quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

SER LIVRE

De quê? De quem? De que forma? Quando? No passado? Hoje? Amanhã? De mim? Dos que me rodeiam? Dos que me amam? Dos que me odeiam? Dos que me governam? 
Ninguém é livre em vida, só na morte…
Ser livre, afinal, enquanto condição absoluta, desprendido de tudo e de todos, da Natureza, da sociedade e dos homens, é pois uma utopia. Nem os pássaros, livres pelos campos, pelos céus, são verdadeiramente livres. Dependem da Natureza para se alimentarem, reproduzirem, sobreviverem. São quase livres, mas não, de todo, livres. 
Porém, invejo-os. São tudo aquilo que de mais livre existe. Quero ser como eles, quero romper com tudo o que me amarra, quero voar sobre o mar sobre a montanha, quero ser livre, escondido e esquecido do espaço e do tempo, que não são apenas meus, que tenho de repartir com gente estranha.
 Quero fugir dessa realidade existencial que amortalha os meus sentidos, que me não deixa escolher o meu destino. 
Quero encontrar essa mágica chave, antes que minh´alma parta deste mundo, 
E rodá-la, abrindo-me ao infinito bem profundo, como se eu fosse no céu o espírito de uma ave e voasse então, num sonho, livre, liberto de mágoas e de lutos, 
Esperando que esse voo me conforte, quero sentir-me livre por minutos, quero sentir-me livre em vida e não na morte.    

João Frada

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

“Défice baixou, mas austeridade vai manter-se.”

Notícia “Saponews”acabada de entrar no meu telemóvel:

“Défice baixou, mas austeridade vai manter-se.”

Como eu, milhares ou milhões de portugueses, à espera de ouvir a boa notícia de que alguém responsável pela crise, pelo descalabro das contas públicas, pela agiotagem que nos tem governado o tempo todo, agora e antes, e são tantos que por aí andam às claras, convencidos que são invisíveis, foi sovado, e bem sovado, logo pela manhã, quando dobrava a esquina para comprar o Jornal Económico, tomar o café e comer o brioche na pastelaria do costume, por um bando de desconhecidos esfomeados que lhe roubaram o telemóvel, os quatro cartões dourados de crédito com plafond de 15.000€ cada, os duzentos euros para as refeições do dia, ouvimos, ou melhor, pudemos confirmar através desta “notícia gasta e idiota”, o que toda a gente previa e sabe: que o défice baixou, porque teria que baixar, mais hora menos hora, depois de tanta sangria fiscal e de tantas taxas e “ordinárias” contribuições extraordinárias emitidas pelo governo, ainda que seja um sol de pouca dura, à vigarice e corrupção que por aí abunda, e que a austeridade a que forçosamente nos sujeitam, para tapar os gigantescos buracos orçamentais  que escavaram e ajudaram a escavar, veio para ficar. Bela notícia, esta, do Saponews!! Ainda se alguém levasse a dita sova, ah, isso sim, era uma excelente notícia. Parafraseando uma linguagem ministerial: Que se lixe o Saponews.

PORTUGAL ESTÁ OU NÃO EM ESPIRAL ECONÓMICA RECESSIVA?

Coface: "Já não vemos risco de espiral recessiva em Portugal"⃰
21 Janeiro 2014, 08:00 por Edgar Caetano | edgarcaetano@negocios.pt

“Portugal e Espanha já fizeram boa parte das reformas estruturais que eram necessárias. Agora o desafio é estimular a procura interna e procurar gerar um “círculo virtuoso”, diz a Coface, que há um ano temia uma “espiral recessiva” em Portugal.”

Julien Mancilly (…) é economista e responsável pela pesquisa sobre “Risco País”, tema da conferência anual da seguradora de créditos francesa Coface (Compagnie Française d'Assurance pour le Commerce Extérieur).
(…) 
Mancilly falou com os jornalistas portugueses à margem da conferência, que decorre esta terça-feira em Paris.

Que previsões faz a Coface sobre a economia da Zona Euro em 2014?

Passámos a ter uma visão mais positiva acerca da Zona Euro, em relação a há alguns meses. A  recessão profunda que sofremos terminou, mas continuará a haver grandes divergências entre os vários países da Zona Euro. Numa visão simplista, temos a Alemanha e temos todos os outros.

(…) 

E, em particular, para Portugal?

Em Portugal, prevemos um crescimento de 0,5%. Há algumas notícias positivas em Portugal, tal como há em Espanha (…). A economia está a transformar-se, na nossa opinião, e está a virar-se mais para o comércio externo.

Os problemas que se mantêm são a baixa procura interna, a escassez de crédito e a taxa de desemprego elevada. Com um crescimento de 0,5%, mesmo que estejamos a ser demasiado pessimistas e seja um pouco mais, o desemprego vai manter-se em níveis elevados por muito tempo.

