segunda-feira, 27 de abril de 2020

5. COVID-19 e Gripe A (H1N1)v. 2009-10 : Uma Nova Reflexão

PARA QUEM NÃO LEU TUDO O QUE ESCREVI E PUBLIQUEI na PARTE I deste Estudo comparativo entre as duas Pandemias de Gripe A(H1N1)v. e de COVID-19 - perspetivas do passado, do presente e do futuro…
EIS um excerto desse texto com UMA REANÁLISE e algumas REFLEXÕES.
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“Esperar que o vírus se dissemine e percorra, numa louca maratona, todas as regiões do país, e aguardar que “vá tocando a campainha” da doença e da morte, avisando-nos da sua passagem e presença, e acreditar que a DGS, entretanto, num “trabalho incansável de detetive”, sempre na retaguarda do mesmo, possa mapear os focos e cadeias de transmissão viral e aconselhar, finalmente, o isolamento preventivo da população e o cumprimento das demais regras higiénicas essenciais, é francamente insuficiente. Rastrear toda a população, considerada de risco, nesta fase de mitigação, através de teste específico, embora sabendo que seria a forma mais perfeita de isolar os infetados dos saudáveis, não acreditamos que possa ser, economicamente, exequível; a menos que tais testes, credíveis, em absoluto, e de fácil utilização, venham a ser disponibilizados pelos serviços de saúde ou colocados no mercado farmacêutico a preços acessíveis a todas as bolsas. Defendemos, contudo, que esse diagnóstico laboratorial, se possível, deveria estender-se a todos aqueles que, mesmo sem queixas, conviveram de perto com indivíduos infetados. Esta medida, levada a cabo pelo Serviço Nacional de Saúde, iria provocar um grande abalo aos Cofres Públicos e provocar, eventualmente, algum desequilíbrio ou compromisso Orçamental ao Ministério das Finanças? Admitimos que sim!
Mas, não se gasta(ra)m e continuam a injetar milhões para evitar o Risco Sistémico da Banca, recapitalizando bancos falidos, mal geridos e corrompidos por fraudes e incompetências?!
Pois, neste momento, o Risco Sistémico Sanitário deverá ser a vossa prioridade, senhor Primeiro Ministro, senhores Governantes.
Tendo em conta que o mercado internacional não está a responder às encomendas do S.N.S, está na hora de se investir o que for preciso na produção nacional de Ventiladores, fundamentais aos casos mais graves internados nas unidades de cuidados intensivos, de EPI´s (equipamentos de proteção individual), destinados a todos aqueles, médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, na  linha da frente de combate à COVID-19.
De igual modo, é Urgente que se disponibilizem as verbas necessárias para a aquisição de Kits de Diagnóstico específico do vírus, ou no mercado nacional, caso alguma empresa ou laboratório venha a apostar no seu fabrico, ou no mercado internacional, desde que os mesmos venham a ser certificados em termos de total fiabilidade e precisão, junto dos organismos nacionais dotados para este fim. O Instituto Nacional Ricardo Jorge é, seguramente, a instituição que mais garantias pode oferecer neste domínio.
Na impossibilidade de sujeitar toda a população saudável a esta triagem, rastrear o vírus no máximo de pessoas, nesta fase epidémica, em especial naquelas que possam ter tido contacto com as diversas cadeias de transmissão já identificadas, seria, quanto a nós, a melhor medida de contenção sanitária da doença. “Doentes, para um lado, Saudáveis, indemnes ou recuperados, para o outro, e Duvidosos sujeitos a contra-análise e a avaliação clínica”. Os doentes, isolados no hospital ou no domicílio, e todos, infetados ou não, teriam de ter consciência dos cuidados a tomar. 
Na complicada “fase de mitigação” a que chegámos, por indecisões, erros e ingenuidades das demais autoridades, políticas, sanitárias e de proteção civil, envolvidas no trabalho de vigilância e contenção alargada da epidemia, parece-nos que este diagnóstico global da COVID-19 poderia vir a poupar muitas vidas e bastante menos estragos, a posteriori, na economia do País, seriamente abalada pela crise. Os doentes seriam isolados, e os não infetados, sujeitos, obrigatoriamente, aos cuidados fundamentais que hoje se aconselham, exigem e processam, em termos de desinfeção de espaços e prevenção de contágio individual, poderiam, como é óbvio, continuar a laborar nos seus postos de trabalho, dinamizando a economia nacional e assegurando o reequilíbrio das suas finanças pessoais. 
É urgente pensar nisto, senhor Primeiro Ministro, senhores Governantes. Senão, assistiremos, seguramente, depois desta Crise sanitária, a uma crise, não menos dolorosa, uma Hecatombe económica e financeira.
O País tem seguido e respeitado, mais ou menos, pacificamente, os conselhos e medidas de isolamento e contenção veiculados por todos os órgãos de saúde e subscritos pelo Governo, na nossa opinião, positivamente representado pela atuação do Senhor Primeiro Ministro, mas até quando irá cumprir acatar tais restrições?!
“Não se trabalha, não se produz, não se ganha, não se compra, não se paga, não se come…”. Não é, seguramente, com esta Receita que o país, sem grande atividade laboral e empresarial, irá conseguir reequilibrar as contas públicas, manter o Orçamento de Estado a salvo, diminuir o Défice e a Dívida Publica.” (Excerto do Estudo supracitado)
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COMENTÁRIOS e REFLEXÕES      

