terça-feira, 10 de junho de 2014

COMEMORAÇÕES DO DIA DE CAMÕES

A 4 de setembro de 2013, Bruxelas confirmava o crescimento nacional no segundo trimestre do ano.
Olhando para esta notícia deveríamos ficar supercontentes e dar pulos de alegria, tão só, porque aconteceu um milagre, por intercessão sabe-se lá de que santinha mais devota, dirão os mais crentes. Os meses de abril, maio e junho de 2013 foram “um espanto” em termos de desenvolvimento e de crescimento económico, à conta do turismo e, sobretudo, das exportações, afirmavam uma série de papagaios não pertencentes, necessariamente, ao bando que, todos os dias, conta as poucas sementes que lhes colocam na gaiola. E mantêm-se, ainda, melhores expetativas para o terceiro trimestre de julho, agosto e setembro, dizia a mesma notícia. De facto, o tempo quente trouxe turistas de todo o lado e “as coisas”, a continuarem assim, empurram o crescimento, mas não chega.
As exportações, o maior alicerce da economia, continuariam em alta? Duvidámos, nessa altura.
É óbvio que, a par dos milhares largos de estrangeiros que nos visitam, a vinda de outros milhares de “portugas” saídos dos quatro cantos do mundo onde trabalham e “dobram a mola”, forrando o ano inteiro para, nesta altura, virem cá de férias e poderem gastar à tripa forra, como gastaram, não foi estranha a este crescimento. As praias, então, de norte a sul, estavam cheias de turistas lusos ou luso-qualquer coisa, de primeira, segunda e terceira geração. Em cada dez, sem exagero, oito falavam francês. Na verdade, para além dos lusos, autóctones com residência permanente no país, não faltavam brasileiros, canadianos, americanos, alemães, ingleses, suecos, etc., etc. Terra sua, dos seus pais e dos seus avós, jardim de sol e tranquilidade à beira-mar plantado, de festas e romarias, de comes e bebes, de saudade e de fado, de uma boa imagem externa social, económica e política, como convém, o país acolhe toda a gente que o visita e não protesta, continuando a ser, apesar das mazelas sociais que o fragilizam, um paraíso atraente, agradável e acolhedor. E é isso que interessa. Turistas de dentro e de fora contaram-se às catadupas e taparam alguns buracos da economia nacional. Os nossos governantes aplaudiram e Bruxelas rejubilou, todos convictos de que esta torrente de euros e dólares iria continuar, ad eternum, nos meses seguintes, de outono e de inverno.
Porém, com o poder de compra dos lusos que aqui vivem todo o ano, altamente diminuídos, flagelados pelo desemprego, pelas reformas de miséria, pela sangria tributária vampiresca, sempre à espreita e pronta a dar mais uma ferroada nos bolsos dos mais débeis; com o comércio, em grandes dificuldades, lutando para se manter de pé, arrasado pelos 23% de IVA; com a indústria retraída em termos de produção interna, por não haver grande consumo, a “balança do crescimento”, nos últimos meses de 2013, apenas se iria manter mais ou menos equilibrada, à custa do setor das exportações, porque, a “mina” do turismo de massas que nos inundou no último trimestre não duraria para sempre. Alguém duvidava disso? Afirmámo-lo na altura própria, nós que não somos bruxo nem vidente, nem homem de Economia ou de Finanças e, muito menos responsável por qualquer cargo de prospeção governativa na área económico-financeira. E teríamos pago um cálice de bom Porto, e não digo qual o tamanho do cálice, porque os há de todos os tamanhos,… basta atentar nos que são de uso exclusivo dos priores…, a quem nos provasse que estávamos errados.
Esta era a perspetiva, caros leitores, que tínhamos em 4 de setembro de 2013. Hoje, em junho de 2014, com turistas que continuam a entrar, atraídos pelo sol, pela paisagem, pela excelente gastronomia portuguesa, pela hospitalidade do nosso povo, pelo Rock in Rio, pelas Festas dos Santos Populares, apesar dos milhões de divisas que aqui deixam, tendo em conta que o maior motor da nossa economia, o setor das exportações, começou a abrandar, porque era de prever que não se mantivesse sempre este ciclo ascendente, a taxa de desemprego não tem sofrido uma diminuição significativa e a TSU e o IVA subiram, o que nos irá acontecer, finalmente, com uma Dívida Pública que, desde o final de 2013, “subiu sete mil milhões de euros para 132,4% do PIB no fim do primeiro trimestre, acima da projeção oficial para 2014?”
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/divida_publica_subiu_para_1324_no_primeiro_trimestre.html

Para que melhor se perceba o estado caótico das nossas Economia e Finanças Públicas, vale a pena olharmos para estes dados do Banco de Portugal, colhidos de um artigo de Eugénio Rosa:
“- Entre Dez/2010 e Mar/2014, a divida das Administrações Públicas aumentou de 185.844 milhões € para 258.486 milhões € (em % do PIB, subiu de 107,5% para 155%);
- A dívida pública, na ótica de Maastritch (que não inclui a totalidade da dívida pública, mas é a considerada pela União Europeia) cresceu de 162.473 milhões € para 220.684 milhões € (em % do PIB passou de 94% para 132,4%);
- A dívida de Portugal ao estrangeiro (Ativo-Passivo) aumentou de 185.221 milhões € para 205.158 milhões € (em % do PIB, subiu de 107,2% para 121,4%).
Será que alguém ainda acredita que as políticas brutais de austeridade a que sujeitaram o país e a maioria dos portugueses não devam ser consideradas um fracasso estrondoso, enquanto herança da Troika e deste Governo PSD/CDS?”

Ainda haverá razões para comemorar alguma coisa?

João Frada

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