O que deve o País fazer para fomentar melhor perceção de risco?

A situação de Espanha e Portugal é diferente de França e Itália. As reformas estruturais estão feitas em Espanha e Portugal, em grande medida. O problema é outro e prende-se com a procura interna. Teremos de esperar para ver se as famílias vão poupar mais ou se vão investir mais. Se o sector privado investir mais, com a ajuda das exportações, talvez o país entre num círculo virtuoso.

Está a falar na possibilidade de um círculo virtuoso em países como Portugal. Há um ano, sobre o mesmo país, falava no risco de uma “espiral recessiva”. Ainda se revê nessa opinião?

Não. Já não é um cenário que consideremos provável.

(…)

⃰ Em Paris a convite da COFACE

REFLEXÃO 
Com um crescimento de 0,5% e com um desemprego que, ao contrário do que os nossos governantes apontam, baseados em estatísticas erradas e manipuladoras, tenderá a manter-se em níveis elevados por muito tempo, pensamos que a espiral económica recessiva veio para ficar e sufocar lentamente a maioria das famílias portuguesas. E não serão as exportações que nos virão a servir de catapulta essencial à reabilitação da economia interna do país e consequentemente à melhoria das condições de vida da população. Os cortes tremendos e duradouros a que se referia recentemente a atual ministra das Finanças são a prova disso. 
O empobrecimento causado pela constante sangria tributária, sob a forma de impostos, taxas e contribuições obrigatórias, esvaziando o poder de compra da maioria das famílias, tem levado a uma profunda retração da economia interna e, pelos vistos, contrariando as previsões estupidamente pessimistas de alguns analistas e papagaios ao serviço da propaganda governamental, tende a durar e a agravar-se. Os bancos, reconhecendo a situação caótica em que se encontram famílias e empresas, sujeitas a enormes dificuldades, consideram-nas clientes financeiramente inviáveis e pouco fiáveis e, temendo aumentar o crédito mal parado e as situações de dívida, não lhes concedem quaisquer empréstimos. A espiral económica recessiva persiste. 
Julien Mancilly, da Coface, pelos vistos, pouco conhecedor da realidade portuguesa, dá uma cravo e outra na ferradura e, com as necessárias reticências, como convém a qualquer inteligente nestas áreas da economia e da finança, afirma que “os problemas que se mantêm são a baixa procura interna, a escassez de crédito e a taxa de desemprego elevada.” Todavia, mais adiante, na sua entrevista (supracitada), diz-nos que apesar de um crescimento de 0,5%, mesmo que estejamos a ser demasiado pessimistas e seja um pouco mais, o desemprego vai manter-se em níveis elevados por muito tempo.” 
Parece querer reivindicar a descoberta da pólvora!
Julien Mancilly diz-nos mais, do alto da sua “cátedra”, enquanto especialista da Coface: 
“Teremos de esperar para ver se as famílias vão poupar mais ou se vão investir mais. Se o sector privado investir mais, com a ajuda das exportações, talvez o país entre num círculo virtuoso.” 
Pelos vistos, Julien Mancilly desconhece as estatísticas da organização social em Portugal. Não tem a noção de quantas famílias se encontram em total incapacidade de fazer tal esforço de poupança para levantar o país do caos económico em que se encontra. Para 2012, a sociedade portuguesa, em termos de capacidades económicas,… e o panorama entre 2012 e 2014 piorou indiscutivelmente, atirando mais famílias para a pobreza…, apresentava percentagens de 27,3 % para a classe Baixa; 29,8% para a classe Média Baixa; 27,5% para a classe Média; 15,4% para a classe Alta e Média-Alta. 


Atendendo a estes valores percentuais, será fácil percebermos que a grande maioria da população carenciada e sem grandes recursos corresponderá, com pequenos desvios e atendendo às oscilações para um cenário que piorou entre 2012 e 2014, a 84,6% do contingente demográfico global do país. 
Sujeitos a uma profunda sangria fiscal, confrontados com um custo de vida altamente inflacionista e inflacionado sem qualquer controlo estatal, mergulhados num pântano de desemprego que ninguém contesta existir, …apenas os ceguinhos dos nossos governantes teimam em não ver, apegados a estatísticas duvidosas e falaciosas…, sem poder de compra, sem acesso ou com muito pouco acesso ao crédito bancário, com vencimentos precários constantemente reduzidos, reformas e pensões cada dia mais baixas, os portugueses em maiores dificuldades, representando quase 85% da população do país, poderão algum dia ter hipótese de aspirar a ter uma vida digna e sem angústias, sem o espetro da fome e da miséria a rondar-lhes a porta?! 
Poupar?! aconselha Jean Mancilly… Poupar o quê? Mais um anafado que, para além do “rei na barriga”, fala de barriga cheia. Cá, lá e pelo caminho é o que mais se vê: gente de pança cheia que apenas consegue ver o seu umbigo.