O que se está a fazer agora, o Teste de Diagnóstico Serológico rápido, mais massificado, aquele a que nos referíamos, pesquisando os alvejados pelo SARS-CoV-2 (COVID-19), deveria ter sido a primeira medida a ser estabelecida, ou a ser seguida, em termos epidemiológicos, pelas nossas autoridades sanitárias. Esta estratégia, como referíamos, é onerosa, mas era e continua a ser fundamental.
Esse estudo aleatório, estendido não a 10.000, o mínimo essencial para aferir tendências, corrigir e controlar planos de ação sanitária e profilática, mas a 50.000, a 100.000 ou mais, seria o ideal. Mas, não. Tais decisões só há muito pouco tempo viriam a ser tomadas e, ainda, com muitas reservas, em nome da poupança na saúde. Entretanto, seria melhor que os nossos distintos decisores sanitários e políticos se consciencializem que, ou a população mais jovem e supostamente mais saudável (os indemnes, de que falávamos, e os curados) volta ao trabalho, ou o país para e a crise económica e financeira acabará também por constituir uma segunda calamidade, tão ou mais grave do que a epidémica. Ainda que seja considerada fria ou calculista esta leitura, na falta de uma vacina eficaz e segura, que, acreditamos, não estará para breve, será exatamente a população mais jovem e em idade laboral que virá, inevitavelmente, a constituir de barreira imunitária à progressão do SARS-CoV-2. Caso este microrganismo não venha a sofrer profundas mutações no seu código genético (isoladamente ou por recombinação com outros vírus), e, pelos vistos, já se contam cerca de 198 (e, seguramente, não ficará por aqui), sendo uma delas, a D614G, claramente dominante e comum em todo o Mundo, na ausência de vacina ou de uma terapêutica rápida e resolutiva, o risco de infeção persistirá. E, com toda a certeza, numa segunda, terceira ou mesmo quarta onda ou vaga epidémica, a população agora indemne ou pouco atingida pelo vírus, durante os próximos meses frios de outono e inverno, do ano corrente e, muito provavelmente, do próximo, acabará por ser alvejada pela doença. Nestas circunstâncias, a Imunidade ativa e alargada de grupo ou “de rebanho”, como alguns epidemiologistas lhe chamam, é, por ora, a única via de resposta imunitária e de defesa da população contra estes surtos epidémicos. E, tal como se verifica em relação aos vírus sazonais da gripe, também este, o da COVID-19, afinal de contas, um vírus da família de microrganismos já conhecidos desde meados dos anos 60 do século passado, responsáveis por surtos ocasionais bem graves, em particular, em 2002 (SARS-CoV) e em 2012 (MERS-CoV), veio para ficar. Que ninguém tenha dúvidas disso. Acreditando que os seus hospedeiros humanos acabarão por vir a desenvolver suficiente “Imunidade de Grupo” através da doença, a qual irá surgir, invariavelmente, a par da gripe, todos os anos, será essa a única forma de vermos atenuada a propagação do vírus. As populações que vierem a ser atingidas pela doença ativa, quer aqueles indivíduos que sofrerem de queixas ligeiras desencadeadas pela infeção de COVID-19, quer os que vierem a experimentar quadros clínicos um pouco mais complicados, mas, escorados nas suas resistências e no adequado apoio médico-farmacológico, recuperarem dessas agressões víricas, acabarão, no seu conjunto, por constituir a barreira imunitária mais segura e eficaz para evitar a propagação epidémica, levando à natural diluição da infecciosidade viral no seio da comunidade.
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Obviamente, quanto mais jovem for a população em idade laboral e quanto maior for o seu número, mais facilmente se tornará possível atingir, em duas ou três vagas sucessivas, essa Imunidade de Grupo de que falávamos. O problema, porém, é que em Portugal, como noutros países da comunidade europeia, só se tem verificado uma preocupação crescente com a exploração energética e com novas tecnologias. A demografia é uma “filha menor”, em termos de política governativa. Senão, vejamos: antes, durante e depois de Passos Coelho, Primeiro Ministro que incentivou milhares de jovens portugueses, com grande qualificação técnico-científica a sair de Portugal, gente que foi alimentar a Segurança Social de outros países e contribuir para a demografia e riqueza dos mesmos, o que é que os nossos digníssimos Governantes fizeram e têm feito pela mudança deste paradigma?! Muito pouco. Continua a haver uma taxa de desemprego tremenda entre jovens com formação universitária, persiste o subemprego, sem quaisquer perspetivas de carreira, eterniza-se a residência na casa paterna, por completa incapacidade de autonomia económica e financeira e, quando se opta por construir família, em “união de jure ou em “união de facto”, apostar em filhos constitui sempre uma aposta tardia e complicada. Ironicamente, o país está envelhecido e aplica milhões de euros para alimentar os setores improdutivos mais díspares e os agentes parasitários mais diversos. A “banca” é o exemplo típico do que acabámos de afirmar. Entretanto, para além de todos os fatores conducentes à senilização populacional que retratámos, constatamos que não há creches suficientes, nem apoios para quem delas necessita e não dispõe de “recursos económicos suficientes para este luxo”, não há comparticipações na área da saúde para fraldas, para leites e papas recomendados para bebés, para cremes, vitaminas, mucolíticos, anti-histamínicos e, mesmo, para algumas vacinas  e broncodilatadores (brometo de ipratrópio, inalador, usado em câmara expansora) medicamente recomendados…e tudo isto pesa na decisão bem arriscada de se ter mais um filho, neste modelo de vida económica e familiar.
Perante este panorama, esperar que a população se revitalize e crie as suas próprias barreiras humanas, jovens e saudáveis, as tais que fazem a diferença e asseguram a dita Imunidade de Grupo, sem correr grandes riscos,  essenciais para resistir a esta ou outra agressão epidémica ou pandémica qualquer, e, que ninguém tenha dúvidas disso, iremos continuar a ser fustigados por calamidades deste tipo, parece-nos uma verdadeira utopia, uma completa patetice, atendendo à filosofia político-governativa em que vivemos! Uma vez que não tem havido políticas favoráveis à renovação demográfica do país, quer pela emigração da nossa juventude, que continua a ser uma realidade, quer pela baixa fecundidade das famílias, autóctones, que resolveram cá permanecer, não serão seguramente as correntes migratórias a chave para a imprescindível substituição geracional. É imprescindível que se encoraje e apoie o aumento de nascimentos, por forma a garantir a vitalidade demográfica, criando políticas fiscais favoráveis às famílias. De igual modo, a ausência de estratégias multidireccionadas conducentes à integração social de imigrantes estrangeiros, prevenindo a grande vulnerabilidade e a precariedade laboral a que estão sujeitos, quer em termos de direitos, quer em termos de reconhecimento de competências dos mais qualificados, leva a que estes novos residentes, quando decidem fixar-se permanentemente no país, também venham a assumir os mesmos hábitos e cautelas, reduzindo o seu agregado familiar e contribuindo, apenas, temporariamente, para o aumento do saldo demográfico.
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Segundo a opinião de um grupo de investigadores da Universidade de Princeton, antes do aparecimento de uma vacina segura e eficaz, pode atingir-se um ponto ideal de imunidade de grupo, sem que a infeção chegue, de facto, aos idosos, contribuindo para a minimização do fator R (reprodução viral). O confinamento dos mais idosos e o uso permanente de máscara por todas as faixas etárias, fora da residência, são as medidas fundamentais para atingir tal objetivo. Logo que essa “barreira grupal imunitária” esteja construída, o surto será contido e toda a comunidade se poderá considerar bastante mais segura. É, quanto a nós, uma visão demasiado otimista, todavia, não impossível. Para que tais resultados possam vir a verificar-se, com o mínimo de risco, será fundamental que cerca de 80% da população fique infetada e recupere da doença. Portugal, considerado um país envelhecido, onde, por cada 100 jovens, há cerca de 153 idosos, não nos parece que reúna, de todo, as melhores condições para tais expectativas imunitárias. Mas, a ver vamos. Em várias ondas sucessivas, ainda que por fases de menor expressão infeciosa e imunogénica, acreditamos que esse patamar imunitário de grupo possa vir a ser atingido, no mínimo tempo possível.        
Desde que não encontrem hospedeiros com condições imunitárias adequadas à sua codificação e recombinação genética, desfavoráveis, portanto, à replicação viral, face aos anticorpos que os reconhecem e combatem eficazmente, estes e outros vírus patogénicos tornam-se infeções comuns, um pouco como os agentes responsáveis pelas gripes sazonais. Apenas, os indivíduos mais débeis, jovens ou idosos, com doenças crónicas ou subjacentes, constituem alvos mais problemáticos e são estes que carecem de mais cuidados preventivos e médico-farmacológicos, quando afetados por tais vírus.
De acordo com os dados recolhidos em múltiplos países afetados pela COVID-19, as crianças, até aos nove, dez anos de idade, revelam índices baixíssimos de morbilidade, ligeira ou assintomática, e de mortalidade viral, rondando, praticamente, o zero. Aventam-se muitas hipóteses, justificando tais resultados epidémicos, nesta faixa etária, mas, até agora, nem a OMS, nem as demais autoridades de Saúde envolvidas no combate à COVID-19 e na avaliação do seu impacto sanitário parecem ter encontrado uma explicação plausível. Na nossa opinião, porém, estes elevados índices de aparente indemnidade infantil, dever-se-ão, não só, às suas respostas biológicas inespecíficas, inatas e individuais, mas, sobretudo, à imunidade adaptativa fortíssima desencadeada nos primeiros dez anos de vida, quer pelo contacto com antígenos provenientes de infeção natural, quer, seguramente, pela vacinação “polivalente” (contra bactérias e vírus) a que são sujeitos, cumprindo várias doses e reforços, especialmente, aconselhados nesta faixa etária. Assim, a capacidade de resposta imune humoral e celular, constante e alargadamente, estimulada pelas demais vacinas que fazem parte do Plano Nacional de Vacinação, sobretudo, nos países onde se verifica escrupulosamente o seu cumprimento, é, sem dúvida alguma, na nossa opinião, a razão que fundamenta cientificamente tais conclusões.          
Mas, tais calamidades epidémicas, ontem, originadas por um Mixovírus Influenza, e hoje, por um Coronavírus, não deverão parecer tão estranhas a ninguém.
O ser humano, porque detém uma particularidade essencial que o distingue de outros seres vivos, o pensamento inteligente e racional, comporta-se como se fosse o centro do Universo. Mas, na verdade, não passa de mais um dos produtos biológicos que integram a Mãe Natureza e, em última instância, a essência da Terra e do próprio Cosmos.  Tudo já existia muito antes da sua existência, no planeta Terra.
No longo processo de hominização, não foram os espécimes mais inteligentes ou resistentes que vingaram, mas, sim, os que melhor se souberam adaptar, e foi esta relação sinantrópica que lhes permitiu assegurar a sua sobrevivência como espécie. Esse êxito, porém, tendo em conta o que se conhece da História e Pré-Histórias Humanas, não terá sido um processo fácil de atingir.
Na verdade, numa visão darwinista e lamarkiana da evolução das espécies, uns bons milhões de anos antes do seu aparecimento e do longo caminho evolutivo-transformista percorrido, entre o homo erectus / homo habilis e o sapiens sapiens atual, já a Terra era povoada por microrganismos, uni, multicelulares e acelulares. Neste último grupo, os acelulares, incluem-se os vírus, germes meios vivos, meios mortos, que, mercê da sua capacidade ou tendência parasitária, sobrevivem e replicam-se nos hospedeiros que infetam, plantas, animais e seres humanos, garantindo, de igual modo, sempre que as condições bioquímicas, imunitárias e ambientais lhes são favoráveis, a sua continuidade enquanto espécie. E, tal como o Homem, através de prováveis arquétipos genéticos, gravados nos seus ácidos nucleicos (DNA e RNA), parece transmitir, de geração em geração, sob a forma de memória inconsciente coletiva, alguma informação biológica essencial à sua sobrevivência e continuidade, os microrganismos, dotados de armas não menos eficientes de adaptação, parecem possuir idênticos mecanismos evolucionais na sua constituição nucleica. Tendo em conta que todos os seres detêm os locos essenciais ao funcionamento de uma espécie de consciência genética própria, competitiva, “instintivo-vital”, adaptativa e seletiva, compreender-se-á, facilmente, o comportamento de determinados agentes patogénicos quando eclodem dos seus ecossistemas e encontram uma população animal ou humana, imunologicamente, desprotegida.                                
Há, indubitavelmente, regras ou leis universais que regem a Terra e a própria Natureza, bem como a dinâmica relacional entre todos os seres que dela fazem parte. E o Homem, apenas mais um “hóspede” tardio da grande e complexa família “sinantrópica”, quando decide quebrar essa relação natural, estabelecida e estruturada ao longo de alguns milhões de anos, corre sérios riscos. Movido por objetivos pragmáticos e insensatos, atropelando regras básicas desse convívio, poluindo, queimando, desflorestando, interferindo, sem quaisquer cautelas, em ecossistemas perigosos, olvidando preceitos de higiene alimentar fundamentais e pondo em causa, o equilíbrio climático global, o Homem expõe-se, cada vez mais, nessa “cruzada egoísta e solitária” a severas punições: tufões, ciclones, sismos, erupções vulcânicas e doenças pestilenciais. O COVID-19, na nossa ótica, um vírus patogénico de origem natural, constitui mais uma dessas reações, em resposta ao antropismo desregrado e doentio que, contínua e desmedidamente, tem exaurido os recursos e elementos essenciais à vida e desestabilizado a “homeostasia” biológica em todo o planeta.      
Autor:
João Frada
Médico/Professor (Ph.D) Universitário Aposentado da FMLisboa
Especialista em Epidemiologia Histórica       





4. COVID-19 e Gripe A(H1N1)v. 2009-10 : Semelhanças e Diferenças


4. CORONAVIRUS 2019-2020 e GRIPE A (H1N1) de 2009-2010, em Portugal e no Mundo
                                                    Semelhanças e Diferenças

PARTE IV

COVID-19 e GRIPE A (H1N1)v. de 2009-2010: perspetivas do passado, do presente e do futuro.

