novos Boletins de Vacinas distribuídos a cada criança pelos Centros de Saúde constar uma rubrica alusiva à dita vacina antipneumocócica. Parece, pois, ser considerada fundamental pelo próprio Ministério e deverá aplicar-se em três ou quatro doses, sem contar com o reforço catch-up dos cinco anos. Mas não faz parte do plano nacional de vacinação. Façamos contas e verifiquemos quanto custa a cada família, por criança, o respetivo programa completo.
Vamos ver quanto vai custar ao Ministério da Saúde a campanha de ensino do uso ou não uso de antibióticos!
- As atuais unidades de saúde a que recorrem os portugueses, sejam elas centros de saúde ou hospitais públicos ou privados, todas elas deverão ser geridas tendo em conta, cada vez mais, objetivos economicistas que traduzam, naturalmente, bons índices de desempenho e, no caso das últimas, também lucrativos. Com exceção das crianças e dos pacientes idosos, estes últimos psicologicamente mais dependentes do apoio médico e farmacológico, os indivíduos na idade profissional ativa recorrem, normalmente e apenas, a estas unidades sempre que o seu estado de saúde se encontra comprometido. Tendo em conta que o absentismo ao trabalho, mesmo por doença, tem hoje mais do que nunca, face às leis e exigências laborais, reflexos sérios sobre os magros proventos auferidos no fim do mês, estes pacientes não se podem dar ao luxo de curar um quadro gripal deixando-se ficar no domicílio entregues apenas ao “avinha-te, abifa-te e abafa-te” (chazinhos, com um ou dois dedais de conhaque, caldos proteicos de galinha, suadoiros e, eventualmente, antipiréticos). As patologias altas e baixas do aparelho respiratório e, em particular, a gripe, bem como as complicações respiratórias que quase sempre a acompanham são, ainda hoje, as causas mais frequentes da ida ao médico. Para quem vive mal, deprimido ou em stress permanente (condição a que a maioria da população não consegue fugir, agredida pela maldita crise económica que o país atravessa) e se alimenta pior, porque não beneficia de subsídios de alimentação ou não tem possibilidades de sonhar com fartas e lautas refeições, a fome parcial, ou seja a subnutrição proteica e vitamínica, é o estado fisiológico habitual. Ora, Senhor Ministro, a fome acompanha-se sempre, sempre, de imunodepressão e de doença subsequente. Mas até acreditamos que entre gente de casta superior como aquela a que Vossa Excelência e outros governantes pertencem nem se apercebam destas coisas comezinhas e insignificantes. Há até quem defenda que aumentar o salário mínimo é “ estragar a vida aos pobres” e que a “a maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres” (João César das Neves – economista e ex-assessor de Cavaco Silva). Aludirmos aqui a esta teoria idiota, a priori, poderá parecer despropositado, mas, na verdade, ela traduz a opinião mais do que convicta da governação a que o Senhor Ministro pertence, ainda que, no fundo, bem lá no fundo, enquanto alto dirigente da saúde em Portugal Vossa Excelência possa sentir o drama da real situação económica de grande parte das famílias portuguesas, afogadas na austeridade e sem recursos para lhe fazerem frente, dotadas apenas do dito salário mínimo. Por isso, perguntamo-nos aqui se o distinto economista, João César das Neves, dispõe de dados estatísticos para justificar o que diz sobre os tais pensionistas que considera fingidos e se ele próprio entende ou acredita que o salário mínimo a que se refere lhe chegaria, a ele, para encher a barriga condignamente durante um mês. Será que as suas convicções (de César das Neves), aquelas pelas quais Carlos Paz  se atreve a mandá-lo, e muito bem, a um lugar bastante mal cheiroso (Carlos Paz – Carta Aberta a um Mentecapto (João César das Neves) https://www.facebook.com/carlos.paz.756/posts/700844983261907) foram estabelecidas com base em sondagens e análise estatística de amostras de população residente no condomínio onde vive ou no bairro onde faz as compras ao fim de semana?!  Já nem nos atrevemos a perguntar-lhe se o dito salário mínimo, que considera um montante mais do que suficiente para a sobrevivência condigna seja de quem for, lhe chegaria para alimentar mais alguém a seu encargo!
