Seguramente, ou devo andar meio zombie, de tanto me confrontar diariamente com desvarios, despautérios e desmandos governamentais que me tiram o sono, ou então, a época natalícia, de algum modo, desviou-me ou abrandou-me a atenção bem como a acuidade visual, já que, no meio de tantas mensagens recebidas estas últimas semanas estava esta, datada de novembro, a qual, apenas hoje me fez ferver em pouca água.
Como é que um funcionário público municipal, não vereador ou autarca, ganha mil e pouco euros de vencimento, independentemente das suas habilitações universitárias e do trabalho zeloso que cumpre; um técnico hospitalar, também licenciado, com responsabilidades acrescidas e desgastantes, sujeito a horários contra-natura, recebe pouco mais de mil euros mensais; um médico especialista, com seis anos de formação curricular, com mais cinco de formação complementar, para se tornar especialista, sem qualquer privilégio, subvenção ou mordomia a acompanhar o seu exercício profissional diário, não ganha mais do que mil e oitocentos euros mensais; um professor do ensino secundário, licenciado, mestre ou doutorado, aufere um salário que não ultrapassa, em final de carreira, mais de mil e oitoicentos euros, no seu conjunto, todos estes profissionais dignos representantes da população anónima do país, sujeitos a pesadas obrigações, a taxas de austeridade e, como é óbvio, a responsabilidade criminal quando os seus atos são postos em dúvida, ao contrário de outros servidores públicos, considerados castas especiais, que se refugiam contantemente no seu estatuto de imunidade e de impunidade e apenas são punidos politicamente de quatro em quatro anos, quando são…e há um primeiro ministro, um governo e uma classe política que conluiam, pactuam, alimentam, fomentam situações como esta?! Contratam como assessores garotos a peso de ouro (seguramente também com direito a cartões de crédito e a complemento da mesada para almoços, telemóveis, viagens e atividades de relax), cito, garotos, júniores que são considerados especialistas, sabe-se lá porque quem, independentemente da sua tenra idade (entre os 24 e os 29 anos) e das traquinices que possam caracterizar a sua recém-formação curricular e atuação profissional ao serviço de um governo, gerido por séniores que não passam também de garotos, incompetentes, incongruentes, idiotas e imorais. E os que o não são fazem figura disso.
É preciso, mesmo, ter lata. Quando toda a gente suporta uma austeridade tremenda como a que se vê, tocando bem fundo, sobretudo, classes que, embora trabalhem desalmadamente, ganhem uma miséria e sejam constantemente sangradas em nome de uma solidariedade e de uma equidade social utópica, vão empobrecendo dia a dia, correndo o risco de desaparecerem, surgem exemplos destes vindos do Governo!
Apetece-nos gritar bem alto o que o professor José Hermano Saraiva já disse um dia: “ Estamos [mesmo] a ser governados por gente menor”.
João Frada
Professor Universitário
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