Durante a pandemia de Gripe A H1N1, de 2009-2010, aprendeu-se muita coisa, sobre riscos de infeto-contagiosidade e sobre estratégias higiénicas e preventivas, suficientemente, capazes de suster a disseminação de uma doença viral, mas, como se vê, dez anos passados, esqueceu-se outro tanto.
A progressão diária dos infetados por COVID-19, em Portugal, desde o início do mês de março, enquanto se decidia, como e quando, alertar a população sobre as medidas profiláticas fundamentais a respeitar, de âmbito individual e coletivo, revelar-se-ia, verdadeiramente, preocupante.
Na verdade, o conjunto de medidas e recomendações de natureza profilática, tão eficazes hoje como no passado, refresh para alguns e novidade para a maioria, já deveriam ter sido emitidas ontem.
As respostas políticas e sanitárias, uma vez mais, peca(ra)m por lentidão, alguma ingenuidade e amnésia. E, todos os dias vamos assistindo a descuidos e falhas de prevenção imperdoáveis.     
A memória dos Homens é, efetivamente, curta, e, na alienação dos nossos dias, esquecem-se ou desvalorizam-se, com frequência, as lições e os erros do passado. E, nestas crises sanitárias, as “faturas” a pagar, por tais descuidos e incompetências, são quase sempre bem pesadas para toda a gente, independentemente do seu estatuto social, intelectual ou financeiro. É, contudo, entre os mais pobres e frágeis, em termos de economia e de saúde, que estas terríveis epidemias, virais ou bacterianas, desencadeiam maiores morbilidade e mortalidade. E embora muitos deles sobrevivam, sofrendo durante a crise de contenção ou na doença, “amargam, de certeza, no recobro”.         
Nesta “aldeia global”, crises, doenças ou quaisquer outros problemas surgidos em locais mais ou menos recônditos e isolados, mercê de uma interdependência internacional cada vez maior e, ao mesmo tempo, de uma enorme facilidade de comunicação e movimentação de homens e animais, podem alastrar rapidamente a todos os continentes, desencadeando, por vezes, perturbações de reflexos gigantescos.
Os microrganismos, que não conhecem fronteiras, circunstancialmente irrompidos ou de laboratórios militares, possibilidade, de hoje em dia, cada vez mais real, ou dos seus habitats naturais, instalados nos habituais hospedeiros, homens e animais, vão assim circulando livremente de país para país, de continente para continente, gerando, cada vez com maior frequência, estados de alarme e de preocupação bem demonstrativos da grande vulnerabilidade de todo o ser humano e de todas as sociedades a estes agentes.
As doenças de caráter infetocontagioso provocadas, por exemplo, pelo vibrião do Cólera, pelo vírus de Marburg ou pelo vírus Ébola, este último responsável, em 1995 e em 2000, por um considerável número de mortes na África Central e Equatorial, constituem a prova inequívoca de que, mesmo nos finais do século XX, a Humanidade e a ciência médica não têm conseguido controlar, por completo, os agentes patogénicos, sejam eles vírus, bactérias, fungos ou protozoários. E mesmo quando a medicina julga dispor de soluções preventivas e/ou curativas para tais doenças e a imunidade passiva ou ativa parece poder garantir algumas certezas para “amanhã”, a instabilidade etológica e ecológica da Natureza determina constantes alterações imunogenéticas, quer em hóspedes quer em hospedeiros, e tudo parece voltar ao ponto zero. Mas há, claramente, populações melhor imunizadas do que outras contra determinadas doenças. Na Época Moderna, por exemplo, os Europeus (Espanhóis, em particular), rumando outros continentes, levaram consigo sarampo, gripe, rubéola e outras entidades mórbidas com as quais facilmente conviviam, desde há séculos, sem grandes problemas. Desconhecendo, em absoluto, a carga potencialmente letal que transportavam – microrganismos, alguns deles, de grande virulência –, contagiaram as comunidades do Novo Mundo (Incas, Aztecas e Maias), as quais, sem defesas imunitárias contra tais agentes, acabariam por ser praticamente dizimadas.
Há hoje estudos que consideram, inequivocamente, a ação daquelas impremeditadas armas biológicas sobre as populações ameríndias, na Época dos Descobrimentos, como tendo sido mais mortífera do que a própria guerra. Uma vez que não ficou ainda completamente provada a nova teoria de Acuna-Soto sobre a causa de extinção dos cerca de 22 milhões de Astecas, desencadeada por um terrível surto epidémico de febre hemorrágica, devido à ação do vírus cocolitzli, agente patogénico até agora não observado/identificado pela microbiologia, resta-nos a velha convicção de que a morte desta Civilização se ficou mesmo a dever, em grande parte, à ação de doenças arrastadas pelos europeus para o continente Sul-Americano.
 A razia demográfica observada entre as comunidades autóctones da América Central e da América do Sul na Era Colombiana, detentoras de conhecimentos técnicos consideravelmente evoluídos para a época e dispondo de exércitos numerosos e bem preparados, só parece, pois, poder ser compreendida pela debilidade que as doenças bacterianas e virais de índole europeia terão desencadeado sobre os seus organismos, sem o mínimo de imunidade contra tais agentes patogénicos, até aí desconhecidos naquele sistema ecológico.
Hoje, a medicina dispõe de um arsenal de conhecimentos e de uma logística que pretende ser coordenada, eficaz e atuante, quer através de mecanismos normais acionados por cada Estado, quer pela própria OMS, esta última responsável por uma alargada estratégia sanitária, cobrindo todas as áreas do Globo. Assim, nesse esforço conjugado de políticas de saúde desenvolvidas, sobretudo a partir de 1948, o século XX caracteriza-se por uma extensa atividade no domínio preventivo, com vista a reduzir os elevados custos desencadeados pelas doenças e pelo elevado número de mortes registado, especialmente, nas regiões tropicais. Esta vastíssima ação no domínio higiénico e sanitário tem-se centrado na implementação de programas de vacinação massiva (PAV-OMS), nas regulamentações relativas à alimentação e às condições de habitação, nos controlos de fronteiras, nas campanhas de desratização e de desmosquitização (as campanhas desenvolvidas pelos Portugueses em África, contra o paludismo e contra a doença do sono, reduziram significativamente o impacto destas terríveis enfermidades sobre as populações), no saneamento das águas de consumo, na difusão de regras elementares de higiene pública e doméstica e no estabelecimento de convenções de natureza sanitária entre os mais diversos países que compõem o Sistema Internacional. Todavia, a eficácia desta ação preventiva multidirecional só é observável se, dentro e fora de cada país, reinarem a ordem, a paz e a segurança e as populações puderem dispor de um mínimo de recursos para garantirem uma vivência relativamente condigna.
Neste “grande pátio”, onde parecem conviver todos os países, basta haver um que caia ou viva na desorganização e na pobreza temporária, geradas pela anarquia económica, por calamidades ou guerras, e os fenómenos epidemiológicos de natureza infeciosa, de relativamente endémicos e controlados, passam a epidémicos e acabam, quantas vezes, por assumir proporções devastadoras. Os países mais desenvolvidos, de um modo geral melhor equipados medicamente, respondem com grande eficácia e prontidão a esses surtos ou crises. Mas um país pobre, Africano, Sul-Americano ou Asiático, cuja população é, seguramente, mal equipada no domínio médico-sanitário, subnutrida e imunologicamente frágil, sentirá com maior violência a crise demográfica despoletada por qualquer epidemia.
A COVID-19 aí está ela, pronta a impor a sua “lei mórbida e pestilencial”. A menos que a comunidade internacional una esforços e vontades e decida dar uma “forte mão” solidária às comunidades do Terceiro Mundo mais carenciadas em termos sanitários, o panorama afigura-se-nos bem negro.   
Se até agora a medicina tem conseguido suster no limes ou "fora de portas" essas ameaças, cada dia mais frequentes, não só no Terceiro Mundo, como em todo o Planeta, e o desenvolvimento da imunoterapia e da engenharia genética nos deixa antever, para um futuro relativamente próximo, a produção de espantosas armas terapêuticas (anticorpos, soros e vacinas), eficazes contra os demais antigénios e microrganismos virulentos, apesar dessas certezas, desses ganhos, o comportamento destes seres microscópicos continuará a ser sempre uma incógnita. Tal como o ser humano vai sobrevivendo, apoiando-se na imunidade (natural ou artificial) e em novos recursos terapêuticos, contra os agentes mórbido-letais que pululam à sua volta, também a Natureza evolui e, durante esse processo, todas as outras espécies vivas, incluindo as patogénicas, sofrem constantes transformações a nível genético, tornando-se potenciais bombas biológicas. Deste modo, os genótipos mais favorecidos, quando encontram um terreno favorável, independentemente dos esforços de contenção ou de controlo médico-científico, podem determinar autênticas razias demográficas, as quais, na opinião de muitos investigadores e ambientalistas, não são mais do que tremendas respostas reguladoras da própria Natureza.
Apesar de vivermos hoje numa sociedade globalizada pela comunicação, com fácil acesso ao conhecimento e a recursos terapêuticos de ponta, surgidos, sobretudo, entre a segunda metade do século XX e a época em que vivemos, no século XXI, não nos iludamos, continuaremos a ser, pura e simplesmente, ultrapassados por estes agentes patogénicos, perfeitamente adaptados e sempre situados, podemos dizê-lo, um passo à frente da medicina científica.
Nesta visão algo sombria, mas real, do Mundo, em que a redistribuição de recursos não funciona, e em que perecem, diariamente, milhares de pessoas (direta ou indiretamente devido à fome e à miséria), enquanto não surgir uma nova geração de homens-máquina, resistentes a tudo e capazes de substituir o homo sapiens em toda a sua dimensão vivencial, os microrganismos responsáveis por surtos epidémicos ou pandémicos irão continuar a exercer a sua ação mórbida e letal. Teoricamente, as políticas de saúde desenvolvidas por todos os Estados do século XXI, a par dos esforços desenvolvidos por múltiplas organizações sanitárias espalhadas e ativas em todos os continentes, deveriam ser mais do que suficientes para controlar, prevenir e minorar quaisquer riscos epidémicos, poupando assim as populações aos dramas e ao temor que, outrora, pesavam no quotidiano social. Mas as certezas e previsões no domínio da microbiologia e da parasitologia, apesar dos grandes avanços científicos, não parecem ter chegado ao fim. Neste Planeta, marcado por profundas diferenças sociais e económicas, grassarão, inevitavelmente, as velhas doenças e virão, decerto, a aparecer e a difundir-se novos microrganismos com carácter virulento. Nessa medida, o esforço de combate farmacológico e terapêutico assumido pela medicina poderá vir a ser debalde. Os recursos médicos e tecnológicos poderão, de facto, periclitar perante tais flagelos. A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é disso exemplo. 
Quando a ciência parece não dispor de grandes saídas medicamentosas, curativas ou profiláticas, para o combate de uma doença que se assume epidémica e mortífera, como aconteceu em 2009, com a Gripe, e agora com a COVID-19, uma vez mais, a velhíssima medida da quarentena (cumprida por inteiro ou reduzida), instituída durante a Idade Média como a melhor regra preventiva contra a peste, volta a funcionar com eficácia. Isolam-se os doentes ou os suspeitos de contágio. Circunscrevem-se o espaço e os contactos dos contagiados ou que se julga estarem contaminados. Barram-se os acessos a regiões, locais ou países afetados. Fecham-se fronteiras e aeroportos. Vigiam-se portos e todos os pontos de entrada e de saída. Obrigam-se a fundear e a permanecer ao largo as embarcações oriundas de áreas contagiadas, em regime de quarentena.
O tempo define e resolve tudo. Funciona a seleção natural. Morrem os mais débeis. Contabilizam-se os indemnes, circunstancialmente, poupados a estes surtos endémicos ou epidémicos ou, porventura, melhor favorecidos em termos genéticos e imunológicos. Convalescem e curam-se os mais resistentes, com ou sem apoio médico-farmacológico. Cometem-se exageros quando, porventura, se estabelece o corte radical, ainda que temporário, de comunicações com países e comunidades onde a doença prolifera; revivem-se temores e fantasmas de sabor medieval e dissolvem-se, com frequência, os laços e o sentido da humanização e da solidariedade, quer enquanto valores individuais, quer enquanto expressão coletiva. Por maior evolução que a ciência médica apresente e as técnicas ao seu serviço possibilitem, o ser humano ter-se-á que confrontar sempre com novos desafios, doenças e flagelos, explicáveis, ou não, à luz da “realidade epidemiológica” do seu tempo. Nesse duelo permanente, para além dos velhos ensinamentos que a voz da experiência coletiva foi firmando e dos recursos disponíveis à satisfação das exigências e das dificuldades que marcam cada época, há princípios indeléveis que, hoje e sempre, são o garante da continuidade e da sobrevivência do Homem, conferindo-lhe um lugar ímpar no reino animal: tolerância, altruísmo, humanização, solidariedade e cooperação.  Só através da orientação ou definição de um estilo de vida inteligente e ecológica e de uma união eficaz de esforços e vontades, a nível intra ou extraplanetário, o “homem de amanhã” pode fazer face aos microrganismos virulentos ou a quaisquer outros agentes patogénicos, velhos ou novos, de carácter epidémico ou não.
Todavia, muitas das dolorosas lições retiradas ou aprendidas na luta contra a última grande pandemia de Gripe Influenza A (H1N1)v, de 2009-2010, quer no domínio das respostas médico-farmacológica, quer no campo da prevenção contra este tipo de patologias infectocontagiosas, depressa seriam esquecidas. Tendo em conta a enorme morbilidade desencadeada por este vírus, a mortalidade ocasionada pela doença acabaria por representar, depois dos cerca de dezassete meses da sua “viagem planetária”, um saldo de vítimas bem mais reduzido do que o previsto. De acordo com as mais diversas estimativas recolhidas e publicadas pela OMS, aquele vírus gripal teria infetado cerca de 1,4 biliões de pessoas e ceifado entre 150.000 a 575.000 vidas.
Hoje, cerca de dez anos depois da Gripe pandémica irrompida do México, o Mundo acabaria por vir a confrontar-se de novo, com uma outra calamidade viral, a COVID-19, e, sabemo-lo agora de fonte limpa, as autoridades políticas e sanitárias envolvidas na primeira linha de combate e contenção desta doença, em Wuhan (cidade da China Central), bem como os responsáveis políticos dos países europeus invadidos por este surto, tardaram também a reagir a esta agressão infeciosa, estabelecendo as necessárias medidas de contenção e prevenção epidémica. Com epicentro naquela cidade chinesa, esta pandemia, com início no dia um de Dezembro de 2019, ou seja, há cerca de quatro meses e meio, é uma lenta “procissão” mórbida e letal e, visivelmente, ainda “vai no adro”. Estamos em finais de Abril de 2020 e, segundo dados colhidos por fontes oficiais nos vários países afetados pela doença, registam-se já cerca de 2,8 milhões de infetados e 197.000 mortos em todo o mundo (25.04.20), uma cifra ainda muito abaixo da mortalidade gripal observada entre Mar.2009 e Ago.2010. De resto, talvez seja de lembrar que a Gripe Influenza epidémica e sazonal surge mais ou menos ciclicamente, e sempre que coincide com invernos muito frios e prolongados é habitualmente responsável por uma grande morbilidade, a qual chega a oscilar, de acordo com as leituras da OMS, entre os três e os cinco milhões de casos graves, e por uma enorme mortalidade, que pode variar entre os 250.000 e as 500.000 mortos anuais e ascender a milhões de vítimas quando ocorrem pandemias. 
Perante as sérias alterações climáticas da Terra, decorrentes, segundo a opinião de alguns investigadores, de fenómenos naturais, responsáveis por mudanças cíclicas de temperatura, segundo outros, claramente desencadeadas pela ação humana, devido à queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) e a desmatamentos, o aquecimento global e o subsequente derretimento e desaparecimento das “geleiras eternas” polares têm vindo a processar-se a um ritmo extraordinariamente acelerado.
Na opinião de diversos investigadores, o risco de exposição a microrganismos patogénicos provenientes dessas regiões geladas, agora sujeitas a degelo, constitui hoje uma possibilidade cada vez mais próxima e preocupante. A confirmar esta realidade, um grupo de virologistas isolaram 28 vírus, completamente desconhecidos, em amostras de gelo glacial recolhido em Guliya, uma região da China, a Noroeste do Tibete, os quais estariam ali crio-conservados há cerca de 15.000 anos.
Os resultados obtidos com a identificação de microrganismos patogénicos, vírus e bactérias, conservados nessas camadas de permafrost ou pergelissolo (constituído por terra, gelo e rocha, permanentemente congelados) das regiões polares do Ártico e da Antártida, face ao aumento da temperatura global, têm permitido um conhecimento, cada vez mais alargado, da Virosfera. Hoje, podemos afirmar, com toda a certeza, que alguns desses agentes infeciosos não só terão convivido com o homem pré-histórico, como terão sido causa de graves epidemias e razias demográficas. Entre os demais vírus já ressuscitados do permafrost siberiano e ali “congelados” há cerca de 30.000 anos, recolheram-se, a cerca de 30 metros de profundidade, na tundra costeira daquela região russa, o Phitovirus sibericum e o Mollivirus sibericum, os maiores vírus de DNA conhecidos, até à data, e, tão grandes, que podem ser observados ao microscópio ótico comum. Tendo em conta o tamanho normal dos demais vírus conhecidos, com diâmetros que podem oscilar entre os 20 e os 300 nanómetros, aqueles vírus encontrados na tundra ártica são de facto considerados gigantescos, com dimensões que podem variar entre os 1500 nanómetros de comprimento e os 500 nanómetros de diâmetro, no caso do Phitovirus, e com diâmetros da ordem dos 500 a 600 nanómetros, no caso do Mollivirus, um vírus de forma esférica.
Aberta esta perigosa caixa de Pandora, perante estes vírus ressuscitados ou outros que, face ao crescente degelo, venham ainda a ressurgir, o risco de epidemias ou de pandemias não é de menosprezar.      
Mas se o futuro é, em si mesmo, um enigma neste domínio, as certezas do presente não deixam margem para dúvidas e requerem toda a nossa atenção: em todo o Mundo, morrem anualmente mais de 75 000 000 de pessoas, devido a doenças infeciosas. Talvez seja este o preço que a Humanidade terá sempre de pagar à Natureza, pela forma como nela se integra e dela se serve, ameaçando e destruindo, constantemente, elementos vitais à sua dinâmica natural e harmonia e pondo, assim, em causa alguns dos principais mecanismos responsáveis pelo equilíbrio ecológico global.