A acreditarmos que o Senhor Ministro se pauta pela mesma medida, de manter o salário mínimo onde ele está, para que não surjam imediatas convicções de luxo, de riqueza e de perdularismo na cabeça dos assalariados, percebemos porque é que está preocupado com o uso abusivo dos antibióticos, os quais, afinal de contas, mesmo genéricos e comparticipados, acabam por pesar na balança da saúde. Tendo em conta a sua mística cruzada socio-cifrónica dentro do Ministério que dirige, e aplaudimos sem ironia algumas das suas estratégias, temos muita curiosidade em saber como é que as equipas de especialistas em antibióticos vão poder resolver este imbróglio do uso e abuso destes fármacos. De resto, até achamos algo paradoxal o título do projeto sanitário, porventura, criado como marca perene da passagem do Senhor Ministro por esta área: “Como usar corretamente antibióticos”.
Não seria melhor, Senhor Ministro, ter pensado num título slogânico mais adequado às reais conveniências da saúde, designando-o de: “Como não usar antibióticos”. Seria, quanto a nós, bem mais dissuasor. Mas, enfim, esta nossa sugestão não passa de uma questão semântica, porque, de facto, sempre se continuarão a prescrever e a usar antibióticos nas situações que o justifiquem.
- Perante o número cada vez menor de técnicos, médicos e enfermeiros, que compõem as equipas de saúde, e o volume de consultas diárias solicitadas/impostas aos mesmos técnicos, como resposta aos objetivos economicistas e de rentabilidade institucional exigidos pelo próprio Ministério, o tempo disponível para cada utente é de alguns escassos minutos. Vossa Excelência, inclusive, sonha desde há muito com o trabalho médico feito e pago à peça e considera que o número de consultas despachadas por hora e não a sua qualidade é que constitui a prioridade número do seu Ministério. O doente, entretanto, contrariamente ao que se possa pensar, não pode nem quer sujeitar-se a perder dias de trabalho, isolado no domicílio, face à imediata e lesiva repercussão no seu magro salário, para se recompor calmamente de uma gripe ou de uma complicação respiratória secundária, recorrendo apenas a mezinhas ou às medidas simples,… e sem antibióticos…, do “avinha-te, abifa-te e abafa-te”. O médico prescreve-lhe antibióticos para obviar o curso da doença e, quando não o faz, é o próprio utente que o exige. Alguns dias de ausência no trabalho pode ser um salário mínimo ainda mais baixo ou mesmo, em alguns casos, a rescisão do contrato e “um pé no olho da rua”, porque compromete o desempenho do cargo que executa e não atinge ou põe em causa os superiores e incontornáveis objetivos da empresa. Não é fácil ficar doente e, por vezes, a tentação do antibiótico fala mais alto.
Ora, nestas circunstâncias socioeconómicas e sanitárias e sem deixar de ter em conta a precaridade alimentar e os estados de imunodepressão que ela acarreta, e não precisamos de confirmação estatística como a que se deveria exigir a João César das Neves para confirmar a sua tese (“o aumento do salário mínimo estraga a vida aos pobres”), o que se deveria então fazer para não usar e abusar de antibióticos?!
Simples:
- Alimentar melhor a população, educando-a nesse sentido e, como é óbvio, garantindo-lhe também mais rendimentos para tal. Porque a alimentação equilibrada (assente na qualidade, quantidade, adequação e harmonia) é cara. Ou o Senhor Ministro, porque ganha bem acima do salário mínimo e come bem e fartamente, desconhece o custo de vida em Portugal e quanto representa essa fatia em termos de despesa mensal para qualquer vulgar cidadão de poucos recursos? Cremos que não.
- Depois, o não uso de antibióticos, Senhor Ministro e caros especialistas convidados a participarem neste programa nacional de educação clínica, supostamente experts na prescrição destes fármacos, deveria passar, não apenas pela preocupação de orientar os médicos prescritores no âmbito da Terapêutica Curativa, mas também  pela aposta na Terapêutica Preventiva. Assim, este seu projeto deveria, isso sim, centrar-se na orientação e aconselhamento da classe médica sobre o Não Uso de Antibióticos, através das necessárias estratégias de formação no domínio da Prevenção, apostando na difusão e no ensino das normas, regras e conselhos ligados à higiene respiratória (evicção alergénica), tendo em conta que muitos dos indivíduos a quem é prescrito o antibiótico sofre frequentemente de patologia respiratória de etiologia atópica e, ao mesmo tempo, possibilitar ao doente o acesso comparticipado aos diversos fármacos e, em especial, às vacinas disponíveis para prevenir tais situações. Curiosamente, este ano de 2013, até as vacinas antigripe anunciadas como dádiva grátis em todos os centros de saúde do país não têm estado disponíveis em farmácias nem nestas instituições de saúde pública. E depois, Senhor Ministro da Saúde, Vossa Excelência não quer que os quadros virais derrapem em patologias bacterianas e em antibioterapia subsequente?!
