A Troika sai, mas não vai haver razões para comemorações com champanhe. Deixa-nos, a quase todos, a pão e água, e esta “dieta” rigorosa é para durar. A austeridade que afeta a grande maioria da sociedade portuguesa veio para ficar, muito, muito, muito para além da saída destes vampiros que, em troca de lições de gestão orçamental e de empréstimos a juros elevados, arrecadaram muitos milhões. É caso para dizer que nos levaram e irão continuar a levar coiro e cabelo.
“Cerca de metade do empréstimo da Troika é para juros e comissões”.
E pasme-se! Os governantes portugueses pagaram para serem ensinados a gerir os nossos recursos… como se não o soubessem fazer na perfeição!
Mas alguém acredita que muitos daqueles que se abotoaram com milhares de milhões do erário público, através de negociatas, favores, comissões e subvenções de toda a espécie, porque movimentaram nas suas contas pessoais muito mais do que declararam ao fisco, ou seja, porque apresenta(ra)m receitas bem maiores do que as auferidas pelo exercício das suas profissões, esbanjando e gastando à tripa forra, sem possibilidade nenhuma de justificar o enorme e rápido enriquecimento, a não ser através da corrupção de meios ilícitos, não saibam como articular receitas e despesas?! Sabem-no e bem. Mas quanto a estes, a Troika não vê necessidade de estabelecer regras de contenção sérias e rigorosas, nem de explicar como se gerem orçamentos. O BPN e os enriquecidos à conta dele, ou seja, à custa de todos nós, que ficámos a pagar os milhares de milhões que voaram através de manobras fraudulentas desta instituição, almofadada na hora certa pelo risco sistémico, não constituem quaisquer preocupações para ninguém, nem para a Troika nem para os seu pupilos cumpridores, os nossos inteligentes governantes.
Os únicos com dificuldade nesta matéria, de gerir recursos e orçamentos, são os portugueses que pouco ganham pelo seu trabalho, quando ganham e quando têm emprego. A receita é curta, porque o salário é baixo e os impostos arrasam-na um pouco mais, e, por isso, gerir receita e despesa é exercício que requer alguma concentração e dificuldade. E sobretudo aqueles cerca de 600 000 que sobrevivem com o salário mínimo, estes, sim, precisariam que a Troika lhes ensinasse como é que se pode viver com esta receita miserável.
Era um exercício curioso, podermos observar um desses seguidistas troikianos a viver durante um mês com tal salário! Já o senhor António Borges, que Deus o tenha em bom lugar, entendia que não se deveria aumentar o salário dos trabalhadores, pois isso poderia conduzir a excessos de perdularismo, de gastos desenfreados e de quebra de poupança. Ganhando pouco, não descobrem vícios, gastam menos e poupam mais.
Para o FMI e, bem entendido, para os outros dignos representantes da Troika e, por tabela, para os nossos governantes, a culpa da crise é ou foi de alguém e esse alguém tem nome: não os bancos, não os responsáveis pela vigilância e pelos pagamentos de obras com derrapagens orçamentais brutais, sem que os faltosos sejam punidos ou venham a ser confrontados com os seus incumprimentos, não os responsáveis pelos contratos altamente lesivos dos interesses públicos, como os SWAP e PPP. Os funcionários públicos, em geral, e, em especial, os reformados e pensionistas e esses sim, é que são e foram os verdadeiros responsáveis pela CRISE, pelo DESCALABRO das contas pública, pela DÍVIDA tremenda, pelo CAOS em que o país se afundou, e, como tal, terão de ser eles a suportar o rigor da austeridade e o peso dos impostos e das taxas e “do diabo que carregue” em cima do lombo. Viveram até agora à grande e à francesa, pois terão agora de voltar aos tempos do antigamente: ganhar menos, comer pouco, gastar pouco, rezar muito. Desta maneira, e com a ajuda de Deus, não alimentarão vícios.