Autor:
João Frada
Médico/Professor Universitário, Aposentado
(Especialista em Epidemiologia Histórica)
Doutor em Medicina (FML/HSM)



2. COVID-19 e Gripe A (H1N1)v. 2009-10: Semelhanças e Diferenças


2. CORONAVIRUS 2019-2020 e GRIPE A H1N1 de 2009-2010, em Portugal e no Mundo
                                                       Semelhanças e Diferenças

PARTE II - Recomendações e Medidas preventivas

A História é e sempre foi uma das nossas melhores “Mestras”, em todos os campos do saber. Das muitas lições que nos transmitiu, há algumas que pela sua enorme relevância e sentido prático, deve(ria)m ser consideradas, princípios orientadores das regras e conceitos básicos no domínio da prevenção da gripe e de outras doenças transmitidas por via aérea, incluindo as provocadas por coronavírus, a SARS-CoV, em 2002, a MERS-CoV, em 2012, e, agora, a COVID-19.
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O conjunto de Normas e Recomendações que a seguir apresentamos, não muito diferentes daquelas que as autoridades, nacionais e internacionais de saúde, veicula(ra)m, desde o início da Gripe A H1N1 de 2009 e, agora, durante este surto da COVID-19, justifica que se teçam algumas considerações e reflexões, alertando o leitor para as conveniências destes procedimentos, em termos de higiene e prevenção de qualquer patologia virulenta, endémica, epidémica ou pandémica.  
1• Evitar a permanência, dentro do possível, em ajuntamentos e locais ou espaços, especialmente, fechados, com grande densidade populacional, onde a probabilidade de contágio aumenta, e não hesitar em USAR MÁSCARA; é evidente que o simples facto de se respirar ar condicionado em “circuito forçado”, mesmo fazendo uso de filtros “ditos especiais” (embora estes possam oferecer maior segurança), constitui sempre um risco significativo.
2• Se houver suspeita de se ter contraído Gripe ou COVID-19, deve-se procurar confirmar, junto do médico, o diagnóstico e, até prova em contrário, aconselha-se a proteção das entradas /saídas respiratórias (nariz e boca) com lenços ou, de preferência, Máscaras, a fim de não se contaminar ninguém, através da tosse e espirros; de igual modo, sempre que se tussa ou espirre, para se evitar a projeção de quaisquer partículas (de Flugge) de muco ou saliva sobre outras pessoas próximas, na ausência de lenço disponível, é melhor fazê-lo sobre o próprio braço ou antebraço. Estes conselhos são, de resto, aquilo que qualquer pessoa deve aprender a fazer desde criança, enquanto prática higiénica fundamental diária, e não apenas durante surtos gripais endémicos, epidémicos e pandémicos ou de qualquer outra natureza contagiosa. Criando estas "barreiras", prevenimos a eventual formação de nuvens de aerossóis constituídos pelas pequeníssimas “partículas de Flugge”, sempre passíveis de conter grandes concentrações de vírus.
3• Ao contrário do que verificou hoje, com a COVID-19, a OMS, aquando da Gripe A (H1N1)v. de 2009-10, não aconselha/ou, na nossa opinião, erradamente, o uso preventivo de máscara (cobrindo nariz e boca) para quem, não estando doente, tenha que permanecer em ambientes ou espaços públicos fechados e pouco arejados. Por outro lado, recomenda que se evite, dentro do possível, viagens de avião. Neste meio de transporte, o ar que se respira é forçado a girar, obrigatoriamente, em circuito fechado.
Na nossa opinião, os passageiros, logo que cumpridas as normas de identificação, uma vez dentro da aeronave, exatamente, pelas razões atrás apontadas (emanadas pela própria OMS), deveriam poder fazer uso de máscara. Mas se a bordo de aviões, o uso de máscara generalizado nunca chegou a ser aconselhado e entre as tripulações das linhas aéreas Portuguesas a necessidade dessa proteção, aparentemente, nunca foi considerada, a verdade é que algumas companhias aéreas Americanas e Asiáticas não impediam o seu uso a quem fizesse questão disso. Todavia, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em Dezembro de 2009 emitia, nas suas orientações provisórias para gestão gripal em aviões, conselhos adequados sobre o uso desta proteção. Os passageiros doentes com suspeita de Gripe ou de qualquer outra patologia respiratória aguda, e com caráter infecioso, como é o caso da COVID-19, em princípio, não deveriam viajar sem vigilância médica. Porém, quando autorizados, deve(ria)m usar máscara, colocando-a, obrigatoriamente, durante o voo e, se possível, teriam que ocupar lugares distantes cerca de 1,80 metros ("6 feet") dos restantes passageiros. Esta medida preventiva, é exatamente a mesma que, enquanto grassa esta epidemia, se recomenda, vivamente, a toda a gente. Mas, se este afastamento se tem verificado, praticamente, em todo o lado, já o uso da Máscara continua a falhar em muitas zonas do país, sobretudo, naquelas onde a população não pressente ou se apercebe que não há casos de infeção. Todavia, esta crença pode ser errada, pode ser fatal. Um infetado, no período prodrómico (inicial) da doença, não traz etiqueta na testa, nem qualquer sinal sugestivo de infeção. Por isso, a Máscara é meio caminho andado para prevenir complicações.
Esta medida iria ter, necessariamente, repercussões enormes em termos económicos e baixar os lucros das demais companhias aéreas, as quais teriam assim de limitar, em todos os voos, o número de passageiros. Quando falamos em viagens aéreas, onde se verifica, normalmente, uma significativa concentração populacional num espaço fechado e de reduzidas dimensões, teremos de pensar também noutros meios de transporte, barcos, comboios, etc. E será que esta medida, dos cerca de dois metros da distanciação entre passageiros, irá mesmo ser, obrigatoriamente, implementada, alguma vez, nestes contextos críticos pandémicos?    
É óbvio que os vírus da Gripe de 2009 e, atualmente, a COVID-19 se disseminaram pelos diversos continentes, especialmente, através das viagens aéreas, e os meios de deteção sanitária de epidemiados, com doença ativa e já com sintomatologia ou ainda em fase prodrómica, não demonstraram a eficácia tantas vezes apregoada. Os potenciais doentes puderam viajar, sem restrições, de avião, de comboio, de paquete-cruzeiro, de automóvel, e espalhar partículas de Flugge à vontade. Segundo Francisco George, Diretor Geral de Saúde, referindo-se à gripe de 2009, dos “107 casos de morte por gripe A (H1N1)v, registados até hoje (2.fev.2010) em Portugal, há 91 casos importados – pessoas que foram infetadas em viagens ao estrangeiro”. Francisco George defende ainda que, salvaguardando os profissionais de saúde a quem se aconselha, como é óbvio, o uso de máscara durante o contacto com doentes suspeitos, não se recomenda, nem se distribui tal acessório, a não ser em casos especiais, porque a infeção não assume níveis de descontrolo como os que se observaram no México, epicentro da pandemia.
Hoje, durante esta tremenda pandemia de Coronavírus, tal como em 2009,  consideramos, uma vez mais, fundamental o uso deste acessório de proteção, a Máscara, para todos os profissionais que servem a medicina do país, os quais, durante o exercício desgastante da sua nobre profissão, nas mais diversas unidades e serviços de saúde, onde, afluem milhares de utentes, alguns deles infetados, outros em fase prodrómica da doença (com poucos ou nenhuns sintomas), não só, se tornam alvos preferenciais deste agente mórbido, como correm também o risco de poderem vir a ser agentes de contágio. E, quer a morbilidade, quer a mortalidade por contágio de COVID-19, observadas entre técnicos de saúde, médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica, durante o exercício da sua profissão de alto risco, nos mais diversos países flagelados pelo vírus, primeiramente, a China, e, em seguida, a Áustria (provável polo de dispersão doença na Europa), têm vindo a aumentar consideravelmente.
A MÁSCARA é, pois, um acessório de uso fundamental, para todos aqueles que vivem, trabalham ou são obrigados a frequentar locais onde, suposta ou comprovadamente, pode haver risco de infeção. Mas, esta preocupação não chega. Segundo estudos desenvolvidos por especialistas em infecciologia e genética viral, a capacidade de sobrevivência ambiental destes microrganismos (coronavírus) é uma coisa séria: podem persistir ativos a temperaturas entre os 21º C. e os 25º C, durante várias horas ou mesmo alguns dias, em superfícies de Vidro, Papel ou Papelão, Cerâmica (azulejos e lajes), Couro, Madeira, Latex (luvas), PVC, Plástico e Metais (cobre, alumínio, aço inox e outros). Puderam também concluir que o vírus, entre aquelas temperaturas, mantém a sua maior durabilidade ativa, cerca de nove dias, em superfícies de plástico ou de aço inox. Nessa medida, deve-se proceder, sempre que possível, à desinfeção dos referidos materiais com produtos antissépticos recomendados: usando toalhetes alcoolizados ou através de pulverização direta (spray) com etanol ou álcool etílico a 70º, na inexistência de 95º C.; peróxido de hidrogénio (água oxigenada a 0,1%) e hipoclorito de sódio (lixívia), usado em mistura aquosa (uma parte de lixívia por nove partes de água).
Para a esterilização de Livros ou de qualquer objeto ou documento feito de papel, a desinfeção é mais delicada e complexa:
- Se for “Capa” de livro, a solução de gel alcoolizado é a melhor solução para o efeito, sem por em risco a estrutura do material.
- Se se tratar do “Miolo” de livro, a esterilização é bem mais difícil, e somente a alta temperatura ou pelo recurso à radiação ultravioleta, é possível proceder à sua esterilização.
- Quanto às “Notas bancárias”, que mudam de mão em mão, diariamente, e podem conter, sem sombra de dúvida, dezenas, senão centenas de germes, uns mais patogénicos do que outros, só através de altas temperaturas e da radiação ultravioleta poderão ser desinfetadas. Reservam-se tais procedimentos para os responsáveis dos Bancos Nacionais, se, eventualmente, alguém lhes fizer lembrar dessa necessidade prioritária, agora que estamos a viver uma crise como esta, da COVID-19. Como tratamento caseiro, garantindo alguma eficácia, aconselhamos a que se borrifem, primeiro, com álcool a 70º e se limpem e sequem, alguns minutos depois, com papel higiénico; podem também ser lavadas, secas e passadas a ferro, sob um pano fino e com as devidas cautelas.