Mas, o Senhor Ministro, porque alguém lhe disse que se usa e abusa de antibióticos, e teve razão, esqueceu-se de outros tantos “pequenos pormenores”:
- Consignar mais “tempo de antena” ao médico para uma boa anamnese, um melhor exame objetivo e uma adequada orientação terapêutica, quer no domínio dos conselhos higiénicos, quer no uso dos fármacos prescritos.
- Exigir cursos de formação na área da higiene respiratória, da infeciologia e, sobretudo, da alergologia a toda a classe médica e, em particular, àqueles clínicos que, comprovadamente, têm usado e abusado de antibióticos, segundo os dados oficiais recolhidos.
- Garantir que todas as vacinas disponíveis no mercado, orais ou injetáveis, como é óbvio, com ação profilática mais do que comprovada, quer por ensaio experimental quer por evidência clínica, sejam fornecidas grátis à população ou, no mínimo, razoavelmente comparticipadas, o que não se verifica desde há muito, por forma a prevenir as doenças mais comuns e, desta forma, reduzir o uso de antibióticos.
Quem está no terreno como nós e, ao longo de décadas, consegue que milhares de crianças, recorrentemente agredidas por antibioterapia, tenham deixado de usar estes fármacos ou nem sequer os tenham nunca tomado, apenas pelo recurso aos cuidados exaustivos de higiene respiratória (medidas de evicção alergénica), à reconversão e ao reforço do seu sistema imunitário com vacinas e fármacos apropriados, sabe do que estamos a falar. Mas a maior parte destes recursos terapêuticos, desde há muito, não têm a menor comparticipação e pesam bastante nas magras bolsas das famílias. São estas, as pobres famílias com pouco mais do que o salário mínimo, que têm de desembolsar os custos totais destes protocolos para que os seus filhos possam ver-se livres ou quase do uso de antibióticos. E ficam mesmo, acredite, Senhor Ministro, sem passes de mágica, de hipnose ou de milagres por intercessão divina. Só recorrendo a simples procedimentos hipocráticos e ao uso de fármacos, não antibióticos, de farmácia alopática. O problema é saber quais e como aplicá-los com critério e eficácia e isso, Senhor Ministro, não me parece que as suas equipas o venham a conseguir tão depressa, nessa urgente e árdua tarefa por todo o país, especialmente, quando confrontados com todas as impossibilidades que apontamos. A menos que muita coisa mude e isso acarreta-lhe despesas com reflexos sobre o malfadado défice. Por isso, suspeitamos que a sua cruzada não passará de uma montanha a parir um rato.  
Será que o Senhor Ministro, em vez de se concentrar na escolha das tais equipas de experts em antibióticos, destinadas a fiscalizar por este país afora o receituário médico, (re)ensinando os clínicos negligentes a prescreverem corretamente estes fármacos e limitando o risco de infeções super-resistentes decorrente da utilização abusiva de alguns deles, tarefa esta que, dada a superior formação dos “mestres” convidados, vai sair bem cara a todos  nós, contribuintes voluntários e involuntários do sistema,  não quer antes atinar sobre os nossos humildes conselhos ou solicitar a alguém mais avisado nesta matéria que o faça em sua representação?  Muitos irão ser os médicos penalizados, acreditamos, mas, salvo melhor opinião, não será desta forma que o Ministério da Saúde irá pôr termo ao uso considerado abusivo de antibióticos. É bem mais simples, a solução do problema.
Se não víssemos tantos incompetentes à frente da governação,  boyjobs pagos a peso de ouro que pouco ou nada fazem a não ser afundar a Fazenda Pública com gestão danosa e perdulária, sem qualquer penalização ou responsabilidade criminal pelos seus atos, ficaríamos tentados a oferecer os nossos préstimos pro bono ao Senhor Ministro dando-lhe/ensinando-lhe a solução que [ele] precisa para resolver este problema do uso excessivo de antibióticos, com maior detalhe. Ah, e faríamos acompanhar a “chave do busílis” do necessário suporte estatístico, como convém.
Entendemos que as nossas sugestões, mesmo enquanto orientações gerais, poderiam ser úteis se fossem objeto de reflexão de alguém mais entendido nestas matérias de medicina preventiva. Usar-se-iam, seguramente, menos antibióticos.
Senhor Ministro, ainda que o ceticismo prevaleça, e muito bem, como atitude cautelar subjacente às criteriosas decisões de Vossa Excelência, face à conjuntura sociológico-política que se atravessa, solicite, pelo menos, a alguém de “olho clínico” mais apurado que se concentre nos avisados sinais que aqui deixamos. Creia que não aparecem todos os dias Bons Samaritanos como nós, humildes e dedicados cultores da nobre Arte Hipocrática, dispostos a tais préstimos.