João Frada
Professor Universitário

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

QUE SE NÃO LIXEM AS ELEIÇÕES

Que se lixem as eleições, diria Passos Coelho há uns tempos.
Que se não lixem as eleições, quero ganhar as eleições de 2015, diz agora Passos Coelho.
Andará o homem baralhado ou fazem parte dos “faits divers” político-comunicacionais estes fingimentos? 
Temos que aumentar a carga fiscal, para reduzir o défice e reduzir a dívida pública, disse ele e melhor o fez. Armazenou dividendos bem para além do que o previsto e imposto pela Troika. E acena, agora, com diminuição da carga fiscal, à espera de que “não lhe lixem as eleições”, como ele próprio, tão despreocupadamente, desejou em tempos. O povo, pensa ele, é burro, amnésico e “de memória curta”, e há que ter em conta esta importante certeza sobre o eleitorado, à boca das urnas. De resto, pensará ele, se estas bestas vierem a sentir alívio na “carga” fiscal e aumento dos seus vencimentos, reformas e pensões, não obstante estarem a receber apenas uma pequena parte do que lhes já lhes foi subtraído ou roubado, depende da perceção, até os idiotas dos funcionários públicos, reformados e no ativo, pensarão que chegou o D. Sebastião. E votarão em massa na sua excelsa e inteligente pessoa, o caudilho que faltava a esta nação, o salvador da pátria. Quando se olha ao espelho ou se vê projetado na sua solenidade segura e bem-falante nos écrans televisivos, nas entrevistas, nos congressos, seja onde for, mesmo onde é vaiado e insultado “até às últimas”, sente que muitos ignorantes não o entendem, não percebem as suas aflições nem os enormes compromissos que assumiu com tantas entidades da banca e da finança internacional, necessariamente, em prol da sociedade e do país. Embora Batista Bastos e Marcelo, para além de outros de “memória mais longa”, não comunguem desta opinião, Passos Coelho sente-se não um pérfido tirano mas um justo restaurador da saúde económica e financeira da nação. Os resultados, na sua opinião, estão à vista. O ano de 2014 virá provar a sua teoria. A baixa do desemprego e a melhoria do nível de vida dos portugueses virão para ficar…a par da queda de carga fiscal, como ele acabou de anunciar há poucos dias. O custo de vida, dada a inflação decrescente a que se assiste e ao controlo dos bens de primeira necessidade, eletricidade, água, luz, gás, telecomunicações e transportes, sob controlo rígido e atento da sua governação, está neste momento também a melhorar e, por todos os motivos e mais um ― “Que se não lixem as eleições”, Passos Coelho pede a maioria absoluta. Vamos a ver se esta maioria se traduz em votos nulos, favoráveis ou desfavoráveis à sua reeleição nas próximas legislativas, previstas para 2015.

João Frada

domingo, 19 de janeiro de 2014

PENSAMENTO

Se pensas amar alguém
Ama e não penses demais
Ama apenas o que vês
Sem mitos nem ideais
Não o que desejas ver
Pois ninguém é quem tu pensas
Nem aquilo que diz ser

“Foncucio”

ALMAS GÉMEAS

Minha alma, quando sorris
Acredita piamente
Ser gémea da tua e diz
Sorrindo, então, docemente,
Somos irmãs na vivência
Iguaizinhas no sentir
O bater do coração
O amor, o sentimento
A agonia e a paixão
O perdão e a inocência…
Tudo em nós é tão igual,
Decerto estamos ligadas
Pelo cordão umbilical.
Mas a tua, reticente,
Mais a favor da ciência,
Fundamentada no estudo,
Ouvindo-a com ar solene
Diz-lhe então, tem paciência,
Acredito nisso tudo
Mas depois do ADN.

João Frada
Lisboa, 17.01.14

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

FRASE do DIA: Assunção Esteves

Hoje, a segunda figura mais alta da nação disse: «o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustacional derivado da crise.»

Dão-se alvíssaras a quem "traduzir".
Foi hoje na Rádio - TSF !!!?

Tentemos então proceder a esse trabalho hermenêutico.