O Conselho Ideal é aquele que já todos nós acabámos de descobrir: USAR CARTÃO DE CRÉDITO, em todas as nossas operações e, depois disso, proceder à sua limpeza com gel alcoolizado, ou Álcool a 70º ou a 96º diluído (7 partes de álcool + 3 partes de água), “por via das dúvidas”.    
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Apesar dos esforços desencadeados por todos os intervenientes na área da saúde, da governação e do setor industrial e farmacêutico, no sentido de se responder às imperativas necessidades sanitárias geradas pela epidemia da COVID-19, a verdade é que, numa boa parte das unidades hospitalares do país, como se tem visto, Não Faltam Apenas Máscaras e outros EPI´s; escasseiam também papel, álcool, gel alcoolizado e ventiladores, imprescindíveis para os doentes mais críticos.
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Face à dificuldade de acesso a máscaras, sobretudo, para uso comum, extra-hospitalar, deixamos aqui uma sugestão útil: faça-a você mesmo! Como?! Consulte a INTERNET ou tente seguir as instruções que se seguem:
- Usando tecido de algodão (um pedaço de uma fronha ou de um lençol), dobrado em duas camadas se o tecido for demasiado fino, ou uma ou duas folhas duplas de rolo de papel de cozinha, com medidas suficientes para cobrir a boca e o nariz, e um ou dois elásticos, que podem ser cosidos à máquina ou à mão, é possível prepararmos uma série de máscaras para uso pessoal ou dos nossos familiares. As confecionadas em tecido de algodão, mais fiáveis, podem ser sempre recicladas, isto é, depois de usadas e sujeitas a lavagem, nos meios aquosos e de alta temperatura já atrás citados, posteriormente à secagem, est(ar)ão novamente prontas a ser utilizáveis. Lembramos que os filtros para coar café, em tecido de algodão ou flanela, usados em muitas casas das aldeias portuguesas, eram quase sempre de confeção caseira.
As máscaras de papel, essas, deverão ser postas no lixo indiferenciado e substituídas por outras.   
Ainda sobre Máscaras: abundam conselhos sobre como confecionar em casa estes equipamentos com viseira, usando uma folha de plástico transparente (de acetato de polipropileno), dessas que se usam como separadores, adquiridas em livrarias ou supermercados. Os óculos, para quem os use, são facilmente adaptados a estas viseiras. Realmente, pode ser improvisada esta viseira e, com ela, limita-se, pelo menos, o acesso às mucosas dos olhos, do nariz e da boca, de qualquer partícula de saliva ou secreções projetadas, direta e frontalmente, sobre estas portas de entrada. A viseira serve, realmente, de proteção, mas relativa. Aberta em cima e em baixo, se o indivíduo vier a respirar quaisquer partículas (de Flugge) em suspensão no ambiente, por exemplo, provenientes de um espirro, as quais podem permanecer no ar, sob a forma de aerossol, durante largos minutos, sobretudo em espaço fechado onde não haja correntes de ar, como é de supor, este tipo de viseira não garante uma grande proteção.  
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Em 2009, durante a Gripe, e agora, novamente, durante esta pandemia de Coronavírus, quer a OMS, quer a maior parte das autoridades sanitárias dos diversos países flagelados por estas doenças (…), pura e simplesmente, não valorizaram as potenciais trajetórias virais que viriam a acompanhar, como sempre, a deslocação das populações em todos os meios de transporte, terrestre, marítimo e aéreo. Houve, pois, claramente, uma falha estratégica nos planos de contingência, porque a morbilidade resultante da enorme infecto-contagiosidade do vírus A (H1N1)v provar-nos-ia, sem sombra de dúvida, que se poderia ter limitado, um pouco mais, o impacto sanitário e económico desta pandemia, apesar de tudo, não tão mortífera como se temia. Tivesse sido um Vírus de gripe ou qualquer outro vírus mais letal, e todas as medidas teriam sido poucas para limitar a mortalidade. Não é fácil diagnosticar qualquer doença, numa fase clínica inicial (sobretudo, enquanto não surge febre), nem identificar um potencial doente infetado de Gripe ou de Coronavírus no “ato de embarque”. Precavendo o contágio dos seus parceiros do lado ou de uma boa parte deles enclausurados no mesmo espaço, através de tosse, espirros e eventuais contactos corporais, porque não admitir que tal acessório, a máscara, possa ser usado livremente a bordo, durante situações epidémicas ou pandémicas como a que vivemos? O seu uso ficaria ao livre-arbítrio de cada um. Caberia ao passageiro a decisão de a colocar ou de a retirar durante a sua presença a bordo, sobretudo, se a seu lado viajasse alguém com queixas respiratórias sugestivas de doença – febre, tosse ou espirros. Não é a única medida profilática capaz de fazer frente a uma situação desta natureza, é verdade. Mas é mais uma e, se no futuro nos viermos a confrontar com novos surtos infetocontagiosos deste tipo, seria bom ponderarmos que todos os cuidados são poucos. E que os vírus viajam de avião, já ninguém tem dúvidas. O atual coronavírus (COVID-19), viria, infelizmente, a comprovar, uma vez mais, as nossas convicções.
Há, porém, ainda um outro aspeto de ordem logística que deve ser tido em consideração. Sempre que a bordo se torne necessária a ingestão de água, sumos, leite ou outros alimentos sob a forma líquida, o uso de palhinha ou sonda aspirativa, que pode ser recomendado sem comprometer grandemente o sistema de proteção por máscara (tapando a boca e o nariz), resolveria a questão de logística alimentar. Como é óbvio, aplicar máscara protetora e tentar mantê-la em crianças pequenas (abaixo dos 2 anos), é/seria uma tarefa difícil de realizar. Constitui, mesmo, a única dificuldade, que antevemos, de resolução bastante complicada. Por isso, às mães com crianças pequenas damos o conselho que nos parece mais adequado a estas circunstâncias: protelar e evitar viagens de avião, o mais possível, enquanto grassar este ou outro surto epidémico ou pandémico de grande infecto-contagiosidade. Os outros passageiros, no entanto, se pudessem dispor de máscara, sentir-se-iam, seguramente, muito menos vulneráveis. Um “eventual infetado”, a bordo, que possa passar despercebido no controlo das autoridades sanitárias, por se encontrar numa fase prodrómica da doença, tem muito menos hipóteses de contaminar os restantes passageiros. Poderá pensar-se que não permitir o uso de máscara a bordo de aviões comerciais é, não só, uma estratégia inteligente, como a melhor forma de evitar o pânico e a insegurança entre as pessoas. Mas também não parece ser esta a melhor solução para se ultrapassar o temor de permanecer em espaço fechado, respirando o ar que todos respiram, em colisão total com as próprias normas emitidas pela OMS e pelas autoridades nacionais de saúde. Seria melhor refletir sobre tantos paradoxos e contradições e deixar, definitivamente, de “enterrar a cabeça na areia”. Embora sempre com a noção de que não é possível eliminar completamente o risco de contágio, estamos convictos de que todos ganhariam com a medida, incluindo as empresas de transportes aéreos, consideravelmente ressentidas com a quebra do número de viagens, desde o início da pandemia.
4• Ter em atenção o contacto com objetos ou materiais infetados por doentes (FOMITES) - corrimãos, maçanetas e pegas de portas (de casa, de automóveis, de metro, de comboio ou autocarros, etc.), mesas, secretárias, telefones, computadores, mangueiras e teclados em bombas de combustível, teclados de multibanco, solas de sapatos, carrinhos e cestos de supermercados, solas de sapatos, etc. - e proteger as mãos com luvas ou lenços de papel descartáveis. A escolha dos respetivos produtos de limpeza e antissépticos, como já o dissemos, deve ser, naturalmente, adequada a cada material ou objeto, em particular, que se pretende desinfetar ou descontaminar.
5• Desinfetar, sempre que possível, todos os materiais manuseados por indivíduos, crianças ou adultos, e sobretudo, se forem suspeitos de doença.
6• Se se contrair a doença, deve-se respeitar o isolamento no domicílio, se for este o alojamento temporário medicamente aconselhado, e manter a “quarentena” até decisão médica contrária, por forma a não contaminar ninguém e a evitar as complicações secundárias (bronquites e pneumonias), desencadeadas pela Gripe ou, agora, pela COVID-19.
7• Lavar as mãos com Água Quente e Sabão (de preferência Líquido) ou produtos antisséticos medicamente recomendados, e secá-las, sempre que possível, com toalhetes descartáveis.
8• Evitar contactos das mãos ou lenços sujos de muco (de tosse ou espirros) com os olhos e o nariz, também portas de entrada da doença. Com máscara colocada ou não, nestas circunstâncias críticas, em que o país foi colocado em estado de emergência, face ao número crescente de infetados e de mortos pela ação do vírus, recomenda-se a todo o cidadão que Evite, o mais possível, tocar ou coçar o rosto ou esfregar a boca ou os olhos com as mãos, protegidas com luvas ou não. Todas as mucosas, como já o dissemos, constituem portas de entrada e de contaminação viral. A proteção com luvas, como requer procedimentos especiais para a sua utilização, manuseamento e desinfeção posterior, a não ser que sejam descartáveis (e também estas não devem ser retiradas de qualquer maneira), é preferível não ser considerada de uso comum. É mais fácil e garantida a desinfeção regular das mãos com água e sabão ou com qualquer outro meio antisséptico.    
9• Instruir suficientemente as crianças para respeitar o mais possível estes requisitos e normas preventivas. Estes são alguns dos cuidados higiénicos importantes a reter que, se observados em situações de crise epidémica deste ou de qualquer outro tipo, poderão ajudar a fazer a diferença.
10• Dada a possibilidade remota de contagiosidade de animais domésticos de estimação, em particular, gatos e cães, já confirmada em alguns países, quando em contacto com pessoas infetadas de COVID-19, de um modo geral, conviventes próximos com tais animais, seria de bom tom que qualquer indivíduo doente com este vírus, e sob tratamento obrigatório e isolamento social no domicílio, evite contactos muito íntimos com estes simpáticos bichinhos. E, tal como se aconselham os humanos a lavar as solas dos sapatos, com água e sabão, ou a esfregá-las num pano ou tapete bem molhado numa mistura aquosa de  (nove partes) de água com (uma parte) lixívia e a, sempre que possível, não transportar estes acessórios para dentro das residências, recomenda-se a que se proceda também à limpeza das patas dos fiéis amigos caninos e, se possível, felinos (gatos de estimação), quando regressam das suas passeatas, depois de serem levados à rua pelas trelas. A lixívia, diluída em água ou não, nunca deve ser utilizada na limpeza e desinfeção das patas destes animais, pela sua ação cáustica e corrosiva. A lavagem com uma mistura de água e sabão abundante remove, completamente, qualquer microrganismo alojado nas patas destes animais.