João Frada
Médico/Professor Universitário

domingo, 10 de novembro de 2013

O CRIME PARECE COMPENSAR

A polícia, o exército, os militares da GNR ou qualquer outra força da ordem, a partir de agora, quando confrontados com uma situação idêntica a esta, a dos ciganos, alegadamente gatunos em fuga com armas, bagagens e toda a família atrás, novos, velhos e crianças, … praxe corrente… a que se poderão juntar cães, éguas, mulas e cavalos, como é óbvio, terão primeiro de proceder ao levantamento fotográfico através de infravermelhos, por satélite ou outro meio de identificação preciso, que não colida com a privacidade ou os direitos humanos, e só depois deverão apontar os canhangulos para os alvos a abater, excluindo, à partida, velhos, mulheres, crianças e, naturalmente, um ou outro distinto representante da raça cavalar. Há que contar com a atenta e ativa intervenção dos organismos e associações de proteção da mulher, dos velhos, das crianças e dos animais. Ninguém deve dar-se ao luxo de andar por aí a disparar ao Deus dará, ainda que julgue ser essa a única saída para pôr termo a um assalto. E, desta vez, um menino, adolescente, aprendiz ou não da velha “Arte de Furtar”, colocado tragicamente no local e na hora errados, numa carrinha (camionete) usada para um assalto, servindo, supomos, involuntariamente de escudo à família, foi baleado e faleceu. Lamentável, esta ocorrência. 
O pobre do militar da GNR, não dispondo de leitor de infravermelhos, a fim de flashar quantos e quais seriam os ocupantes da viatura em fuga, coagido pela força do dever na sua arriscada missão diária de controlo e de manutenção da segurança pública, depois de uns tiros de aviso para o ar, que na confusão da fuga em alta velocidade e de janelas fechadas nem se teriam seguramente ouvido, faz aquilo que as normas de manutenção da  ordem pública determinam: alveja a viatura dos assaltantes. Azar. O mais inocente da família de assaltantes paga com a vida as “borradas” dos adultos.
Moral da história, na perspetiva do/a inteligente magistrado/a que julgou o caso: 
- Os larápios, ao transportarem uma criança de onze anos durante o assalto, eles próprios, estavam a colocar em risco a vida da mesma, o que viria a acontecer. Insensatos e imprudentes não foram responsabilizados, que se saiba, como agentes deste homicídio involuntário. Apenas um lapso judicial…
- Provavelmente, apesar dos sinais exteriores de riqueza da família atingida pela morte tão funesta desta criança, ninguém irá indemnizar o Estado português pelos prejuízos e custos com a manutenção da lei e da ordem, nem arcará com o respectivo pagamento das custas de justiça. Será, uma vez mais, o Zé Povo, incluindo os lesados do roubo e, claro, o azarento militar da GNR a suportar com os seus impostos tais despesas judiciais, bem como a compensar, monetariamente, a família da vítima. 
Como corolário de tudo isto, um vez que o crime compensa e os exemplos desta realidade em Portugal “são mais que muitos”, somos levados a acreditar que, a partir de agora, depois de uma decisão judicial tão inteligente como a que acabámos de assistir, qualquer meliante, decidido a assaltar um banco, uma casa ou uma repartição de Finanças no fim do mês ou na época adequada de receção do IRS ou IRC, …porque não?!..., levando crianças às costas, ao colo ou a tiracolo, pela mão ou pela trela, sempre tem mais possibilidades de escapar a qualquer tiroteio imprevisto levado a cabo pelos “ceguinhos” dos GNR, os quais, visivelmente, apesar do treino periódico, não atingem gente grande e, vai-se lá saber porquê, só acertam em  alvos pequenos. E até se sinalizar, prévia e devidamente, a viatura de fuga, postando uma boa foto ou um autocolante com boas dimensões aludindo à presença de bebé a bordo, fazendo bluff ou não (usando mesmo uma criança como escudo protetor, como foi o caso), quem sabe se não virá a ter maior possibilidade de êxito, dissuadindo as forças de segurança e evitando que elas ponham termo a estas tropelias de uma maneira tão radical e desumana. O crime, bem urdido, parece compensar.