Confusa como deve andar, perante tanta controvérsia e antagonismo ideológico-político parlamentar e não parlamentar com  que se vê, diária e constantemente rodeada e confrontada, sem grandes expetativas de mudança, ela, “a segunda figura mais alta da nação”, diz o articulista, (…sem deixar de ter em conta que o écran de televisão altera consideravelmente as medidas das personagens sob o foco dos cameramen, dando-nos uma ideia errada das reais dimensões, favorecendo-as ou prejudicando-as em função das lentes-vídeo utilizadas, e não tendo, por outro lado, acesso nem ao seu BI nem à funcionária da loja fashion que a veste para aferirmos e confirmarmos qual a sua verdadeira altura…), acredita ou, melhor, parece desacreditar que está realmente num “centro de decisão fundamental”, talvez porque entenda que as suas funções, nesta altura complicada, não favorecem minimamente o rumo da governação ou o seu perfil de maturidade política não corresponde suficientemente às exigências complexas do mesmo centro de decisões o qual, no entender de muita gente, é muitas vezes mais de indecisão do que de decisão, sobretudo quanto se trata de favorecer o Zé Povinho ou de cortar nas mordomias e privilégios parlamentares. Acrescendo a tudo isto, também devido à crise, perante os apupos, insultos, “grandoladas” e vaias a que já assistiu dentro de portas do mesmo “centro de decisão fundamental” e aos quais, seguramente, continuará a assistir, dirigidos a si e a todos os deputados que ali estejam sob a sua orientação presidencial convictamente inconseguida, como afirma, só pode mesmo assumir, como se viu, que o “nível social frustracional devido à crise” atinge toda a gente, incluindo-a a ela própria, estado psicológico que lhe identificamos de há muito e que, pelos vistos, estará para durar. Quem vier a seguir, na nossa opinião, não irá fazer melhor. As peças do xadrez são as mesmas e o tabuleiro também. Por isso, mudar a rainha não resolverá em nada os rumos da crise. Apenas minimizará o seu nível frustracional pessoal. Aguardemos para ver se esta confissão não foi o prenúncio da sua próxima demissão.   
Será que nos escapou algum pormenor mais atípico?

João Frada

    

domingo, 12 de janeiro de 2014

AFINAL 2014 é ano de crise ou não?!

 O Governo aprovou, hoje, o plano B que visa colmatar o "buraco" de 388 milhões de euros deixados no Orçamento de Estado com o chumbo pelo TC de uma das normas do programa de convergência de pensões. A solução encontrada passa pelo alargamento da taxa de 3,5% de Contribuição Extraordinária de Solidariedade às pensões a partir dos 1000 euros. Até agora, a CES atingia apenas as pensões a partir dos 1350 euros e, desta forma, são mais 79.862 pensionistas que, segundo a própria ministra das Finanças, irão passar a pagar esta taxa adicional e, assim, ver as suas reformas reduzidas em 3,5%.
Ler mais:

“Reflexão”
Hoje, pelo 30º aniversário do PSD, Passos Coelho assume que as políticas levadas a efeito pela governação anterior e, obrigatoriamente, continuadas pelo seu governo afetaram ou afetam, de algum modo, os portugueses e que vivemos uma crise financeira terrível e uma “crise económica e social sem precedentes”. Entretanto, numa outra manifestação de aparente bipolaridade, afirma-se satisfeito, porque, na sua opinião, estamos numa rota clara de reabilitação do país, de regresso aos mercados já em maio de 2014, de despedida definitiva da Troika, de reequilíbrio das nossas contas internas e externas, de volta à normalidade. Em suma, a população portuguesa, na sua douta opinião de licenciado em economia, deve sentir-se feliz com os progressos que as suas políticas têm obtido.
Perante uma saída em massa de largos milhares de jovens entre os 20 e 45 anos, grande parte deles com altas qualificações académicas e profissionais, um autêntico flagelo demográfico, em busca de hipóteses de trabalho como emigrantes, com uma taxa de desemprego brutal que atingiu e continuará a atingir nos próximos tempos, sobretudo, as faixas etárias entre os 45 e os 65 anos, sem nenhuma hipótese de reversão, já que indivíduos com estas idades muito dificilmente virão a ter possibilidade de voltarem ao mercado de trabalho e, por isso mesmo, de tanto procurarem trabalho em vão, se tornam desistentes e sem qualquer incentivo para se inscreverem em centros de emprego, o governo e o PM, inteligentemente, chegam a esta conclusão: o desemprego está a diminuir. Realmente, por este andar, a oferta de trabalho acabará por ser superior à procura. Por isso, em termos de emprego, resta saber que idades terão os poucos resilientes que o procuram e que idades serão aceites por aqueles que o oferecem.

1.       Em 2014, aumentaram as rendas de casa, as taxas de moderadoras nos serviços de saúde, os preços dos serviços das operadoras de comunicações, a contribuição para a RTP, o imposto único de circulação de veículos, incluindo os de trabalho, velhos ou novos e seja qual for o respetivo preço base da viatura, bem como preços dos transportes públicos, do gás e da eletricidade.

2.       “Aumentos de preços em 2014 – Saldo Positivo” (saldopositivo.cgd.pt/o-que-vai-aumentar-em-2014)”

Por outro lado, a queda brutal de nascimentos, por falta de casais jovens e prolíficos no país e, como é óbvio, também pela miopia da política de saúde que não apoia rigorosamente nada neste domínio, nem o nascimento nem o pós-nascimento, embora apoie abortos, põe em risco, cada vez mais, por falta de renovação geracional e demográfica, quer a Segurança Social quer mesmo a capacidade de resposta técnico-profissional do país. E que fazem os governantes em prol disto? Nada. Apregoam que se esteve tão próximo da felicidade suprema, porque a Troika parte de vez e nós voltamos aos mercados. Brilhante! Não percebem, nem quem agora nos governa nem quem anteriormente governou, que vão perdendo anos nestas filosofias idiotas e que a nação, em vez de progredir e de se renovar, definha. País sem gente é qualquer coisa anómica, menos país.
Entretanto, como se lê pela notícia em epígrafe, já não bastava sangrar pensões acima dos 1350 euros, como se estas sejam gordas receitas para se suportar o custo de vida imposto pela crise, que todos reconhecem existir, incluindo o PM, ainda que de uma forma meio velada, subjetiva e confusa…claro está que nenhum Ministro, Secretário de Estado, Assessor, Adjunto ou quejando algum dia soube, saberá ou quererá experimentar viver com tal quantia…, e preparam-se agora para, em nome de uma “recuperação económica e financeira do país visível “a olhos vistos”, sangrar também com a “Contribuição Extraordinária de Solidariedade de 3,5% as pensões a partir dos 1000 euros.” Os ordenados, vencimentos, reformas e pensões da grande maioria dos portugueses, gente não bafejada por nenhuma “estrela política”, seja ela de Belém, de São Bento ou de qualquer outro sacrossanto panteão político erigido no país, ou são congelados e autenticamente avassalados pela inflação e pelo crescente custo de vida ou, pior que isto, são constantemente reduzidos em nome de uma austeridade e de uma crise que, segundo o governo, existe, mas que a Passos largos vai deixar de existir…já em 2014.
Afinal, perante todo o cenário de cortes em ordenados, pensões e reformas, envelhecimento populacional, desemprego, aumento de custo de vida sem aumento de poder de compra, estaremos em vias de sair da dita crise ou condenados a continuar enterrados nela?
Será que nos consideram burros ou estará alguém a sê-lo?
Pior do que um cego é aquele que não quer ver.

João Frada

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

“A NOVA TAXA (TCN)”

HOJE é sexta-feira e, como a disposição do Pessoal anda tão por baixo, mesmo que não o confessem, sinto-me no dever, como amigo e, de certo modo, também como médico, ainda que não me solicitem os serviços, de vos trazer e deixar aqui uma boa dose de ânimo e de boa disposição, "contributos proativos" ainda não vendáveis em loja ou farmácia, para melhorarem o fim de semana que começou ou vai começar para muitos de nós/vós. Trago-vos essa terapêutica sob a forma de texto satírico – A Nova Taxa (TCN – Taxa de Contenção Nacional)
Desta maneira, espero poder compensar o estado depressivo, inquietante e, porventura, de revolta que vos terei provocado, ainda que não fosse essa a intenção, com a última publicação das batidas do TAC TAC do martelo. 
Leiam com atenção até ao fim, senão o efeito terapêutico da leitura não surte o efeito desejado.     

“A NOVA TAXA (TCN)”

Se não for a ficção a trazer-nos alguma dose de boa disposição, alegria e libertação, não é seguramente a realidade que nos dará algum consolo.
 Segundo as últimas novidades, um observatório anónimo (Observatório Nacional de Escutas Ilegais), através de escutas telefónicas fidedignas, garante que se preparam novas investidas tributárias, visando à aplicação de mais uma taxa, agora não apenas sobre pensionistas e reformados, com vencimentos a partir dos mil euros, mas sobre toda a população letrada e alfabetizada.
 Ouçamos, ou, melhor, leiamos transcrições da conversa telefónica, alegadamente estabelecida através de “telemóveis de cartão”, entre dois indivíduos, até agora de identidade desconhecida, que se identificavam pelo nome de código de PC e PP. Apenas se pode presumir que, dado o teor da conversa, possam de algum modo estar ligados ao governo.
 ― Querido PP, as condições de equilíbrio financeiro ainda não estão como se esperava, dada a constante obstrução daquele bando de corujas e pegas que, só agora, depois de tantos anos sem fazerem nada, auferindo ótimos vencimentos…tomara eu…, reformando-se praticamente depois de completarem a maioridade, …onde é que isto já se viu?…, resolveram meter o nariz onde não deviam ser chamadas. E, por tais motivos, temos que aplicar a TCN. Não lhe poderemos chamar imposto, já que é terminologia que fere muitas suscetibilidades.
 ― Querido PC, não obstante eu estar habituado a discursos longos e herméticos, tenho de confessar que a informação emitida pelo meu querido amigo não me parece suficientemente clara, talvez devido às péssimas condições telefónicas…sempre com interferências e, ponho em dúvida se não poderemos estar a ser escutados…ou, então, pela minha incapacidade de abarcar tanta informação codificada. Em resumo, não percebi rigorosamente nada do que acabou de dizer.
 ― Bem, meu querido PP, referia-me à TCN, ou seja, a uma taxa que não deve oscilar os 15 euros/ mês, paga e aplicada, voluntariamente, a partir dos dez anos de idade, taxa esta que tem que ser discutida, aprovada e implementada rapidamente pelos nossos companheiros de equipa. Faça as contas e veja quanto é que isto não representa no final do ano.
 ― Santíssimo! Se me diz que tal taxa levanta a economia dessa maneira, então, nem lhe pergunto para que serve, ainda que não saiba verdadeiramente do que se trata. São nove da manhã e, sem café, o meu cortisol ainda se mantém em níveis demasiado baixos, tolhendo-me o raciocínio. Se me diz, contudo, que tal taxa serve para nos garantir a continuidade no poleiro, no qual tão dificilmente me tenho equilibrado, então, nem levanto mais questões ou objeções sobre o assunto. Mas, se me diz que essa decisão é mesmo de caráter definitivo e permanente, então gostaria que me explicasse em que consiste.
 ― Querido PP, esta taxa não é mais nem menos do que a Taxa de Contenção Nacional. Contenção sobre o que se diz e o que se escreve. Uma taxa paga mensalmente no valor de 15 euros dá direito a escrever o que se pretenda, desde que não assuma um caráter demasiado ofensivo do bom nome de ninguém. Não querendo pagar a referida taxa, fica-se na contingência de pagar imposto por cada ato de escrita considerado exagerado quanto à forma e ao conteúdo. E será o tribunal a decidir a coima. Sai mais caro ao prevaricador. Creio que toda a gente preferirá pagar a TCN. O OS também, de algum modo, pensou nestes mecanismos de contenção, simplesmente, obteve poucos lucros com isso. 
― O OS? Não estou a ver quem é. 
― Claro que não o pode ver. O OS já morreu. Mas que nos deixou uns bons ensinamentos, ah, isso deixou. E eu, confesso, embora sinta que não lhe deveria fazer tal confissão, tento seguir à risca, com algumas adaptações, como é óbvio, as suas sábias orientações. 
― Começo a ver agora a quem se refere. Um homem brilhante, que também aprecio sobremaneira. Vou fazer-lhe também uma confidência que apenas minha mãe conhece: à cabeceira da minha cama, tenho pendurada não a imagem de Nossa Senhora mas a fotografia imponente dessa grande figura.
 ― Ora, já que estamos em maré de confidências, então dir-lhe-ei, meu querido PP: também na parede da frente, de quem entra, do meu escritório pessoal tenho uma foto gigante desse grande gigante que se antecipou a todos nós nestas coisas tão complicadas de aplicar taxas. E não são taxas de sapateiro. Não. Essas são seguramente mais fáceis de cravar. Mas, com jeito, também lá vamos.
 ― Finalmente, se me diz que isso é mesmo para ir em frente, então, gostaria que me elucidasse sobre qual o modo de aplicação dessa taxa. É fundamental que eu esteja por dentro dessa coisa, senão, como vai sendo habitual, quando os corujas da comunicação me interpelarem, ainda corro o risco de, mais uma vez, entrar em rota de colisão com o meu querido amigo. Por isso, é melhor pôr-me ao corrente do assunto. 
― Estou, aliás, estamos todos a ficar cansados de críticas, sátiras, bocas foleiras, comentários maliciosos, insultos, vaias, posters com ditos jocosos acerca de tudo o que fazemos, dizemos e pensamos. Por isso, estou a pensar criar uma Comissão de Censura constituída por peritos e fiscais especializados nestas matérias. Ao contrário do OS, que proibia terminantemente todas essas bacoradas e despropósitos sobre a sua pessoa e o seu modo de gerir as coisas, punindo seriamente os mais incautos, eu não penso, de todo, impor ou determinar quaisquer proibições sobre nada. Pelo contrário. Tomara eu que venha a aumentar esta onda de protestos. Aplica-se a TCN e, quem quer que ouse escrever ou divulgar publicamente, de algum modo, em pasquins, panfletos, livro, jornal, incluindo o de parede, revista e internet, considerações em prosa ou em verso sobre mim ou sobre qualquer um dos meus prosélitos, desde que seja identificado paga taxa ou, em última instância, imposto, bem mais oneroso. Já viu bem a receita monstruosa que poderemos vir a obter com esta medida tão simples?
 ― Querido PC, nunca me lembraria de tal. Se me diz semelhante coisa, só posso aplaudi-lo. Você é mesmo um génio. E daqueles que não cabem em qualquer cartola! Digo mais: nem numa lâmpada de Aladino! Os meus parabéns.
 A conversa telefónica prosseguiu, mas o resto do diálogo não tem qualquer interesse nem para o leitor, nem para o observatório anónimo que se dignou ceder-nos esta informação, ainda em fase de descodificação. Não há certezas plenas sobre a identidade dos indivíduos em causa: PC, PP e OS. Aguardam-se novos dados sobre este assunto. 
Recolha e publicação (ipsis verbis)
 Por especial deferência do ONEI (Observatório Nacional de Escutas Ilegais)

João Frada, Professor Universitário

TAC TAC

Tac, tac, do martelo,
entre a bigorna e a fornalha
ah, se eu pudesse cravar
sete pregos no canalha!

Ou decepar-lhe a cabeça
entre os dentes de uma serra,
podiam ter a certeza
que haveria paz na Terra

Ninguém teria saudades,
já nem vos falo do luto,
estalariam foguetes
num tremendo totoloto.

Entre cimento e tijolo
escolho seis tábuas de pinho
e procuro algum consolo
em sete copos de vinho.

Rompendo pelas madrugadas
caí doente de andaço,
trago nas mãos sete bolhas
feitas de sangue e cansaço.

De que me serve gritar
mendigando o que é devido?
Os deuses parecem estar
cegos e surdos de ouvido.

Corri serras no Marão
 e montes no Alentejo,
vi pobres estender a mão
arrastando um realejo.

Tocando as notas da morte,
cortados pelo desgosto,
buscam a côdea, sem sorte,
de manhazinha ao sol-posto.

Vi a fome nos caminhos
onde a desgraça chegou,
comendo cardos e espinhos
e pão que o diabo amassou.

Sofrendo agruras malinas
e desgaste de jumento,
já nem mesmo as vitaminas
me trazem nenhum alento.

Ninguém ouve o meu protesto
contra os desmandos a esmo,
mudam-se as moscas e o resto
continua a ser o mesmo.

Tento martelar com brio
pra vos deixar obra feita,
mas quem malha um ferro frio
tarde ou nunca o endireita.

João Frada
Olhos nos Olhos da Alma, 1ª edição, Clinfontur edições: Lisboa, 2009, p.88, 174 p. (Coletânea de Poemas)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

TAC, TAC, DO MARTELO

Tac, tac, do martelo,
Continua a bater forte,
Livra-me do pesadelo,
Poupa-me às garras da morte

Paredes de rocha dura
Não deixam passar ninguém,
Mas batendo com bravura
Racham aqui e além

Há quem não bata por falta
De jeito na profissão,
Mas aprende na revolta,
Dia a dia, a dizer Não.

Tac, tac, do martelo
Bata-se forte o engano
Com firmeza e sem desvelo
Esmague-se já o tirano.    

Tantas palavras devassas
E promessas por cumprir,
Geram ódios, ameaças
Tão difíceis de gerir.

Verga a força do algoz,
Da opressão, da escravatura,
quando o martelo da voz
bate com raiva e censura.

Tiranos do meu país
É tempo de reflexão,
O povo vive infeliz
E traz martelos na mão

Tac, tac, que o martelo
Enquanto bate vos dói,
Mas só ficais sem castelo
E nada mais vos destrói.

Tac, tac, do martelo
Tiranos tende cautela,
Que ele também é cutelo
Quando a raiva o atropela.

E não se queixem da sorte
Da falta de sensatez,
Que este martelo, sem norte,
Já perdeu a lucidez.

Tiranos feitos de gelo
Já ninguém chora ou sorri,
Ouçam bem o meu apelo,
Olhem que a morte anda aí.

Vossos atos absurdos
Levam-me a querer alertar-vos,
Mas não me ouvis, sois bem surdos,
Que conselhos hei de dar-vos?!

Tac, tac, do martelo,
Entre a bigorna e a fornalha,
Dentro do vosso castelo
Ireis arder como palha.

Tac tac, a governar
assim, perdereis o alvará,
Quando a faúlha saltar
Nada mais vos restará.