11• No atual contexto epidémico de Coronavírus, em acréscimo a todos os procedimentos higiénicos já citados, recomenda-se a todo o cidadão, residente em área considerada de elevado risco de contagiosidade viral, e este grau estabelece-se, como é óbvio, com base no números de infetados diagnosticados no local (aldeia, vila ou cidade) que, caso tenha de romper, pontual ou diariamente, o isolamento sanitário (ou período de quarentena) imposto pelo estado de emergência, a fim de cumprir ou resolver fora de casa alguns dos seus compromissos laborais ou necessidades básicas, deve ter em atenção mais um Conselho fundamental: regressado a casa, todas as roupas externas e o calçado usados durante a saída à rua, sobretudo, se frequentou locais onde possa ter estado muita gente, (supermercados, micromercados, centros comerciais, padarias, farmácias, bancos, etc.),  aumentando a possibilidade de haver potenciais doentes, assintomáticos ou não, deveriam ser deixados fora de casa, no hall, na garagem ou noutro espaço próximo da porta de entrada, se possível expostos ao ar e ao sol, e, posteriormente, depositados em saco próprio ou contentor de roupa suja, seguindo daqui para a lavagem em água quente, acima ou igual a 60º C, como já foi referido mais acima. Os sapatos, tal como a roupa, devem ser lavados e as solas desinfetadas com água e sabão ou uma mistura aquosa de lixívia, já supracitada. Este conselho, sobre o especial cuidado a ter com vestes e calçado, tem sido insistentemente referido por especialistas e pessoal hospitalar, bem conhecedores da resistência deste vírus, quando infiltrado nestes equipamentos.     
12• Às autoridades de proteção civil, em especial, aos bombeiros e às Forças Armadas, seguindo as orientações sanitárias aconselhadas para o controlo de quaisquer crises epidémicas, como aquela que agora vivemos, compete-lhes proceder à desinfeção periódica, através de pulverização ou de limpeza antisséptica direta e manual, todos os locais, onde, supostamente, se corra maior risco de infeto-contagiosidade viral: lares de idosos, prisões e hospitais, bem como todos os espaços públicos onde, porventura, possam haver resquícios ou partículas virulentas de COVID-19. 
Em resumo:
Todos os materiais de uso individual devem ser sujeitos a desinfeção periódica e, depois de lavados com água e sabão ou, eventualmente, passados durante alguns minutos, numa mistura de água e lixívia (tendo sempre em conta que alguns equipamentos, tecidos, em particular, podem ser sensíveis a este produto e sofrer deterioração ou descoloração), aconselha-se a que sejam colocados ao sol, sempre que seja possível. O Coronavírus, assim exposto ao ambiente e às radiações solares, desidrata-se facilmente e, ao sofrer danos na sua estrutura molecular, torna-se inativo e incapaz de infetar qualquer hospedeiro. 
13• Em época de Coronavírus ou não, sempre que precisem de abrir qualquer caixote ou depósito de lixo público, se não quiserem utilizar as vossas luvas, descartáveis ou não, gastar álcool, borrifando o local onde irão pôr os vossos dedos para levantar a respetiva tampa ou usar um qualquer pedaço de papel, para o mesmo efeito, mantendo sempre a necessária distância para evitar sujar ou contaminar as vossas vestes, e evitando, assim, contactos microbianos duvidosos, experimentem levantá-la (a dita tampa) com um pequeno pau ou um pedaço de papelão grosso, do tamanho de um palmo, sem tocar no caixote. Logo que a abertura do mesmo vos pareça suficiente para inserirem os vossos sacos de lixo comum lá dentro, depositem-nos ou lancem-nos ali, sem pressas, mas, antes de o fecharem, procurem deixar o pauzinho ou o papelão que usaram na operação, bem trilhado sob a tampa e com a sua maior porção voltada para o interior do dito depósito. Logo que outro utilizador abra este caixote de lixo, o objeto ou o papelão ali deixado cairá, de imediato, no seu interior.  Caso usem mãos livres, desinfetem-nas, obviamente, com álcool ou, chegados a casa, com água abundante e sabão.       
14• Nos casos especiais, em que há doentes isolados, não no hospital, mas no domicilio, os cuidados, bem mais rigorosos, a serem tidos em conta, para além dos que já citámos, deverão ser instituídos por autoridades de saúde, médicos e enfermeiros, que venham a proceder ao seguimento sanitário e terapêutico do enfermo e, por isso mesmo, entendemos não os referir nesta Lista de Recomendações Gerais.
15• Tendo em conta tudo quanto foi dito acerca da higiene e contenção da COVID-19, lembrem-se que, se o coronavírus pode sobreviver no ambiente, com capacidade ativa e virulenta, e tem havido a preocupação de desinfetar todos o espaços e zonas públicas, ruas e locais, sobretudo, onde possa ter havido ou transitado grande número de pessoas, a utilização dos “ares-condicionados” nas nossas residências ou locais de trabalho, devem ser também, correta e regulamente, sujeitos a desinfeção periódica. As infeções a Legionella pneumophila, que se desenvolve no ambiente húmido dos equipamentos de ar-condicionado, são a prova irrefutável de que há absoluta necessidade de proceder à manutenção destes equipamentos, para evitar riscos de doença.    
16• Nota Preventiva especial, não menos importante do que todos as outras, anteriormente referidas: devam ter em atenção qual o estado do vosso “sistema imunitário” porque é ele que marca a diferença entre a nossa maior ou menor capacidade de resistência em relação a qualquer agente infecioso. Uma boa imunidade depende de muitos fatores, mas, acima de tudo, de uma alimentação equilibrada, da prática de exercício físico regular e de uma boa suplementação vitamínica, o mais possível, natural, mas, se necessário, também farmacológica. E, nesta crise atual, as vitaminas mais essenciais são: todas as que constituem o complexo B, o ácido ascórbico (vitamina C) e a vitamina D, esta última, considerada de especial importância na prevenção e cura de doenças respiratórias provocadas por múltiplos agentes infeciosos, incluindo o Coronavírus.    
Lembramos, no entanto, que também as Vitaminas, ou por fatores idiossincráticos ou por consumo em excesso, podem desencadear efeitos ou reações indesejáveis. Assim, o ideal seria que pudessem consultar o vosso médico assistente ou farmacêutico, antes de iniciar estes suplementos.
Meditem nisto!
Ah, e repetindo-me, na rua ou em qualquer espaço público ou privado (supermercados, repartições, etc.), onde estejam ou onde tenham estado muitas pessoas, não deixem de usar MÁSCARA. Ainda que não seja uma medida 100% protetora, garante-vos, seguramente, maior probabilidade de não contrair doenças como esta, da COVID-19, de transmissão predominantemente aérea, através da tosse e do espirro.
17• Evite, o mais possível, permanecer muito tempo em espaços fechados e onde se concentre muita gente. Faça exercício físico em casa, de preferência, ou ao ar livre, em zonas e locais onde não cruze, necessariamente, com muita gente. Nestas ocupações, tal como em casa, desde que não conviva com doentes, não se justifica, obviamente, o uso de máscara. 
Enquanto não surgir uma Vacina segura e, suficientemente, preventiva, como a imunidade alargada de grupo, só conseguida quando uma grande parte da população, atingida pela doença, recupera e passa a dispor das suas próprias defesas, dos seus anticorpos naturais, o risco de se poder assistir a uma segunda ou terceira vaga viral mais mortífera é sempre uma possibilidade a ter em conta.   Assim, até que surja uma Vacina salvadora, não se deve afrouxar a vigilância e, quer os cuidados higiénicos, quer a Máscara, continuam a ser a melhor defesa contra este ou qualquer outro vírus infecioso, endémico, epidémico ou pandémico. 
Deixo-vos uma última nota de leitura, para meditarem: 
A OMS, em 2009, revelou uma total ingenuidade em relação às suas orientações e, visivelmente, entrou mesmo em contradição. Por um lado, não aconselhava o uso de máscaras, a não ser para quem estivesse doente e tivesse que permanecer em espaços públicos, fechados e pouco arejados; para todos aqueles que não fossem considerados ou não se considerassem doentes, enquanto viajassem de avião, de autocarro ou de comboio, não lhes era recomendado o uso de máscara. Como qualquer indivíduo, numa fase prodrómica da doença, ou não tem sintomas ou não tem queixas suficientes para que alguém o classifique como doente, “sem etiqueta na testa de que está infetado”, pode mexer ou tocar onde lhe apetecer, pode tossir, pode espirrar, que ninguém dará por isso. Foi isso mesmo que aconteceu em 2009-2010, ocasionando a disseminação relâmpago da Gripe Influenza A(H1N1)v. Hoje, uma vez mais, perante a crise de COVID-19, a OMS, claramente, useira e vezeira nestas falhas e contradições, voltou a cometer a mesma imprudência e incoerência, aconselhando as autoridades sanitárias a seguir apenas estas medidas: “Em qualquer espaço fechado, público ou privado, deve ser limitada a concentração de pessoas (quatro por cada 100 m2), e estas deverão manter, sempre que possível, a distância de dois metros entre si. Mas, máscara, quem quiser usa, quem não quiser, não usa, porque não deve ser considerada uma medida obrigatória. Entretanto, a mesma omnisciente instituição e, claro, também as nossas autoridades sanitárias, a reboque destas decisões, perante a situação crescente de doentes e falecidos por COVID, começaram, finalmente, a ponderar se não seria melhor instituir o uso do dito acessório: a Máscara. Mas, o “parto” está difícil. Aguardemos então pela suprema reflexão sobre esta última medida.    
 Máscara - Pelo sim, pelo não, comecem a usá-la, convenientemente, tendo em conta a sua desinfeção e reutilização posterior, de acordo com todos os cuidados acima referidos. 
  