João Frada
Professor Universitário
POA, 09.11.13

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TELEFONEMA

Está lá?
Estou sim, respondes com doçura
E aguardas ansiosa o meu falar
Ligados por um fio de ternura
Os nossos corações sobressaltados
Galopam de contentes, sem parar

Ligar-te à mesma hora é quase um vício
Um ritual que tem de acontecer
Um bálsamo que alivia o suplício
Que eu sinto, meu Amor, por não te ver

João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

RÉSTIA DE ESPERANÇA

Tentei que os nossos caminhos se cruzassem
e quantas vezes 'stendi a minha mão,
esperando de ti um gesto ou um sorriso,
desejando que os teus olhos me fitassem,
e me amparasses, amor, como um bordão,
que me servisses de guia, de farol,
enquanto o meu andar fosse indeciso
e tardasse a descobrir a luz do sol.

Vi partir andorinhas, foi-se a esperança
de ver chegar um dia a Primavera,
de sentir o teu rosto junto ao meu,
de te envolver p'la cintura numa dança,
de sermos num abraço, tu e eu,
a vida, um sonho cheio de saudade,
a magia total  de uma quimera

João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ESTA SAUDADE

Esta saudade profunda que me aperta
A garganta e o peito me magoa
É a força que eu ponho nos meus passos
Quando vagueio sem ti na noite incerta
E a solidão calada me atordoa

Esta saudade cravada no meu peito
De cada gesto teu, de cada beijo
É o alento que eu tenho no desânimo
No fim de cada abraço em que te estreito
Em cada despedida em que me vejo

João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR

domingo, 3 de novembro de 2013

UNIVERSIDADE LUSO-BRASILEIRA E TÍTULOS DE DOUTOR "HONORIS CAUSA"

