domingo, 29 de março de 2015

SEXTO SENTIDO



Sexto sentido

Os meus versos metafóricos,

Herméticos quando se leem,

São como vales profundos

Onde os símbolos alegóricos

Estão ali e não se veem…     

Ou talvez ninguém pressinta

O que escondo nas palavras,

Mas tu, olheira distinta,

Tão atenta ao que eu respigo

Entre clarezas e sombras,

E pretensões literárias, 

Tão solidária comigo,

Aposto que até vislumbras

O que eu penso, mas não digo.

Calendas Poéticas 2000

sábado, 28 de março de 2015

FOSSE EU...


Fosse Eu…
 
Fosse eu uva, um cacho inteiro
Para tu me vindimares
Com a maior devoção
Ou grão de trigo em celeiro
Esperando pra me provares
Numa migalha de pão.
 
Fosse eu todo, assim, conforme
Teu apetite e teu gosto,
Em qualquer ocasião
Bem podias mastigar-me
Não te traria desgosto
Nem difícil digestão.
 
Calendas Poéticas 2000
 
 

quinta-feira, 19 de março de 2015

O PAÍS E OS PARADIGMAS

O País e os Paradigmas
 
Numa só noite de sessão televisiva ouvimos pronunciar, sem exagero, ao fazermos zapping em vários canais portugueses, da boca de vários supostos “analistas e politólogos”,… e, quase juraríamos, alguns deles estão, claramente, ao serviço do governo, pelo seu estilo “emplumado” de papagaios…, uma boa dúzia de vezes o vocábulo “paradigma”. E tudo numa perspectiva transformista e mais do que evolutiva e positiva da economia e da sociedade portuguesas, numa verdadeira onda salvítica, altamente enriquecedora e conducente ao bem-estar e à libertação definitiva do miserável atoleiro económico e financeiro em que o país mergulhou por culpa de alguns irresponsáveis VIP, de que tarda em haver qualquer lista, na verdade de muitos que por aí andam às claras de carteira e pança recheadas, sem que ninguém lhes peça ou venha a pedir contas das suas atrocidades. Uma convicção inabalável, cantilena artística e engenhosamente manipuladora, alicerçada em números e estatísticas produzidas por “inteligentes crânios” nacionais e internacionais, estes últimos mais suscetíveis a falhanços de previsões e a terem que assumir, não tarda, “orelhas de burro”. Curiosamente, tais orelhas, também por cá, para quem fazia tanta questão de baixar o IVA e o viu subir, enganando-se na previsão, eram ornatos bem capazes de [lhe] caírem na perfeição.
 
O país está em crescendo e, apesar dos “números de défice e de dívida” não serem muito favoráveis, tudo parece tender a um novo paradigma, o da salvação nacional. Um novo paradigma, traduzido pela “carta de alforria” concedida pelos nossos credores internacionais e pela TROIKA, em particular, a quem continuamos devedores de milhares de milhões, está prestes a verificar-se em Portugal. É só questão de meia dúzia de anos…afirmam os mais crentes. Os investimentos externos e consequentes lucros chorudos esperados, agora que pusemos nas mãos do grande capital estrangeiro as nossas melhores “máquinas produtivas”, privatizando os mais importantes setores estratégicos nacionais, não tardam por aí, e os empregos e proveitos para o país e para a sociedade portuguesa, com estes novos gestores tão filantrópicos ao comando destes “barcos” ou do que resta da nossa "frota", vão escorrer às catadupas.   
 
Os milhões que têm sido desbaratados sem dó nem piedade, nem proveito para o país, em negócios ruinosos, em desvios, aplicações e transacções fraudulentas, através da banca e de outros organismos públicos e privados, com altíssimos prejuízos para o Estado, sem que se vejam pesadas punições sobre os responsáveis por estes desmandos de lesa-pátria, constituem um paradigma de tardia mudança, senão mesmo de crónica persistência. Esta palavra, “paradigma”, serve para abrilhantar e etiquetar todas as mudanças, todos os contrastes que, na opinião de tantos papagaios ou aves raras, canoras sim, mas desafinadas, monopolizadoras e manipuladoras dos écrans, se esquecem de aplicar este conceito tão “in” e sonantemente filosófico às demais situações aberrantes, absurdas, deprimentes, abjectas que têm caracterizado a atuação de tantas figuras do poder, governantes, políticos e quejandos, nestas últimas quatro décadas de democracia.
 
Será que o paradigma atual da desonestidade, da corrupção, da vigarice, da mentira, da falta de escrúpulos, da amnésia política, do incumprimento, da incompetência, do conluio público-privado, do roubo camuflado ou da delapidação, às claras, do erário público, do tráfico de influências, da incoerência, da injustiça social, estará para mudar, extinguindo-se de vez na sociedade portuguesa, ou é algo que jamais virá a sofrer alterações de saneamento sociojurídico, ético, cívico e moral?
 
Sempre é mais fácil exaltar os paradigmas feitos de mudanças positivas e esquecer ou querer que nos esqueçamos dos que são verdadeiras misérias, paradigmas que ninguém ou muito poucos hão de querer lembrar ou pôr em causa, nos meios de comunicação social, dando a cara e afrontando os "poderes instalados", quantos deles com culpas no cartório, como se tem visto.
 
João Frada
Professor Universitário
         

SONHOS OUTONAIS

Sonhos Outonais

 
Já te não vejo, qual estrela,

Fitares-me, assim, cintilante,

No céu do meu pensamento.

Nessa luz, que era tão bela,

Brilhando a todo o instante

Apagou-se o sentimento.

 
Já não sinto essa loucura

Quando prendo, apaixonado,

Nas minhas mãos, o teu rosto

Nem sinais dessa ternura

Ou do amor arrebatado 

Que tinhas em cada gesto.

 
Teus sonhos, que eram tão verdes,

Secaram a par das folhas

Já não vivem no meu sono.

Aos poucos também tu perdes

A paixão com que me olhas

Ganhando a cor do Outono

 
Calendas Poéticas 2000

quarta-feira, 18 de março de 2015

POR UM ABRAÇO


Por Um Abraço

 
Que vida desconcertante

Sustento todos os dias

Nesta corrida constante

Que me exaura as energias


Já pensei em desistir

Pois peregrino sozinho

Mas talvez se eu insistir

Descubra melhor caminho

 
Apressando então o passo

Palmilho léguas de chão

Faço forças do cansaço

E das tripas coração

 
Sou romeiro sem destino

Amante sem compromisso

E em constante desatino,

Também sou embarcadiço

 
E águia, quando é preciso,

Quase toco a lua cheia

Cruzo a neve e o granizo

Crente na minha epopeia

 
Em busca não de miragens

Mas atrás do teu olhar

Rumo todas as paragens

Apenas pra te abraçar.

 
Quem não sentiu, de verdade,

A ternura de um abraço

Não percebe o que é saudade

Nem as agruras que eu passo

 
Pra te ter entre os meus braços

Dois minutos bem contados

E assim, alheios, sem laços,

Voarmos apaixonados.

 
Calendas Poéticas 2000

sábado, 14 de março de 2015

LEITURA BREVE


Leitura Breve

 
Fomos leitores em silêncio

Contemplando-se entre si

Não passámos do prefácio

Mal me leste, mal te li.

 
Soletrámos dois parágrafos

Não houve margem pra mais

E trocámos dois autógrafos

Sem excessos passionais

 
Duas linhas, esta história,

Escritas em estilo inseguro

Um encontro sem memória,

Sem presente nem futuro   

 
Foi tão breve esse momento

Que só nos restam penumbras

E frases sem argumento

A ligar as nossas sombras.

 
Calendas Poéticas 2000

sábado, 7 de março de 2015

DIA DA MULHER

Mulher (Dia da)

(Três Atos)

I.

Foi decerto uma Mulher

sonhadora, decidida,

ou foi um Sonho, uma lenda

com a força de mulher,

prenhe de emoção contida, 

que nos tempos sem memória

lançou sementes ao chão

e espalhou neste Universo

torrentes de sedução,

este mistério profundo,

esta marca umbilical

presente no seu sorriso,

este pulsar que nos faz

sentir  o bem e o mal,

regressando ao paraíso?

 
Vénus ou Eva, quem foi?

II.

Esta simples criatura,

serva da Terra e de Zeus,

fez com que a vida vingasse,

deu luz aos filhos e sorte,

repartiu fome e fartura,

maçãs e frutos silvestres,

talhou destinos da História,

cavou trincheiras na guerra

e outras tantas na morte.

Fez de escrava, mezinheira,

Cruzou desgraças e glória

E nas chamas da fogueira

Rogou mil preces aos céus,

Engoliu gritos de dor.

Rezou aos anjos e a Deus,

pedindo força e certeza

para gerar o amor,

para servir a beleza.

III.

Mulher, rio de esperança

que corre em todos os tempos,

que mata a sede a paixões

que acolhe “frios e ventos”

e a todos dá guarida.

Mulher, mistério profundo.

 
Mulher e Sonho, bem juntos,

traçam as rotas da vida 

ditam os rumos do Mundo.

Calendas Poéticas                          

08.03.2015

 

 

ALMA DE MULHER

Alma de Mulher
Autora: Lucinete Vieira
(Belíssimo “comentário” poético enviado por anónimo/a,
como achega ao meu poema “Proto-Dia da Mulher”)


Nada mais contraditório do que ser mulher…

Mulher que pensa com o coração,

age pela emoção e vence pelo amor.

Que vive milhões de emoções num só dia

e transmite cada uma delas num único olhar.

Que cobra de si a perfeição e vive

arrumando desculpas para os erros,

daqueles a quem ama.

Que hospeda no ventre outras almas, dá à luz

e depois fica cega, diante da beleza dos filhos que gera.

Que dá as asas, ensina a voar, mas que não quer ver partir

os pássaros, mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.

Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda

que seu amor nem perceba mais tais detalhes.

Que como numa mágica transforma

em luz e sorriso as dores que sente na alma,

só pra ninguém notar.

E ainda tem que ser forte para dar os ombros

pra quem neles precise chorar.

 
Feliz do homem que por um dia souber,

entender a Alma da Mulher!

 

PROTO-DIA DA MULHER

Proto-Dia da Mulher


Mulher, um ser invulgar!  

Amanhã é o seu dia

E não sei como o louvar!

Talvez escrevendo um poema,

Porque só em poesia

É possível exaltar,

Nas entrelinhas de um verso,

Esta musa tão suprema,

Rainha do Universo.

 
Calendas Poéticas 2000

 

quinta-feira, 5 de março de 2015

LUA CHEIA


Lua Cheia

 

Olhei a lua hoje à noite,

Cheiinha, quase a explodir,  

E foi para mim uma surpresa

Descobri nela, com deleite,  

Dois olhos sempre a sorrir

Eram teus, tenho a certeza.

 

Calendas Poéticas