Autor: 
João Frada
Médico/Professor Universitário, Aposentado
(Especialista em Epidemiologia Histórica)
Doutor em Medicina (FML/HSM)

Fontes
Principais:
- FRADA, João. A Gripe Pneumónica em Portugal Continental - 1918 (Estudo  Socioeconómico e Epidemiológico. Edição Setecaminhos: Lisboa, 2005.
- FRADA, João. Pandemias de Gripe A (H1N1) em Portugal (1918 – 2009) – Ecos e cismas do passado no presente. Edições Clinfontur: Lisboa, 2010. [Excerto da Obra - texto truncado e adaptado]
Secundárias:
- Cadeias de Transmissão de Coronavírus
(https://www.publico.pt/2020/03/22/sociedade/noticia/dgs-ja-nao-divulga-cadeias-transmissao-nao-caracteriza-perfil-doentes-internados-1908929)
- Notícias e dados colhidos a partir da “Comunicação Social” diária - Periódicos e Televisões (Entre Dez. 2019 - 30.Mar.2020) 

Nota: Seguir-se-á a Parte III-IV deste Estudo




1. CORONAVIRUS 2019-2020 e GRIPE A (H1N1) de 2009-2010, em Portugal e no Mundo
                                                
                                  Semelhanças e Diferenças

Considerações Prévias
No trabalho de investigação que efetuámos, apresentado em quatro partes distintas, centrámo-nos, fundamentalmente, no estudo e na compreensão dos diversos aspetos epidemiológicos das duas pandemias, de CoronaVirus Disease (COVID-19) e de Gripe A (H1N1)v. de 2009-2010, e nas respostas sanitárias e sociológico-políticas estabelecidas para a sua prevenção, controlo e contenção.
Considerámos prioritário o levantamento dos dados disponíveis, atualmente, sobre esta pandemia de COVID-19, e o seu tratamento constitui a Primeira Parte deste estudo.
Na Segunda e Terceira Partes, destacamos o papel das várias medidas higiénicas e preventivas, aconselhadas durante a Gripe de 2009-10 e, agora, novamente ventiladas, enquanto decorre este surto pandémico de Coronavírus. Abordamos ainda, com algum sentido crítico, mas sempre construtivo, o importante papel que deve ser reconhecido a todos os intervenientes, às entidades sanitárias, ao governo e à sociedade, em geral, neste complexo processo de luta e contenção, movido contra estas duas entidades nosológicas, mórbidas e letais.
Na quarta e última parte debruçamo-nos, de uma forma geral, sobre algumas das pandemias virais e bacterianas que marcaram, fortemente, os ritmos da Civilização entre a Antiguidade e os nossos dias, e realçamos a importância desses impactos virulentos, mórbidos e mortíferos, quer sob o ponto de vista demográfico, socioeconómico e financeiro, quer no tocante à evolução do conhecimento médico e farmacológico. Refletir sobre estes fenómenos, lições duras e dolorosas, mas, simultaneamente, excelentes guias do comportamento do homem, fundamentais à sua relação com o Mundo, com a Natureza e com a sociedade de que faz parte, constitui o objetivo fundamental da nossa análise.  

PARTE I

COVID-19: alguns aspetos clínicos 

Deixando para a medicina as questões específicas relativas ao diagnóstico e ao tratamento dos enfermos, iremos apenas debruçar-nos, de forma pontual, sobre alguns aspetos clínicos da doença, uma vez que todos os meios de comunicação, periódicos, televisão e redes sociais, têm procedido, diariamente, à sua divulgação exaustiva. 
Eis um desses quadros informativos:
SINTOMAS            Coronavírus     Constipação   Gripe
Febre                      Habitual            Rara                 Habitual
Fadiga                     Às vezes            Às vezes          Habitual
Tosse                      Habitual (seca) Moderada      Habitual (seca)
Espirros                  Não                    Habitual          Não
Dores no corpo     Às vezes            Habitual          Habitual
Nariz entupido      Raro                   Habitual          Às vezes
Dor de garganta    Às vezes            Habitual          Às vezes
Diarreia                   Raro                   Não               Às vezes (em crianças)                                           
Dor de cabeça        Às vezes            Raro                Habitual
Falta de ar               Às vezes            Não                 Não
Fonte: Quadro extraído do Correio da Manhã (12.03.2020)
        
A doença a Coronavírus, ao contrário da simples Constipação ou da Gripe, apresenta:
 - Falta de ar, não, apenas, “Às vezes”, mas Sempre, entre o grau Ligeiro e o Severo
- Cefaleias (dores de cabeça), não “Às vezes”, mas Sempre, entre o grau Ligeiro e o Severo.
A explicação é simples:
Aliada “Falta de ar”, resultante da habitual destruição da mucosa e submucosa pulmonar, pela ação viral, com compromissos imediatos dos normais mecanismos respiratórios, os índices arteriais e teciduais de O2 e de CO2 sofrem desregulação imediata. Entre as demais repercussões orgânicas, geradas pelo compromisso da hematose pulmonar, a hipoxemia cerebral traduz-se, habitualmente, entre outros sintomas, por cefaleias. Aliada a este desequilíbrio químico-molecular, a “Tosse”, quando persistente, violenta e prolongada, uma queixa comum na pneumonia a coronavírus, a par da pressão intratorácica que a acompanha, diminui frequentemente o fluxo sanguíneo cerebral, já de si comprometido pela oxigenação deficiente, e contribui também para agravar, um pouco mais, ou despoletar as Cefaleias.
- Alguns médicos, com experiência no terreno, constataram que uma grande percentagem de doentes (cerca de 30%), referiam também Anosmia (perda total de olfato) e Hiposmia (perda parcial de olfato), provavelmente, resultante da destruição da mucosa nasal e destruição das terminações nervosas olfativas.
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COVID-19 em Portugal e no Mundo: aspetos epidemiológicos, sanitários e sociológico-políticos 
                                                      
Com o epicentro em Wuhan, cidade chinesa com mais de 11 milhões de habitantes, a COVID-19, rapidamente, transpôs as fronteiras deste país e pôde acompanhar milhares de infetados que, assintomáticos ou em fase ligeira e prodrómica da doença, diariamente, foram saindo da China, rumo a todos os cantos do Mundo, durante as suas deslocações de trabalho ou de lazer, sem que ninguém os impedisse. O governo chinês, por seu lado, confrontado com a terrível situação que ali se vivia, perante a altíssima contagiosidade e virulência do coronavírus, pressentida, supõe-se, em primeira mão, por um médico oftalmologista, o qual, ao lado dos seus doentes, na cidade Wuhan, viria também a ser infetado e a perecer pela ação deste microrganismo, optou pelo silêncio; encerrou-se dentro de portas, procurando suster, como podia, este surto epidémico, não informou, como devia, nem a comunidade internacional, nem a OMS, em tempo útil, e acabou por permitir e facilitar, através das constantes pontes aéreas, marítimas e terrestres, a disseminação, em larga escala, de inúmeras cadeias de transmissão viral. O resultado “foi o que se viu, o que se vê e o que ainda há de vir”, sobretudo, em países onde a higiene, a miséria, a fome e as condições sanitárias, em geral não funcionam ou não existem.
Os países ocidentais, como seria de esperar, não estavam, e muitos ainda não estão, preparados para uma calamidade desta natureza. “E a procissão”, podemos dizê-lo, lamentavelmente, “ainda vai no adro”.      
Portugal, à imagem de outros países, praticamente, parou, e os hábitos de milhões de pessoas parecem ter mudado, quase radicalmente. Seguindo e prosseguindo os cuidados higiénicos básicos aconselhados, nestas circunstâncias, a grande maioria da população, assim isolada e preservada dos eventuais focos de contágio, diagnosticados e sujeitos a vigilância médica, domiciliária ou hospitalar, terá sérias probabilidades de escapar ilesa. Curam-se os doentes, falecem os mais débeis e consideram-se, definitivamente, indemnes aqueles que não manifestaram sintomas da doença, ainda que alguns tenham desenvolvido quadros ligeiros e quase impercetíveis da mesma.
Perante o panorama que se tem verificado em Portugal, em termos de contabilidade diária de infetados, curados e falecidos, no contexto desta pandemia de Coronavírus, em contraste com o quadro geral observado, quer na China, quer noutros países europeus afetados pela COVID-19, parecem-nos  demasiado otimistas a afirmações da senhora Ministra da Saúde e de outras autoridades sanitárias, debruçadas sobre a curva epidémica e a expansão geográfica da doença. Apontando o “pico da doença” para breve, por volta de meados do próximo mês de Abril, a alta responsável pela Saúde, exageradamente otimista, parece esquecer-se de que as cadeias de transmissão aumentaram significativamente, a partir dos últimos dias (da terceira semana do mês de Março), e, esse facto, torna extremamente difícil o trabalho de contenção da epidemia. O controlo rigoroso que se deveria ter feito nas fronteiras, pecando, como já o dissemos, por insuficiente e tardio, permitiu a disseminação da COVID-19 em território nacional e, a partir daqui, seria de esperar a sua transmissão comunitária. Qualquer indivíduo passou a ser um potencial agente de propagação da doença, e, nesta altura, há que estabelecer outras medidas, “mitigando” o mais possível a extensão da epidemia ativa e os seus efeitos nefastos. Tal como se verificou nos países asiáticos afetados pela pandemia, o uso de máscaras, fora ou dentro dos serviços de saúde ou no contexto de pequenos grupos de pessoas, distanciadas devidamente umas das outras, passa a ser de uso recomendado, ainda que, por ora, não obrigatório, para toda a gente.
O isolamento do doente, suspeito ou confirmado por teste específico, de acordo com a gravidade do seu estado e das suas queixas, deverá processar-se ou no domicílio ou em unidade hospitalar, dotada dos recursos adequados ao respetivo tratamento. Qualquer indivíduo com sintomas sugestivos da doença, febre em particular, deverá ser de imediato sujeito a Teste de diagnóstico de COVID-19. Se positivo, todas as pessoas com quem contactou terão também de ser sujeitas ao mesmo teste. Mantendo as necessárias medidas de mitigação, que tememos não serem fáceis de cumprir durante muito tempo, e rastreando, dentro do possível, toda a população, eventualmente, identificada como próxima ou convivente com um infetado, é possível anular e quebrar qualquer cadeia de transmissão, conduzindo a um controlo mais eficaz, mais rápido e seguro deste surto de coronavírus.
Mas, se a população, de um modo geral, após duas semanas de isolamento domiciliário, parece estar preparada, pelo menos, por ora, para uma verdadeira quarentena, aderindo e apoiando contenção à epidemia, as múltiplas carências observadas nas mais diversas unidades de saúde do país, põem em risco toda a luta estabelecida contra a disseminação do vírus. A falta dos equipamentos fundamentais para a prevenção e combate desta calamidade, aliada aos constantes descuidos e falhas de vigilância no controlo de entradas, atribuídos aos agentes e autoridades ligados à segurança aeroportuária, alfandegária e à proteção civil, constituem verdadeiras “brechas” nesta frente de combate à COVID-19.
Esperar que o vírus se dissemine e percorra, numa louca maratona, todas as regiões do país, e aguardar que “ele toque a campainha” da doença e da morte, avisando-nos da sua passagem e presença, e acreditar que a DGS, entretanto, num “trabalho incansável de detetive”, sempre na retaguarda do mesmo, possa mapear os focos e cadeias de transmissão viral e aconselhar, finalmente, o isolamento preventivo da população e o cumprimento das demais regras higiénicas essenciais, é francamente insuficiente. Rastrear toda a população, considerada de risco, nesta fase de mitigação, através de teste específico, embora sabendo que seria a forma mais perfeita de isolar os infetados dos saudáveis, não acreditamos que possa ser, economicamente, exequível; a menos que tais testes, credíveis, em absoluto, e de fácil utilização, venham a ser disponibilizados pelos serviços de saúde ou colocados no mercado farmacêutico a preços acessíveis a todas as bolsas. Defendemos, contudo, que esse diagnóstico laboratorial, se possível, deveria estender-se a todos aqueles que, mesmo sem queixas, conviveram de perto com indivíduos infetados. Esta medida, levada a cabo pelo Serviço Nacional de Saúde, iria provocar um grande abalo aos Cofres Públicos e provocar, eventualmente, algum desequilíbrio ou compromisso Orçamental ao Ministério das Finanças? Admitimos que sim!
Mas, não se gasta(ra)m e continuam a injetar milhões para evitar o Risco Sistémico da Banca, recapitalizando bancos falidos, mal geridos e corrompidos por fraudes e incompetências?!
Pois, neste momento, o Risco Sistémico Sanitário deverá ser a vossa prioridade, senhor Primeiro Ministro, senhores Governantes.
Tendo em conta que o mercado internacional não está a responder às encomendas do S.N.S, está na hora de se investir o que for preciso na produção nacional de Ventiladores, fundamentais às unidades de cuidados intensivos, de EPI´s (equipamentos de proteção individual), destinados a todos aqueles, médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, na  linha da frente de combate à COVID-19. De igual modo, é Urgente que se disponibilizem as verbas necessárias para a aquisição de Kits de diagnóstico específico do vírus, ou no mercado nacional, caso alguma empresa ou laboratório venha a apostar no seu fabrico, ou no mercado internacional, desde que os mesmos venham a ser certificados em termos de total fiabilidade e precisão, junto dos organismos nacionais dotados para este fim. O Instituto Nacional Ricardo Jorge é, seguramente, a instituição que mais garantias pode oferecer neste domínio.
Na impossibilidade de sujeitar toda a população saudável a esta triagem, rastrear o vírus no máximo de pessoas, nesta fase epidémica, em especial naquelas que possam ter tido contacto com as diversas cadeias de transmissão já identificadas, seria, quanto a nós, a melhor medida de contenção sanitária da doença. “Doentes, para um lado, Saudáveis, para o outro, e Duvidosos sujeitos a contra-análise e a avaliação clínica”. Os doentes, isolados no hospital ou no domicílio, e todos, infetados ou não, teriam de ter consciência dos cuidados a tomar. 
Nesta complicada “fase de mitigação” a que chegámos, por indecisões, erros e ingenuidades das demais autoridades, políticas, sanitárias e de proteção civil, envolvidas no trabalho de vigilância e contenção alargada da epidemia, parece-nos que este diagnóstico global da COVID-19 poderia vir a poupar muitas vidas e menos estragos, a posteriori, na economia do País. Os doentes seriam isolados, e os não infetados, sujeitos aos cuidados fundamentais que hoje se aconselham, exigem e processam, em termos de desinfeção de espaços e prevenção de contágio individual, poderiam continuar a laborar nos seus postos de trabalho, assegurando e dinamizando a economia e a vida do país.
É urgente pensar nisto, senhor Primeiro Ministro, senhores Governantes. Senão, assistiremos, seguramente, depois desta Crise sanitária, a uma crise, não menos dolorosa, uma Hecatombe económica e financeira.
O País tem seguido e respeitado, mais ou menos, pacificamente, os conselhos e medidas de isolamento e contenção veiculados por todos os órgãos de saúde e subscritos pelo Governo, na nossa opinião, positivamente representado pela atuação do Senhor Primeiro Ministro, mas até quando irá cumprir acatar tais restrições?!
“Não se trabalha, não se produz, não se ganha, não se compra, não se paga, não se come…”. Não é, seguramente, com esta Receita que o país, sem grande atividade laboral e empresarial, irá conseguir reequilibrar as contas públicas, manter o Orçamento de Estado a salvo, diminuir o Défice e a Dívida Publica.     
Há nesta altura, em Portugal, três semanas depois do primeiro paciente diagnosticado com coronavírus, cerca de 24 cadeias de transmissão da doença…talvez mais…, e a DGS, perante o facto do aumento considerável de focos populacionais de infeção, terá optado por deixar de revelar diariamente este dado epidemiológico. Apesar das corretas medidas estabelecidas pelo Governo, que, voltamos a afirmar, só pecaram por tardias, as “brechas” têm sido muitas “na linha da frente” de combate ao vírus. Desde finais de fevereiro de 2020, este microrganismo pôde viajar de barco, de comboio, de automóvel e de avião, sem restrições, inicialmente, a partir da China, depois, de Itália, de Espanha e de outros cantos do Mundo afetados pela doença, e, nestas circunstâncias, o risco de aumento das cadeias de transmissão era previsível. No seu imparável percurso contagioso e sem as necessárias barreiras sanitárias, que ainda vão faltando ou nem sempre são cumpridas com rigor, a COVID-19, silenciosa e mórbida, tem vindo a somar pontos, aumentando, como seria de esperar, o referido número de cadeias de transmissão e dificultando a capacidade de resposta sanitária, em todo o país. O número de infetados e de mortos, pela doença, sobem diariamente.
Seguindo o rasto mórbido e mortífero da COVID-19, a quantidade de doentes e de vítimas mortais não cessa de aumentar. Há quatro dias, contabilizavam-se 350.000 pessoas infetadas e mais de 15.000 vítimas mortais em todo o Mundo. Hoje, só na Europa, já se registaram cerca de 260.000 casos de infeção e cerca de 30.000 mortos. Estas cifras, entretanto, em função das mais diversas fontes de informação, variam significativamente. Em Portugal, com 6.408 casos confirmados de doença, a mortalidade elevou-se para 140 óbitos (Informação SIC Notícias - 30.3.20).
Observando-se, por outro lado, a distribuição da doença por grupo etário, constata-se que, praticamente, todas as faixas etárias têm sido alvos da COVID-19, em maior ou menor grau. Todavia, é nos idosos, sobretudo, nos que sofrem de patologias crónicas (diabetes, doenças cardíacas e respiratórias, etc.), que a pandemia tem feito mais estragos, com elevado número de internamentos e de vítimas mortais. Alguns estudos estabelecidos a partir de dados recolhidos, até agora, na China, na Coreia do Sul, em Itália e em Espanha, permitem-nos também afirmar que, nestes países, as crianças, saudáveis e sem fragilidades congénitas ou imunitárias, com idades iguais ou inferiores aos nove anos, quando infetadas pela COVID-19, ou se apresenta(va)m assintomáticas ou revela(va)m quadros clínicos relativamente ligeiros, de tosse, congestionamento nasal, diarreia e cefaleias. E, ao contrário de todos os outros grupos etários, esta faixa não registou qualquer mortalidade.
Confrontada, diariamente, com uma verdadeira torrente epidémica desencadeada pela COVID-19, que, pouco a pouco vai deixando sem capacidade de resposta os centros e unidades hospitalares reservados ao internamento e tratamento dos doentes infetados, a comunidade médica mundial, ainda sem protocolos terapêuticos específicos suficientemente eficazes para o combate a esta doença, tem ensaiado, com sucesso, velhos fármacos e experimentado novos produtos, muitos deles com resultados bastante promissores, e nesta luta, nesta contínua procura do impossível, vai ganhando batalhas, contrariando e limitando os efeitos da virulência deste germe, o coronavírus. Mas, esta “guerra mundial”, acreditamos, só findará quando surgir definitivamente uma vacina.    
Venceu-se a varíola, e é hoje possível controlar melhor a tuberculose, a malária e a maior parte das doenças virais que flagelaram o Mundo no passado e ainda inquietam algumas comunidades no presente, especialmente, em zonas tropicais.
Sabemos que é hoje possível, através da engenharia genética, produzir microrganismos virulentos. Mas, a Mãe Natureza continua a ser, apesar de tudo, a grande “obreira e fonte” destes seres tão peculiares. A evolução das espécies não é um fenómenos estacionário, e, tal como todos os seres vivos, os microrganismos, ainda que relativamente benignos nos seus hospedeiros animais e pouco ou nada patogénicos em seres humanos (como é o caso dos vírus bacteriófagos da flora intestinal), são, naturalmente, suscetíveis a alterações desencadeadas por múltiplos fatores, entre os quais se apontam,  como mais preocupantes, os de natureza climática e ecoambiental, que, hoje, mais do que nunca, agridem todo o Planeta. Saídos, acidentalmente, dos seus nichos (plantas ou animais seus hospedeiros), e uma vez em contacto com o homem, neste caso particular da COVID-19, através do consumo de espécies selvagens, desde há muito, na China, consideradas comestíveis (pangolim, cobra, morcego, etc.), depois de cruzarem as barreiras naturais do ser humano (pele, mucosas, etc.), estes seres microscópicos, vírus e bactérias, são capazes de espalhar a sua virulência mórbida e mortal por todo o lado, quando as condições climatéricas e sociológicas lhes são, particularmente, favoráveis. Os surtos endémicos, epidémicos e pandémicos têm assim marcado e continuarão, seguramente, a acompanhar os ritmos da nossa Civilização.  
O Homem, porém, confrontado com estas adversidades, não tem cruzado os braços e, nessa luta permanente, acaba sempre por criar respostas farmacológicas capazes de as suster ou de as aniquilar; os antibióticos e os antivíricos são, efetivamente, grandes “armas convencionais” ao serviço da saúde, mas as vacinas têm-se revelado, sem sombra de dúvida, as “armas de proteção massiva” mais eficazes contra a maior parte das doenças que o afligem e flagelam. 
Este coronavírus (COVID-19), tal como outros microrganismos de grande expressão epidémica, pôs em causa todas as certezas civilizacionais, fez estremecer todas as estruturas económicas e sociais, mas, indubitavelmente, despertou o Mundo para a prática dos bons hábitos de higiene e prevenção. Esta tomada de consciência, que nos parece ter-se tornado universal, enquanto não for lançada no mercado farmacêutico a respetiva Vacina profilática, constitui(rá), sem dúvida, a maior arma de proteção contra este vírus pandémico, altamente mórbido e mortal.
Para muitos, desanimados e pessimistas, a COVID-19 veio para ficar, com esta expressão contagiosa e virulenta. Mas enganem-se esses crentes. A História da Ciência Médica Contemporânea prova-nos que não há pestilências incontroláveis e invencíveis. As luzes salvíficas ao fundo do túnel, emitidas pelas curas e vacinas, vão surgindo cada vez mais céleres, como resposta às constantes agressões epidémicas e pandémicas, desencadeadas por microrganismos virulentos e impiedosos. E, como todos os “tiranos”, também este chegará, em breve, ao final do seu reinado.
É esta a Mensagem de Esperança que queremos deixar a todos os leitores.
Autor:
João Frada
Médico/Professor (Ph.D) Universitário (FML), Aposentado
(Especialista em Epidemiologia Histórica)

Nota - Seguir-se-á a publicação da Parte II-IV deste estudo