Dizer em poesia um século inteiro,
é arte de difícil desempenho,
é obra de arquitecto que não sou
é caminho espinhoso sem roteiro
é fôlego de esteta que não tenho.
Que os deuses me iluminem
e a minha voz se erga, sibilina,
cantando nos meus versos a mensagem
de um adeus, um hino de homenagem
à paz entre os homens,
à esperança nascida num sorriso,
ao mar revolto, poluído e manso,
às cinzas de quem jaz no meio da guerra,
a quem combate a tirania sem descanso,
aos ideais que p'ra sempre desvendaram
a mística, a ciência e a magia,
aos homens que rasgaram no seu tempo
com as mãos horizontes de ousadia,
às raças que se enleiam sem reservas
e, em corpo e espírito, abraçam toda a Terra.
Que as minhas forças se juntem, assestadas,
contra o infortúnio que assola os deserdados
e os mártires da guerra, soterrados,
contra os esquálidos corpos, esfomeados,
máscaras tristes sem rosto, gaseadas,
contra as subtis razões da eutanásia
e os mostrengos clonados p'la genética.
Neste Pináculo do Tempo, digo adeus,
mas os versos são difíceis de rimar,
opulência e miséria, guerra e paz,
progresso, fome e abastança,
retrocesso, cibernética e robótica.
Quando no céu se estampar a cor da esperança
e um rio de amor transbordar fraternidade,
o Mundo há-de rodar e, na mudança,
num Império de justiça e temperança,
a paz há-de rimar com liberdade.
João Frada, Olhos nos Olhos da Alma, Edições CLINFONTUR
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