O meu amigo António Filipe Soares, homem que, por demais conhecido entre a comunidade luso-brasileira do RGS, dispensa apresentação, quando lhe transmiti ter tido notícia, pela televisão, da apresentação do primeiro livro da autoria do nosso “filósofo” socrático, obra  esta patrocinada pela Fundação Mário Soares e prefaciada pelo ex-presidente do Brasil Lula da Silva, depois de elucidado sobre o brilhante currículo do nosso ex-primeiro ministro e sabedor das grandes capacidades de qualquer um dos distintos atores da política lusa e brasileira, fez uma previsão que, ainda que pareça utópica, é algo perfeitamente previsível atendendo às circunstâncias de genialidade estratégica comum a cada um deles. 
O livro em causa, versando a “Tortura em Democracia”, matéria que Sócrates domina na perfeição, depois de nos ter torturado e colocado sob tortura por longos anos com os negócios ruinosos das PPP, dos SWAP, do BPN e de outras tantas negociatas a que não pôs termo ou fechou os olhos, enquanto primeiro ministro, é uma obra produzida no âmbito da sua grande aposta lúdico-académico-filosófica parisiense, resultado da sua tese de mestrado em “Ciência Política”, a que muitos já chamam não de “livro branco”, mas de “livro negro”, atendendo à matéria dolorosa de que trata, seguramente, inspirada em múltiplos momentos da sua governação perdulária cravada, por longos anos , na pele de muitos portugueses. Quanto às “fontes” primárias deste “livro negro”, dizem as más línguas, não sabemos se não terão desaparecido, de todo, antes de serem devidamente “tombadas” e, nessa medida, não sabemos se se trata de um trabalho de revisão, de síntese ou de um trabalho original. Mas a importância da obra não cobre, nem de longe, o expoente maior deste admirável encontro, num momento tão solene. E é este acontecimento, bem retratado na internet para quem gostar dos pormenores, que levaria o meu amigo António Filipe, no seu jeito irónico e humorístico, a estabelecer este presságio: do encontro destes dois tão gratos expoentes da política, da cultura e da intelectualidade lusa e brasileira, homens que não dão ponto sem nó,…e só ali faltava o Relvas, destacado para o Brasil como nosso “embaixador” para a difusão da história, língua e cultura lusófonas…, ainda pode vir a resultar, quem sabe, uma importante e inesperada paridela: a criação de uma universidade para atribuição de títulos de Doutor Honoris Causa. Uma ideia excelente e, atendendo à grande qualidade intelectual dos visados, digníssimos académicos e, simultaneamente, destacadas figuras políticas das duas nações irmãs, nunca se sabe se esta conceção inconcebível não irá vingar, definitivamente! E com um estatuto independente, esta nova universidade sui generis, até poderia atribuir títulos ao sábado, domingo, feriados e dias santos. Quem é que vai questionar títulos tão importantes e tão imprescindíveis a quem não os tem?! Achamos que um engenheiro filósofo e dotado como Sócrates, licenciado ou não ao domingo, já deu provas evidentes da sua grande sabedoria e ainda não nos mostrou tudo quanto vale nem pôde demonstrar-nos todo o seu magnífico potencial, tal como afirmava, convictamente, Mário Soares, há uns tempos, após aquelas malfadadas eleições ganhas por Passos Coelho. Supomos que este avisado dinossauro socialista se referiria às capacidades presidenciais, porque as ministeriais já deu para ver, e de que maneira. Sócrates merece também, tal como o seu amigo Lula, o título de Doutor Honoris Causa. Merece-o por toda a sua grande dedicação à causa pública. E logo que ainda ninguém se lembrou de lhe atribuir, como a Lula da Silva, tal distinção, pois que sejam ambos a lançar, e depressa, as pedras de tal universidade, cá, lá ou pelo caminho, em qualquer poiso onde os seus fundadores possam ter oportunidade de premiar quem ainda não foi bafejado por tal honra: receber um “Doutorado” ou “Doutoramento” (à portuguesa), sem abrir um livro. Também quero! Tão bom, ser finalmente doutorado e não apenas um pseudo-doutor licenciado. Já imaginaram quantos candidatos!? 
      
João Frada
Professor Universitário
(Ainda sem título de Doutor Honoris Causa)
Porto Alegre, 03.11.13

sábado, 2 de novembro de 2013

AMO-TE

Amo-te
Nesta órbita excêntrica, impassível
À medida que vão rodando os dias
As horas, os minutos, os segundos
Na inquietação, nas loucas correrias
No encontro intemporal dos nossos mundos

Amo-te
Nas coisas simples, no gesto imperceptível
Na tarde cheia, na manhã vazia
Em momentos de paz e de amargura
Na solidão e na melancolia
Em instantes de raiva e de ternura

João Frada, Olhos, nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR

OPÇÃO

Chegaste ao sol-pôr da minha idade
Guiada pela estrela da ternura
Como se eu fora praia em maré-cheia.

Remaste entre o amor e a amizade
Lutaste entre o perto e a lonjura
Ficaste ao pé das ondas e d'areia.

João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR