Tac, tac, do martelo,
entre a bigorna e a fornalha
ah, se eu pudesse cravar
sete pregos no canalha!
Ou decepar-lhe a cabeça
entre os dentes de uma serra,
podiam ter a certeza
que haveria paz na Terra
Ninguém teria saudades,
já nem vos falo do luto,
estalariam foguetes
num tremendo totoloto.
Entre cimento e tijolo
escolho seis tábuas de pinho
e procuro algum consolo
em sete copos de vinho.
Rompendo pelas madrugadas
caí doente de andaço,
trago nas mãos sete bolhas
feitas de sangue e cansaço.
De que me serve gritar
mendigando o que é devido?
Os deuses parecem estar
cegos e surdos de ouvido.
Corri serras no Marão
e montes no Alentejo,
vi pobres estender a mão
arrastando um realejo.
Tocando as notas da morte,
cortados pelo desgosto,
buscam a côdea, sem sorte,
de manhazinha ao sol-posto.
Vi a fome nos caminhos
onde a desgraça chegou,
comendo cardos e espinhos
e pão que o diabo amassou.
Sofrendo agruras malinas
e desgaste de jumento,
já nem mesmo as vitaminas
me trazem nenhum alento.
Ninguém ouve o meu protesto
contra os desmandos a esmo,
mudam-se as moscas e o resto
continua a ser o mesmo.
Tento martelar com brio
pra vos deixar obra feita,
mas quem malha um ferro frio
tarde ou nunca o endireita.
João Frada
Olhos nos Olhos da Alma, 1ª edição, Clinfontur edições: Lisboa, 2009, p.88, 174 p. (Coletânea de Poemas)
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