João Frada
Lisboa, 09.01.14

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O TEU PERFUME

 Conheci-te meu amor
Naquela cálida tarde
Ali mesmo, a céu aberto,
Desnudada pelo calor,
Inundada por dois sóis,
Coberta apenas por tranças.
Olhando o céu e as nuvens…
À sombrinha, pensativa,
Contando sonhos, esperanças
E um campo de girassóis.
Um anjo passou e viu-te
Assim tão calma, a pensar.
E pra não ter tentações
Soprou leve, então, a brisa
Que contente e insegura,
Mais parecendo um queixume
Parou também pra te olhar.
Um manto leve de folhas
E de pétalas cobriu-te
Os ombros nus e um perfume,
Uma mágica mistura
De Natureza e mulher
Estendeu-se pelo mundo fora
Cobrindo rios e terras
Entre janeiro e dezembro.
Desde então, aquele aroma
Do teu corpo ali, tão nu,
Com cheirinho a flores de esteva,
Papoilas e girassóis,
Margaridas cor de linho
E outras tantas que não lembro,
Flores do campo como tu…
Inunda montes e serras
Como as voltas de uma dança.
Só eu sei que é teu perfume
Meu amor, minha lembrança,
Por cheirar a rosmaninho.

Lisboa, 06.01.14

sábado, 4 de janeiro de 2014

GOVERNO DE GAROTOS COM CRIANÇAS ASSESSORAS

http://devaneiosaoriente.blogspot.pt/2013/11/governo-de-garotos-com-criancas.html

Seguramente, ou devo andar meio zombie, de tanto me confrontar diariamente com desvarios, despautérios e desmandos governamentais que me tiram o sono, ou então, a época natalícia, de algum modo, desviou-me ou abrandou-me a atenção bem como a acuidade visual, já que, no meio de tantas mensagens recebidas estas últimas semanas estava esta, datada de novembro, a qual, apenas hoje me fez ferver em pouca água. 
Como é que um funcionário público municipal, não vereador ou autarca, ganha mil e pouco euros de vencimento, independentemente das suas habilitações universitárias e do trabalho zeloso que cumpre;  um técnico hospitalar, também licenciado, com responsabilidades acrescidas e desgastantes, sujeito a horários contra-natura, recebe pouco mais de mil euros mensais; um médico especialista, com seis anos de formação curricular, com mais cinco de formação complementar, para se tornar especialista, sem qualquer privilégio, subvenção ou mordomia a acompanhar o seu exercício profissional diário, não ganha mais do que mil e oitocentos euros mensais; um professor do ensino secundário, licenciado, mestre ou doutorado, aufere um salário que não ultrapassa, em final de carreira, mais de mil e oitoicentos euros,  no seu conjunto, todos estes profissionais dignos representantes da população anónima do país, sujeitos a pesadas obrigações, a taxas de austeridade e, como é óbvio, a responsabilidade criminal quando os seus atos são postos em dúvida, ao contrário de outros servidores públicos, considerados castas especiais, que se refugiam contantemente no seu estatuto de imunidade e de impunidade e apenas são punidos politicamente de quatro em quatro anos, quando são…e há um primeiro ministro, um governo e uma classe política que conluiam, pactuam, alimentam, fomentam situações como esta?! Contratam como assessores garotos a peso de ouro (seguramente também com direito a cartões de crédito e a complemento da mesada para almoços, telemóveis, viagens e atividades de relax), cito, garotos, júniores que são considerados especialistas, sabe-se lá porque quem, independentemente da sua tenra idade (entre os 24 e os 29 anos) e das traquinices que possam caracterizar a sua recém-formação curricular e atuação profissional ao serviço de um governo, gerido por séniores que não passam também de garotos, incompetentes, incongruentes, idiotas e imorais. E os que o não são fazem figura disso.  
É preciso, mesmo,  ter lata. Quando toda a gente suporta uma austeridade tremenda como a que se vê, tocando bem fundo, sobretudo, classes que, embora trabalhem desalmadamente, ganhem uma miséria e sejam constantemente sangradas em nome de uma solidariedade e de uma equidade social utópica, vão empobrecendo dia a dia, correndo o risco de desaparecerem, surgem exemplos destes vindos do Governo! 
Apetece-nos gritar bem alto o que o professor José Hermano Saraiva já disse um dia: “ Estamos [mesmo] a ser governados por gente menor”.

João Frada
Professor Universitário   

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ANO NOVO 2014

Passaram dias, já anos,
E o Mundo deu tantas voltas
Dentro de ti e de mim,
Que quase perdeu o norte
Pra rodar sem nós, sozinho.
Colheu afetos, paixões
Dias de azar e de sorte
Palavras vagas e soltas
Firmes certezas, enganos
Ilusões, horas amargas,
Horas doces, frustrações
Esperanças estreitas e largas.
Rodando tão imperfeito
Foi sinuoso o caminho
Em tantas ocasiões.
De rodar perdeu o jeito
Mas nunca perdeu o rumo
Por sentir, dentro do peito
De nós dois, tanto carinho.

João Frada

Mira, 01.01.2014