Como dizia um opinante do FMI há pouco dias: os vencimentos atribuídos a este exército de gente, pendurado na Segurança Social, não podem jamais ter tetos fixos. Nem pensar! Hoje recebem X-Y, já que desde há três anos se viram, e muito bem, a bem da nação, reduzidos das suas principescas reformas e pensões recebidas, e amanhã receberão X-Y-Z. Seguramente. A ter em conta a brilhante e salvadora decisão que os nossos governantes e os seus inteligentes conselheiros da Troika, incluindo este último opinante do FMI, traçaram como forma de equilíbrio das contas do país, fazendo depender as reformas e pensões dos afortunados portugueses, entre outras coisas, dos rumos da economia e da demografia do país, estamos todos de parabéns: descobriu-se, finalmente, a receita mágica para a reabilitação do orçamento geral do Estado e da Segurança Social.
Pena é que estes brilhantes estrategos da Política e da Economia tenham apenas descoberto a pólvora demográfica, nesta altura. Os governantes, todos eles, têm desconsiderado a demografia e o emprego e a Troika, que apenas vê cifrões, idem. Em três anos, nada fizeram nestes domínios. Agora, é que se lembraram de que não há fundos na Segurança Social, nem vai haver nos próximos anos, porque durante duas décadas, os idiotas que nos governam não criaram estratégias adequadas à natalidade, nem ao emprego. Pelo contrário, arrasaram estas duas vertentes reabilitadoras da economia e da Segurança Social. E poderíamos apontar, resumidamente, as falhas da governação que conduziram a este status quo:
1. A Saúde não apoia a natalidade do país, comparticipando na compra de leites, artigos de higiene, medicamentos de uso comum, tais como xaropes, vitaminas, alguns broncodilatadores, vacinas orais, incluindo as disponíveis contra rotavírus, vacinas injetáveis (antipneumocócicas), e as isenções fiscais e subsídios concedidos pelo Estado às famílias com filhos pequenos são miseráveis ou, em muitos casos, nenhuns.
2. Os mais jovens, cerca de 200 000 a 300 000, aqueles que pela sua juventude poderiam incrementar a demografia, foram e estão a ser, literalmente, expulsos do país, contribuindo para o aumento demográfico e económico de outros países.
3. O desemprego mais baixo, que os governantes procuram apregoar, com base na leitura de inscrições em Centros de Emprego, onde os desempregados entre 45 e 65 anos deixaram de se inscrever, porque, definitivamente, ninguém lhes dá trabalho, considerando, ao mesmo tempo, que quem está em formação profissional temporária e cumpre meia dúzia de horas de trabalho semanal está empregado, não passa de uma FRAUDE. Não havendo emprego, não só não há descontos para a Segurança Social, como aumentam os encargos desta instituição, através dos subsídios de desemprego.
4. Muitos dos jovens, que por cá ficam, porque ainda acreditam e têm esperança de um Portugal melhor, mesmo com boas habilitações literárias e profissionais, se não ingressarem na política ou no enorme batalhão de boys for the jobs ao serviço dos inúmeros setores da governação, seja qual for a sua cor política, nunca podem aspirar a grandes perspetivas de emprego ou de vencimento fixo, e, por tal motivo, não se atrevem a aumentar o agregado familiar, fazendo mais filhos. De resto, os poucos nascituros que ainda vão engrossando ligeiramente a nossa demografia, desgraçadamente, recebem já uma bela herança para pagar durante grande parte das suas vidas: uma dívida brutal, injusta, fruto da agiotagem e da corrupção crónica que os sucessivos governos alimentaram, durante décadas, como afirmam muitos vozes críticas atuais,…e nem precisamos de citar nomes, já que são bem sonantes e conhecidas…“numa plutocleptodemocracia sem quaisquer responsabilidades, nem criminais nem políticas”.
Só agora é que o FMI e o Governo descobriram que a Economia, Demografia, Emprego, Reformas e Pensões andam sempre juntos?!
João Frada
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